domingo, 30 de abril de 2017

7 ANOS DE BLOG!! ENDOMETRIOSE: QUANDO NÃO OPERAR?

Crédito: Clínica Pelvi/ doutor Alysson Zanatta

Quando operar e quando não operar a endometriose? Nossa, essa é uma dúvida tão, mas tão frequente entre as portadoras e acho que entre muitos médicos também. Meses atrás recebi a seguinte mensagem na fanpage do A Endometriose e Eu: "... descobri há pouco que estou com endometriose profunda, mas não tenho nenhuma dor, e também não quero engravidar agora, e o médico não quer operar...". A leitora estava desesperada, mas como ela está sendo acompanhada por um excelente especialista, fiquei tranquila e perguntei: "Você confia no seu especialista?" "Sim, confio", ela respondeu. Daí eu disse para ela ficar tranquila e confiar. Confiar no seu especialista é muito importante. Porque se você não tiver confiança é melhor mudar de médico. Sei que muitas endomulheres, principalmente, aquelas que achavam que tinham de fazer a cirurgia, e que não a fez, ficam desesperadas quando acham uma coisa e o médico faz outra. Para sanar todas as suas dúvidas sobre quando não é preciso realizar a cirurgia de endometriose, o doutor Alysson Zanatta escreveu um texto listando e explicando quando a cirurgia não é uma boa escolha e até mesmo quando ela é contraindicada. Beijo carinhoso! Caroline Salazar

Por doutor Alysson Zanatta 
Edição: Caroline Salazar

Endometriose: quando não operar?

O tratamento definitivo da endometriose é conceitualmente simples e direto: remoção cirúrgica máxima das lesões, como definido pelo doutor David Redwine. É o tratamento mais efetivo para controle e cura da dor causada pela doença, além de aumentar as chances de concepção em mulheres que têm infertilidade associada. É esse o conceito que utilizo e aplico em minha prática clínica diária.

Desse modo, poderíamos até dizer que seria “fácil” a decisão frente ao diagnóstico da doença: realizar cirurgia. Mas não é simples assim.

Nesse texto, discuto de forma breve algumas situações onde a cirurgia não seria uma escolha adequada, ou até mesmo formalmente contraindicada.

1- A endometriose não causa dor ou infertilidade:

Ter endometriose não significa obrigatoriamente ter sinais e sintomas da doença. Uma pequena parte das portadoras pode não ter qualquer tipo de dor e ter uma ótima qualidade de vida. Além disso, até metade das portadoras irá engravidar espontaneamente, portanto sem infertilidade.

Essas mulheres representam um grupo específico de portadoras (pequeno, é verdade) que costumam diagnosticar a doença de forma incidental, durante a realização de exame de imagem (ultrassonografia transvaginal e/ou ressonância magnética pélvica). Elas não sentem nada. Ou sentem dores discretas onde elas próprias sentem que não se justificaria uma cirurgia para o tratamento. Foi apenas o exame de imagem ou exame clínico ginecológico que mostrou a presença da endometriose, sem maiores repercussões.

Assim, não se considera cirurgia para aquela mulher assintomática e sem infertilidade. Ainda que os exames de imagem mostrem doença extensa, a decisão não se baseia na quantidade ou localização dos focos, mas sim em suas consequências. Exceção talvez seria aquelas mulheres assintomáticas que ainda não engravidaram, mas que já possuem endometriose ovariana (endometrioma). Sabe-se que o endometrioma representa fase avançada da doença e que está invariavelmente associado à endometriose profunda e invasiva. Isso pode prejudicar a reserva ovariana? Sim, a cirurgia também pode reduzir a reserva por manipulação inadvertida, mas a presença e progressão do endometrioma talvez sejam ainda mais danosas. Nesse caso, pode-se considerar a cirurgia em mulher assintomática, mas quando já existe a presença de endometrioma, com o objetivo de preservação da fertilidade futura.

2- Não há certeza se a endometriose é a causa dos sintomas:

Há situações em que confirmamos a presença da endometriose, mas ficamos em dúvida se a doença é responsável pelos sintomas referidos pela mulher. Há outras situações onde não conseguimos comprovar a presença de endometriose pelo exame ginecológico associado ao exame de imagem. Apesar de podermos nos surpreender com repercussões improváveis da endometriose, a doença é de certa forma previsível, com localização e sintomas característicos.

A endometriose causa dor visceral, assim como, por exemplo, é a dor visceral da apendicite. A característica da dor visceral é ser difusa, inespecífica, por vezes acompanhada de sinais vagais (náuseas, hipotensão, vômitos). É como se a mulher não conseguisse dizer exatamente onde é a dor na pelve, não conseguisse achar as palavras corretas para descrevê-la. A dor costuma ser mais intensa durante a menstruação, mas pode estar presente o mês todo. Normalmente há sintomas intestinais, como dor à evacuação, constipação, e diminuição da consistência das fezes durante a menstruação. Por vezes, algumas mulheres recebem o diagnóstico de intolerância alimentar ou síndrome do intestino irritável, quando na verdade seus sintomas estão sendo causados por endometriose.

É fundamental o diagnóstico diferencial com outras causas de dor não ginecológicas. Vejo com frequência mulheres com dor pélvica de origem neurológica, como neurite em parede abdominal por cirurgias prévias (cesárea, apendicite, etc), neurites intrapélvicas causada por cirurgias ou doenças de coluna vertebral, e neurites específicas e localizadas, como neurite do nervo do clitóris. São diagnósticos específicos e por vezes mais difíceis de se fazerem, pois nós médicos ginecologistas não estamos habituados a fazer um raciocínio neurológico, mas que é importantíssimo no diagnóstico diferencial. A Neuropelveologia, especialidade dedicada ao diagnóstico e tratamento das doenças neurológicas pélvicas (como diz o nome), vem para suprir essa deficiência dos médicos que lidam com doenças pélvicas (ginecologistas, urologistas e cirurgiões do aparelho digestivo).

