O A
Endometriose e Eu apresenta mais uma entrevista exclusiva com a
neurocientista Libby Hopton, que a conheci durante a 1ªJornada Internacional de Anatomia e
Tratamento Cirúrgico para Endometriose,
em São Paulo. Por ter formação como neurocientista, Libby começou a pesquisar e
a estudar sobre a doença, após ser diagnosticada, por encontrar a muitas
informações errôneas. Seu objetivo, assim como o nosso (de toda equipe do
blog), é passar o conhecimento
correto às endomulheres Foi muito bom tê-la conhecido e saber que há
pessoas que pensam como nós. Não podemos aceitar que ainda exista médicos que
falam que a dor é psicológica, não podemos aceitar que ainda haja especialista
que falem que a "endometriose é a doença da mulher moderna", não
podemos aceitar que médicos culpem as mulheres pelo retorno da doença.
Precisamos ser mais ativas e não aceitar os "rótulos" que colocam em
nós, portadoras de endometriose. Você sabia que a endo pode ser encontrada em fetos na mesma proporção e nos mesmos locais que nas mulheres adultas? Por isso, o A Endometriose e Eu,
além de ser o blog mais completo da doença idealizado por uma endomulher no
mundo, é o único que traz entrevistas exclusivas internacionais, com
informações corretas e de qualidade, o que faz parte da conduta profissional de
sua idealizadora promovendo a correta abordagem da endometriose e o jornalismo
sério e ético. Foi muito bom ter passado também algumas horas de lazer com
Libby em sua primeira visita ao Brasil. Espero revê-la em breve!! Leia também
as entrevistas exclusivas com o doutor David Redwine e com o doutor Charles Koh. Agradeço ao doutor Alysson Zanatta pela ajuda na entrevista in loco. Beijo carinhoso!! Caroline Salazar
Entrevista exclusiva concedida à
Caroline Salazar *proibida a reprodução sem autorização prévia da autora
Tradução:
Alexandre Vaz
Caroline Salazar: Como você conheceu o doutor David Redwine e como
isso ajudou a que você tomasse contato com outros médicos e pacientes?
Libby: Quando eu fui
diagnosticada com endometriose eu queria entender a doença. Então, comecei a
fazer pesquisas online e na literatura científica. Dei de cara com muita
informação contraditória, opiniões opostas e quase todos os aspectos dessa
doença, desde como ela surge na mulher até quais os tratamentos mais eficazes,
e se a doença pode ou não ser curada. Um dos médicos que surgiu nas minhas
pesquisas, e que evidenciou pela sua abordagem analítica à doença foi o doutor
Redwine. Eu fiquei confortada quando descobri o trabalho dele porque eu
conseguia entender a forma como ele pensava sobre a doença e ele colocava
muitas questões que me perseguiam, e para as quais eu não tinha conseguido
respostas. Algum
tempo depois eu descobri que existe uma comunidade online muito ativa de
portadoras e médicos nas redes sociais, tais como o Facebook e o Twitter. Eu
entrei em um grupo no Facebook do qual o doutor Redwine já fazia parte como
membro ativo e aproveitei a chance para debater com ele alguns dos meus
pensamentos que tinham resultado das minhas leituras. Na época ele estava
trabalhando no seu último livro: Googling Endometriosis: the lost centuries
(Pesquisando a endometriose: os séculos perdidos), a história detalhada da
endometriose, e vendo o meu interesse na doença ele me convidou para revisionar
os primeiros capítulos do livro. Eu fiquei muito grata por poder me envolver de
alguma forma, e no final acabei ajudando ele a editar o livro. Mais tarde,
quando ele se aposentou da sua prática clínica, ajudei-o a montar seu site, e
juntos fizemos uma pesquisa científica questionando sobre a existência de
endometriose microscópica invisível. Depois criei o EndoMetropolis e
consegui chegar junto a outros médicos e pacientes que estavam interessados em
debater todos os assuntos em torno da endometriose. Para as pacientes foi uma
forma de ficarem informadas sobre opções de tratamento e buscar as melhores
soluções. Para os médicos foi uma forma de chegar junto das pacientes,
partilhar a sua experiência e entrar em debates interessantes sobre a causa da
doença e quais as melhores abordagens para tratamento.
Caroline Salazar: O que você fala para as pacientes que chegam até
você, que estão com dor, mas que já escutaram que sua dor é normal e que está
tudo em seu psicológico. Neste caso, me refiro às pacientes cujos exames de
imagens sempre deram normais, e elas recebem como resposta que suas dores são
psicológica?
Libby: Para
começo eu aceito que a dor delas é real. Eu levo em conta o que elas me falam.
Claro que não sabemos se a dor se deve à endometriose ou não, mas eu informo
que a endometriose é a principal causa de dor pélvica, e que muitas mulheres
que têm dor por conta da endometriose lutam para conseguir um diagnóstico e
podem inicialmente ter a sua dor desvalorizada como sendo “psicológica”. É
possível ter resultados de exames normais e ainda ser portadora da doença. Por
exemplo: a imagem apenas poderá mostrar cistos ovarianos e em alguns casos,
doença profunda, mas não pode confirmar se a paciente possui endometriose
superficial. Por isso, um exame normal não exclui a doença. Eu também explico
para elas qual a diferença entre um exame bimanual (nota da editora:
exame de toque em que é feita palpação do útero, trompas e ovários) e um exame
vaginal digital, em que apenas é examinada a área posterior do útero. Esses
dois exames precisam ser realizados para perceber se a dor pélvica é uterina ou
não. Se o médico apenas realizar o exame de toque, o desconforto ao toque e
nódulos devido à endometriose podem passar despercebidos. Eu aconselho a
paciente a continuar procurando diagnósticos corretos, e se elas acharem que
não receberam a atenção devida, não desistam e busquem um médico que te escute,
que pegue seu histórico médico detalhado, que faça os exames necessários e, se
necessário, diagnóstico por laparoscopia. No grupo aceitamos a colocação
de fotos e registros médicos para que os médicos do grupo possam dar suas
opiniões – claro que isso não equivale ao aconselhamento médico realizado num consultório,
mas serve como conhecimento complementar. Por vezes, as pacientes são
submetidas a cirurgias e é lhes dito que não têm endometriose, quando na
verdade são portadoras da doença. Ou a sua pelve simplesmente não foi examinada
em detalhe para detectar anomalias nos tecidos. Nem todos os ginecologistas
estão capacitados para reconhecer a doença em todas as formas que ela se
apresenta, e, nesses casos, o diagnóstico pode ser errado. Em resumo, eu
digo às pacientes que continuem a buscar respostas, e, se sentirem que não
receberam os cuidados necessários do seu médico, não devem perder a esperança.
A sua dor é real e você deve procurar outra opinião. Defenda sempre aquilo que
você está sentindo e não permita que os outros te chamem de “louca” e não
aceite que falem que suas dores são psicológicas – muitas, milhares de mulheres
já escutaram isso, o que apenas faz demorar ainda mais o seu diagnóstico. Dor
pélvica, embora seja um problema comum nas mulheres, não é um sintoma
psicológico.
