terça-feira, 30 de maio de 2017

"GESTAÇÃO DO CORAÇÃO": O MEU PRIMEIRO DIA DAS MÃES COM MEU FILHO, DANILO!!

Foto: arquivo pessoal

Para encerrar o mês do Dia das Mães, nossa querida colaboradora-voluntária, Ane, nos conta em um texto emocionante como foi seu primeiro Dia das Mães ao lado de seu filho, Danilo. Ane fala sobre como passou seu dia, do presente que o filho lhe deu, e também abre seu coração sobre o pouco convívio que teve com sua mãe, o que aflorou ainda mais a vontade de ser a mãe 100% presente que é hoje. Mais um texto que vai levar fé e esperança aquelas que ainda sonham com a maternidade. Se você ainda não recebeu sua benção, confie, mantenha sua fé, pois o agir de Deus é maravilhoso e, em breve, você estará com seu tão desejado bebê em seus braços. O que não pode acontecer é desanimar. Beijo carinhoso! Caroline Salazar


Por Ane Bulcão
Edição: Caroline Salazar

Olá meninas!

O mês de maio de 2017 foi muito especial e será para sempre inesquecível, pois comemorei meu primeiro Dia das Mães. Neste texto vou compartilhar com vocês como um pouco da minha vida e como foi esse grande dia. Sempre sonhei em ser mãe, principalmente porque só tive o privilégio e a alegria de conviver com minha mãe até meus sete anos de idade. Depois que meus pais se separaram, fui morar com meu pai, pois, por problemas de saúde, minha mãe não podia cuidar de mim e de meus dois irmãos. Não posso tirar o crédito do meu pai, que cuidou de nós com todo amor e carinho, mas por mais que meu pai tenha se esforçado, e, com certeza, foi muito presente em minha vida, não preencheu o vazio que sentia de minha mãe.

Os anos foram se passando e voltamos o contato com minha querida mãezinha, o que foi uma alegria sem fim. Mas eu sempre pensava: quando tiver filhos quero estar presente sempre ao lado deles para que não sofram como eu. O meu sonho da maternidade se realizou há oito meses. Quando meu príncipe chegou para completar nossa família, confesso que tenho vivido experiências maravilhosas. Admito também que minhas expectativas têm sido superadas, Deus me presenteou com o melhor filho do mundo (risos).

No meu primeiro Dia das Mães, tive a alegria de ver meu filho apresentar uma cantata junto com as demais crianças de minha igreja. Foi muito lindo! As crianças também aprenderam as músicas em Libras (Língua Brasileira de Sinais), me senti muito especial e querida. A emoção foi indescritível, e essa sensação é melhor do que qualquer presente que o dinheiro possa comprar. Como foi bom ver meu filho declarando seu amor por mim de forma tão singela e pura.

O sentimento que tomou conta de meu coração é de eterna gratidão a Deus, que nos dá infinitamente mais do que pensamos ou podemos imaginar, pois eu tenho um filho muito carinhoso e prestativo, que sempre me ajuda quando estou mal por conta das dores da endometriose, que cuida de mim, e é muito fofo quando ele ora pedindo a Deus para “curar o dodói da mamãe”. O meu primeiro Dia das Mães foi muito cheio de mimos, com muitos beijos e abraços. Ele não poderia ser melhor.

Continuo lutando diariamente por qualidade de vida, afinal de contas, agora eu tenho uma motivação maior que me impulsiona a seguir em frente, que é cuidar de meu filho. Não posso esmorecer. Ele é muito carinhoso. E eu conheci o que é amar incondicionalmente. Ele, com certeza, é o amor de minha vida. Para aquelas que ainda passaram o Dia das Mães sem seu tão sonhado bebê não percam a fé. Em breve Deus dará a cada uma de vocês a mesma benção que recebi. Beijo carinhoso e até o próximo!

domingo, 28 de maio de 2017

PUBLIEDITORIAL: O MEDICAMENTO PERSONALIZADO NO TRATAMENTO DA ENDOMETRIOSE E DA INFERTILIDADE!

Imagem Fagron 


Por Caroline Salazar

Junho está chegando, e com a aproximação do mês mundial da infertilidade, não podemos deixar de falar de uma doença que atinge cerca de 15% da população mundial, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Isso significa que um em cada cinco casais sofre com o problema. No Brasil estima-se que cerca de 8 milhões de pessoas são inférteis. A infertilidade é detectada quando um casal está pelo menos um ano tentando engravidar - mantendo relações sexuais frequentes e sem o uso de preservativos – e não consegue o tão sonhado positivo.

A infertilidade pode ser causada tanto pelo homem, quanto pela mulher ou por ambos. Uma das causas da infertilidade feminina pode ser a endometriose. Cerca de 40 a 50% de suas portadoras poderão ter problema para conceber naturalmente. Por isso ser acompanhada por um especialista que realmente entenda da doença e de como trata-la é essencial, principalmente para aquelas que têm o desejo de gestar. No mês passado abordamos uma das inovações terapêuticas para a endometriose: o tratamento personalizado via vaginal.

Entre os benefícios da administração de Gestrinona Fagron em Pentravan® pela via vaginal estão:

• Evitar a dor local e hematomas causados por injeções;
• Evitar transtornos, dor e desconfortos gastrintestinais;
• Reduzir outros efeitos indesejáveis;
• Possibilitar uma forma de tratamento mais natural.

A vagina é uma região com muito fluxo de sangue, por isso quando se utiliza esta via o medicamento fica concentrado no aparelho genital feminino e ao redor dele, na cavidade abdominal. Com menor incidência de efeitos colaterais, o tratamento personalizado com Gestrinona Fagron em Pentravan® tem sido utilizado com sucesso em termos de alívio de dor e redução de lesões de endometriose, especialmente para aquelas que já foram operadas, mas que ainda sofrem com as dores e que desejam engravidar, como aconteceu com a gaúcha Liliane Luz Queiroz, que contamos a história dela no blog.