Outro dado bastante importante é se conseguimos reproduzir a dor da paciente durante o exame ginecológico. Quando realizamos o toque vaginal e não conseguimos identificar nódulos de endometriose, ou quando não há a mesma dor que incomoda a paciente, ficamos em dúvida se existe endometriose ou se essa é a causa da dor.

O raciocínio clínico irá se completar quando a dor for característica, quando identificarmos a doença no exame ginecológico, e quando um exame de imagem realizado por especialista confirmar os focos da doença. Quando não conseguimos preencher todos esses critérios, não pensamos em cirurgia como primeira opção. Os conceitos de “vamos operar para ver o quê que tem”, ou “apenas durante a cirurgia é que dá para saber se existe endometriose” não se justificam de nenhuma maneira, e por dois motivos muito simples: primeiro, temos que conseguir diagnosticar (ou afastar) a doença clinicamente e sem cirurgia. Segundo, justamente porque estamos falando de cirurgia, com suas implicações intrínsecas, e que, portanto jamais deve ser banalizada.

3- Há redução da reserva ovariana em mulheres que desejam engravidar:

Essa é uma das características mais desafiadoras da endometriose: o seu potencial de causar redução da reserva ovariana, particularmente em mulheres com múltiplas cirurgias prévias. Não raramente (e para minha grande tristeza e decepção), encontro mulheres jovens que já retiraram um dos ovários, e que se deparam com endometrioma em seu ovário remanescente. Ou aquelas que têm ambos os ovários, mas que sofreram várias manipulações prévias em cirurgias ineficazes e impróprias onde se “tratou” apenas os cistos ovarianos, deixando toda a endometriose profunda para trás. Já tive oportunidade de sugerir em outro texto, “O verdadeiro significado do endometrioma de ovário” um raciocínio clínico para a abordagem do endometrioma ovariano.

Enfim, devemos pensar muito antes de operar uma mulher com endometriose ovariana e que tenha redução de sua reserva de óvulos.

Vamos raciocinar juntos. Suponhamos que uma mulher de 25 a 30 anos de idade e que tenha um pequeno endometrioma de 1 cm em apenas um dos ovários. Sua reserva certamente está preservada, e ainda esse endometrioma seja removido, não haverá diminuição significativa de sua reserva.

Agora, imaginemos em outro extremo, uma mulher de 36 a 40 anos, que tenha um único ovário com endometrioma, ou que tenha doença extensa em ambos os ovários. Nessa situação há um risco real da cirurgia causar repercussão clínica sobre sua reserva. Por isso é que, em determinados casos, optamos por propositalmente deixar parte da doença no ovário, mas removendo o restante da endometriose pélvica de forma extensa e eficaz.

Pesa ainda na decisão o fato de que a avaliação da reserva ovariana por ultrassonografia transvaginal com contagem de folículos antrais e pela dosagem do hormônio anti-Mülleriano (AMH) não serem absolutamente precisas. Esses métodos avaliam a quantidade, mas não a qualidade dos óvulos, que por sua vez é relacionada diretamente à idade da mulher. Além do mais, há redução do AMH mesmo após cirurgias onde não há manipulação ovariana, como endometriose sem endometriomas ovarianos ou a simples retirada de miomas uterinos. Mais do que os resultados dos exames, pesará na decisão final a idade da mulher e a proporção de endometriomas em relação ao seu volume ovariano total (seja mulher com ovário único ou com ambos).

4- Não é possível a remoção máxima e adequada de toda a doença:

A cirurgia de remoção da endometriose será benéfica caso seja possível à remoção máxima dos focos. Cirurgias parciais e incompletas contribuem para formações de aderências severas, redução da reserva ovariana, e, pior que tudo, para persistência dos sintomas, já que a cirurgia foi parcial.

Entre os fatores que contribuem para uma cirurgia parcial, destacam-se:

* diagnóstico pré-operatório incompleto: pergunto a vocês, qual a chance de sucesso de uma cirurgia se a endometriose nem está sendo completamente identificada no pré-operatório? Pequena, creio eu. O sucesso da cirurgia começa com o completo mapeamento da doença, feito através do exame ginecológico e por exame de imagem com especialista, seja ultrassonografia transvaginal com preparo intestinal e/ou ressonância magnética pélvica com contraste endovenoso gel intravaginal. Mais importante do que o exame em si, é quem está fazendo o exame. Este (a) deverá ser profissional capacitado para o correto e completo diagnóstico da doença. Infelizmente, ainda são poucos esses profissionais. Como exemplo de exames incompletos, cito a situação comum de exames que identificam endometriomas ovarianos (mais fácil de detectar) e não identificam nenhum foco de endometriose profunda (mais difíceis de detectarem). Como sabemos que os endometriomas ovarianos estão associados à endometriose profunda em mais de 99% dos casos, um exame que cita apenas endometrioma tem 99% de chances de estar incompleto. Infelizmente, muitas pacientes ainda são submetidas à cirurgia pensando que exista apenas endometrioma ovariano, deparando-se o profissional com doença extensa e avançada, e para a qual poderá não estar preparado para sua remoção completa.

* equipamento cirúrgico inadequado: nem a melhor equipe de cirurgiões conseguirá fazer uma boa cirurgia se não dispuserem de um excelente equipamento de videolaparoscopia com imagem de qualidade, além de pinças cirúrgicas e materiais especiais próprios e específicos.

* hospital inadequado: a cirurgia de remoção máxima da endometriose pode ser uma cirurgia de grande complexidade, a depender de extensão dos focos. Há, portanto a necessidade de hospital com centro cirúrgico adequado, com equipe de profissionais paramédicos e anestesiologistas capacitados. Novamente, nem a melhor equipe cirúrgica conseguirá fazer uma cirurgia adequada se não tiver hospital e equipe adequados.

