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Faby com Mariana e Gabriel em seus braços - Foto: Arquivo pessoal |
Neste mês o A Endometriose e Eu conta a história de fé e superação da nossa querida Fabiana Cayres, de São Paulo. Faby, como é carinhosamente conhecida, descobriu ser portadora de endometriose após se casar quando começou as tentativas para engravidar. Porém, ela sempre teve o principal sintoma da doença: as fortes cólicas que a levaram muitas vezes ao pronto-socorro. Mais um alerta às mulheres que sofrem com cólicas incapacitantes. Depois de muita luta, muitos choros, 4 fertilizações in vitro e três abortos (um, inclusive, foi no Dia das Mês), ela realizou seu sonho da maternidade e hoje se dedica exclusivamente aos geminhos Mariana e Gabriel. Mais um testemunho que vai levar esperança e fé às endomulheres que estão enfrentando a infertilidade. Compartilhe os artigos do A Endometriose e Eu e espalhe a correta conscientização da endometriose. Beijo carinhoso! Caroline Salazar
“Me
chamo Fabiana Cayres, tenho 35 anos e sou portadora de endometriose profunda grau
IV. A Carol me convidou para contar um
pouco da minha história e aqui estou eu. Menstruei
pela primeira vez com 13 anos e, desde a primeira menstruação, sentia
cólicas. Nos primeiros meses eram bem
fracas, mas conforme o tempo ia passando a intensidade aumentava gradativamente.
Quando
eu tinha 16 anos minha mãe me levou ao ginecologista para verificarmos o
porquê de tantas dores. Não cheguei nem
a fazer exames, a médica passou apenas analgésicos. Desde então, uma vez ao ano, eu ia às consultas de rotina e passei a fazer os exames pedidos pelos
médicos. Ultrassons, papanicolau, exames
de sangue para dosagens de hormônios e etc. Todos os exames eram sempre normais,
porém as minhas dores continuavam cada vez mais fortes.
Aos
25 anos as dores se intensificaram tanto que os analgésicos não faziam mais
efeito, e eu tinha que ir ao pronto-socorro todos os meses para tomar medicação
na veia, só assim conseguia seguir com as minhas atividades do dia a dia, como
trabalho e estudos. Nessa fase, cheguei a questionar à minha médica se eu não
poderia ter endometriose, já que eu sentia tantas dores. Ela deu risada e me
disse que endometriose era a doença da “moda” e que eu não tinha não, pois
todos os meus exames estavam normais.
Segui
minha vida e as dores sempre aumentando. Nessa fase eu já tinha outras “queixas”.
Sempre que estava menstruada eu sentia uma vontade absurda de urinar
junto com um ardor incontrolável. Precisava sempre sair correndo para ir ao
banheiro e muitas vezes não conseguia segurar a vontade. E sentia também “facadas” no intestino. Geralmente essas pontadas vinham junto com as
cólicas. A essa altura já estava
sentindo bastante dor durante as relações sexuais.
Em
2012, quando eu tinha 30 anos, uma semana antes do meu casamento, cheguei a
desmaiar no meu trabalho de tanta dor. Foi
uma dor tão forte que eu não suportei. Me levaram para o hospital e ligaram para o meu marido, na época meu noivo,
para ele ir me encontrar. Chegando lá, ele me encontrou convalescente tomando a
medicação na veia e foi conversar com o médico que me atendeu no pronto
atendimento. Meu
marido não suportava mais ver o meu sofrimento. Todos os meses era a mesma situação. Eu sentia muitas dores, tomava muitos remédios e quase sempre tinha que
ir ao pronto-socorro, e me ver ali na emergência foi a gota d´agua.
Ele
pressionou o médico e o mesmo disse a ele para pesquisar sobre endometriose,
pois pelo meu relato poderia ser esse o meu diagnóstico. Ali mesmo no hospital
ele pesquisou pelo celular e viu que tudo se encaixava com os meus sintomas. Fui
para a casa, nos casamos na semana seguinte e partimos para a lua de mel. A
nossa ideia já era iniciar os “treinos” para aumentar a família na lua de
mel. Na verdade começamos as tentativas,
mas a gravidez não aconteceu. Voltamos de viagem e de novo eu passei mal no meu
ciclo menstrual. Dessa vez, o meu marido teve que me levar de madrugada para o
pronto-socorro. Eu não conseguia ficar
ereta de tanta dor. Chegamos
ao hospital e me encaminharam para fazer uma tomografia, pois suspeitaram de
apendicite. Fiquei em observação durante toda a madrugada e quando saiu o
resultado a médica me chamou e me deu o diagnóstico: apenas um “cistinho” no ovário.
