quinta-feira, 3 de novembro de 2016

A HISTÓRIA DA LEITORA ADOLESCENTE CLARA FLAVIANE, DE 16 ANOS, E SUA ENDOMETRIOSE!!

A história de Clara Flaviane, de 16 anos, mostra que a endometriose não tem idade
No fim de setembro recebi por email um breve relato da paulista Clara Flaviane, de 16 anos, de Caçapava, interior de São Paulo, contando como as dores da endometriose estão arruinando sua vida de adolescente. Pois é, você leu bem. Já falamos no blog sobre o tema - leia o texto do médico e cientista americano doutor David Redwine e do cientista inglês Matthew Rosser. Infelizmente a endometriose pode acometer qualquer mulher, até mesmo as mais jovens. Estima-se que 2/3 das adolescentes que sofrem com dor pélvica crônica e dismenorreia  (dor durante a menstruação) têm endometriose, destas 1/3 tem a doença de moderada a severa. Além dos fortes sintomas, Clara tem parentes com a doença, ou seja, mais um motivo para desconfiar que ela poderia ter a doença. 

Mas, infelizmente, o preconceito e o julgamento estão enraizados em nossa cultura, e por muitos médicos acharem que a doença só acomete mulheres mais velhas ou em idade reprodutiva (que vai dos 15 anos 44 anos), a Clara e tantas outras adolescentes continuam a sofrer por conta da endometriose. Prontamente convidei Clara para relatar aqui sua "ainda" breve história com a endo, pois sei que muitas meninas irão se identificar com seu testemunho. Confesso que em muitos momentos me vi na história de Clara. Quantas e quantas vezes precisaram me carregar para ir da escola para casa por conta das fortes dores que eu sentia. E só eu sentia essas dores, minhas amigas não sentiam! Isso também aconteceu com Clara. E acontecem com muitas por aí. Por ser menor de idade pedi autorização à sua mãe, Roselaine Santos Ferreira, que permitiu a publicação no A Endometriose e Eu. Está mais que comprovado que a  endometriose não tem idade. Beijo carinhoso! Caroline Salazar.


"Meu nome é Clara Flaviane, tenho 16 anos, sou de Caçapava, no interior de São Paulo. Primeiramente quero agradecer pela oportunidade de compartilhar minha pequena história e por toda ajuda que o blog A Endometriose e Eu me proporciona. 

Tive minha menarca aos 13 anos e, desde as minhas primeiras menstruações, tenho fluxo muito intenso, mas com o tempo fui adquirindo outros sintomas. Em 2014, aos 14 anos, fui à minha primeira ginecologista. Contei a ela sobre o fluxo e as cólicas fortes que estava sentindo, e ela me respondeu que era normal nos dois primeiros anos, e me receitou o Cicloprimogina. Tomei durante um ano, mas  não melhorou.
  
Nessa época as dores começaram aumentar e o fluxo também. Com isso comecei a faltar algumas vezes na escola durante o período menstrual, pois ficava fraca e  precisava de repouso. Comecei a me achar estranha, pois aquilo só acontecia comigo. Não via nenhuma outra menina sentir algo parecido durante seu período menstrual. 

No início de 2015 os sintomas começaram a piorar. Comecei a trabalhar com a minha mãe em uma lanchonete e ficava apenas três horas lá, mas toda vez que eu estava  no período menstrual era quase impossível sair de casa. Eu não tinha forças, passava muito mal, não conseguia ficar em pé, pois o fluxo me derrubava de tal forma. Muitas vezes pensei em desistir do emprego porque a cada ciclo estava ficando mais difícil.
  
Cheguei a ouvir coisas de pessoas próximas que me deixavam triste como: "O que você sente é psicológico", "Parece que você gosta de sentir dor", "Você não se esforça pra melhorar", "Só reclama por isso não melhora" , "É drama". Essas pequenas coisas acabavam comigo, porque apesar de tudo que eu passava, não sabia o que havia de errado.
    
Os meses foram passando e cada vez mais eu ia piorando. Analgésicos simples já não faziam efeito. Meu intestino, que sempre funcionou  normalmente, começou a desregular. Evacuar durante e antes da menstruação era algo quase impossível, pois sentia tantas dores que nem sabia de onde elas vinham. Junto com as cólicas  comecei a sentir pontadas no útero que pareciam facadas, às vezes não conseguia levantar de algum lugar de tanta dor. Minha mãe já não aguentava mais me ver tão mal. Então decidimos que era melhor eu trocar de ginecologista. 
    
Logo na minha primeira consulta essa nova ginecologista pensou na possibilidade de ser endometriose, pois a maioria das mulheres da minha família do lado paterno tem. Porém, ela me achou muito nova para isso. A médica optou por um anticoncepcional mais fraco (Adoless)  e alguns analgésicos mais fortes. Tomei Adoless durante seis meses, e nada adiantou.

Durante esse período  só piorei. Passei muitas noites em claro só para não ir ao hospital, pois sabia que haveria incompreensão até mesmo por conta da minha idade. Não iriam acreditar na intensidade das dores que eu sentia. 
   