* treinamento e experiência cirúrgica inadequados: tipicamente, a endometriose profunda causa intensa distorção anatômica, tornando a cirurgia a mais desafiadora entre as cirurgias ginecológicas. A equipe cirúrgica deverá ter profundo conhecimento anatômico e estar apta a lidar com a complexidade do procedimento.

Em resumo, quando não for possível preencher as condições de (a) diagnóstico pré-operatório completo, (b) disponibilidade de material cirúrgico adequado, (c) disponibilidade de hospital e equipe de anestesiologistas adequados, e (d) equipe cirúrgica preparada, possivelmente seja melhor não realizar a cirurgia, sob risco dessa ser incompleta e apenas gerar custos e morbidade à paciente, sem os benefícios.

5- Há excessiva disfunção emocional ou psicológica:

É inegável que a endometriose pode impactar o sistema psicológico na mulher, e de toda sua família como consequência. Por outro lado, a endometriose pode estar associada às doenças emocionais, mas sem que necessariamente as tenha causado, como os transtornos depressivos e de ansiedade.

Passar por cirurgia significa passar por um momento de incerteza e dúvidas, ainda que haja plena orientação e confiança no profissional. Isso significa que a mulher e seus familiares precisarão estar emocionalmente estáveis durante esse período, a fim de compreenderem e confiarem nas orientações que recebem.

A cirurgia de endometriose deve ser uma cirurgia eletiva, planejada com calma e com antecedência. Jamais deve ser feita de urgência e às pressas, com pouca orientação e preparo. De fato, um dos grandes segredos para o sucesso da cirurgia é que ela seja feita de forma planejada e que a mulher esteja emocionalmente preparada. Assim, caso não haja esse preparo, o melhor a se fazer é uma preparação psicológica adequada até que a mulher esteja equilibrada emocionalmente, para somente então se fazer a cirurgia.

Conclusão:

Decidir quando não operar pode ser mais difícil do que decidir quando operar. Apesar da cirurgia de remoção máxima da endometriose ser o tratamento mais efetivo para controle e cura da dor, além de aumentar as chances de concepção em mulheres inférteis, há situações em que a melhor escolha seja não realizar cirurgia.

É melhor que não se realize cirurgia: (a) quando não houver sintomas, (b) quando houver dúvidas se a endometriose é a causa dos sintomas, (c) quando não for possível a remoção máxima dos focos, (d) quando houver excessiva redução da reserva ovariana ou (e) quando houver excessiva disfunção emocional. Nessas situações, a não realização de uma cirurgia causará um sentimento de gratificação ainda maior para ambos: ao paciente e à equipe médica.



Sobre o doutor Alysson Zanatta:
Graduado e com residência médica pela Universidade Estadual de Londrina, doutor Alysson Zanatta tem especializações em uroginecologia e cirurgia vaginal pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), cirurgia laparoscópica pelo Hospital Pérola Byington de São Paulo e doutorado pela Universidade de São Paulo, USP. Suas principais áreas de atuação são a pesquisa e o tratamento da endometriose, com ênfase na cirurgia de remoção máxima da doença. Seus inter­esses são voltados para iniciativas que promovem a conscientização da população sobre a doença, como forma de tratar a doença adequadamente. É diretor da Clínica Pelvi Uroginecologia e Cirurgia Ginecológica em Brasília, no Distrito Federal, onde atende mulheres com endometriose, e ex-professor-adjunto de Ginecologia da Universidade de Brasília (UnB). (Acesse o currículo lattes do doutor Alysson Zanatta). 

quinta-feira, 27 de abril de 2017

7 ANOS DE BLOG! A HISTÓRIA DA LEITORA LILIANE LUZ QUEIROZ, SUA ENDOMETRIOSE PROFUNDA E SUA GESTAÇÃO NATURAL!!

A gaúcha Liliane Luz Queiroz, 32 anos, grávida de 14 semanas. Foto: arquivo pessoal


O A Endometriose e Eu conta a história da gaúcha Liliane Luz Queiroz, de 32, e sua endometriose profunda. A enfermeira, que mora em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, tinha o sonho de engravidar, mas as dores severas da doença não a deixavam sentar. Sim, ela tinha dores até mesmo para sentar. Ir ao banheiro, então, era uma tortura diária por conta dos nódulos na região retovaginal. Ao telefone, ela me disse que nem mesmo as altas doses de medicamentos para dores funcionavam. Porém, há menos de um ano sua história mudou. Liliane começou um novo tratamento e conseguiu não só resgatar sua tão sonhada qualidade de vida, mas também realizou seu grande sonho: engravidar naturalmente. No texto ela conta como conseguiu resgatar sua qualidade de vida e realizar o sonho de gestar seu bebê. Sim, hoje sem dores Liliane está grávida de 15 semanas. Mais um testemunho que vai levar fé e esperança a muitas endomulheres. Beijo carinhoso. Caroline Salazar

"Meu nome é Liliane Luz Queiroz, tenho 32 anos, sou enfermeira, nasci e moro em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. 

Em 2014 tive o diagnóstico de endometriose, após um sangramento intenso e aumento das cólicas menstruais. Realizei uma cirurgia de videolaparoscopia, porém a dor diminuiu apenas por um curto período. Tentei engravidar por dois anos, fiz vários exames para saber se eu tinha algum outro problema, porém também sem êxito. 

Em meados de 2015 as dores aumentaram muito. Toda vez que estava no período menstrual era horrível. Comecei a tomar oito medicações por dia de 500 mg cada e a dor somente diminuía um pouco. Mas não chegava a cessar. O fluxo começou a diminuir e vir somente um sangue escuro. Não conseguia mais evacuar durante meu período menstrual. Até mesmo para sentar eu morria de dor. Isso mesmo, mesmo dias após o término do meu período eu sentia dor ao sentar, sentia um desconforto e muita "pressão"  na região anal.