Voltamos
para casa e confesso que me senti muito mal com a forma que a médica me deu o
diagnóstico, pois parecia que a minha dor era incompatível com o tal “cistinho”
ou que eu estava inventando a dor. Me
senti mal perante meu marido e comigo mesmo. Uma semana depois, eu estava
trabalhando e lá comecei a relembrar desse dia no hospital e me lembrei que me
deram o protocolo para retirar a tal tomografia que fiz no pronto-socorro.
Decidi ir lá buscar. Cheguei ao hospital, peguei o envelope e abri ali
mesmo. Quando eu li o que estava escrito
minhas pernas ficaram bambas: ENDOMETRIOSE PROFUNDA COM ACOMETIMENTO DE BEXIGA,
INTESTINO, OVARIOS...
Como
assim?? Não era apenas um “cistinho” conforme a médica havia me dito? Senti uma
revolta muito grande naquele dia. Fiquei sem rumo. Liguei para o meu marido e
não sabia o que fazer. Decidimos ir até a emergência de outro hospital e pedir
para o médico me orientar. Como eu estava tentando engravidar aproveitei para
pedir um exame de Beta HCG, pois tinha a esperança de estar grávida, mas não
estava e nem imaginava a batalha que ainda travaria para ser mãe.
O
médico viu o meu exame e confirmou que eu era portadora de endometriose no grau
mais avançado da doença. Disse também que, provavelmente, eu precisaria de cirurgia
e de tratamentos para engravidar. Ele não me pediu nenhum exame, pediu apenas
para eu procurar algum médico especialista. Marquei a consulta com o médico e
tivemos uma longa conversa onde ele me explicou todos os detalhes da
endometriose. Em apenas um exame de toque ele conseguiu ver que eu realmente
tinha a doença e me pediu outros exames para mapearmos. Solicitou a ressonância magnética, o ultrassom
com preparo intestinal e vários exames de sangue. Os exames ficaram prontos e
lá tivemos a confirmação de que eu tinha endometriose atrás do útero, no
intestino, na bexiga, nos dois ureteres - que estava quase comprometendo meus rins -, no
apêndice e endometriomas nos dois ovários. O meu caso era realmente assustador
e já sai da sala do médico com a cirurgia marcada.
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Mariana e Gabriel aos 9 meses de idade - Foto: Arquivo pessoal |
Além
do especialista em endometriose, um urologista e um proctologista participaram
da minha cirurgia. Como o médico sabia que eu queria ser mãe, ele pediu para eu
tentar uma Fertilização in vitro antes da cirurgia, pois dessa forma congelaríamos
os embriões, já que eu corria o risco de perder os dois ovários na cirurgia,
porque estavam muito comprometidos. Fiquei muito assustada e anestesiada com
tudo isso. Tudo era novidade e isso me assustava demais. Eu morria de medo de
injeções e de repente me via no meio de um tratamento que necessitava de muitas
“agulhadas”. Mas isso era de menos
perto do meu medo de não ser mãe. Era dezembro de 2012 quando comecei a estimulação ovariana e neste
momento o meu medo era de ter muitos óvulos, pois eu não queria ter que
descartar nenhum “filho”. Nessa fase o
meu conhecimento era muito cru e imaturo.
O
meu medo não aconteceu e o que eu não imaginava aconteceu. Eu tive apenas um único óvulo e esse era de
péssima qualidade e nem fertilizou. Ou seja, tive que encarar a cirurgia,
sabendo que eu corria o risco de perder os dois ovários e sem ter nenhum
embrião congelado. Chegou o dia 06 de janeiro de 2013 e às 6h lá estava eu me
internando no hospital para minha cirurgia. Me internei um dia antes para fazer
a dieta para limpar o intestino. Era uma dieta apenas líquida. Eu estava muito
ansiosa. Meu
marido me acompanhou em todos os momentos. No dia seguinte, às 6h da manhã
minha cirurgia começou e durou quatro horas. Passei muito mal na sala do pós-
operatório após acordar. Sentia um frio absurdo e vomitava sem parar.