A endometriose é uma doença complexa e cada caso precisa ser tratado individualmente. O tratamento personalizado com Gestrinona Fagron em Pentravan® tem este diferencial e é disponibilizado nas farmácias de manipulação sempre mediante apresentação de receita médica de acordo com o que cada endomulher precisa. Outra vantagem é que você já leva para casa todo o tratamento sem ter que se preocupar se seu remédio vai durar até o final do mês.

Para garantir a excelência da medicina personalizada, a Fagron atua há 26 anos no mercado. Presente em mais de 30 países, e com produtos comercializados em cerca de 60, a multinacional holandesa tem como missão a inovação e a otimização do tratamento farmacêutico personalizado. Contando com mais de 300 farmacêuticos no mundo, busca incansavelmente novos ingredientes que farão a diferença na vida de milhares de pessoas.

Afinal, cada ser humano é único e é assim que deve ser tratado. 

Não tome nenhum medicamento sem o conhecimento do seu especialista.

Mais informações acesse: www.fagron.com.br e siga nossas redes sociais: facebook e instagram

domingo, 21 de maio de 2017

"SAÚDE E BEM-ESTAR": COMO SAIR DA INÉRCIA E INSERIR A ATIVIDADE FÍSICA EM SUA ROTINA?

Fonte: Pixabay


Se você precisa de motivação para começar a se exercitar chegou a sua hora! Em mais um texto da coluna "Saúde e Bem-Estar", o educador físico Renato Trevisan vai te ajudar a sair da inércia e a começar a mexer o esqueleto. Eu sei bem o que é sentir fortes dores e não conseguir levantar da cama para pegar um copo de água. Mas a gente precisa se esforçar, mesmo com dores, sem ânimo e sem a mínima vontade precisamos colocar objetivos em nossa mente, mesmo com um corpo doente. E tentar naqueles dias de menos dores incluir em sua rotina os treinos específicos para os dias de dores, no caso os exercícios regenerativos, idealizados exatamente para esta fase. No começo realmente não será fácil. Você vai ter vontade de desistir. Irá acontecer coisas que poderão te desanimar ou simplesmente para tentar te fazer desistir, mas não desista. Comece aos poucos e vá aumentando o tempo com o passar dos dias, das semanas. Depois de uns 15 dias você começará a sentir uma outra, ops, uma nova mulher. Leia com atenção o precioso recado do Renato de como sair do sedentarismo e incluir a atividade física no seu dia-a-dia, e desafie você mesma. Beijo carinhoso! Caroline Salazar

Por Renato Trevisan, educador físico
Edição: Caroline Salazar

Olá meninas!

Recebo muitas mensagens relatando uma dificuldade muito grande em praticar exercícios físicos em decorrência de:
  • dor pélvica;
  •  indisposição.          
Em muitas situações essas dores impedem de levantar da cama para fazer uma tarefa diária, seja fazer um café ou dar atenção ao filho.

Alguns questionamentos apontam como impossível realizar o exercício, e me perguntam: “Como você vem falar de exercícios se eu não consigo nem sair da cama?”

Tenho muita clareza sobre o sofrimento que a maioria das endomulheres convive no dia-a- dia.

E isso me motiva cada vez mais a trazer soluções que auxiliem na qualidade de vida das endomulheres.

DESAFIO DE HOJE:

Hoje quero fazer um desafio a você, que vive diariamente essa realidade relatada nas mensagens que recebo.

Se você sofre com muitas dores, deixa de fazer muita coisa porque não tem motivação e teve sua carreira profissional prejudicada pelas insistentes crises da endometriose, preste atenção no que vou disse agora!

Quero te chamar para a construção de uma nova jornada em sua luta, mas não uma luta contra a endometriose, e sim uma luta A FAVOR DE UMA MELHOR QUALIDADE DE VIDA PARA VOCÊ.

Isso mesmo quero colocar o exercício na sua vida, para que ele possa te oferecer todos os benefícios que falo e que você já deve ter lido em muitos lugares.

Quero principalmente que o exercício seja o seu “COMANDANTE” para uma mudança de postura em relação à ENDOMETRIOSE.

Quero que pare de “LUTAR CONTRA a ENDOMETRIOSE” e “COMECE A LUTAR POR VOCÊ”.

Não será fácil, mais afinal de contas como diriam nossos pais e avós: nada é fácil nesta vida!!!!

Mas a recompensa, eu te garanto será MARAVILHOSA!

Não vou ficar aqui só falando a maneira como você deve pensar, ou qual postura você deve ter e pronto.

Vou te mostrar COMO FAZER ISSO!

Como sair da “cama” e colocar uma rotina de atividade física, transformando o seu modo de encarar a Endometriose.

VEJA UM CASO REAL:

Mas antes de fazer isso, deixa eu relatar aqui uma situação que esclarece melhor minhas palavras em relação a mudança de postura sobre a doença.

Uns 10 anos atrás eu tinha uma aluna, que recebeu a notícia que estava Diabética Tipo I e que deveria iniciar o uso de insulina, pois o seu pâncreas não estava mais produzindo esse hormônio.

Durante muito tempo ela lutou contra o uso da Insulina, teve muitas idas e vindas à academia. Não conseguia viver com qualidade de vida.

Fiquei por oito anos fora dos atendimentos como Personal e perdi o contado com ela.
Quando abrimos nosso estúdio de Personal, ela me procurou para que pudesse voltar a atendê-la e me disse assim

“...agora vai ser diferente. Parei de lutar contra a insulina e passei a lutar por mim! Quero participar de uma corrida de rua e você vai me ajudar a conquistar isso...”