Sou da área da saúde e acabei conhecendo o doutor Paulo Sitya. Conversei com ele sobre tudo o que passava e ele me indicou o uso de Gestrinona 5mg, Pentravan QSP 1g uso intravaginal e uso oral de Resveratrol 30mg, Pinus Pinastre 100mg. Comecei a usar dia 24 de junho de 2016, uma sexta-feira, no sábado quando acordei senti que aquela "pressão" na região do ânus já tinha diminuído, porém pensei que essa melhora fosse algo da minha cabeça.

Na segunda-feira subsequente apliquei a segunda dose. A dor e a pressão diminuíram significativamente. No dia 20 de julho, menos de um mês de uso, não tenho mais dores, a "pressão" não existe mais e vou ao banheiro tranquilamente. Já no meu primeiro período fértil, já senti a melhora, pois tomei apenas um comprimido no primeiro dia, por ter tido um pouco de cólica. Fui aos pés normalmente, meu fluxo aumentou bastante, porém sangue bem vivo (nota da editora: leia o texto "Seu sangue menstrual é saudável?", sem me sentir inchada no abdômen como antes.

Eu já tinha tentado outros tratamentos antes, mas esta nova medicação que o doutor me prescreveu foi o que salvou meu dia-a-dia. Por conta das dores eu não conseguia mais fazer as coisas simples como sentar, andar a pé ou até mesmo ter um ciclo menstrual normal. Eu diria que é um milagre o que aconteceu!

Após o término do tratamento não tive mais dor e o fluxo já estava normal. Em alguns meses sentia cólica, mas apenas com um analgésico simples para cólicas já passava. Isto não acontecia antes do tratamento.

Depois de uns dois meses comecei o tratamento para engravidar. Fiz a indução da ovulação por três ciclos e consegui engravidar naturalmente. Estou com 14 semanas de gestação e a suspeita é que vem aí uma menininha! Só consegui fazer o tratamento para engravidar devido à redução que eu diria total de toda dor e desconforto que eu sentia.


Ao utilizar a medicação para endometriose pensei que seria apenas mais uma tentativa ineficaz, porém o resultado é indiscutível para eu que tentava engravidar ou  "curar" os sintomas da endometriose. No meu caso eu consegui os dois. Um conselho que dou para aquelas que ainda sofrem com as dores e que por vezes perderam a esperança é: você precisa confiar no seu médico e tentar as alternativas que ele propõe para tratar sua doença. Como já tinha passado por alguns tratamentos, eu achei que este era apenas mais um, mas não foi. Graças a ele tenho uma nova vida hoje. Ele devolveu minha qualidade de vida e me ajudou a realizar meu grande sonho: engravidar naturalmente. Espero que minha história leva esperança e perseverança a muitas que ainda estão sofrendo com as dores da endometriose. Beijo carinhoso, Liliane."

terça-feira, 25 de abril de 2017

7 ANOS DE BLOG!! DAVID REDWINE: QUAIS SÃO OS SINTOMAS CLÁSSICOS DA ENDOMETRIOSE?


imagem cedida por Free Digital Photos

Há muitas dúvidas em relação aos sintomas da endometriose, em especial, no que difere as dores da endometriose pélvica da intestinal. Em mais um texto brilhante, o médico e cientista americano David Redwine faz um resumão bem bacana dos sintomas da doença e explica como diferenciá-los dos sintomas de outras doenças pélvicas, como por exemplo, os miomas. Porém,  há sintomas clássicos específicos da endometriose, e saber quais são é muito importante para o correto diagnóstico e tratamento da doença. O doutor Redwine aborda também os sintomas atípicos da doença. Beijo carinhoso! Caroline Salazar

Por doutor David Redwine 
Tradução: doutor Alysson Zanatta
Caroline Salazar



Quais são os sintomas clássicos da endometriose?

Os sintomas da endometriose:

Endometriose é o achado mais comum em mulheres de idade reprodutiva que tenham dor. Certamente é a causa mais comum de dor, e merece toda a conotação negativa que recebe. A dor da endometriose é normalmente localizada pela paciente na região pélvica de acometimento pela doença. Algumas pacientes podem descrever exatamente onde está a doença pela sua característica e localização. Como o fundo de saco (nota do tradutor: região pélvica entre o útero e o intestino), os ligamentos útero-sacros e os ligamentos largos posteriores são as regiões pélvicas mais comumente envolvidas, muitas pacientes têm dor relacionadas à irritação causada pela doença durante a realização de atividades cotidianas comuns. Dessa forma, a endometriose no fundo de saco e nos ligamentos útero-sacros pode ser irritada pela penetração profunda durante a relação sexual, enquanto uma dor mais superficial causada pela relação sexual geralmente não é causada pela doença.

Essas regiões pélvicas inferiores podem também ser irritadas pela passagem das fezes durante a evacuação, portanto pode haver cólicas intestinais dolorosas quando essas regiões estiverem afetadas, apesar dessa dor estar relacionada primariamente ao fluxo menstrual. Quando a parede retal estiver acometida pela endometriose, a paciente pode se queixar de dor a cada evacuação, independente da menstruação.

Nós encontramos que a dor presente aos movimentos intestinais – não a constipação ou a diarreia – independente da menstruação e é o principal sintoma da endometriose intestinal. A bexiga, entretanto, pode estar acometida por extensa endometriose, e ainda a paciente raramente irá ter sintomas urinários.

Eu e o doutor David Redwine quando o conheci, 
em sua passagem pelo Brasil em 2014
Tumores fibroides (miomas):

Fibroides (ou miomas) são nódulos de músculo liso que surgem na parede muscular uterina. Eles crescem de maneira concêntrica, como uma pérola crescendo dentro de uma ostra. Um mioma volumoso terá o terá o tamanho de uma tangerina ou mais. Um pequeno mioma será menor que uma pérola. Eles podem causar cólicas uterinas entre os ciclos menstruais e sangramento severo durante a menstruação, a não ser que estejam na superfície externa do útero, quando, então, poderão ser assintomáticos.

