quinta-feira, 30 de março de 2017

"COM A PALAVRA, O ESPECIALISTA" DOUTOR ALYSSON ZANATTA!

Todos os dias recebo mensagens e emails perguntando a diferença entre endometriose, endometrioma e adenomiose. Já abordamos esta diferença em textos no blog, mas desta vez coloquei esta dúvida na coluna "Com a Palavra, o Especialista", para que o doutor Alysson Zanatta esclareça todas as dúvidas de uma vez por todas sobre o assunto. O que mais perguntam é: são a mesma doença? Nãããão! Não é gente, são três doenças diferentes e o doutor Alysson explica maravilhosamente bem sobre o que é cada uma delas. A outra questão é sobre as trompas de Falópio ou tubas uterinas. Será possível desobstruí-las durante a cirurgia? O ginecologista e especialista em endometriose, doutor Alysson Zanatta, da Clinica Pelvi, de Brasília, esclarece suas dúvidas. Beijo carinhoso! Caroline Salazar 

- Qual a diferença entre endometriose, adenomiose e endometrioma? As últimas duas têm origem por conta da endometriose, ou é possível ter adenomiose e ou endometrioma sem ter endometriose? Gladys Silva – São Paulo, SP

Doutor Alysson Zanatta: Ótima questão, Gladys!
ENDOMETRIOSE significa a presença FORA DO ÚTERO de lesões (nódulos, cistos líquidos, aderências) que contêm glândulas que se parecem com o endométrio, a camada interna do útero que se descama com a menstruação. Apesar de se parecerem, não são as mesmas células.

O termo ENDOMETRIOMA se aplica na atualidade à endometriose no ovário. São cistos líquidos de conteúdo achocolatado que têm essas glândulas endometriais. O endometrioma ovariano é consequência direta da endometriose profunda, estando associados em mais de 98% dos casos. Ou seja, é quase impossível ter endometrioma ovariano sem ter endometriose profunda.

Essa estatística é relevante, pois, diferentemente da endometriose profunda, o endometrioma ovariano costuma ser facilmente detectado pela ultrassonografia comum ou pela ressonância. Mas se esse mesmo exame diz que há apenas o endometrioma ovariano, e não menciona nada a respeito de endometriose profunda, há mais de 98% de chances desse exame estar incompleto. Infelizmente, muitas mulheres são submetidas à cirurgia pelo diagnóstico de “endometrioma” ovariano, sem haver o diagnóstico completo da doença. Isso leva, quase que invariavelmente, a cirurgias incompletas, ineficazes, e não raramente com retirada desnecessária do ovário.

Já a ADENOMIOSE significa presença de glândulas de endométrio na camada muscular do útero (o miométrio), ou seja, DENTRO DO ÚTERO. Há forte associação com endometriose (60-70%), mas pode sim ocorrer independentemente da presença desta. Pode causar sintomas exatamente iguais aos da endometriose, a paciente precisa ser bem avaliada antes de decisão terapêutica (medicamento ou cirurgia).

- Tenho endometriose profunda e vou operar pela segunda vez em dois anos. As duas trompas estão obstruídas, gostaria de saber se é possível desobstruí-las na videolaparoscopia e como é o processo? Anônima – São José dos Campos, São Paulo

Doutor Alysson Zanatta: As trompas são órgãos que, infelizmente, aceitam pouca manipulação cirúrgica. É difícil desobstruir, pois quando o dano aconteceu, costuma ser irreversível. Se esse dano for maior como uma grande dilatação (hidrossalpinge), geralmente não é possível revertê-lo. Por outro lado, tratar apenas as trompas obstruídas e sem tratar a sua causa, no caso a endometriose profunda, é pouco efetivo. Quando a desobstrução é possível, a fazemos passando um cateter no interior da trompa durante a videolaparoscopia, esperando que haja a desobstrução.

Vale observar que em grande parte das vezes quando achamos que as trompas estão obstruídas, na verdade elas não estão o que poderá ser comprovado durante a cirurgia.



Sobre o doutor Alysson Zanatta:
Graduado e com residência médica pela Universidade Estadual de Londrina, doutor Alysson Zanatta tem especializações em uroginecologia e cirurgia vaginal pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), cirurgia laparoscópica pelo Hospital Pérola Byington de São Paulo e doutorado pela Universidade de São Paulo, USP. Suas principais áreas de atuação são a pesquisa e o tratamento da endometriose, com ênfase na cirurgia de remoção máxima da doença. Seus inter­esses são voltados para iniciativas que promovem a conscientização da população sobre a doença, como forma de tratar a doença adequadamente. É diretor da Clínica Pelvi Uroginecologia e Cirurgia Ginecológica em Brasília, no Distrito Federal, onde atende mulheres com endometriose, e Professor-adjunto de Ginecologia da Universidade de Brasília (UnB). (Acesse o currículo lattes do doutor Alysson Zanatta). 

3 comentários:

  1. Estou com endometriose profunda e agora está saindo uma secreção como se fosse uma clara de ovo, como a que vem no período fértil, só que não só no período fértil, m as constantemente. Isso tem algo haver com a endometriose?

    ResponderExcluir
  2. Bom dia. Secreção vaginal clara, sem odor e sem irritação, é comum na mulher, mesmo fora do período fértil.

    ResponderExcluir
  3. Boa tarde, Dr. Alysson!Tenho 23 anos e desde a minha primeira menstruação aos 11 anos sofro com fortes cólicas. Ano passado fui diagnosticada com endometriose profunda. A uma semana fiz uma videolaparoscopia no HC em Goiânia. Durante a cirurgia a médica disse que foram feitos três testes com as minhas trompas e elas estavam obstruídas, no entanto, ela vai solicitar uma histerossalpingografia, mas a vídeo não é mais eficaz para o diagnostico que o exame? A médica disse que cauterizou os focos de endometriose e que não retirou porque eram minúsculos. É melhor cauterizar ou retirar os focos? Uma semana após a cirurgia ainda sinto as mesmas cólicas na mesma região isso é normal? Como é possível na ressonância mostrar muitos focos e durante a cirurgia os médicos não encontrarem tantos focos assim?

    ResponderExcluir