Percebeu? É isso que eu quero que você faça a partir de agora na sua vida.

Não quero que deixe o tratamento de lado, não quero que pare de buscar os melhores medicamentos, médicos e soluções para viver sem endometriose.

Mas se isso não for possível, ou se isso tiver que ser feito em etapas a longo prazo, CUIDE DE VOCÊ!
Bom, mas vamos lá....

COMO COLOCAR A ATIVIDADE FÍSICA NA SUA ROTINA?

E como você fará isso?

Como colocar o EXERCÍCIO EM SUA VIDA?

O desafio é sair da inércia e inserir a atividade física NA SUA ROTINA.
VOCÊ TOPA?

Topar esse desafio requer coragem e muita vontade!
Como incentivo, preparei um vídeo especial para você que quer dar esse passo em sua vida.

Dá uma olhadinha ai!!! É só clicar no link abaixo:


Agora é contigo! Estarei por aqui para o que você precisar!

Um super abraço!

Sobre Renato Trevisan:

Educador físico, é pós-graduado em atividade motora adaptada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). É diretor do Centro de Saúde A3 Atividade Física para a Saúde em Maringá, no paraná, e é coordenador da EndoMarcha Maringá. Acesse a fanpage da A3.

quinta-feira, 18 de maio de 2017

UNIÃO, APOIO E ATITUDE: A TRÍADE QUE FALTA ENTRE AS PORTADORAS DE ENDOMETRIOSE E SEUS PRÓXIMOS!!

Fonte: Pixabay

União, uma palavra muito falada, mas pouco praticada entre as mulheres. Infelizmente! O significado da palavra ao pé da letra diz que união é a junção ou a combinação de vários elementos, sejam eles iguais ou distintos, com o objetivo de formar o conjunto. Quando as pessoas se unem elas são capazes de mudar o rumo de muitas coisas. Então, porque não há a união entre as portadoras de endometriose? Capaz que a maioria está satisfeita com tudo que o Estado oferece, certo? Pois quando as pessoas não estão satisfeitas, elas se unem àquelas que fazem algum movimento em prol do que está errado para reivindicar pelo que acha que é correto. O xis da questão é que falta união entre as próprias portadoras da doença, falta apoio de quem as cercam e no final de tudo falta atitude de ambos os lados. Para falar um pouco sobre isso, convidei a cabeleireira Kátia Victória Del Sent, mãe da nossa querida Giselle. A Kátia é um exemplo de mãe pelo apoio que sempre deu à filha. Ela já contou no blog, como ajudou a filha a descobrir a endometriose. E o mundo provavelmente seria outro se todos nós seguíssemos bons exemplos, não é mesmo? Então, compartilhe este texto com sua mãe, com seu pai, com sua irmã, com suas primas, com suas amigas, com seus parentes mais distantes, com seus conhecidos e peça a eles para se juntarem a nós. Beijo carinhoso! Caroline Salazar 


União, apoio e atitude: a tríade que falta entre as portadoras de endometriose!!

Por Kátia Victória Del Sent
Edição: Caroline Salazar

Apesar de vivermos no século XXI, os índices de violência contra as mulheres ainda são muito elevados. Como mãe de uma endomulher, acho importante que possamos nos questionar sobre o cuidado dispensado quando diz respeito à educação das meninas. É importante refletir sobre como educamos por meio de nosso exemplo, como mãe e mulher, para que nossas meninas respeitem a ética do seu corpo, não permitindo de forma alguma que, em nenhum momento de sua vida, ela seja agredida física ou emocionalmente.

Não basta a educação do não deixar fazer, mas sim a atitude que deve ser tomada diante de situações inoportunas. É preciso que as mulheres reconheçam não só a agressão como um ato doméstico masculino, mas também o descaso a pouca atenção que lhes é conferida nas diversas áreas nos diferentes momentos da vida. E neste caso é importante refletir de como agimos ou reagimos diante das dores que acometem o corpo feminino como, por exemplo, a cólica menstrual. Será que ainda aceitamos e repassamos para as nossas filhas o que diziam nossas avós? “É assim mesmo, é coisa de mulher”, ou “Quando casar passa”.

Diante desta nossa postura, reforçando que é normal sentir cólica, torna-se comum ao buscarmos atendimento em saúde- seja público ou privado - por queixa de cólicas fortes, recebermos dos profissionais de saúde respostas semelhantes às de nossas avós, ou falarem que a dor é psicológica. Este fato se dá pela falta de inclusão no currículo das universidades aos estudantes da área da saúde o estudo específico sobre a endometriose. Em especial, sobre o que de fato uma mulher com endometriose sente, passa, sofre.

Por isso que as portadoras de endometriose, quando acometidas pelo desconforto dos problemas causados pela doença, têm suas queixas relegadas, em primeiro lugar, na família por falta de conhecimento, e depois pelos profissionais que as atendem, por conta do despreparo e também por falta de conhecimento, tornando a vida destas jovens mulheres ainda mais sofrida, principalmente aquelas que sofrem com as dores severas. Por exemplo: se durante a consulta o profissional que trata a doença faz pouco caso das dores de sua paciente na frente de um membro da família, como essa pessoa vai acreditar que as dores são reais e incapacitantes?

 Kátia, à esquerda, com apito e cartaz
na EndoMarcha 2017, ao lado da filha, Giselle
Ultimamente tem se falado tanto em sororidade, mas cadê a atitude de união que esta palavra significa? Somente com a união de todos nós - seja portadoras da doença, familiares, amigos (as), conhecidos, profissionais de saúde – que as cerca de 10 milhões de brasileiras que sofrem com a doença deixarão de ser invisível à sociedade. E a EndoMarcha foi idealizada justamente para dar voz as mais de 200 milhões de mulheres que sofrem com a doença no mundo todo. Por que você não vai à EndoMarcha? Por que sua mãe, sua irmã, seus amigos, seus vizinhos não vão à EndoMarcha? Vergonha? Preguiça? Está em crise de dor?