A dor da endometriose costuma ser descrita como em pontada, queimação, ou como uma facada. Ela pode ocorrer durante todo o mês, apesar de exacerbada durante a menstruação. Os conceitos de que a endometriose causa dor principalmente durante a menstruação e que a cólica uterina é o seu principal sintoma estão errados.

Os principais sintomas da endometriose pélvica (não intestinal) incluem uma dor pélvica aguda, em pontada, lancinante, como queimação ou facada, que ocorre fora do ciclo menstrual, mas que pode ser agravada pelo mesmo, dor no fundo da vagina com a penetração profunda durante a relação sexual e cólicas intestinais dolorosas durante a menstruação.

Sintomas atípicos de endometriose:

O sangramento menstrual intenso não é um sintoma típico da endometriose, e possivelmente não mudará com a cirurgia conservadora para tratar a doença. Outros sintomas que não necessariamente sugerem endometriose são dor no clitóris, dor na perna e na virilha, náusea, cansaço, constipação, diarreia e desconforto na bexiga.

Quando as aderências causam dor, elas doem no mesmo lugar onde ocorrem. As pacientes algumas vezes usam termos como “puxando” ou “esticando” para descreverem as dores das aderências. Não se espera que as dores de aderências variem conforme o período do ciclo menstrual, a não ser que aderências que envolvam os ovários que sejam tracionadas pelo simples crescimento de um cisto. Muitas pacientes com endometriose também têm aderências, e geralmente não é possível determinar se a dor é causada por aderências ou por endometriose.

Uma palavra sobre cólicas:

Se a dismenorreia (cólica uterina) for o principal sintoma, então a cirurgia conservadora para endometriose por si só pode não melhorar o sintoma, já que este é o sintoma com menor probabilidade de responder à cirurgia conservadora para endometriose. Se a cólica for proveniente do próprio útero, remover a endometriose de regiões fora do útero não ajudará nessa situação.

Outros dois tratamentos podem ajudar a tratar a cólica menstrual: a secção dos ligamentos útero-sacros e a neurectomia pré-sacral. Esses procedimentos evitam que os nervos transmitam a sensação de cólica, e ambos podem ser realizados por laparoscopia.

Nota do tradutor: Neste texto, o doutor David Redwine sintetiza os principais sintomas causados pela endometriose, e como distingui-los dos sintomas causados por outras doenças ginecológicas, como os miomas uterinos.

Apesar de poder haver uma sobreposição de sintomas entre as diversas doenças, há certos sintomas que sugerem fortemente a presença de endometriose, como sintomas intestinais, dores na penetração profunda durante a relação sexual e, sim, cólicas menstruais intensas. Identificar corretamente se os sintomas são causados por endometriose implica em maiores chances de sucesso no tratamento.


Sobre o doutor Alysson Zanatta:
Graduado e com residência médica pela Universidade Estadual de Londrina, doutor Alysson Zanatta tem especializações em uroginecologia e cirurgia vaginal pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), cirurgia laparoscópica pelo Hospital Pérola Byington de São Paulo e doutorado pela Universidade de São Paulo, USP. Suas principais áreas de atuação são a pesquisa e o tratamento da endometriose, com ênfase na cirurgia de remoção máxima da doença. Seus inter­esses são voltados para iniciativas que promovem a conscientização da população sobre a doença, como forma de tratar a doença adequadamente. É diretor da Clínica Pelvi Uroginecologia e Cirurgia Ginecológica em Brasília, no Distrito Federal, onde atende mulheres com endometriose, e ex-professor-adjunto de Ginecologia da Universidade de Brasília (UnB). (Acesse o currículo lattes do doutor Alysson Zanatta). 

domingo, 23 de abril de 2017

7 ANOS DE BLOG! "GESTAÇÃO DO CORAÇÃO": A ADAPTAÇÃO À MINHA NOVA VIDA DE MAMÃE PARTE 1!!

Foto: arquivo pessoal


Há seis meses a vida de nossa querida Ane está mais colorida, mais alegre e também muito mais agitada. A maternidade é realmente uma experiência maravilhosa, mas nos vira do avesso. Com ela nós, mulheres, descobrimos nosso outro eu. São tantas descobertas e novidades que muitas vezes a alegria imensa que passamos a sentir se mistura com uma grande tristeza. Vários sentimentos se misturam.... é a chamada depressão pós-parto. Pois é e não é que Ane começou a ter sinais desta terrível doença? Mamães do coração também estão suscetíveis a terem depressão pós seu parto do coração. Neste texto Ane conta como foi os primeiros seis meses de convivência com Danilo e também relata como descobriu que estava uma doença que ainda é pouco conhecida e aceita pela sociedade: a depressão pós-parto na adoção. Ane e Paulo optaram por adotar uma criança mais velha, a chamada adoção tardia. Danilo também é surdo.  Quem perdeu leia o texto sobre as primeiras contrações de Ane e o texto sobre seu tão sonhado parto. Beijo carinhoso!  Caroline Salazar


A adaptação à minha nova vida de mamãe - parte I


Olá meninas,

Estou de volta!! A vida de mãe aliada ao trabalho e a dedicação ao meu esposo (mais saúde que não está tão bem) estão me consumindo tanto, que não estou conseguindo escrever aqui todo mês, como eu gostaria. Desta vez quero compartilhar com vocês como tem sido nossa adaptação com nosso filho durante esses seis meses de convivência. É isso mesmo que vocês estão lendo, já se passaram seis meses desde que Danilo chegou em nossa vida e temos vivido uma experiência única e indescritível.

Neste texto vou abordar a adaptação de como tem sido a minha vivência, os sentimentos envolvidos, os medos e as alegrias de ser mãe. Pois bem vamos lá então! Quando Danilo chegou eu pensei sou mãe e agora? Um misto de alegria e medo tomou conta de mim: alegria por estar realizando meu grande sonho de ser mãe e medo, aliás, muito medo de não saber cuidar dele direito. Penso que toda mulher é tomada desses sentimentos quando chega à maternidade. Eu ficava olhando pra ele e pensava: nossa ele chegou e agora é nosso pra sempre! Mas como é que vou conseguir cuidar dele, ainda agora depois que a endometriose voltou e tem dias que a dor é tão intensa que mal consigo levantar da cama? 