Era final de janeiro bem no  inicio das aulas, e lá estava eu com dores novamente. E foi justamente aí que começou mais um problema de incompreensão. A primeira semana de aula coincidiu com meu período menstrual e acabei faltando devido às fortes dores. Tomei analgésicos que não melhoraram, e ainda  fui para o hospital durante três dias seguidos com dores horríveis no estômago. Quase fiquei internada porque não conseguia comer  e estava muito fraca. Fiquei de cama e demorei  duas semanas para me recuperar. Praticamente já  havia perdido um bimestre todo. Estourei em falta e a escola começou a implicar comigo dizendo que poderia ter uma vida normal e que se eu continuasse faltando desse jeito  eu iria reprovar.  
     
Às vezes as pessoas falavam tanto  que realmente parecia ser coisa da minha cabeça. Eu não conhecia ninguém que sentia essas dores. Eu me sentia tão sozinha e tão perdida. A cada mês eu temia mais o período menstrual, pois as dores estavam absurdas.
   
Retornei à ginecologista e contei sobre a piora e ela voltou a desconfiar de endometriose, pois meus sintomas estavam ficando muito parecidos com os da doença. Fiz o exame de sangue CA125 e o resultado foi 51, que ela considerou elevado para a minha idade. Depois fiz ultrassom e ressonância abdominal. 
   
Ao ver o resultado dos exames minha ginecologista não encontrou nada, pois o laudo dizia que havia apenas microcistos no ovário direito e  nenhum foco de endometriose. Estava tudo certo. Então foi descartada endometriose severa. Mas como eu ainda sentia dores ela trocou a medicação para Tâmisa 20mg, e pediu para eu tomar três meses direto e depois fizesse uma pausa. 
   
Clara, à frente, com a irmã, Emily, ao fundo,
 e a mãe, Roselaine Ferreira, no meio, que autorizou
à filha a contar sua história no blog 
Meu medo de reprovar estava sendo tanto que comecei a ir para escola até em dias que eu estava muito mal. Acabava forçando, não aguentava ficar nem três aulas e já ligava para alguém ir me buscar. 

Estou no último ano da escola, bem na época de vestibulares, e eu não consigo estudar. Estou  sem foco e com um cansaço enorme, só pensando em como tudo isso está atrapalhando minha vida. 
 Tem dias que me sinto tão triste. Em apenas dois anos tanta coisa mudou. Realmente as dores têm me perturbado e atrapalhado muito minha vida. Às vezes tenho  palpitação, insônia e como sempre as dores e o cansaço. 

Mesmo com um laudo dizendo que não havia nada de errado eu continuava com as mesmas dores. Então, eu e minha mãe começamos a procurar um especialista e consegui consulta para alguns meses depois.

Desde a primeira consulta esse novo ginecologista  tem sido o meu anjo. Ao olhar minha ressonância ele encontrou pequenos focos no útero. Me explicou tudo o que estava acontecendo e me tranquilizou. Com isso  cortou minha menstruação de vez e pediu outro exame de CA125. 
   
Ao menstruar sem pausa senti uma pequena melhora nas cólicas. Elas estavam um pouco mais fracas, porém as dores no meu corpo e meu intestino desregulado não melhoraram em nada. Também comecei a ter dificuldade para urinar, tenho a sensação de bexiga cheia sempre.
  
Voltei ao ginecologista mês passado e  meu CA125 caiu para 12. Ele me receitou Allurene durante seis meses assim que acabasse minha última cartela de Tâmisa, e me falou que esse remédio deve eliminar todos os sintomas da endometriose que eu ainda sinto. Estou confiante e ansiosa para o resultado desse tratamento, pois se eu não melhorar irei fazer mais exames.

Agora faz apenas 10 dias que comecei o tratamento. Estava com dores e fluxo intenso. Usei um pacote de 32 absorventes em cinco dias, fiquei dois dias de cama e fui parar ao hospital. Ainda tenho muitos sintomas, como dificuldade para urinar, evacuar e as dores fortes no corpo, mas mesmo com essa recaída não perdi minha fé! Tenho uma longa caminhada pela frente e mesmo com as  incompreensões e obstáculos que continuam aparecendo vou conseguir vencer! 

Essa foi a minha pequena história, ainda não sei o grau da minha endo, pois o médico preferiu passar um tratamento medicamentoso antes de videolaparoscopia. Espero ajudar outras mulheres, especialmente, as adolescentes e dizer que nós também podemos ter endometriose. A maioria dos médicos que passei acha que eu era nova para ter a doença.  Quero dizer que estamos juntas, que independente da idade, você não é a única a enfrentar as dores diárias  e a incompreensão da sociedade! Espero que tudo dê certo para mim e para todas as endomulheres que passam por isso! Beijo carinhoso, Clara"

9 comentários:

  1. Amém Clara!Sei tudo o que vc sentiu e sente! Força é a palavra! E sempre fé em Deus!Sempre haverá motivos pra sorrir! Que sua vida seja cheia de alegrias! Deus está contigo menina!um abraço, Caroline Lima

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  2. Ate chorei com esse relato, parecia que estava falando sobre a minha Vida! 😢

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  3. Clara, ao ler parece que você falava de mim quando tinha a sua idade. Já filei tanto às aulas... "Só eu tinhas essas dores" Você não quer ficar boa." Isso é Psicológico" Já ouvi tanto isso. Que bom Clara,que você descobriu cedo. Porque no meu caso eu descobri faz 03 anos e desde a adolescência eu já sentia tudo isso e passava por gineco e ela dizia. É Normal!!! Tenho 29 anos hoje, menstruei pela primeira vez aos 11 anos e de lá pra cá é só dor. Estou em tratamento também e sei tudo o que vc senti minha linda. Força!!!

