No artigo deste mês, Alexandre faz algumas reflexões a respeito da perda de sua companheira Tuxa. Companheira dele, e, principalmente, de sua esposa. Eu sei bem o que é ter esse amor e carinho no momento que estamos bem mal, e quase ninguém nos entende, apenas eles, nossos anjos de quatro patas. Que ela descanse em paz no reino do Senhor. Ele fala também sobe o rótulo de a doença ser chamada "da mulher moderna". Confesso que até repeti uma ou outra vez essa frase aí, mas quando você começa a ler, a pesquisar artigos internacionais sobe a doença, e quando você pensa no significado da frase, o que é ser "doença da mulher moderna", O cérebro pensante diz: "não, isso não faz sentido e muito menos lógica". Numa parte da matéria da revista Women's Health Brasil, a cientista social Gabriela fez muita gente refletir com o fato de tirar este estigma. Pois, se ser mulher moderna é trabalhar, ser independente, dentre outras coisas, e se isso foi uma conquista nossa, quer dizer que queremos ficar doentes?
Agora, se pegarmos pela lógica, se a doença existe há milênios, muito antes de Cristo, como pode ser "a doença da mulher moderna?" Vamos falar mais sobre isso, mas se pensarmos que as primeiras teorias surgiram no século 19, sem contar as primeiras descrições dos sintomas, nesta época as mulheres não eram nada modernas, e muito menos independentes como hoje. Lutamos tanto para deixarmos de ser submissas para ficarmos independentes e isso quer dizer que queremos ficar doentes? Então, a partir deste raciocínio lógico, nada científico, já podemos parar de falar isso. Afinal, ter endometriose não é fácil. Somente uma portadora sabe as consequências da doença, que vão muito além das dores físicas e emocionais. Já falamos até das fezes que são diferentes. Eu, sinceramente, acho essa parte bem constrangedora. Sei que nem todas têm os sintomas isso, há uma parcela assintomática, e outras assintomáticas que se tornam sintomáticas com o tempo.
Algumas dessas consequências irritam muito, como a insônia. Parecemos zumbi e mesmo estando deitadas, o sono não vem. Isso aí já é incompreensível para qualquer outra pessoa que não entende o que passamos. E as dores nas pernas!? Mesmo quem está com a doença controlada, ou seja, que estão livres das dores, quando anda um pouco, ou fica um tanto de pé, nossa parece que estamos carregando chumbo com elas. É mais um motivo que nos leva à fadiga, a irritação e etc, etc. E eu pergunto: "quem quer ter tudo isso e muito mais que a endometriose pode trazer à mulher?" Queremos ter essa praga de doença? Que nos judia e maltrata tanto? Que ser como um E.T. para todos? Ser incompreendidas, julgadas o tempo todo? Nããããão!!! Claro, que não! Aos poucos vamos tentar mudar esse pensamento errôneo sobre nós e a doença. É por isso que luto! E quero todas juntas! E é para isso a marcha Mundial contra a Endometriose será muito importante. Para isso, continue votando no A Endometriose e Eu, no prêmio TopBlog Brasil 2013 (clique aqui e dê seu voto). O primeiro turno vai até 25 de janeiro. Conto com o voto de todos e a gentileza em compartilhar a votação entre seus amigos. Beijo carinhoso!! Caroline Salazar
A suposta doença da mulher moderna
Por Alexandre Vaz
Desculpem a ausência alongada, mas muita coisa acontece na vida das pessoas, a minha não é exceção. Nas várias coisas que tem acontecido, perdi minha grande amiga e companheira de 15 anos, minha cachorrinha Tuxa. Ela me acompanhou por muita coisa, foi uma força nas horas mais negras, e inclusive uma companheira que ficava do lado da minha esposa quando eu ia trabalhar, deixando ela morrendo de dor em casa. Se não fosse essa bichinha, minha esposa teria ficado sozinha. Com a Tuxa ela tinha uma companhia doce e meiga, algo onde direcionar bons sentimentos. Porque na endo tudo parece negro e ruim, é facílimo olhar para a vida como uma bosta sem sentido e permitir que o coração fique azedo. Por todas as alegrias que me deu, pela fidelidade que nos prestou, a Tuxa para sempre viverá em meu coração. Ela nos ensinou o que é amor incondicional e a perdoar sem reservas, através dos exemplos que nos deu ao longo dos anos. Para sempre serei grato a essa minha grande amiga.
Tem coisas que doem na gente, perder um amigo de longa data é uma delas. Injustiça seja de que forma for também dói. Quando a gente vê alguém que amamos sendo injustiçado e não consegue fazer grande coisa para evitar isso, aí piorou. E ainda tentam colocar rótulos numa doença que traz muito sofrimento às mulheres. Pelo menos para a maioria.