De acordo com as nossas leis o atendimento da área de saúde deve ser humanizado, mas a realidade das endomulheres está longe da humanização. O atendimento ainda é precário. Fazer exames específicos e cirurgias pelo Sistema Único de Saúde (SUS) é uma verdadeira via-sacra, e nas raras cidades que têm, a fila pode demorar anos e anos. Por isso lutamos por políticas públicas efetivas e a EndoMarcha é o nosso caminho para isso. Nós, mães de portadoras, precisamos apoiar nossas filhas. Sair às ruas é uma maneira de se manifestar pacificamente e dentro da lei. Precisamos lutar para que se um dia tivermos netas, elas não sofram tanto quanto nossas filhas sofreram. Sei que há muita desunião das próprias portadoras, mas isso precisa mudar, e vejo o apoio da família um ponto crucial para que essa mudança aconteça.

Em 2014, quando minha filha soube da 1ª edição da Marcha Mundial pela Conscientização da Endometriose ela entrou em contato com a Caroline e foi convidada para coordenar a EndoMarcha em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. E eu a apoiei. Na época ela tinha 18 anos. Por dois anos ela esteve à frente da EndoMarcha na capital gaúcha, e mesmo após deixar a coordenação, nós (eu e ela) participamos ativamente das outras duas que teve até então. E iremos participar de todas que pudermos. Sabe por quê? O nosso apoio é essencial.

 Sempre ao lado da filha, Kátia, à direita,
participa ativamente da EndoMarcha
desde a 1ª edição em 2014, quando Giselle
coordenou a caminhada em Porto Alegre.
É fundamental que a paciente tenha a segurança de que não está sozinha e pode sim contar com o apoio das pessoas mais próximas, em especial das mulheres, como mães, irmãs e demais membros da família. O apoio começa em observar nossas meninas, observar seu corpo. É superimportante ter um olhar mais sensível às queixas de cólicas fortes das mulheres, especialmente, das jovens por parte das mães e de familiares. Jamais devemos ignorar a intensidade de sua dor e de seu sofrimento. Jamais devemos menosprezá-las (tanto a cólica quanto às mulheres). Muito pelo contrário devemos sempre estar ao seu lado na busca de diagnósticos corretos e eficazes, bem como lutar por políticas públicas que lhes tragam benefícios assegurando-lhes tratamento gratuito, digno, humanizado e direitos de saúde, com qualidade de vida e também direitos à reprodução. Afinal, a endometriose é a principal responsável pela infertilidade feminina.

Tudo isso fará a diferença no tratamento de seu ente-querido. Mostrar que o não à violência também deve ser o caminho na busca para ter seus direitos respeitados enquanto menina ou mulher, no qual não basta reproduzir a queixa com acomodação, é preciso ter atitude de enfrentar a doença e suas adversidades com força e muita fé. A união e a participação de todos fará a diferença. O envolvimento da família nos eventos de conscientização, tais como nas palestras e na EndoMarcha, é mais que uma demonstração de amor e carinho, é o alicerce que ela poderia estar esperando para dar um novo rumo à sua vida. Pense nisso com carinho. Vamos nos unir na de EndoMarcha 2018? Beijo carinhoso!

terça-feira, 16 de maio de 2017

DAVID REDWINE: A MINHA DOR É DEVIDO À ENDOMETRIOSE?

Fonte: CEC

Há várias doenças que podem causar dor e sangramento excessivo. Muitas vezes, os sintomas de algumas delas, e até mesmo os das aderências, podem se confundir com os da endometriose. Neste brilhante texto o cientista americano doutor David Redwine descreve com muita clareza algumas doenças, que podem atingir a pelve de uma mulher, e seus sintomas, tais como, miomas, cistos ovarianos (que podem não ser endometrioma), prolapso uterino e adenomiose. Pois é, o médico precisa conhecer bem os sintomas da endometriose para fazer o correto diagnóstico da doença, em especial, àquelas indicadas à cirurgia. Já que se a dor da paciente não for da endometriose, a cirurgia será em vão. O doutor Alysson Zanatta, de Brasília, escreveu um texto exclusivo para o A Endometriose e Eu dizendo quando não operar a endometriose e também já explicou quando a cirurgia é necessária. De fato o mais importante é a endomulher ser acompanhada por um especialista que realmente entenda da doença. Beijo carinhoso! Caroline Salazar


Por doutor David Redwine
Tradução: doutor Alysson Zanatta
Edição: Caroline Salazar

A minha dor é devido à endometriose?

Apesar da excisão eletrocirúrgica da endometriose por laparoscopia ser tão boa, ela não tratará a dor causada por outras razões. A dor causada pela endometriose costuma ser descrita em termos geográficos específicos ou anatômicos, e está associada a pontos específicos de dor ao exame clínico. Estas pacientes têm os melhores resultados. Se uma paciente não puder descrever sua dor precisamente, ou se o exame clínico não reproduzir a dor, a excisão da endometriose pode não aliviar a dor em nada.