Caroline Salazar: Frequentemente vemos leigos e
até especialistas afirmando que a endometriose é “a doença da mulher moderna”.
Qual é a sua opinião sobre isso?
Libby: Bom,
isso depende um bocado de como você define o conceito de mulher moderna.
Caroline Salazar: No contexto em que é falada, a expressão se
refere à mulher que coloca a carreira antes da maternidade, que trabalham duro
e atrasam a formar sua família.
Libby: Existem, claro, mulheres de carreira com endometriose, mas também existem
adolescentes com endometriose, mães com endometriose, mulheres que já entraram
na menopausa com endometriose, e mulheres desde a antiguidade que, muito
provavelmente, eram portadoras de endometriose, baseado nos registros dos seus
sintomas e relatos clínicos. A endometriose pode afetar meninas e mulheres em
qualquer fase de suas vidas, independente de etnia e origem socioeconômica. A
visão de que essa doença está limitada a mulheres na casa dos 30 anos, ou na
idade reprodutiva, que deram prioridade à carreira em vez da maternidade é
tolice, e está dificultando o diagnóstico de pacientes e distorcendo a nossa
visão e compreensão sobre essa doença. Eu
acho que essa ideia errada muito provavelmente deriva da linha de pensamento em
que a menstruação retrógrada causa endometriose, e, portanto, quanto mais fluxo
menstrual a mulher tiver, maior a chance de ela desenvolver endometriose, além
de ainda desenvolver mais focos... mas se observarmos os fatos em torno da
doença, pacientes mais velhas não possuem mais focos nas suas pelves do que
outras mais novas, e uma gravidez anterior ao diagnóstico não é um fator de
proteção contra a endometriose. As teorias deveriam acomodar os fatos e não o contrário...
se uma teoria não explica adequadamente os fatos sobre uma doença, então, ela
não está certa, e precisa ser acertada para ajustar aos fatos, ou então,
descartada por completo se uma teoria concorrente providencia uma melhor
explicação.
Caroline Salazar: E o que
você acha da culpa colocada nas portadoras?
Libby: Eu
consigo entender porque os médicos ficam frustrados com essa doença. Essas
pacientes frequentemente não respondem bem às terapias médicas. Ainda não
existe terapia médica curativa. A cirurgia frequentemente é uma “questão de
sorte”, porque a maioria dos cirurgiões simplesmente não têm tempo, treinamento
e nem experiência suficientes para remover a doença totalmente, e se focos são
deixados para trás, ou apenas forem parcialmente tratados, essa cirurgia está
condenada ao fracasso. Cedo ou tarde a paciente irá voltar com os mesmos
sintomas e a pergunta que surge é “e agora?” Com o tempo, após muitos
tratamentos falhados, tanto o médico como a paciente acabam ficando frustrados
e o médico pode sentir a tentação de culpar a paciente em vez de reconhecer que
errou no tratamento do problema da sua paciente. Claro que essa doença e o
padrão de tratamentos falhados não é culpa da portadora e culpá-la apenas serve
para machucar ainda mais a mulher, deixando que ela se sinta isolada e sem
esperança. Essa doença é uma lição de humildade para todos os que estão
envolvidos. Obviamente, a abordagem mais aceita para os tratamentos precisa
mudar. Os médicos precisam informar as pacientes que não as conseguem tratar
cirurgicamente, e precisam existir mais meios para treinar médicos em cirurgia
laparoscópica avançada, para que se possa oferecer a remoção completa da
doença. Essa mudança não irá acontecer do dia para a noite, e necessita de
maior compensação por essas cirurgias complexas, maior reconhecimento da
especialização envolvida quando alguém se torna um especialista em excisão de
endometriose. Com certeza não deveríamos culpar a paciente, mas a culpa também
não fica apenas nas costas dos médicos. Os problemas que impedem as pacientes
de receberem os cuidados adequados são em parte devidos a falhas estruturais
institucionais, o papel das companhias de seguros (convênios médicos) que se
negam a compensar adequadamente a cirurgia para endometriose, e a falta de
investimento dos governos no que é uma doença debilitante muito comum que afeta
milhões de mulheres. Quanto às pacientes, nós precisamos nos manter
ativas, exigindo melhores cuidados e também nos representarmos a nós mesmas se
sentirmos que os médicos estão nos deixando na mão.
Caroline Salazar: Que
idade você tinha quando foi diagnosticada com endometriose e qual a sua
história pessoal?
Libby: Eu
tinha 26 anos quando recebi meu diagnóstico de endometriose. No meu caso, eu
fui o fator mais influente no atraso do diagnóstico porque eu não busquei ajuda
para os meus sintomas, e a doença apenas foi detectada quando eu fiz um exame
de rotina com um ginecologista. O médico por acaso fez um ultrassom e detectou
endometriomas grandes nos meus dois ovários e, imediatamente, suspeitou de
endometriose. Eu cometi o erro de achar que a dor pélvica era algo bastante
comum, normal. Então, ignorei esse sintoma e ia levando a minha vida. Afinal,
minha mãe tinha tido os mesmos sintomas, nunca tinha recebido qualquer
diagnóstico de doença e foi capaz de conceber filhos sem dificuldade. Eu,
simplesmente, achava que a dor era normal. Somente após a remoção bem sucedida
da doença, eu pude apreciar qual o impacto que esses sintomas tinham em mim
durante todos esses anos, e como eu deveria ter agido acerca disso muito antes.
Eu acabei tendo muita sorte já que a minha primeira cirurgia foi com um
especialista em endometriose. Assim que surgiu a suspeita de endometriose, eu
comecei a pesquisar sobre a doença e fui capaz de tomar decisões conscientes
sobre o que seria a melhor opção para mim. Mais tarde precisei de nova cirurgia
porque na primeira a doença não foi totalmente removida e desenvolvi várias
aderências pós-operatórias. Hoje, um ano após a minha última cirurgia, eu
continuo vivendo muito bem com 95% dos meus sintomas resolvidos. A moral dessa
história é que embora a dor pélvica seja comum, não é normal e deve ser levada
a sério. Se você tem dor pélvica, não a ignore. Existe ajuda e tratamento
disponíveis. Um diagnóstico precoce junto com tratamento é a melhor opção, e se
existir suspeita de endometriose, é muito importante encontrar um médico
especializado no tratamento cirúrgico dessa doença.
Caroline Salazar: Então,
quantos anos você sofreu com dor?
Libby: Desde os
meus 13 ou 14 anos, o que significa 12 ou 13 anos de dor, embora, eu nunca
tenha experimentado dor constantemente, e os sintomas tenham piorado um pouco
ao longo dos anos. Com 14 anos eu me lembro que pensava para mim mesma: se essa
dor não era simplesmente algo normal e parte da condição de ser mulher, seria
considerada como uma doença terrível. Como eu era ingênua...