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Faby com Gabriel e Mariana aos 6 meses Foto: Arquivo pessoal |
Assim
que melhorei um pouco me levaram para o quarto e ao sair do elevador, ainda na
cama, meu marido veio emocionado ao meu encontro. Ele beijou minha testa e
segurou as minhas mãos. Fomos para o quarto e a enfermeira tentou me dar um
suco, que não ficou no meu estômago por muito tempo. Tive muito medo de
perguntar para o meu marido sobre como tinha sido a cirurgia. Tinha muito medo
de ouvir que eu tinha perdido os ovários. Percebendo o meu medo, ele logo foi
me dizendo: sua cirurgia foi um sucesso!
O doutor manteve todos os seus órgãos! Eu gritei! Gritei de felicidade e
não sei de onde tirei forças! Como fiquei feliz. Fiquei internada por sete
dias. Esses sete dias no hospital foram bem difíceis. Minha cirurgia foi por videolaparoscopia
e por corte de cesárea também.
Nos
primeiros dias eu sentia muitas dores devido ao ar que entra na barriga durante
a cirurgia. Esse ar vira gases e nos dá cólicas intestinais absurdas. Fui para
casa usando a sonda urinária e retirei sete dias após a alta, ou seja, 15 dias
após a cirurgia. Fiquei afastada 30 dias do meu trabalho e quando voltei ainda estava
abatida e 10 quilos mais magra. No retorno com o meu médico ele me disse que na
minha segunda menstruação após a cirurgia eu já poderia iniciar a próxima tentativa
de Fertilização in vitro. Mas tinha um porém: eu estava recém-casada, já
havíamos pago a primeira FIV e a cirurgia, não tínhamos condições financeiras
de pagar, naquele momento, mais uma tentativa de fertilização. Fiquei arrasada.
Sou muito ansiosa, ser mãe era um grande sonho e não poder naquele momento
fazer a FIV foi um golpe para mim. Fiquei muito triste. Pesquisei alternativas e vi que algumas meninas
conseguiram ganhar na justiça uma liminar que obrigava os planos de saúde a
arcarem com os gastos dos tratamentos para engravidar.
Não
pensei duas vezes e em junho de 2013 entrei com o processo. Nesse meio tempo, decidi tentar
engravidar naturalmente, pois tinha lido que após a cirurgia as chances
aumentam. Consegui
ter uma gravidez química! Um teste de
farmácia com uma segunda linha bem clarinha, um atraso menstrual de dois dias,
mas a menstruação logo chegou levando as minhas esperanças. Foram apenas três
meses de tentativas e logo tive a minha liminar positiva nas mãos. No dia
seguinte já estava na clínica para começar, mas levei um grande balde de água
fria na cabeça.
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Faby com os geminhos no forninho -Foto: Arquivo pessoal |
Com
as tentativas de engravidar naturalmente nasceram novos endometriomas nos meus dois
ovários. Fiquei arrasada porque esses endometriomas prejudicam a evolução da
estimulação ovariana. Essa seria a minha segunda tentativa e eu já sabia como
era. Iniciei a segunda tentativa em novembro de 2013. Estava sim muito ansiosa, mas
confiante. Tudo correu bem e, dessa vez, tive bons óvulos e dois bons embriões
que vieram para minha barriga três dias depois da fecundação. Após a
transferência eu quase enlouqueci de ansiedade. Esperar o beta era um teste de
paciência desesperador. E na véspera do Natal de 2013, lá estava eu com meu
teste de farmácia positivo! Gente que
emoção!
No
dia seguinte, no almoço de Natal, contamos para toda a família, que não estavam
sabendo que faríamos o tratamento e todos se emocionaram. No dia 26, logo no
primeiro horário, estava eu no laboratório para fazer o Beta HCG. Esperei lá
mesmo e confesso que foi frustrante ver o resultado de apenas 40. Eu esperava
mais e senti um frio na espinha. Será que estava tudo bem com meu bebê? Liguei
para o meu médico que prontamente me deu os parabéns e disse para eu aproveitar
a gravidez e voltar no consultório em dez dias para fazermos o primeiro
ultrassom.
Esses
dez dias demoraram uma eternidade para passar e quando chegou o grande dia meu
coração parou ao ouvir do médico que não havia batimentos cardíacos no embrião.