Cistos ovarianos:

Outras causas de dor pélvica podem incluir cistos ovarianos não endometrióticos, miomas uterinos, aderências, adenomiose e outros fatores desconhecidos. Por este motivo, não há nenhuma maneira de se garantir o alívio da dor após a cirurgia de endometriose. Cistos: a palavra “cisto” significa uma cavidade preenchida por líquido, geralmente circundada por uma cápsula. Os cistos podem ocorrer naturalmente em um ovário funcionante. Dois tipos comuns de cistos “normais” são os cistos foliculares, que preparam o óvulo, e o cisto de corpo lúteo, que se forma após a ovulação que ocorre a cada mês. Apesar desses dois cistos serem normalmente temporários, cada um deles pode persistir por mais tempo do que deveriam e causarem dor. Os cistos nem sempre necessitam serem grandes para causarem dor. Vários pequenos cistos podem surgir no ovário e causarem dor pela leve distensão do ovário. Se houver tecido cicatricial no ovário, o cisto pode crescer e pressionar o tecido cicatricial e causar dor. Um cisto de tamanho médio pode torcer sobre seu pedículo, e isso pode causar dor. Outros tipos de cistos anormais incluem cistos dermoides e cistos de endometriose. Algumas pacientes podem ter cistos bastante volumosos e não terem nenhuma dor.

Quando eles causam dor, os cistos ovarianos geralmente causam dor em um lado ou outro, e a dor pode se irradiar levemente pelo flanco. Um cisto que esteja sangrando ou extravasando líquido irritativo pode causar dor pélvica generalizada e dor abdominal baixa que pode parecer estar se irradiando a partir do lado afetado. Algumas mulheres podem ter cistos ovarianos recorrentes após sua resolução espontânea ou remoção cirúrgica, já que cada um dos 200.000 oócitos (óvulos) presentes em cada ovário ao nascimento é circundado por um pequeno folículo ou cisto em potencial.

Tumores fibroides (miomas):

Tumores fibroides (também chamados de leiomiomas) são acúmulo de músculo liso que surgem na parede uterina muscular. Eles crescem de tamanho de forma concêntrica, como uma pérola crescendo dentro de uma ostra. Um grande mioma será do tamanho de uma tangerina ou maior. Um pequeno mioma será menor que uma pérola. Eles podem causar cólicas uterinas entre os ciclos menstruais e fluxo sanguíneo severo com cólicas durante a menstruação, a não ser que estejam no lado externo do útero, situação na qual os sintomas podem estar ausentes.

Às vezes, os miomas podem causar dificuldades urinárias ou intestinais, já que podem pressionar a bexiga ou o intestino se forem grandes o suficiente. Eventualmente, pode haver dor lombar baixa, já que o mioma pode pressionar o cóccix e também pelo fato dos ligamentos úterossacros transmitirem dor uterina ao sacro. Os análogos de GnRH podem produzir uma dramática, porém temporária, redução do tamanho dos miomas. Apesar dos miomas poderem ser removidos cirurgicamente, eles podem ser tão pequenos a ponto de não conseguirem ser vistos ou sentidos durante a cirurgia, permanecendo no útero e crescerem e causarem problemas mais tardiamente.

Aderências (tecido cicatricial):

Aderências (também chamadas de tecido cicatricial) grudam as coisas juntas. Elas podem ser finas e delgadas como um papel úmido ou densas e grossas como uma cola seca. Uma aderência vai de um ponto a outro na pelve, apesar dessa distância poder ser funcionalmente inexistente, como um ovário que fica aderido a uma parede pélvica lateral. As aderências se formam após um dano ao peritônio, seja por infecção, cirurgia, ou inflamação crônica. O peritônio é como um cobertor cobrindo as cavidades pélvica e abdominal.

Eventualmente, as aderências podem se formar sem nenhuma causa aparente. A tendência de formar aderências varia entre as pacientes, o que não é surpreendente, pois as pessoas são diferentes. Não se sabe o porquê algumas pessoas formam menos aderências do que outras após o mesmo tipo de cirurgia. Algumas aderências causam dor, enquanto outras não. Algumas pacientes com aderências severas não têm nenhuma dor, enquanto uma aderência pequena e localizada pode causar um acotovelamento intestinal e causar até mesmo obstrução.

Quando as aderências doem, elas doem no local onde elas ocorrem. As pacientes utilizam algumas vezes termos como “puxando” ou “esticando” para descreverem a dor da aderência. Não se espera que a dor da aderência varie com o ciclo menstrual a não ser que aderências ao redor de um ovário fiquem tracionadas por um cisto em crescimento. Muitas pacientes com endometriose também têm aderências, e geralmente não é possível determinar se a dor é causada por aderências ou pela endometriose.

Após a ressecção laparoscópica da endometriose, 2/3 de minha pacientes reoperadas tiveram um score de aderências igual ou inferior. Não há nenhuma evidência de que a dissecção com tesoura provoque mais aderências que o laser ou eletrocoagulação. De fato, um estudo que comparou o dano tecidual de tesoura e laser concluiu que “o aumento significativo de necrose tecidual e subsequente reação de corpo estranho que se segue à dissecção com laser comparada à dissecção com micro-tesouras nos levou a concluir que a dissecção com tesoura é a modalidade de escolha”.

Se houver aderências presentes durante a cirurgia, há uma grande possibilidade que elas se formarão novamente no exato local após a sua remoção. O tecido cicatricial se desenvolve com mais frequência quando a cirurgia é realizada próxima ao intestino e ovários. Aderências significativas raramente se desenvolvem quando a cirurgia é realizada apenas no peritônio do assoalho pélvico.

Pensava-se que o INTERCEED, uma membrana sintética de celulose, prevenisse a formação de aderências, mas eu parei de usá-lo em minhas cirurgias. Isso porque o mesmo não foi estudado em pacientes com endometriose, e cinco de seis pacientes reoperadas nas quais o INTERCEED foi utilizado tinham aderências densas e vascularizadas onde a membrana havia sido colocada. Além disso, um resumo de trabalho apresentado no encontro anual da American Fertility Society em 1991 mostrou que o INTERCEED causou a formação de aderências em animais, mesmo que não houvesse sido realizada nenhuma cirurgia.