Caroline Salazar: Qual o
conselho que pode dar às meninas e mulheres com dor pélvica, mas cujas mães
asseguram que essa dor é normal?
Libby: Dor
pélvica é comum, mas isso não faz com que seja normal. Quando o corpo dói, está
tentando comunicar algo importante para você – a dor é funcional ao alertar a
paciente de que algo não está certo, e que precisa da sua atenção. Se está
debilitada pela dor pélvica, se está interferindo com as suas atividades
diárias e com a sua qualidade de vida, isso não é normal e deve buscar um
médico que se interesse pelo seu caso, investigue a causa dessa dor e inicie um
tratamento. Você não precisa viver desse jeito, e existe ajuda. Por isso, por
favor leve os sintomas a sério e não permita que outros normalizem ou minimizem
a importância da sua dor.
Caroline Salazar: O que
está pesquisando atualmente?
Libby: Eu trabalho
como pesquisadora para o doutor Andrew Cook no Vital Health Institute em Los
Gatos, na Califórnia. O doutor Cook é um especialista em excisão de
endometriose e vêm monitorizando as suas pacientes faz mais de uma década. É
nossa esperança reavaliar a escala pela qual a a doença é medida, e potencialmente
desenvolver um novo sistema de avaliação não apenas baseado nas descobertas
cirúrgicas, mas também incluindo informação pré-operativa das pacientes para
ajudar a prever a complexidade cirúrgica e os resultados pós-operatórios. Ao aceder não apenas aos resultados das
cirurgias, mas, também, a várias variáveis pré-operativas, é nossa esperança
identificar e dimensionar os tratamentos em sub-grupos específicos de modo a
melhorar os resultados a longo termo e a ajudar pacientes a aceder aos cuidados
de saúde ótimos nas suas trajetórias de tratamento. É um projeto ambicioso, mas
eu acho que algo assim poderá revolucionar o futuro dos tratamentos de
endometriose.
Caroline Salazar: Como
pesquisadora, você tem algum contato com as pacientes?
Libby: Acabei de
me mudar da Holanda para a Califórnia. Agora, naturalmente, terei a chance de
trabalhar mais próximo das pacientes quando faço as pesquisas. Obviamente, não
sou médica, mas é importante que, se a pesquisa é para ser clinicamente
relevante, a distância entre ciência, médicos e pacientes deve ser
encurtada. Também
é muito importante que as mulheres estejam atentas aos estudos que estão sendo
feitos para que possam estar presentes, fomentando um sentimento de esperança e
envolvimento na comunidade da endometriose como um todo, e ajudar a melhorar os
resultados para as gerações futuras de mulheres, suas filhas e netas. Tendo a
possibilidade de contribuir na pesquisa de alguma forma pode dar um sentimento
de envolvimento e poder para pacientes que vêm sofrendo por muitos anos por
conta dessa doença debilitante.
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quinta-feira, 30 de outubro de 2014
MAIS UMA ENTREVISTA EXCLUSIVA COM A NEUROCIENTISTA E ATIVISTA INGLESA LIBBY HOPTON!
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A Endometriose e Eu
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quarta-feira, 22 de outubro de 2014
"COM A PALAVRA, O ESPECIALISTA" DOUTOR HÉLIO SATO!!
"Com a Palavra, o Especialista" vai dar uma bela aula sobre a classificação de embriões, assunto de extrema importância para quem passa pela fertilização in vitro. O doutor Hélio Sato também aborda os possíveis exames a serem feitos para evitar as falhas de implantação. Muitas mulheres, infelizmente, fazem sucessivas tentativas de fertilização in vitro e/ ou de inseminação artificial, mas não obtém sucesso. É preciso investigar a fundo o porquê dessas falhas antes de novas tentativas. O doutor Hélio esteve presente no congresso mais importante do mundo em reprodução humana, o European Society of Human and Embryology (ESHRE), realizado em Munique na Alemanda, em junho e julho de 2014, e nos conta o que foi apresentado de novo para avaliar os embriões e, assim, ajudar ainda mais quem passa pela F.I.V. Nada é mais gratificante para um especialista em reprodução humana quando a mulher engravida logo na primeira tentativa, como no meu caso, algo raro, já que implantei apenas um único embrião prestes a completar 36 anos. Quando enviei meu Beta HCG a ele por email, não deu dois minutos toca o meu celular: "Parabéns, Carol, você está grávida!". Demorou para cair a ficha do doutor Hélio no decorrer da semana sobre meu milagre. E a minha também!! Exatamente hoje completo 18 semanas! Já estou escrevendo a segunda parte de minha história. Beijo carinhoso!! Caroline Salazar
Hélio Sato tem certificado em Laparoscopia pela Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e de Obstetrícia. É membro da AAGL “American Society of Gynecology Laparoscopy” e é coordenador de pesquisas da clinica de reprodução humana GERA e está à frente nas seguintes linhas de pesquisas: endometriose, biologia celular e molecular, cultura celular, polimorfismo gênico e reprodução humana. (Acesse o currículo Lattes do doutor Hélio Sato).
- O
que pode acontecer quando se tem embriões de qualidade A e não há implantação?
Sendo que foi feito exames na mulher e tudo estava bem. Há exames específicos a
serem feitos em relação a isso? Há também a possibilidade de rejeição do
organismo feminino? Vanessa Silva, Vitória – ES
Doutor Hélio
Sato: Os embriões são
classificados de acordo com o grau de fragmentação do citoplasma, ou seja, as
células dos embriões ao se dividirem podem perder parte do citoplasma, formando
vesículas e o grau de fragmentação varia de:
A –
Sem fragmentação
B –
Fragmentação discreta
C –
Fragmentação moderada
D –
Grande fragmentação
E, as
evidências apontam que quanto maior for a fragmentação menor é a capacidade de
implantação dos embriões. No entanto, algumas pesquisas não observaram esta
relação. Conclui-se que a avaliação da fragmentação é uma forma rápida, simples
e barata de avaliar os embriões, porém, ainda é muito falho.
Assim,
existem diversas pesquisas que avaliaram outras formas não invasivas de avaliar
os embriões a fim de poder prognosticar a taxa de implantação e poder
selecionar os melhores e assim aumentar a taxa de sucesso do tratamento.
Dentre
muitos, a avaliação full time dos
fenômenos celulares conhecido como time
lapse mostrou ser uma alternativa mais eficaz, porém, ainda assim, demanda
mais avanços. O time lapse não é nada
mais que uma câmera tipo “big brother”
que acompanha tudo que acontece com os embriões no meio de cultura, ou seja,
quando aconteceu a primeira divisão, a segunda, a terceira, etc... e como
aconteceu. Porém, ainda é uma tecnologia não disponível na maioria dos centros
de reprodução, pois, os custos do uso aumentariam ainda mais o valor do
tratamento. Recentemente, no congresso europeu que ocorreu em Junho de 2014
(Munique, Alemanha) observamos equipamentos que acoplam o time lapse juntamente
com as estufas que não necessitam serem abertas para avaliação dos embriões,
porém, os valores ainda são muitos altos.