A expressão “doença da mulher moderna” significa o quê exatamente? Que surgiu agora? E porque motivos? Tem gente que afirma que está relacionado com a necessidade de a mulher moderna ter uma carreira profissional e que por conta disso não engravida tão cedo como antes. Eu até poderia engolir essa, mas coloco uma questão: se é desse jeito que falam, então porque está a mulher sujeita a ter endometriose a partir da primeira menstruação? Tem quem fale que a gravidez cura a endo. Bom, se isso for verdade, então cada mulher terá de engravidar na faixa dos 10 - 13 anos de idade, jovens, muitas ainda brincam, outras estão na pré-adolescência, outras entrando nela. E olha que muitas menstruam até com menos idade. São crianças. Ter esse rótulo é como se falarmos que a mulher é egoísta que não está nem aí para a família, querer sua carreira acadêmica e profissional, mesmo colocando em risco sua saúde?
É como se ela escolhessem sofrer. Não, não. Vejo o sofrimento de minha esposa e sei também como ela sofre quando as dores as impede de trabalhar.
Mas tem mais, as pessoas falam do que não conhecem com muita facilidade. Usar uma expressão cruel que só pode pretender um retrocesso evolucional, condenando as mulheres a voltar para o tanque e o fogão, subjugadas ao domínio dos pais e depois do marido, é na minha opinião um ato criminoso. Se pelo menos fosse apoiada em fatos, ainda seria compreensível. Mas estudos realizados sobre o tema revelam que existem relatos sobre mulheres doentes com sintomas que se assemelham fortemente a endometriose já na Antiga Grécia e também no Antigo Egito. Evidentemente, é extremamente complicado provar se seria ou não a doença que hoje conhecemos como endometriose, mas especialistas renomados concordam que as semelhanças são imensas. Então, das duas uma; ou a doença não é da mulher moderna, ou as mulheres já são modernas faz 4500 anos. Se querem falar sobre uma doença que para muitos médicos ainda é um mistério em vários aspectos, pelo menos façam o favor de encher a cabeça com o conhecimento certo antes de encher a boca para falar.
Parece que as pessoas não pensam que usar essas expressões discriminatórias causa sofrimento nos visados. Discriminar pessoas por conta do tom de pele e orientação sexual são crimes punidos por lei. Mas é ridículo pensar que poderemos prever todas as situações discriminatórias no código penal. Isso nem deveria precisar de lei para punir alguém, é formação pessoal, educação e humanismo. Somente gente mal formada sente algum tipo de prazer em fazer os outros sofrerem. Quero ver um dia em que a filha de alguém que usa essa expressão tenha a doença diagnosticada em tenra idade. Vou escutar com muita atenção quando essa pessoa for questionada para descrever a doença.
Outra coisa que se fala por aí, a cura da endometriose. A endo não tem cura por enquanto, e nem existe nada que indique que a cura esteja para breve. Para as pessoas que afirmam que tem, que tenham a coragem de mostrar quem afirma isso, os dados concretos que provam que existem casos de cura efetiva. Porque se existe cura, essa informação precisa ser alvo de análise científica para comprovar sua veracidade. O mercado potencial para as pacientes de endo a nível mundial é gigante. As estimativas revelam 176 milhões de mulheres portadoras da doença e indicam que tanto para medicamentos como para quem consiga encontrar uma cura, implicam um negócio de bilhões de dólares. Nessas situações é muito fácil encontrar pessoas que buscam se aproveitar do desespero dos sofredores.
Mas se por acaso alguém tiver conhecimento de uma cura real (admito que um dia surgirá, porque não poderá ter chegado já esse dia?), que partilhe essa informação para que os casos de sucesso possam ser analisados pelos especialistas e confirmada a sua veracidade, evitando assim burlas cruéis de quem não tem escrúpulo de tirar o dinheiro de quem passa necessidade e além de não resolver o problema talvez ainda o agrave. No meio do desespero as pessoas por vezes querem tanto acreditar que existe uma saída para o seu caso que ultrapassam a lógica e cometem algumas loucuras. Tenham cuidado, pois cair nas mãos de um burlão não resolve o seu problema e financeiramente o deixa mais longe ainda de um tratamento correto.
A melhor defesa é o conhecimento e para facilitar essa tarefa de recolha de informação credível e com fundamento cientifico, as pessoas que colaboram com esse blog passam horas tiradas às suas famílias e amigos, lendo artigos, buscando a internet, falando com especialistas, traduzindo artigos, relatando as suas experiências pessoais. Faça uso desse trabalho que ofertamos a quem precisa, e se achar que estamos no caminho certo, recomende-nos. E um último pedido, não perpetue a ignorância usando expressões discriminatórias sobre as portadoras de endo ou outra pessoa qualquer. Você até pode não ter recebido a melhor formação por parte da sua família (existem casos assim), mas tem cabeça para pensar e pode melhorar, basta querer. Abraço e até a próxima!