Adenomiose:

Eu e o médico e cientista americano 
doutor David Redwine,
em sua passagem ao Brasil em 2014
Adenomiose é uma mudança estrutural da parede muscular uterina que ocorre quando um tecido similar ao revestimento uterino invade o músculo. O útero pode parecer e ter uma consistência normal, e ainda assim ter adenomiose. Nem a laparoscopia ou a histeroscopia podem diagnosticar a adenomiose, e não há nenhum tratamento médico conhecido capaz de erradicá-la. A única opção largamente disponível até o momento é a remoção do útero, apesar daquela rara paciente que pode ter uma área de adenomiose isolada na musculatura uterina.

Prolapso uterino, retroversão uterina:

Prolapso refere-se à descida do útero na (e algumas vezes fora da) vagina. Parece ser mais comum em mulheres que tiveram filhos, já que o processo da gestação pode enfraquecer as estruturas de suporte da pelve. Parece também ser mais comum em mulheres na pós-menopausa, já que o estrogênio ajuda a fornecer algum grau de tônus às estruturas de suporte pélvico.

Como isso é um defeito de ligamentos, tendões e tecido conjuntivo, ele geralmente não responde bem aos exercícios dos músculos pélvicos. A dor do prolapso uterino é causada pela tração e descida do tecido pélvico, e as pacientes frequentemente usam termos como “se agachando”, “saindo para fora”, ou “parece que vou ter um bebê”. Menciona-se algumas vezes dor lombar e baixa e sensação de queimação. Pode ocorrer também à perda de urina com a tosse, espirro, exercício ou pegar peso.

Retroversão uterina é a mesma coisa que útero “invertido”. O útero repousa sobre o reto ao invés de ficar suspenso sobre a bexiga. Isso pode levar à dor lombar baixa, dor na relação sexual, e dor aos movimentos intestinais. A relação sexual dolorosa pode ocorrer porque o corpo do útero retrovertido situa-se exatamente no fundo da vagina e pode ser tocado durante a relação como uma bolsa de boxe, particularmente se estiver acometido por adenomiose. Movimentos intestinais dolorosos podem ocorrer se um útero retrovertido com adenomiose ou algum outro problema repousar sobre o reto e ser tocado durante a eliminação das fezes pelo reto.

Incomuns e desconhecidos:

Calcificações pélvicas ou inflamação crônica são eventualmente encontradas ao invés de endometriose. A distribuição geral dessas doenças é idêntica àquela da endometriose. Apesar de terem origem desconhecida, elas podem ocasionalmente causarem dor, já que algumas pacientes sem quaisquer outros achados conseguem melhorar da dor quando essas áreas são removidas. A inflamação crônica não é uma infecção, e não responde ao tratamento antibiótico. Algumas pacientes têm dor por motivos que permanecem desconhecidos, mesmo que sua dor seja tratada com a remoção do útero, das trompas e dos ovários. Isso serve para nos lembrar de que nós ainda não sabemos tudo o que precisamos sobre as causas de dor pélvica.

Nota do Tradutor: uma das principais questões trazidas pelas pacientes com dor pélvica é se a dor pode ser causada por endometriose, título deste texto escrito pelo doutor David Redwine. A distinção, de fundamental importância, pode não ser aparente em um primeiro momento, e não raramente faremos o diagnóstico apenas após várias consultas e exames clínicos.

Acrescenta-se às possíveis causas ginecológicas de dor pélvica aqui descritas (adenomiose, miomas uterinos, aderências, etc) aquelas de origem neurológica. Especificamente, dores causadas por doenças dos nervos da pelve, estudadas pela especialidade de Neuropelveologia. Dores em nervo ciático, nervo pudendo, nervo ilioinguinal e genito-femoral (ambos na parede abdominal), entre outras, são causas relativamente comuns de dor pélvica, mas que dificilmente são diagnosticadas. Características que nos fariam pensar nesta dor são a sua forte intensidade, dor que faz acordar à noite, dor presente constantemente, dor localizada ou com uma irradiação específica. 


Sobre o doutor Alysson Zanatta:
Graduado e com residência médica pela Universidade Estadual de Londrina, doutor Alysson Zanatta tem especializações em uroginecologia e cirurgia vaginal pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), cirurgia laparoscópica pelo Hospital Pérola Byington de São Paulo e doutorado pela Universidade de São Paulo, USP. Suas principais áreas de atuação são a pesquisa e o tratamento da endometriose, com ênfase na cirurgia de remoção máxima da doença. Seus inter­esses são voltados para iniciativas que promovem a conscientização da população sobre a doença, como forma de tratar a doença adequadamente. É diretor da Clínica Pelvi Uroginecologia e Cirurgia Ginecológica em Brasília, no Distrito Federal, onde atende mulheres com endometriose, e ex-professor-adjunto de Ginecologia da Universidade de Brasília (UnB). (Acesse o currículo lattes do doutor Alysson Zanatta). 

quinta-feira, 11 de maio de 2017

A HISTÓRIA DA LEITORA SORAIA SABINO LARA, SUA ENDOMETRIOSE PROFUNDA E SUA GESTAÇÃO DO CORAÇÃO!!