Outra
alternativa que pode ser utilizada é avaliação da integridade cromossômica dos
embriões pela técnica de CGH (Comparative
genomic hybridization) e, para tanto, é necessário que os embriões alcancem
o 5º dia de evolução no meio de cultura, então, são removidos algumas células
para esta análise que consiste em comparar 2 cromossomos sendo 1 sabidamente
normal e outro a ser testado e assim é avaliado se o número de cromossomos são
normais, ou seja, 46, bem como se há partes em excesso ou falta. E, desta
forma, são transferidos apenas os embriões com a parte genética íntegra. Essa
técnica aumenta significantemente a taxa de implantação. Porém, cabe destacar
que a técnica tem custo relativamente alto e, infelizmente, muitos embriões não
alcançam o 5º dia de evolução no meio de cultura. Portanto, se nenhum embrião
alcançar esta fase conhecida como blastocisto ou se nenhum embrião estiver
geneticamente normal também não é feita a transferência. Com isso, o tratamento
terá de ser reiniciado novamente.
Quanto
às avaliações que podem justificar a falha de implantação, além da avaliação
embrionária, são aqueles que visam avaliar o endométrio e o sistema
imunológico-coagulação. O endométrio pode ser avaliado por diversas formas,
dentre elas, a histeroscopia que busca identificar sinais de endometrite
(inflamação do endométrio, a camada interna do útero onde tem de ocorrer a
implantação do embrião) e, também, verifica a existência de pólipos
endometriais e mioma uterino submucoso. Já a biópsia de endométrio
avalia as células que estão no endométrio e suas características e, também, tem
objetivo de avaliar a presença de endometrite (teste mais sensível que a
histeroscopia) e constata se o endométrio se prepara adequadamente para a
implantação.
A
forma mais moderna, porém, com custo mais elevado utilizado em pacientes que
tiveram falhas de implantação pregressas é o teste de expressão de RNA no
endométrio conhecido como microarray.
Embora, possa orientar o momento que deve ser feito a transferência seu custo
limita o uso rotineiro.
Em
relação às doenças autoimunes convém pesquisar as tireoidites (inflamação da
tireoide) autoimunes, lúpus eritematoso sistêmico e outros. Outros exames,
também, visam avaliar a tendência de trombose, conhecida como trombofilia.
Diversas mutações genéticas favorecem a trombose vascular, as mais comuns são o
fator V de Leiden, Mutação na protrombina (fator II), deficiência da anti-trombina
III e outros. Diante
de tantas opções de investigação, sugiro sempre rediscutir com o médico para
que novas opções sejam consideradas tanto para investigação quanto para
tratamento.
- Há dois anos tive uma gravidez na trompa e essa
trompa foi retirada devido a endometriose. Já passei por três vídeos e agora
estou tomando clomid. Quais exames tenho de fazer para verificar a
possibilidade de gravidez natural? Com uma trompa, eu consigo engravidar
naturalmente ou teria de partir para reprodução assistida? Rosimeire, São Paulo
- SP
Doutor Hélio
Sato: Nesta situação o exame básico a ser feito é a histerossalpingografia,
que verifica se sua única trompa está desobstruída. Dependendo do resultado, há
possibilidade de gravidez natural.
Sobre o doutor Hélio Sato:
Ginecologista e obstetra, Hélio Sato é especializado e endometriose, em laparoscopia e em reprodução humana. Tem graduação em Medicina, Residência Médica, Preceptoria, Mestrado e Doutorado em Ginecologia pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), e foi corresponsável do Setor de Algia Pélvica e Endometriose da mesma instituição.
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A Endometriose e Eu
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00:39
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doutor hélio sato especialista em endometriose e reprodução humana,
o que fazer quando há falhas implantação do embrião,
sucesso na fiv com apenas um embrião
sábado, 18 de outubro de 2014
"A VIDA DE UMA ENDOMAMÃE": A VIDA QUATRO MESES APÓS O PARTO E A ENDOMETRIOSE DANDO AS CARAS!!
Imagem cedida por Free Digital Photos |
Aos poucos nossa endomamãe vai voltando à ativa aqui no blog. Quatro meses após o nascimento de sua caçula, além de falar de Hadassa e dar alguns alertas às mamães, Tatiana nos fala de um possível retorno de sua endo. Isso quebra o mito de que a gravidez cura a endometriose. Já abordamos esse tema aqui na coluna do Dr David Redwine - A gravidez cura a endometriose? Não podemos esquecer que durante a gravidez as mulheres podem melhorar seus sintomas, mas depois... não significa que continuarão assim. Muitas continuam boas, mas outras não. Não, a gravidez não cura a endometriose. Precisamos ficar atentas aos sinais que nosso corpo apresenta. No meu caso, eu estava ótima antes da gravidez e assim continuo. Em breve vou contar a segunda parte. Vamos torcer e rezar para que tudo dê certo à nossa endomamãe. Beijo com carinho! Caroline Salazar
Por Tatiana
Furiate
Olá minhas queridas! Que saudades de escrever no nosso cantinho! Mas
confesso que minha vida está uma verdadeira loucura. A Hadassa está linda,
ótima, crescendo cada vez mais. Já chegamos ao 4° mês de vida. Seu peso está de
quase 8 quilos e ela está medindo cerca de 70
cm . Ela já faz gracinhas, dando gargalhadas para
os irmãos, uma linda princesa. A fase mais complicada já passou. Júlia e Arthur aproveitam para brincar com ela
e, assim, ela vem se desenvolvendo muito rápido. Ela já consegue virar sozinha
na cama, acredita?! Não posso mais deixá-la nem um minuto se quer sozinha e dar aquele
pulo na cozinha, por exemplo. Quando volto, ela não está no mesmo lugar. Nós,
mamães de bebês, precisamos ficar atentas às atitudes deles, para que não
ocorra nenhum acidente. É nessa fase que eles podem cair da cama ou do sofá,
por exemplo. Por isso toda atenção é pouco.
Minha rotina anda muito, mas muito corrida. Não é fácil liderar
uma equipe de cinco pessoas diariamente. Não é fácil ter três filhos, cada um com
necessidades diferentes. Cuidar da casa mais as crianças requer
muito jogo de cintura. Mães e donas de casa precisam ser muito valorizadas. É a profissão que vale ouro no mercado. No pouco tempo livre que me sobra curto a família e também estou aproveitando para fazer cursos. Já fiz o de drenagem linfática especial para gravidinhas. Quero me dedicar a elas.
Infelizmente, acho que a endo está dando as caras novamente. Após o nascimento da Hadassa, já tive duas infecções urinárias, muitas cólicas e desconforto urinário. O sangramento está pouco, pois tomo Cerazette de uso contínuo e, além disso, amamento exclusivamente minha pequena.