Até hoje não consigo passar um pano na casa sem que no outro dia praticamente fico me arrastando de dor. Dá para acreditar? Mas por incrível que pareça, mesmo com dor, me vem uma força que só posso atribuir a Deus para cuidar dele e de meu esposo. Lembro-me de certa feita, minha tia ter me falado: “Seu filho vai ser a cura da sua endometriose (risos)”. E realmente mesmo nos dias mais difíceis encontro uma razão maior para não desistir. Tem dias que não tem jeito mesmo, tenho que parar um pouco e repousar, mas graças a Deus fui abençoada com um marido maravilhoso que sempre me ajuda nas tarefas de casa e a cuidar de nosso pequeno. Lembro também de um dia que não estava bem e Danilo chegou pra mim colocou sua mão em minha barriga e orou a Deus pedindo minha cura. Momento como esses são emocionantes e não tem como explicar.

Confesso que no começo também tive medo de não sentir o tal amor incondicional que as mães biológicas têm. Hoje garanto que foi pura bobagem minha, pois quando me vi já estava fisgada por aqueles olhinhos tão vivazes e sorriso cativante sem possibilidade alguma de me imaginar viver longe dele. Os desafios foram chegando. Como e quando impôr limites, quando dizer sim, quando dizer não e como sustentar o não sem ceder à chantagem emocional. Educar, procurar escola especial, ir atrás de terapia e de fonoaudióloga, ambas especializadas em Libras, foram situações que tivemos o cuidado de nos preparar buscando sempre o apoio de profissionais e de pessoas queridas que poderiam compartilhar suas experiências no trato com seus filhos.

 Mesmo assim com todas as alegrias, percebi que em alguns momentos me vinha uma tristeza e uma angústia, principalmente, quando estava fragilizada por conta da endometriose. Não conseguia ir mais à academia por causa da dor e voltei a engordar tudo que havia lutado os últimos dois anos para emagrecer com sacrifício. Sinceramente não conseguia entender o porquê disso, uma vez que já tinha decidido não me deixar abater pela doença. Afinal, tenho agora uma família linda que foi presente de Deus em minha vida. Mas eu tinha momentos que me sentia ansiosa, não estava satisfeita comigo mesma, sempre cobrando muito de mim, me recriminando por não estar fazendo tudo 100%, não estava gostando do que via no espelho, enfim, tinha muito mais motivos pra agradecer do que pra reclamar, mas, mesmo assim, passava por momento de grande tristeza.

Diante de tudo isso resolvi passar com um psiquiatra e com psicóloga, pois já era indicação do fórum para toda família que passa pelo processo de adoção. Pra meu alivio, minha médica e terapeuta tranquilizaram meu coração explicando que no meu caso todas essas mudanças que eu estava vivendo nesse curto espaço de tempo, juntando com a reincidência da endometriose, nada mais do que normal era que eu estava passando por um tipo de “depressão pós-parto”, se é que podemos dar essa nomenclatura. Foi essa analogia muito bem colocada por minha terapeuta, uma vez que há um turbilhão de hormônios envolvidos. Esses altos e baixos dizem respeito a essa briga desses hormônios que trazem alegria ou sentimento de tristeza por causa da dor. Devo dizer que esse apoio profissional tem sido de fundamental importância para a superação dessa fase.

Também voltei ao Hospital São Paulo para retomar o tratamento da endometriose e tudo indica que o procedimento a ser seguido será encaminhamento para nova cirurgia. E assim espero, pois desejo mais do que nunca ter qualidade de vida para curtir cada vez mais minha linda família, sem murmurações e queixas, para que, em breve, daqui a uns dois anos pretendemos adotar novamente. Dessa vez nossa pretensão será adotar uma bebezinha, e para tanto, preciso estar bem para dar colo à nossa princesinha. Pois é esse negócio de ser mãe é delicioso, sou imensamente grata ao Senhor por todas as bênçãos que sem merecer ele me concedeu. Mês que vem será muito especial, pois será meu primeiro dia das Mães. Com certeza quero comemorar e compartilhar mais da minha maternidade com vocês. Beijo carinhoso.


quinta-feira, 20 de abril de 2017

7 ANOS DE BLOG!! "COM A PALAVRA, O ESPECIALISTA" DOUTOR ALYSSON ZANATTA!!

Você sabe quando a cirurgia de endometriose é indicada? Em “Com a Palavra, o Especialista”, o doutor Alysson Zanatta responde esta dúvida da Maria de Fátima, de São Paulo, e fala sobre sua conduta após as cirurgias. A outra questão é sobre protocolos clínicos a serem seguidos pelos especialistas para que haja o diagnóstico precoce. A leitora em questão levou 15 anos para ser diagnosticada. Infelizmente esta é a realidade de muitas meninas e mulheres do nosso Brasil. A média mundial é de sete a 12 anos. Eu mesma demorei 18 anos para dar nome às minhas dores. São anos de sofrimento até se chegar ao diagnóstico correto. Uma das missões do A Endometriose e Eu é espalhar a correta conscientização e os sintomas da doença, pois somente assim poderemos ter um diagnóstico mais precoce, evitando o sofrimento em vida de muitas endomulheres. Beijo carinhoso! Caroline Salazar

 – Quando a cirurgia para endometriose é indicada e qual é sua conduta após a cirurgia? Maria de Fátima Gonçalves – São Paulo, SP

Doutor Alysson Zanatta: Obrigado pela questão, prezada Fátima. Após a cirurgia observamos a efetividade da remoção da endometriose por três critérios: sintomas, exame físico, e exame de imagem (ultrassonografia com preparo e/ou ressonância magnética pélvica). 