A mineira Soraia Sabino Lara, seu marido, Wellington Lara de Souza,
e o filho, que ainda não pode mostrar o rosto por decisão judicial


Neste mês de maio o A Endometriose e Eu conta uma história muito especial da leitora mineira Soraia Adriana Sabino Lara, de 40 anos, que descobriu ser portadora de endometriose profunda anos após ser diagnosticada com infertilidade sem causa aparente, e quase 10 anos após iniciar suas primeiras tentativas de gestar seu bebê. Cerca de 20% da infertilidade feminina e masculina não tem causa aparente, ou seja, não tem diagnóstico. Como muitas endomulheres, a Adriana só descobriu sua infertilidade após dois anos de frustradas tentativas para engravidar. Mesmo com esse possível diagnóstico, ela seguiu sua intuição e foi atrás por conta própria tentar descobrir o que tinha. No meio do caminho o marido de Adriana também se descobriu infértil. Com o desejo de ser pais, o casal optou pela adoção. Ser mãe é mais que gerar um filho no ventre, é gerar seu filho primeiramente no coração, lugar onde todos os filhos devem ser gerados. Eu gosto muito de contar histórias de leitoras que se tornaram mães no Mês das Mães, e neste ano, minha emoção é maior, pois é a primeira vez que contamos um testemunho de adoção na coluna. É impressionante como nossos filhos são os escolhidos de Deus, sejam eles gerados no ventre ou no coração. E o emocionante testemunho de Adriana é a prova disso. Afinal, quando sabemos se é essa ou aquela criança? E se eu sentir aquela identificação com a criança? Isso aconteceu com Adriana e seu marido. Após o relato de Adriana temos certeza que precisamos espalhar a correta conscientização da endometriose para que outras mulheres não passem o que ela passou. O descaso e o despreparo dos médicos são absurdos e temos de mudar esta realidade o mais urgente possível. E juntas iremos conseguir. Mais um texto que vai inspirar muitas endomulheres que desejam alcançar o sonho da maternidade. Segurem as lágrimas. Beijo carinhoso! Caroline Salazar 

Nota da editoraA Adriana entrou em contato comigo após os textos da coluna "Gestação do Coração", onde nossa querida Ane relata sua maternidade por meio da adoção. Por questão judicial, a Adriana ainda não pode mostrar o rosto do filho e nem falar seu nome, mas com certeza ela voltará na coluna "Gestação do Coração", quando sair a guarda definitiva para mostrar sua preciosidade.

“Meu nome é Soraia Adriana Sabino Lara, tenho 40 anos e sou casada com o Wellington Lara de Souza, de 43, e sou de Ibirité, região metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais. Estamos casados há 20 anos e, desde namorados, sempre planejamos filhos em nossas vidas. Dizíamos que iríamos ter três filhos, mas a história não foi tão simples como imaginávamos.

Quando tínhamos quatro anos de casados, em 2001, começamos a tentar ter filhos. Tentamos por meios naturais por quase dois anos. Como não conseguimos começamos a nos preocupar. Então, procurei médicos e fiz vários exames, mas nenhum deles detectava nada de errado comigo. Com isso meu marido começou a fazer exames também. E ora ele tinha alguma coisa, ora não apresentava nada. Ou seja, parecia que nem mesmo os médicos sabiam o que tínhamos.

Nisso se passaram mais uns dois anos fazendo exames e nada. Aí resolvemos ir a uma clínica de reprodução humana. Fizemos novos exames e o resultado foi: "esterilidade sem causa aparente". Não sei se era bom ou ruim ouvir isso. Mas mesmo assim nunca me pediram para fazer uma vídeolaparoscopia para verificarem se eu tinha algo mais grave ou não.

Decidiram que nós deveríamos fazer uma inseminação artificial na esperança de conseguirmos a tão sonhada gravidez. Fizemos a tal inseminação, mas eles não nos explicaram nada sobre os custos de todo o tratamento. Também não nos falaram que talvez precisássemos fazer três tentativas ou até mais, e que talvez teríamos que partir para fertilização a vitro, que é mais caro que a inseminação.

Fizemos apenas uma tentativa, que não deu nada certo. Quando soube que teria de fazer, pelo menos, três tentativas antes da FIV, desisti do tratamento. Na época não tínhamos conhecimento sobre valores e não sabíamos se dava para investir o pouco que tínhamos, já que os médicos não sabiam direito o que eu tinha. É bom ressaltar que nesta época ainda não se falava muito em endometriose. Comecei a ler muito sobre a infertilidade e suas causas e até achei que eu poderia ter a doença, cheguei a falar para alguns médicos, que não me derem ouvidos. Foi aí que resolvemos entrar na fila de adoção, pela a primeira vez. Eu já tinha certeza que queria adotar, mas meu marido entrou na fila meio que obrigado. Nessa época ele não queria muito a adoção, mas aceitou. E começamos a investigar a infertilidade de meu esposo.

Na época eu mesma falei que se meu marido tivesse feito um ou dois exames tinha sido muito. Ele foi a vários urologistas e depois de muitos, mas muitos exames constatou que ele tinha varicocele leve (nota da editora: inflamação das veias que drenam o sangue dos testículos e é a principal causa de infertilidade masculina, e mesmo tendo boa qualidade de esperma, eles tinham variações, uns eram mortos, outros lentos, outros deficientes e o restante guerreiros (risos). Até aí já era meados de 2003.

Enquanto esperávamos na fila continuei procurando a causa da minha infertilidade. Até que encontrei uma médica, que apesar de ela não tratar a endometriose, sugeriu que eu poderia ter a doença, e me indicou um médico. Passei em consulta com esse médico que me indicou outra. E aí depois de mais e mais consultas e exames, ela solicitou uma vídeolaparoscopia e foi constatada endometriose grau III quase IV. Depois de tanto tempo, em maio de 2010, descobri a causa da minha infertilidade.

Eu tinha focos em vários órgãos, em praticamente toda a minha pelve estava tomada de focos de endometriose. Eu tinha foco em toda a cavidade abdominal, nas paredes abdominais, no intestino, no fígado, na vesícula e meus ovários estavam aderidos ao útero.