Infelizmente, acho que a endo está dando as caras novamente. Após o nascimento da Hadassa, já tive duas infecções urinárias, muitas cólicas e desconforto urinário. O sangramento está pouco, pois tomo Cerazette de uso contínuo e, além disso, amamento exclusivamente minha pequena.
A amamentação é um momento mágico e de uma intimidade maravilhosa
entre mãe e filho. É um vínculo único que temos com nosso pequeno desde quando
eles saíram de dentro de nós. Esse assunto também vale um post.
Além desse laço afetivo, a amamentação tem para nós, portadoras de endometriose, outro grande benefício. Enquanto amamentamos ficamos livres da menstruação. Vou arrumar um tempo
para ir ao urologista, especialista em endometriose do Trato Urinário. Ser
portadora não é uma tarefa fácil! E ser portadora e mãe, então, é muito mais
complicado, pois não podemos jamais deixar as dores tomar conta de nós,
principalmente, àquelas que cuidam da casa e da família todos os dias. Existe
uma galerinha que depende de mim, fora as mães que auxilio no grupo de gestante.
No próximo post vou falar um pouco mais com as mamães. Quero
abordar alguns assuntos relacionado à maternidade. E, claro, vou dando notícias
sobre minha investigação de um possível foco de endometriose na parte urinária.
Não poderia terminar essa postagem sem parabenizar minha grande amiga Caroline
Salazar, pela chegada da Babi, confesso meninas que foi difícil manter segredo
durante as primeiras 12 semanas, que é o tempo ideal para divulgar uma gravidez.
Acompanhei tudo sempre torcendo e orando por vocês. Bárbara seja bem-vinda. Sua endotitia já te ama. Beijo carinhoso.
Acompanhei tudo sempre torcendo e orando por vocês. Bárbara seja bem-vinda. Sua endotitia já te ama. Beijo carinhoso.
Postado por
A Endometriose e Eu
às
23:57
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gravidez cura ou trata a endometriose,
gravidez x endometriose
quarta-feira, 15 de outubro de 2014
"SAÚDE E BEM-ESTAR": O PERFIL DA ENDOMULHER É DIFERENTE DAS DEMAIS? NOVA COLUNISTA NO BLOG!!
imagem cedida por Free Digital Photos |
Hoje
iniciamos mais uma parceria com o objetivo de esclarecer ainda mais sobre esta
doença pouco conhecida que afeta cerca de 10 milhões de brasileiras e mais de
200 milhões de meninas e mulheres no mundo todo. Quem de nós já não foi chamada
de louca por sentir dores, muitas delas inexplicáveis? Quem já não foi chamada
de mole, de fraca, dentre muitos outros adjetivos de inferioridade por aqueles
que não sabem o que é a doença? Pensando em tudo isso, e sempre à frente
levando informações de qualidade, a psicóloga Ana Rosa Detilio Mônaco passa a
ser nossa colunista mensal para esclarecer do âmbito da psicologia como a
doença pode afetar nosso corpo e, principalmente, nossa mente. O mais
interessante é que além de atender as endomulheres, Ana Rosa também tem endometriose,
o que facilita seu entendimento sobre a doença. Faz uns 2 anos que namoro sua
participação aqui no A Endometriose e Eu,
desde que a conheci no programa “Papo de Mãe”. Quem persevera alcança. Agradeço
à Ana Rosa por ter aceitado nosso convite. Nosso objetivo é que o A Endometriose e Eu continue a ser o
blog mais completo do mundo sobre a doença. Em seu primeiro artigo, Ana Rosa
traça o perfil da portadora e dá alguns recados essenciais às endomulheres. E
às portadoras nunca se esqueçam que somos mulheres fortes, guerreiras,
decididas, muitas vezes, pilares da família, vencedoras, perfeccionista e mil e uma
utilidades! Beijo carinhoso!! Caroline Salazar
Psicologia
versus Endometriose: O perfil da endomulher é diferente das demais?
Por
Ana Rosa Detilio Mônaco
Edição:
Caroline Salazar
Pensar
em psicologia e em endometriose é um desafio imenso, já que nos deparamos com
um tema que aborda uma patologia que está contida em um diagnóstico médico. Porém, quando abordamos a
endometriose questionando o olhar da psicologia, nos deparamos com a necessidade
de analisar cada indivíduo frente sua singularidade. Por mais que atualmente
tenhamos mais informações a respeito desta doença tão enigmática, também nos
deparamos com as questões enigmáticas dos serem humanos. E aí temos um lugar muito fértil para refletir.
Um
estudo de 2002 (Low et Al) aponta que mulheres com endometriose apresentam um
determinado perfil: elas têm nível de ansiedade aumentado em relação às outras,
auto exigência, insegurança, mecanismos de defesa estruturais, portanto, são mais
rígidas. Alta capacidade de controle e comando, intolerância as falhas humanas
ou frente as frustrações, não contato com suas emoções e onipotência.
Fico
um pouco apreensiva frente tais questões, pois desde que tal pesquisa veio à
tona , sinto que de certa forma muitas mulheres com a doença se sentiram
acolhidas, considerando que finalmente alguém as compreendeu depois de tanto
tempo. Antes dessa pesquisa muitas se sentiram e ainda se sentem sozinhas nesta
vivência. E falar do perfil psicológico de mulheres com esta doença pode
significar para muitas um conhecimento muito além das questões físicas, algo
que remete intimidade, já que falar de comportamento é algo que gira em torno de
questões muito mais primitivas. Não tenho aqui a intenção de desmerecer tal
estudo, e sim, prosseguir além dele.
Pois
bem, aonde quero chegar é que saber como estas mulheres funcionam, como é seu
perfil psicológico, não tem apresentado conforto para suas vidas frente aos
sintomas que a endometriose pode apresentar. Pode apresentar? Sim, pois nem
todas as mulheres com a doença apresentam sintomas que tiram sua qualidade de
vida, algumas se deparam com a doença quando tentam engravidar sem sucesso ou
ainda podem demorar muito mais para descobrir ou ainda nunca chegar a este
conhecimento. Questiona-se também paralelamente a relação entre tal perfil e a
intensidade da dor da portadora.
Penso
que percorrer uma abordagem de acolhimento, respeito e compreensão da paciente
com endometriose e seus sintomas independente da intensidade. O caminho mais indicado
seria oferecer um ambiente de suporte para elas. E as pessoas mais próximas e
envolvidas com as endomulheres são a família e, em especial, o companheiro
quando há, e o médico especialista - o profissional que elas buscam quando
necessitam de ajuda -, seja para esclarecimento quanto para orientações. Atualmente sinto que traçar características,
diagnósticos ou ainda perfis é uma realidade, principalmente, na área da saúde,
pois se apresenta à falsa sensação de controle e conhecimento. Por este caminho
estaríamos todas no mesmo “balaio” e assim seria mais fácil ter algo a
oferecer. É claro que o conhecimento médico-cientifico é fundamental para termos
noção do corpo humano. Aqui estou percorrendo outro caminho, este que a
medicina não pode alcançar: os sentimentos.