Os objetivos da cirurgia são:
- que a mulher deixe de sentir dores (ou que necessite apenas de poucos analgésicos) e que a gente não mais observe sinais de endometriose ao exame ginecológico;
- que engravide (para aquelas que têm infertilidade);
- que o exame de imagem, a ser feito 4 a 5 meses após a cirurgia e pelo mesmo especialista que fez o exame antes da cirurgia, não mostre mais sinais de endometriose. 

Em cerca de 3 a 6 meses, teremos uma boa avaliação da efetividade da cirurgia.
Não utilizo nenhuma medicação para suspender menstruação, pois não há comprovação de que a endometriose seja causada pela menstruação. A mulher utilizará pílulas apenas se desejar anticoncepção, e em algumas situações específicas de endometrioma ovariano.

 – Sofri mais de 15 anos em busca de um diagnóstico para as minhas dores. Muitas vezes me passei por louca para os médicos. Dr existe algum protocolo que os médicos deveriam seguir para descobrir se a mulher tem ou não endometriose? Quais exames que o doutor pede? Anônima – Goiânia – Goiás

Doutor Alysson ZanattaO primeiro passo é escutar as queixas da mulher, e acreditar que suas dores possam ser causadas por uma doença orgânica, e não por fatores psicológicos e afins.

Já o segundo passo é fazer um toque vaginal “mais profundo”, avaliando o fundo da vagina e a região atrás do colo do útero. Se tocarmos o nódulo da endometriose (o que é possível em 50 a 70% das vezes), o diagnóstico já estará feito, antes mesmo de qualquer exame.

O terceiro e último passo é realizar um exame de imagem, ultrassonografia transvaginal com preparo intestinal e/ou ressonância magnética pélvica, com um especialista. São poucos esses profissionais, mas estão aumentando. O exame confirmará e mapeará a extensão da doença com grande exatidão, caso seja feito por profissional capacitado.

Pronto. Diagnóstico estará feito.

Não utilizo o marcador tumoral sanguíneo CA-125, pois é altamente inespecífico. Não utilizo colonoscopia pois apenas 5% das lesões intestinais atingirão o interior do intestino para serem visíveis à colonoscopia, e porque tanto a ultrassonografia com preparo quanto a ressonância são superiores no diagnóstico da endometriose intestinal.



Sobre o doutor Alysson Zanatta:
Graduado e com residência médica pela Universidade Estadual de Londrina, doutor Alysson Zanatta tem especializações em uroginecologia e cirurgia vaginal pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), cirurgia laparoscópica pelo Hospital Pérola Byington de São Paulo e doutorado pela Universidade de São Paulo, USP. Suas principais áreas de atuação são a pesquisa e o tratamento da endometriose, com ênfase na cirurgia de remoção máxima da doença. Seus inter­esses são voltados para iniciativas que promovem a conscientização da população sobre a doença, como forma de tratar a doença adequadamente. É diretor da Clínica Pelvi Uroginecologia e Cirurgia Ginecológica em Brasília, no Distrito Federal, onde atende mulheres com endometriose, e ex-professor-adjunto de Ginecologia da Universidade de Brasília (UnB). (Acesse o currículo lattes do doutor Alysson Zanatta). 

terça-feira, 18 de abril de 2017

7 ANOS DE BLOG! "SAÚDE E BEM-ESTAR": COMO FAZER A ESCOLHA CORRETA DOS SEUS EXERCÍCIOS FÍSICOS?

Fonte: Pixabay


Neste mês o educador físico Renato Trevisan explica como podemos escolher melhor nossa atividade física. Ultimamente temos visto muitos programas de exercícios para praticar em casa, não é mesmo? Será que qualquer pessoa pode fazer esses programas? No programa online "Exercício e Endometriose" há dois tipos de exercícios: os regenerativos e os de força. Ambos são baseados no cilo hormonal feminino. Até eu ler o primeiro texto do Renato, eu não sabia que os exercícios ideal para nós, endomulheres, têm de ser elaborados a partir do nosso ciclo menstrual. O primeiro é desenvolvido justamente para os dias que a endomulher está com dores. Já o segundo é para os dias sem dores. Agora, com as dicas do Renato e com os exercícios que ele preparou, especialmente, para as endomulheres com certeza praticar atividade física regularmente não será mais sinônimo de sofrimento. Beijo carinhoso! Caroline Salazar 

Por Renato Trevisan, educador físico
Edição: Caroline Salazar

Como fazer a escolha correta dos exercícios físicos?

Quanta informação sobre exercício físico é difundida nas redes sociais e na internet, não é mesmo?

Fala-se sobre os benefícios, a importância, sobre como fazer ou deixar de fazer, trazem também prescrições prontas, exercícios que fazem milagres. Será que tudo isso é de fato interessante para quem recebe esta informação? É sobre isso que quero falar com você. Sobre como receber esse monte de informações e utilizá-las da melhor maneira possível para o seu benefício. Neste texto vou tratar do assunto, abordando principalmente os aspectos da relação do ciclo hormonal feminino e da endometriose.

MUITAS INFORMAÇÕES x POUCO ESCLARECIMENTO:

Essa “enxurrada” de informações deve ser recebida com cautela e curiosidade.
Você já viu algum material dizendo a seguinte frase: EXERCÍCIO PARA PERDER A BARRIGA? EXERCÍCIO PARA EMAGRECER EM 30 DIAS? EXERCÍCIO FÍSICO PARA DORES LOMBARES?

Pois bem, exercícios podem ser específicos para tratamento, prevenção e manutenção de diversas condições. Porém, o grande segredo está em saber se a pessoa que está lendo aquela informação tem conhecimento do que ela tem e do que ela precisa. A banalização do exercício físico como um simples ato mecânico, um movimento musculoesquelético, no meu entendimento, é um risco para a saúde. Vou utilizar o exemplo do exercício para as dores nas costas:

Vamos imaginar que alguém com dores nas costas, recebe a informação de uma sequência de exercícios que acaba com essas dores. Isso é possível? Sim, sem dúvida nenhuma é possível, desde que ele tenha conhecimento do que ele tem.