E, além disso, um dos embriões se implantou na minha trompa o que me levaria a
fazer um acompanhamento muito de perto por meio de ultrassons semanais, pois se
essa trompa rompesse eu correria risco. Sai do consultório arrasada. Tive uma
gravidez heterotópica, que significa quando um embrião implanta no útero e o
outro na trompa. Gravidez raríssima e a
da trompa, não evolutiva. No meu caso,
nenhum embrião evoluiu e o médico pediu para parar com as medicações e aguardar
o aborto natural.
Contei
para o médico sobre a gravidez química e esse foi considerado o meu segundo
aborto. Por isso ele me pediu alguns exames de sangue para investigar
trombofilia. No dia seguinte, fui para o laboratório para colher esses exames e
lá comecei a sentir uma cólica muito forte e, no banheiro do laboratório,
abortei. Me revoltei e senti a maior dor psicológica do mundo. Briguei com Deus.
Não entendia porque eu tinha que passar por aquilo. Por que Deus me deu e ia me
tirar? Esqueci-me de comentar que desde que eu descobri a endometriose, por
orientação do meu médico, iniciei terapia e me ajudou muito. Dois ciclos depois
eu estava pronta para mais uma tentativa. Era março de 2014. Tudo
correu bem e transferi dois embriões de ótima qualidade cinco dias após a
fecundação, eram blastocistos (nota da editora: embrião com cinco ou seis dias de vida).
E
como fui diagnosticada também com trombofilia, já iniciei a medicação. Sete
dias após a transferência fiz o teste de farmácia e lá estava meu positivo! Fiz
surpresa pro marido e o levei para jantar. No meio do jantar o garçom entregou para
ele uma caixinha com o teste positivo! Que emoção! Eu estava grávida novamente!
Chegando em casa notei uma borra de sangue e já me desesperei. Fui dormir e no
dia seguinte parecia ter parado. Fui
trabalhar e quando cheguei ao trabalho a quantidade de sangue aumentou demais. Falei
com o médico que me mandou para casa e me pediu repouso absoluto. Eu já sabia
que as coisas não estavam bem. Fiz o Beta HCG que confirmou a gravidez, mas
logo confirmamos que a gravidez não evoluiria. Mais um aborto. Dessa vez
demorou 40 dias para ocorrer o aborto natural e abortei em pleno Dia das Mães em maio de 2014.
Estávamos em 2015. Sofri muito nesse dia.
Não tenho mais a minha mãe e abortei naquele dia que era para ser
especial.
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Faby com Mariana e Igor com Gabriel no aniverário de um ano dos geminhos - Foto: Arquivo pessoal |
Mais
dois ciclos, em julho de 2014, e lá estava eu para a minha quarta tentativa de fertilização in
vitro. Nessa
tentativa eu sentia uma paz imensa. Não sei explicar. Já estava tão calejada...
Tudo correu bem e transferir dois embriões de ótima qualidade no quinto dia
após a fecundação. Seis dias após a transferência fiz o teste de farmácia e lá
estava um super positivo. Fiz o beta HCG no D9 (nove dias após a transferência) que deu 179 – um número alto - e
ali eu já sabia que eram gêmeos. Com cinco semanas vimos os dois sacos
gestacionais, com sete semanas ouvimos os dois coraçõezinhos, com 12 semanas
descobrimos os sexos e com quase 38 semanas, no dia 22 de março de 2015, Gabriel e Mariana chegaram!
Essa
sou eu! Faby, portadora de endometriose profunda. mamãe dos gêmeos Gabriel e
Mariana, de um ano e cinco meses e a mulher mais feliz desse mundo! E essa é a
minha história em busca da realização do meu grande sonho: a maternidade. Não
me arrependo de nada e faria dez fertilizações se fosse preciso. Hoje vivo a
maternidade em sua plenitude. Saí do meu trabalho para me dedicar integralmente
aos meus bebês. Tinha uma carreira sólida na área de Tecnologia da Informação,
e me transformei em blogueira de maternidade, conto todo o meu dia a dia no blog
www.mamaedegemeos.com e no Instagram
@faby_mamaedegemeos
Se
você é portadora de endometriose e sonha em engravidar, lute até onde suas
forças permitirem. Se puder vá além. E tenha muita fé, pois ela nos leva à
realização dos nossos sonhos. Eu sou a
prova viva de que é possível vencer o impossível. Beijo carinhoso! Faby”