Portanto,
mulheres portadoras de endometriose, cuidem-se e não somente do corpo, cuidem
de suas emoções, conheçam-se a si próprias e não sejam vulneráveis quando dizem
que vocês têm determinado perfil, pois muito do que se engloba neste “perfil”
pertence a própria condição humana e não somente em mulheres com endometriose.
Sinto que acolher estas informações pode levá-las a culpa, pois o que teoricamente
alimentaria a doença seria características da personalidade de tais mulheres, e
eu conheço mulheres que passam muito longe do “perfil” que também sofrem com a
endometriose.
Doença
da mulher moderna (linkar artigo), como tem sido nomeada também nos culpa por
termos deixado somente de cuidar da casa e da família e soa como um castigo por
termos mudado de foco. Sei de mulheres com mais idade que dão sinais legítimos
de ter tido endometriose e que eram donas de casa e não produziam por outro
caminho.
A
qualidade de vida pode, sim, fazer a diferença para todos, mas não nos livrará
totalmente de estarmos expostos a problemas com a saúde. Portanto, mulheres,
não se culpem pela doença e sim busquem forças para lutar contra ela, já que
ela já é presente. E a saúde emocional é um passo fundamental para encontrar saídas
e força para enfrentar esta batalha que é a convivência com a endometriose.
Sobre
Ana Rosa Detilio Mônaco:
Há 17 anos atuando na área cínica, a
doutora Ana Rosa foi residente e atuou como psicóloga hospitalar no Centro de
Referência da Mulher no Hospital Pérola Byington, em São Paulo. É especialista
em saúde, em psicoterapia breve e atua também em reprodução assistida. É professora convidada do Instituo Gerar e atende em seu consultório em São Paulo.
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A Endometriose e Eu
às
23:54
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perfil psicológico da mulher com endometriose
segunda-feira, 13 de outubro de 2014
ENDOMETRIOSE É ENCONTRADA EM FETOS NA MESMA PORCENTAGEM DAS MULHERES!!
Nota do tradutor: Neste texto, a doutora Phillipa Cook resume com
clareza e exatidão as terríveis consequências de acreditarmos que a
endometriose é causada pela menstruação retrógrada. Além do simples fato desta
teoria jamais ter sido comprovada diretamente, o fato de haver endometriose em
fetos, na mesma proporção e nos mesmos locais encontrados nas mulheres adultas,
falam contra essa teoria. As pesquisas que demonstraram endometriose em fetos,
apesar de amplamente conhecidas pela classe médica, não são divulgadas proporcionalmente
à sua grande importância, por algum motivo incerto.
Acreditar
que a endometriose é causada pela menstruação significa tomar remédios
hormonais, ou suspender a menstruação, acreditando que estaríamos
˜tratando" a endometriose. Significa a mulher acreditar que ela é culpada
por ter endometriose, por ter postergado a maternidade ou por não ter tomado
medicações prescritas. E como mencionado pela doutora Phillipa "é uma ótima
justificativa para a persistência da doença mesmo após cirurgias e tratamentos de
longo prazo".
É hora de
refletirmos e avançarmos, para o benefício real de milhões de mulheres ao redor
do mundo que têm esta terrível doença chamada endometriose.
Por doutora Philippa Bridge-Cook
Tradução: doutor Alysson Zanatta
Edição: Caroline Salazar
Por quê a endometriose em fetos é importante?
Os médicos aceitam amplamente teorias imprecisas sobre
como e porque a endometriose se desenvolve, apesar das muitas evidências
contra. A aceitação dessas teorias leva à perpetuação de tratamentos médicos
que não funcionam. É importante entender a origem da endometriose para que se
possa mover adiante e desenvolver tratamentos efetivos para essa doença
devastadora.
Endometriose
e a Teoria de Sampson:
A endometriose é definida com a presença de um tecido
similar ao endométrio fora da cavidade uterina. Muitos médicos e a imprensa
leiga simplificam essa teoria ao dizerem que a endometriose ocorre quando o
revestimento do útero é encontrado fora da cavidade uterina. Entretanto, há
muitas publicações enumerando as várias diferenças entre o endométrio e as
lesões de endometriose que são encontradas fora do útero. As evidências dessas
diferenças datam de, pelo menos, 1981, ou possivelmente antes, e as pesquisas
sobre essas diferenças seguem em andamento. Entretanto, persiste a percepção comum que a endometriose é
simplesmente o endométrio fora do útero.
A teoria de Sampson é uma teoria proeminentemente citada
para explicar o surgimento da endometriose. Essa teoria sugere que a
menstruação retrógrada, o sangue menstrual que flui para trás (fora do útero)
através das trompas de Falópio em direção à cavidade pélvica, deposita
fragmentos de endométrio na pelve, que podem então se implantarem e crescerem
como lesões de endometriose.
Há vários problemas com essa teoria. Primeiro, não há
nenhuma evidência que células endometriais presentes no líquido peritoneal
possam aderir-se ao revestimento da pelve (o peritônio), e as células endometriais
não costumam estar presentes no líquido peritoneal. Também, como mencionado
anteriormente, há muitas diferenças entre o endométrio dentro do útero, e as
lesões de endometriose. Além disso, 90% das mulheres têm menstruação
retrógrada, mas apenas 10% têm endometriose. A teoria de Sampson não pode
explicar a presença de endometriose em fetos, o surgimento de endometriose
em homens (leia nossos dois textos de endometriose em homens - texto 1 e
texto 2), e garotas que têm sintomas no início da puberdade ou mesmo antes
da puberdade. E também não pode explicar a presença de endometriose em
áreas fora da pelve, como nos pulmões, no diafragma, na pele, dentre outros.
Teorias
alternativas da Endometriose – Um componente Fetal:
Teorias alternativas que se encaixam melhor às
evidências têm sido propostas, incluindo a metaplasia (transformação de um tipo
de célula em outro tipo de célula), defeitos do desenvolvimento embrionário
(também conhecida como Müllerianose), fatores genéticos e ambientais.
Entretanto, nenhuma teoria mostrou-se correta, e o mais provável é que uma
combinação de várias influências contribua para o desenvolvimento da
endometriose. A teoria da Müllerianose explica o desenvolvimento da endometriose
como um tecido endometrial que foi deslocado (ou “colocado” em local errado)
durante o desenvolvimento fetal (ainda no útero da mãe), e que mais tarde se
transforma em lesões de endometriose. A evidência para suportá-la vem do fato
de que a endometriose foi encontrada em fetos femininos com a mesma
incidência do que nas mulheres, em torno de 10%.
A
persistência da teoria de Sampson –
uma rede segura para o tratamento inadequado
Por quê a teoria de Sampson continuou a ser tão
persistente apesar de todas evidências contrárias? Primeiro, nenhuma teoria alternativa
foi suficientemente comprovada para sobrepô-la, apesar que certamente há
evidências contrárias suficientes que precisam ser derrubadas. Segundo, muitos
médicos que tratam a endometriose não se especializam na doença, e a ciência
por trás da sua origem é provavelmente algo que eles não tenham muito
interesse.