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  4. Clara, você não está sozinha,Tenho 17 anos, desde a minha primeira menstruação (13 anos) a cólica já era horrível e a minha tpm então, Bom as cólicas foram piorando cada vez mais, sinto as mesmas coisas que você,mas fui seguindo, também faltei nas aulas varias vezes por não conseguir ficar em pé , sentada , o que eu tinha que fazer era dormir .
    Bom as dores foram piorando e piorando , minha mãe tem endometriose
    e ela achava que eu também tinha , então fui na ginecologista pela primeira vez, falei tudo que eu sentia para ela, e bom por minha mãe ter endometriose (ela teve que tirar o útero por causa da doença)ela falou para fazer exame de sangue , entre outros.
    A ginecologista ficou assustada , no exame CA125, o normal é 30, e o meu estava muito acima , muito mesmo, acho que mais que o seu, então ela falou que eu não podia menstruar mais, Estou tomando Gestinol 28, sem ele não fico sabe, mas as vezes, tipo 5 em 5 meses desce um pouco, dai tenho que parar de tomar por 3 dias, esses 3 dias são os piores. As dores são cruéis sabe? São piores que quando eu não tomava anticoncepcional.
    Mas com o gestinol 28 , percebi que a minha vida melhorou ,sem ele não vivo.

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  5. Sinto tudo isso, essa semana mesmo fui desmaiada para o hospital com muita dor. As pessoas acham que é frescura, que somos mole demais pra dor. aff

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  6. Muita força ,nessas horas é Deus sempre a frente com quatros anos convivendo com a endometriose as vezes ainda me pergunto, o porque ,se não tivesse tudo ia se diferente com seis anos de casada ja teria filhos,aeria outra vida.mas cheguei a um ponto que me tornei fonte e essa terrível doença bem lágrimas minha mais derramo .

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  7. Clara infelizmente a mulheres que constata esse problema não são bem amparadas nem na sociedade Médica e também as pessoas do seu convívio! Que pena!!! Mas para Deus nada é impossível, acredite que você vai achar um Médico que possa resolver seu problema Deus te abençoe.

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  8. Olha, estou com uma duvida, eu sempre tive colicas horriveis, e minha menstruação sempre foi longa.. ate uns 7 dias. Nos dois primeiros dias, so uma sujeirinha, a partir dai colicas muito forte e muito sangue.. sangue escuro e coagulado é normal, com uns 3 dias assim ja diminuia.. Resolvi começar a tomar anticoncepcional por conta... Estou tomando o Elani ciclo, de 21 dias. Iniciei no meu primeiro dia de menstruação, hoje ja esta no 10 dia, e ainda esta descendo, beeem pouquinho mas esta, e as vezes desce uns coagulos, bem pequenininhos, eu ja li que é normal ter sangramento cor de borra de cafe.. mas o meu ainda é sangue vivo. o que pode ser sera?

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  9. Eu descobrir minha endometriose ontem e estou aqui ainda sem acreditar, tenho 17 anos e estava cheia de planos pela frente e descobrir que tenho que me privar de algumas coisas me deixou bastante triste. Mesmo assim estou tentando encarar da melhor forma e mais madura possível! Comecei a sentir forte dores no inicio de dezembro do ano passado, e passei a sangrar durante o mes todos, as dores eram muito fortes e eu acabei ficando fraca e de cama, eu chorava muito sem sequer imaginar o que eu poderia ter e ficar ali uma pessoa indisponível pra tudo me sentia inútil, fui pro hospital inúmeras vezes num mês só, tive início de hemorragia e isso tava me enlouquecendo, no hospital me passaram um esquema com o microvilar e acabou que a menstruação suspendeu e eu pude ir fazer os exames necessários. Também ouvi várias frases de pessoas que são importantes na minha vida, mais respeitei sabe , porque só sabe o que a gente passa nos mesmo e ninguém tem culpa por ser tão ignorante, é de natureza.. Fiz uma transvaginal quarta e levei o exame ontem a Ginecologista e foram passados vários exames , isso tá me assustando muito, eu não sei como vai ser minha vida daqui pra frente , o que vai mudar e como as coisas vão permanecer. To com minha vida parada, não posso trabalhar e nem ir atrás da minha faculdade, porque eu too em choque e até isso tudo esclarecer e eu começar a aceitar eu não faço ideia de como vai ser. Sinto também muito pelo fato das complicações da endometriose em relação a infertilidade , é algo muito difícil de aceitar.

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