Agora imagine só se as dores nas costas que essa pessoa sente tenha origem em uma hérnia de disco, por exemplo? Imagine que tenha origem em um desgaste osteoarticular de vértebras? Nestes casos o exercício proposto pode agravar o problema, causar lesões e trazer risco à saúde do praticante.

No meu entendimento, não existe prescrição de exercício físico, sem conhecer o indivíduo. Não existe exercício físico sem fazer uma avaliação do indivíduo ou ter traçado características de um grupo de indivíduos antes de determinar quais exercícios devem ser feitos. Sair por ai fazendo exercícios de qualquer maneira, sem ter passado por critérios de avaliação, sem a prescrição de um Educador Físico, é um risco à saúde.

Pensando nisso quero fazer uma reflexão com vocês, endomulheres.

Quantas de vocês já iniciaram programas de exercícios em academias, clínicas de Personal ou até mesmo ao ar livre e SOFRERAM muito com isso? Quantas de vocês sofreram um pouco inicialmente e hoje fazem do exercício físico seu aliado no tratamento da endometriose? Vamos pensar sobre isso?

Por que será que o exercício pode trazer muito sofrimento às endomulheres? Vamos imaginar que você está em tratamento da endometriose, que você sofre com dores severas, tem menstruações periódicas, toma medicamento anti-estrogênico, tem dificuldades nas tarefas do dia-a-dia devido aos sintomas da patologia. Daí você recebe um panfleto de uma academia do bairro da sua casa dizendo: exercício para a saúde da mulher! Venha conhecer nosso programa!

Sensacional, não é? Poder ser se ao chegar lá você poder mostrar para o profissional que vai te atender, as características citadas acima e ainda informações como antropometria, anamnese, risco cardíaco e nível de estresse por exemplo. Agora se isso não acontecer você provavelmente receberá a prescrição de exercícios de musculação, exercícios funcionais, ginásticas, cross fit, pilates... Todas as modalidades são incríveis, mas não para uma pessoa com as suas características.

Quero reforçar com esse exemplo que a prescrição do exercício PRECISA, ser feita a partir das características de cada um, e essa avaliação deve ser periódica a cada meta traçada, pois a cada ciclo de treinamento temos um novo contexto fisiológico e metabólico. Quero que reflita sobre isso, e que perceba que o exercício DEVE ser um importante aliado no tratamento da endometriose, mas ele precisa estar alinhado ao momento do tratamento.

Já expliquei aqui no A Endometriose e Eu a importância do exercício Regenerativo.  Muitas perguntas surgiram sobre esse assunto. Perguntas como: “Não consigo ir na padaria comprar pão como vou fazer o exercício?”; “Faço exercícios todos os dias, musculação e Pilates e estou me sentindo muito bem!”.

Vamos lá então! Em que momento o exercício regenerativo deve fazer parte do seu dia a dia? Sabe aqueles dias que você não tem vontade de fazer nada, está sentindo muitas dores, não reage nem para pegar um copo de água? Preste muita atenção, esse é o momento de você fazer o exercício regenerativo. Ele vai ser o seu “remedinho” contra esses sintomas, produzindo endorfina, estimulando o equilíbrio hormonal estrogênio/progesterona, diminuindo os processos inflamatórios do seu organismo. Olha só o que o doutor Kalif apontou em seu estudo na UNICAMP:

“O exercício físico mostrou-se um antiinflamatório natural, que atua nas doenças crônicas e, sabemos agora, também nas situações agudas, o exercício físico aeróbico pode diminuir em até 30% as manifestações inflamatórias agudas.”
UNICAMP – 2008

Eu tenho certeza que não será fácil, mas também tenho certeza que vai valer muito a pena. Os resultados serão extraordinários. Mas lembre-se, o exercício só terá resultado se for realizado de forma sistemática. Então, se você está neste momento do tratamento ou sofre constantemente com estes sintomas, comece a praticar o exercício regenerativo. Caso você já não esteja mais passando por muitos momentos de dores, se o tratamento já controlou suas menstruações e os dias de desânimo e de vontade de não fazer nada já são menos constantes em sua vida, já podemos pensar em outros exercícios para você.

A modalidade você pode escolher. Você pode ser dançar, fazer musculação, Pilates, voleibol, tênis, e muitas outras. Comece devagar, e vá aumentando os estímulos gradativamente. E muito importante é ter sempre um Educador Físico te orientando ou prescrevendo os exercícios, mas cobre dele conhecimento sobre o ciclo hormonal feminino e sobre o seu tratamento da endometriose.

Essa parceria professor/aluno pode te levar a lugares hoje inimagináveis. Imagine só você correndo uma São Silvestre? Quem sabe participando e ganhando um torneio de tênis do seu clube? Talvez conseguindo fazer aquela trilha que a galera sempre participa e você fica de fora... Sei lá, você pode conseguir muita coisa, basta só que você acredite, seja disciplinada e faça a escolha correta dos exercícios junto com o seu professor.

Desejo a você muito sucesso. E se você começar a se exercitar e vir que tenho razão deixe sua mensagem aqui para nós. Um super abraço!

Nota da editora: Em março, o Renato lançou em parceria com o A Endometriose e Eu um programa online com uma série de exercícios regenerativos e de força específico para as endomulheres. Se você perdeu este lançamento clique aqui e leia mais sobre. Acesse o link do Exercício e Endometriose e conheça o programa de atividade física desenvolvido especialmente para quem sofre com as dores severas da endometriose.

Sobre Renato Trevisan:

Educador físico, é pós-graduado em atividade motora adaptada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). É diretor do Centro de Saúde A3 Atividade Física para a Saúde em Maringá, no paraná, e é coordenador da EndoMarcha Maringá. Acesse a fanpage da A3.