É devastador para as pacientes com endometriose que a
teoria de Sampson continue a ser aceita apesar das evidências contrárias. Ela
dá aos ginecologistas um motivo para não se esforçarem para realizarem uma
remoção completa da endometriose de todos os órgãos, porque não há nenhuma
justificativa em se remover toda a doença já que ela irá se reimplantar na
próxima menstruação. A teoria de Sampson justifica as altas taxas de
recorrência observadas com cirurgiões que não se especializam em tratar a
endometriose.
Entretanto, cirurgiões que se especializam na ressecção
da endometriose, que removem toda a doença cuidadosamente, têm demonstrado
que é possível obter baixas taxas de recorrência após uma ressecção completa.
Isso requer não apenas o conhecimento de todas as aparências visuais possíveis
da endometriose, mas também a habilidade cirúrgica para ressecar a doença de
muitas áreas que os ginecologistas não conseguem, como a bexiga, o ureter, o intestino,
ou o diafragma, por exemplo.
A
teoria de Sampson e medicações que
previnem a menstruação:
A teoria de Sampson fornece às companhias farmacêuticas
um excelente motivo para convencer os médicos a prescreverem medicações que previnem
a menstruação. Se a teoria de Sampson está correta, então, qualquer medicação
hormonal que interrompa a menstruação tratará a endometriose. Muitas drogas que
estão no mercado podem interromper a menstruação – Lupron e drogas
similares, induzindo um estado de menopausa, e pílulas anticoncepcionais,
usadas continuamente. Entretanto, como esperado, já que a teoria de Sampson não
está correta, essas medicações nunca curaram a endometriose. Algumas pacientes
podem ter uma melhora temporária dos sintomas, especialmente, quando os
sintomas são relacionados ao período menstrual, mas as medicações hormonais não
tratam a doença subjacente.
A importância
da origem da doença:
Mesmo que possa parecer arcaico debater as origens da
doença, e irrelevante à maioria das pacientes com endometriose, o debate é
altamente relevante porque está ligado ao tratamento inadequado e ineficaz que
muitas mulheres com endometriose recebem. Para que realmente haja progresso e
se mova adiante na maneira como a endometriose é tratada, deverá ocorrer um
reconhecimento amplo de que a teoria de Sampson é mortalmente falha. Se a
endometriose está presente no feto, como já foi comprovado por alguns
cientistas, então, ela é uma doença completamente diferente de menstruação
retrógrada. O entendimento é importante para melhores opções de tratamento.
Fonte: Hormones Matter
Sobre o doutor Alysson Zanatta:
Graduado e com residência médica pela Universidade Estadual de Londrina, doutor Alysson Zanatta tem especializações em uroginecologia e cirurgia vaginal pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), cirurgia laparoscópica pelo Hospital Pérola Byington de São Paulo e doutorado pela Universidade de São Paulo, USP. Suas principais áreas de atuação são a pesquisa e o tratamento da endometriose, com ênfase na cirurgia de remoção máxima da doença. Seus interesses são voltados para iniciativas que promovem a conscientização da população sobre a doença, como forma de tratar a doença adequadamente. É diretor da Clínica Pelvi Uroginecologia e Cirurgia Ginecológica em Brasília, no Distrito Federal, onde atende mulheres com endometriose, e Professor-adjunto de Ginecologia da Universidade de Brasília (UnB). (Acesse o currículo lattes do doutor Alysson Zanatta).
Postado por
A Endometriose e Eu
às
19:44
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endometriose é encontrada em fetos na mesma proporção das mulheres,
endometriose em fetos,
endometriose vem mesmo da menstruação retrógrada,
qual a verdadeira teoria da endometriose
quinta-feira, 9 de outubro de 2014
COMO CONSEGUI MINHA "BÁRBARA" VITÓRIA DA MATERNIDADE - PARTE 1!!
Os primeiros vestidinho e sapatinhos da
Bárbara, presentes da vovó Reila e das titias Isabella e Renata
|
Faz muito, mas muito tempo que não escrevo mais sobre minha vida aqui no blog. Depois de ter ficado 100% sem dores, após minha segunda videolaparoscopia em 2012, o A Endometriose e Eu tomou uma proporção tão grande, que ele não é apenas mais meu, mas nosso. De um diário pessoal, o blog se tornou o mais completo do mundo sobre endometriose escrito por uma portadora. Desde então, o show fica por conta dos nossos colaboradores e, de idealizadora, passei a ser apenas a editora. Excepcionalmente hoje volto a escrever mais um capítulo de minha história, pois sei que ele ajudará muitas endomulheres a manterem acesa a fé e a esperança. Vou ser mamãe!! Estou grávida de 17 semanas (4 meses e 1 semana) à espera da princesa Bárbara e, claro, não poderia deixar de compartilhar com vocês tin tin por tin tin como tudo aconteceu.
Ser mãe nunca foi o grande sonho da minha vida, confesso. Sempre
quis ser uma profissional brilhante, ganhar prêmios. Já sonhei em ser
correspondente internacional, em cobrir guerras e até mesmo em ser repórter
investigativa (plano abortado após a morte do brilhante Tim Lopes). Me achava
diferente da maioria das minhas amigas, pois queria trilhar uma carreira antes
de construir minha família. Com a descoberta da endometriose e das minhas
aderências, nunca fiquei preocupada se um dia iria engravidar ou não. Sei que
Deus está sempre no comando e, no fim, a decisão é somente Dele. Se tivesse de
ser seria! Bem assim! E esse dia chegou! Por volta dos 34, quase se aproximando
dos 35 anos, senti pela primeira vez a vontade de ter um filho. Com a pessoa
certa para ser o pai dos sonhos do meu filho, fomos ao doutor Hélio Sato dar à
boa-nova!
Era dezembro de 2013, e ele nos deu os primeiros exames a serem feitos.
Uma batelada de exames de sangue e, dentre eles, um de extrema importância: a
avaliação da minha reserva ovariana pela dosagem do hormônio anti-Mulleriano.
Por conta das minhas cirurgias abertas realizadas na adolescência, uma de
apêndice e uma laparotomia para a retirada do cisto de ovário, eu já imaginava
que a coisa não estaria assim uma Brastemp. Sem contar a idade, pois eu já
estava com 35 anos e eu sei que após os 32, 35, a reserva já começa a cair pela
metade. Somada às cirurgias, então... Mas eu pensava que pelo menos ela estava
no limite. No fim de janeiro de 2014 quando retornamos ao doutor Hélio, senti
no seu semblante ao abrir o resultado, que minha reserva não era o que ele
esperava. Ela estava um pouco baixa, nada muito, mas não era a ideal. Retirei o
DIU de plástico e descobri que não era ele que me deixava sem dores, mas, sim,
a cirurgia perfeita que o doutor Hélio e o doutor Roberto fizeram em 2012.
