Já faz um
tempão que quero escrever sobre isso. E agora não dá para esperar mais. Ando
com o coração dilacerado por ver tantas coisas erradas sendo feitas e não poder
fazer muito mais, além daquilo que está ao meu alcance. Ando assustada com
estes seres humanos que se dizem médicos no Brasil. Bom, fazer uma faculdade de
medicina é fácil, já que a cada esquina tem uma e, para fazê-la, basta ter
dinheiro para pagar. Agora, fazer “a faculdade”, é difícil, pois é beem mais
difícil de passar no vestibular. Depois fazer pós, mestrado e doutorado... Sim,
qualquer pessoa de qualquer profissão que fizer um doutorado usa a nomenclatura
de “doutor” antes do nome. Em seguida dedicar sua vida aos estudos, estudar
muito, entender e esmiuçar a fundo a especialidade escolhida, não é para
qualquer um. Estou espantada, porque milhares de mulheres e de meninas estão
operando a torto e a direito e, muitas vezes, perdendo parte de seus órgãos
reprodutores, como se isso fosse livrá-las da endometriose. Principalmente,
perdendo seus úteros e, assim, tirando o sonho alimentado por muitas dessas
mulheres, o da maternidade. Isso é uma mutilação!! Quem disse que o útero causa
endometriose? E quem disse que ao retirá-lo, a mulher ficará livre da
endometriose? Quem alimenta a doença não é o útero, mas sim os ovários. São
eles que injetam hormônios em nosso corpo. Então, retirar este órgão não é
jamais à cura para a endo.
Sabe o que
me preocupa mais? As cirurgias realizadas num curto espaço. Por exemplo, o meu
caso. Eu sou toda cheia de aderências por conta de duas cirurgias erradas que
fiz no passado, a de apêndice, aos 13 anos, e a de cisto de ovário, uma
laparotomia (a aberta, tipo cesárea) aos 15 anos. Todas já eram a endo, mas só
recebi o diagnóstico aos 31, em março de 2009. Primeiro tentei controlar minhas
terríveis dores com remédios. O que é correto para quem vai a um especialista que
sabe tratar a doença. Nesta época estava na Unifesp, mas comecei o tratamento
com Gestinol 28, com meu antigo gineco, que adoro, e que não é especialista em
endo, mas um médico mais velho e muito inteligente. Lembro-me bem dele falar: “vamos
ver se suas dores melhoram o anticoncepcional contínuo primeiro.” Não entendi
direito porque não iria me operar, mas obedeci. As dores não melhoraram mesmo
sem menstruar. Em outubro, fui indicada por uma amiga no ambulatório de
endometriose e algia pélvica da Unifesp. Afinal, era preciso continuar meu
tratamento com quem entendia do assunto. Mesmo com o AC contínuo, minhas dores
não melhoraram, mas mesmo assim o dr. Rodrigo pediu para continuar com o Gestinol
até fevereiro de 2010. Se as dores não melhorassem, o próximo passo seria
entrar em menopausa induzida com o
Zoladex 10,8. “E a cirurgia, meu Deus!”,
perguntava.
Confesso que
fiquei desapontada, pois pensei que assim que chegasse ao ambulatório já seria
operada. Na época, ainda me encontrava numa depressão profunda onde só queria
morrer. A endo e minha chegada a Unifesp ensinaram-me coisas preciosas, dentre
elas: aprender a esperar e a ter paciência. Eu continuava com muita dor. Mas
era necessário ter a sabedoria de saber esperar o tempo certo. Lembro-me do meu
primeiro dia lá, quando perguntei: “Eu não vou operar.” “A cirurgia Caroline é
o terceiro e último passo do tratamento, primeiro temos de tentar os
medicamentosos”, disse o dr. Eduardo Schor. Fiquei triste, mas se ele é o
especialista porque não iria obedecer? Foi preciso esperar quase um ano e meio do
diagnótico para a minha primeira videolaparoscopia, em julho de 2010, já com o
dr. Hélio Sato. Minha segunda foi em junho de 2012. Um intervalo de dois anos! Eu
tenho muitas aderências entre os órgãos (por conta das duas cirurgias erradas
antigas!) e isso não há remédio que tire somente a mão certeira de quem
realmente sabe fazer uma laparoscopia.
Por isso optei pelo
DIU de plástico, oMirena, para tentar o controle dos focos e das aderências, pois sei que as
cirurgias recorrentes só piora nossa condição, já que a procedimento, sempre
terá uma nova surpresa. Quanto mais cirurgia, mais aderências, já que elas se
formam na própria cicatrização. Nesta minha última, minha trompa esquerda ficou
meio infértil, mas nada que me preocupasse ou que vá tirar minha felicidade,
pois sei que terei um filho e que isso acontece no tempo de Deus e não no meu. Meu
alerta é: cuidado com as cirurgias recorrentes em tão pouco tempo. Vejo meninas
operando a cada um mês e meio, dois.... Vai chegar uma hora que os órgãos irão
grudar de um jeito que vão virar uma massa só, não dando para diferenciá-los. Existem vários tipos de histerectomias. Por isso é importante ter acesso ao currículo lattes do médico, para saber quais especializações ele tem. Para explicar um pouco mais
sobre os tipos de histerectomia, convidei o doutor
Hélio Sato, o ginecologista, obstetra e especialista em endometriose em laparoscopia e colaborador do
A Endometriose e Eu. Beijos com
carinho!!
1. Histerectomia Subtotal
- quando é preservado o colo uterino
2. Histerectomia Total
- Quando é retirado o corpo e o colo uterino
3. Histerectomia
com salpingectomia unilateral e bilateral - Quando é retirado e
a(s) tuba(s)
4. Histerectomia
com salpingooforectomia unilateral e bilateral - Quando é
retirado o útero e a(s) tuba(s) e o(s) ovário(s)
5. Colpectomia parcial
- Quando é retirado parte da vagina, habitualmente, a parte superior.
A histerectomia é uma alternativa
boa para tratamento de endometriose quando a paciente não pretende mais ter
filho(s) e tem idade avançada e cujas possibilidades de gravidez natural é
remota. E, nesta situação, habitualmente, devem ser retirados os ovários para
melhor sucesso no tratamento da endometriose. Porém, cada paciente deve ser
avaliada caso a caso, pois, mesmo, a paciente com reserva ovariana muito baixa,
existe a opção da fertilização com óvulos próprios ou doados.
E, talvez, futuramente, até por
óvulos originados de células troncos que não provieram dos ovários. Desta
forma, atualmente, a histerectomia deve ser muito bem discutida antes de ser
optada. E, para a cura da endometriose, via de regra, basta, a histerectomia
total + salpingooforectomia bilateral + remoção dos implantes profundos, se for
na vagina, intestino, apêndice, parede abdominal, etc...