Minha pelve também estava toda congelada. Fiz a cirurgia e ouvi da minha médica: “Você é louca de adotar filho. Você vai conseguir engravidar naturalmente agora. Sai da fila que você tem 90% de chance de engravidar”.

Como não conhecia nada sobre a endometriose e nunca tinha ouvido falar dessa doença, saímos da fila de adoção. Na expectativa de engravidar, tomei muitos hormônios, engordei 10 quilos e fiquei com menopausa precoce. Sofri muito nesta época.

Menos de um ano da primeira fiz outra videolaparoscopia para ver como estava minha endometriose e viram que estava tudo limpinho. Disseram que estava pronta para engravidar, mas como meu marido também tinha problema - mesmo simples -, mas o suficiente para não conseguirmos nosso positivo.

Eu e meu marido entramos numa depressão por causa de toda a situação. A partir daí decidimos entrar na fila de adoção novamente, e desta vez, decidimos que não iríamos mais sair dela. E se eu engravidasse naturalmente, ótimo se não iríamos ter filhos do mesmo jeito (nesta época meu marido já desejava muito a adoção).

Desse dia em diante se passaram mais um ano e eu precisei fazer nova cirurgia, pois com as tentativas para engravidar e os hormônios para ovular, a minha endometriose já estava no grau IV. Era agosto de 2014. Porém, desta vez, a cirurgia foi aberta. Foram 32 pontos com o corte igual da cesárea, e foram retirados 11 miomas, muitos, mas muitos cistos e metade de um dos meus ovários. Depois desta terceira cirurgia minha chance de engravidar já estava em quase 0.

Pelo fato de nesta época já estar na fila da adoção, me dei a chance de pensar mais em cuidar de mim e da minha saúde. Alguns meses depois coloquei o DIU Mirena e, desde então, estou ótima. Hoje faço somente controles anuais. Minha endometriose está controlada. Nesse período em que estivemos na fila apareceu algumas crianças para conhecermos, mas em nenhuma houve a identificação de pais e filho.

Mas seguimos em busca do nosso tão sonhado filho. No dia 16 de fevereiro de 2015 recebemos uma ligação de que tinha um menino de 1 ano e 5 meses à nossa espera. Ele tinha tamanho e trejeitos de um bebê de 10 meses. Os genitores eram usuários de drogas. A genitora era moradora de rua e o genitor desconhecido. Ele tinha micro pênis, hérnia inguinal, um leve problema cardíaco, baixo peso devido a não ter recebido alimento no período gestacional, não andava e não falava nada cm 1 ano e 5 meses.

Mas mesmo com todos “esses problemas” meu coração e o do meu marido diziam que ele era o nosso filho. Quatro dias depois do telefonema, no dia 20, fomos conhecer nosso tão esperado filho. E realmente foi confirmado que ele era o nosso filho. Durante uma semana o visitamos no abrigo. E finalmente no dia 27 o levamos para casa.

Tivemos apenas uma semana para comprar todo o enxoval, pintar o quarto, comprar móveis, comidinha de neném e tudo que um bebê tem direito. Na primeira noite em casa ele dormiu em nossa cama e parecia um sonho. Tudo era um sonho. Fizemos um chá de boas-vindas para ele, onde ele ganhou muitos presentes e a recepção dos amigos. Neste dia todos viram a nossa alegria por termos formado nossa família. Foi lindo. Mas nem tudo foi  flores.

Nos primeiros meses dele em casa eu ia com ele aos médicos, pois ele fazia alguns acompanhamentos e foi muito desgastante, pois eu não estava acostumada com nada disso e tudo foi diferente. Perdi os 10 quilos que eu tinha ganhado (risos) nos tratamentos de reprodução assistida. Mas tudo foi uma fase.

Ao passo que nosso filho ia ganhando amor, cuidados só para ele, atenção, comidinha caprichada, ele foi ganhando alta dos médicos também. Nessa época ele fazia acompanhamento com as seguintes especialidades: fisioterapeuta, cardiologista, endocrinologista pediátrico, nutricionista, geneticista, ortopedista, neurologista. Hoje ele só vai ao endocrinologista e ao geneticista.

Ele é um menino esperto, corre por todo canto, fala demais, já está na escolinha, conhece o Abc completo e conta de um a 100. Conhece as cores, inclusive, em inglês. O que nosso filho precisava para ajudar em seu desenvolvimento era de uma família que o amasse, de muito amor e cuidados, mais nada.

Hoje ele está com 3 anos e meio e posso dizer que agora sim nossa vida está completa. Agora estamos muito perto de ele ganhar definitivamente nosso sobrenome. Por isso não vamos mostrar ele de frente. Estamos seguindo uma orientação judicial de não expor ele ainda sem nosso sobrenome. Mas em breve vocês o verão de frente.

Eu sempre quis ser mãe, mas não necessariamente precisaria engravidar para realizar esse sonho. Eu tentei e muito ter meu biológico, mas Deus tinha outros planos para mim. Eu queria construir minha família ao lado de meu marido e hoje sou muito feliz e grata por ter conseguido. Meu filho não foi gerado em minha barriga, mas sim no meu coração e na minha mente.

Se você está passando por uma situação semelhante, meu conselho è: “Família é quem você escolhe para você. Família é quem você escolhe para viver”.  Quero muito agradecer o grupo Gaabh - Grupo de Apoio à Adoção de Belo Horizonte, que me manteve focada no nosso sonho e nos ajudou a conquistá-lo.

Um beijo carinhoso a todas que leram minha história e que você possa realizar o sonho da maternidade e da família, independente de onde eles venham. Eu amo minha família e espero que minha história inspire muitas endomulheres que lutam contra a infertilidade. Soraia”.