Somente na primeira menstruação tive sangramento anormal, por conta da retirada
do Mirena. Mas sem dores. As outras foram normais. Saímos do consultório com
mais e mais exames!
Mais uma consulta, mais pedidos de exames e todos normais, inclusive, o
que rastreia possíveis doenças genéticas, inclusive, a que causa a
infertilidade. O exame chamado cariótipo com banda G lê todos os nossos genes,
detecta possíveis síndromes cromossômicas e demora cerca de 30 dias para ficar
pronto. Foi nessa consulta que eu e meu companheiro decidimos que faríamos a
FIV. Na verdade a decisão foi
dele, baseada no meu histórico (endometriose + aderências + baixa ovulação). Como não íamos
fazer a inseminação artificial, não vi se minha única trompa que estava fértil
em 2012 ainda continuava boa. Para quem opta pela I.A. essa verificação é de
extrema importância antes de realizar o procedimento. A partir desta decisão, o doutor Hélio
solicitou o último e decisivo exame para implantação do embrião: a biópsia do
endométrio. Nele descobri que estava com endometrite (uma inflamação no
endométrio – a cavidade que reveste o útero). Tomei um antibiótico forte por 3
semanas para combater essa inflamação. Creio que esse cuidado especial fez toda
a diferença para o sucesso da minha FIV. No dia 15 de junho comecei a indução
e, no primeiro ultrassom seriado, mais uma surpresa: descobrimos que meu ovário
esquerdo (aquele que retirei o cisto quando tinha 15 anos na cirurgia aberta)
estava paralisado e com três alças intestinais em cima dele. Foi um semi-baque,
assim posso dizer, mas minha fé me dizia: “Mantenha a serenidade tudo dará
certo”.
Era uma sexta-feira e, nessa mesma noite, o doutor Hélio me disse que se
não desse para retirar meus óvulos na terça, a implantação teria de ser feita
com outro médico da clínica, pois ele iria participar de um congresso
internacional de reprodução na Alemanha. Eu não sabia se me preocupava com o
ovário lascado ou com essa notícia. Peguei na mão do doutor Hélio e disse:
“Quase não leio nada na internet, mas por acaso li que quanto menos trauma o
embrião sofrer, maior a chance de ele vingar. Só vai dar certo se você
implantar. Sei que os outros médicos são bons, mas eu confio em você”.
Pacientemente, ele respondeu: “Calma Carol vai dar tudo certo. Se no domingo
você tiver pelo menos dois folículos de 17mm, podemos fazer a coleta na terça e
a implantação na sexta pela manhã”. A viagem dele estava marcada para sexta à
noite. Era quase 22h e saí do consultório praticamente de joelhos, rezando e
pedindo a Deus e à minha guerreira Santa Bárbara que me ajudassem a ter esses
dois folículos. Confesso que estava preocupada, mas ao mesmo tempo serena e
confiante. Ter um médico que te dê tranquilidade neste momento e confiar nele é
fundamental para mantermos a calma.
Domingo às 13h estávamos no consultório, e realmente foi constatado que
o ovário esquerdo não estava funcionando, mas no direito eu tinha oito
folículos, dois de 17mm. Bingo! Era o mínimo que eu precisava para a coleta na
terça. Saímos do consultório felizes da vida! No dia 24 de junho às 8h me
preparava para fazer a punção (retirar os óvulos). Já tinha escutado algumas mulheres dizerem
que esse procedimento doía, que sentiam incômodo depois. Gente, eu não senti
absolutamente nada. A sedação é bem pouca, e não senti nenhum desconforto
abdominal, nenhum incômodo após o procedimento. As mãos abençoadas do doutor
Hélio realmente são incríveis. Após minha recuperação, o doutor Hélio foi nos
dar a notícia dos óvulos. Dos oito folículos eu tive apenas dois óvulos. Desses
dois, um era saudável, perfeito, sem nenhuma imperfeição, mas o outro não
estava bom. Eles iam tentar maturá-lo em laboratório, mas confesso que por
conta da minha idade, não achei essa ideia muito boa. Mais uma vez pedi a Deus
que preparasse o melhor. Se fosse para implantar um único óvulo eu aceitaria
sua vontade. No dia seguinte, o doutor Hélio me ligou confirmando que o segundo
óvulo não vingou e que implantaríamos o precioso embrião na sexta dia 27 às 8h,
19 dias antes do meu aniversário de 36 anos. Pela minha idade, o correto era
implantar três embriões. Assim eu teria de 30 a 40% de chances de engravidar.
Implantando um as chances cairiam para menos de 10%.
O dia mais importante da minha vida chegou! Após minha preparação, a
embriologista entrou no quarto e disse: “Caroline não fique nervosa. Sei que um
único embrião diminui a chance de gravidez, mas isso não significa ser
impossível. Seu óvulo era o que chamamos de perfeito, sem nenhuma fragmentação,
estava lindo e formou um embrião de classificação A. Estou sentindo que vai dar certo”. Sorri para ela como
agradecimento. Os embriões são classificados de acordo com seu desenvolvimento
celular de A a D. Os A’s e B’s são os melhores e podem ter melhores chances de
implantação. Estava ansiosa, mas com fé. Foi muito, muito rápido. O doutor Hélio sempre muito atencioso explicou passo a passo para nós e colocou carinhosamente meu
único embrião bem no fundo do meu útero. O momento foi registrado com foto,
claro. Permaneci alguns minutos de repouso e, antes de ir embora, o doutor
Hélio me deu um conselho valioso: “Carol vida normal, como se nada tivesse
acontecido. Você só precisa repousar nas primeiras 4 horas, e depois vida
normal, só não carrega peso. Boa sorte, estou torcendo”. E me deu os dois
pedidos do Beta HCG quantitativo para eu fazer nos dias 8 e 10 de julho.
No dia seguinte a implantação participei do lançamento do “Movimento Fertilidade”, que
reivindica tratamentos de reprodução acessíveis a todos, seja pelo SUS e pelos planos de saúde. E, no dia 8, quando o
Brasil perdia de goleada de 7 a 1 para a Alemanha na Copa, eu estava radiante
com o meu beta positivo! Dois dias depois repeti novamente, e com o valor mais
que dobrado foi confirmada minha gravidez. Ainda tive alguns obstáculos, mas
como o texto já está grande, vou escrever a segunda parte, pois sei que os
mínimos detalhes farão a diferença na vida de muitas mulheres. No texto de hoje
deixo um recado preciosos que me ajudou: manter a fé e acreditar que Deus sabe
o que faz, sempre para o nosso bem me conduziu ao estado de serenidade que
precisava nesses percalços e nos próximos que virão. Ah, adianto que espero a
princesa Bárbara! Sou devota há muitos anos de Santa Bárbara e presto essa
homenagem, mas o nome também tem outro significado para nós. Não senti nada durante os sete dias de indução, foi tudo perfeito! Explicarei tudo no
próximo! Beijo carinhoso!!
Postado por
A Endometriose e Eu
às
01:07
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