quinta-feira, 12 de setembro de 2013

MATTHEW ROSSER: AS MULHERES NASCEM COM ENDOMETRIOSE?

Na sequência da série, "Desvendando a endometriose", o cientista inglês Matthew Rosser discorre sobre como a mulher pode vir a ter endometriose. Ele fala de um estudo americano que mostra que pedaços de endométrio foi encontrado em fetos. Ou seja, se há endométrio em fetos, isso significa que os artigos do médico e cientista americano David Redwine, "Redefinindo a endometriose na era moderna", parte 1parte 2  e parte 3 realmente têm fundamento. Não à toa que a doença é a mais estudada na última década. Quando comecei a ler esses artigos, uma lembrança de quando eu era criança veio à minha cabeça. Lembro-me bem que desde meus 5, 6 anos, muito antes da minha menarca, eu já sentia as minhas tais "dores de lado". 

Eram dores em pontadas, dores estas que limitaram um pouco minhas brincadeiras de infância, já que nasci e cresci numa linda cidade do interior goiano, onde brincávamos de pega-pega na rua, onde também pulávamos amarelinha, nosso esconde-esconde era nas árvores, dentre muitas outras brincadeiras livres pelas ruas e quintais das nossas casas. Essas dores como "pontadas de facas ou agulhas" me deixavam as vezes em stand by, eu parava um pouco, mas como sempre me considerei uma pessoa forte, me recuperava rápido. O mesmo aconteceu quando me tornei atleta na pré-adolescência. Joguei basquete por anos e fazia atletismo também. Participei de várias competições, inclusive, até quando mudei para São Paulo. No basquete tanto em Goiás quanto em Sampa, eu era uma das principais jogadoras do time, portanto, não dava para pedir para sair do jogo. No atletismo era comum ter desmaios, mas sempre pensara que era por conta do solzão e calorão do meu estado. Joguei muitas vezes com essas dores de pontadas, sem reclamar e sem que ninguém percebesse que não estava bem. Afinal, somos mais que fortes, somos mulheres guerreiras, daquelas que matam mais de um leão por dia. E vocês, como inciaram suas dores?

Ah, e já começou a primeira fase do prêmio TopBlog Brasil 2013. Entre você também para nossa campanha "Seja do bem, vote pelo reconhecimento da endometriose, vote no A Endometriose e Eu", passo a passo aqui. Vote no blog pioneiro em lutar não apenas pelo reconhecimento da endometriose como doença social, mas pelos nossos direitos, pela qualidade de vida das portadoras de endometriose. É o blog que dá vozes às endomulheres desde 2010, é o que traz informação de qualidade e exclusivas do que acontece no mundo todo em relação à doença. É o blog que conscientiza e educa a sociedade, em especial, quem não tem a doença. É o blog que passa fé, esperança e perseverança perante as adversidades que muitas portadoras enfrentam. No ano passado, graças a nossa união fomos o campeão do voto popular, na categoria saúde pessoal. Neste ano, podemos também disputar com maestria o voto acadêmico. O primeiro turno vai até o dia 9 de novembro. Conto com a colaboração de todos para chegarmos ao segundo turno. Afinal, a união faz a força e juntas somos mais fortes. Beijo com amor!


Por Matthew Rosser
Tradução: Jorge Francisco
Edição: Caroline Salazar

Talvez ela já tenha nascido com isso

Se você sofre de endometriose poderá já ter se perguntado como será que a doença surgiu em você. Será que herdou de um membro da família? Será que a doença surgiu da exposição a algo enquanto você estava no útero? Ou será que esteve exposta a algo durante a infância ou adolescência que desencadeou a doença? Não são apenas as portadoras que se questionam sobre isso, os cientistas também se perguntam como e porquê as mulheres contraem endometriose e eles têm feito um bom esforço tentando perceber exatamente estas questões. 

Talvez você já tenha ouvido teorias que andam por aí. A da menstruação retrógrada é a teoria mais badalada para explicar a origem da endometriose. Ela basicamente afirma que durante o período menstrual, embora quase todo o sangue seja expelido pela vagina, parte desse mesmo sangue volta a subir pelas trompas de falópio e acaba saindo para a zona envolvente dos vários órgãos reprodutivos. Esse sangue contém tecido endométrico (que reveste o útero) e que se pensa que ele venha a se implantar nos órgãos os quais se deposita, crescendo e se tornando endometriose.

O problema com essa teoria é que foi descoberto que 90% das mulheres têm menstruação retrógrada. Então, como explicar que apenas 10% delas são portadoras de endometriose? A menstruação retrógrada também assume que a menstruação é necessária para que a endometriose se desenvolva. Bom, um estudo bem interessante publicado no jornal Experimental and Clinical Cancer Research (Pesquisa do Câncer Clinica e Experimental) apresentou novas provas sugerindo que as mulheres já nascem com endometriose.

O estudo dissecou 36 fetos humanos femininos, que tinham abortado ou morrido de causas naturais, e buscou por sinais de tecido endométrico fora do local normal, a marca da endometriose. O que eles descobriram foi que dos 36 fetos, 4 deles exibiam sinais de endometriose. Isso foi notável por dois motivos: um pelo fato de a endometriose ter sido aparentemente descoberta em fetos que estavam se desenvolvendo, sugerindo que as mulheres nascem de fato com endometriose; e dois, porque 4 em 36 indivíduos é muito próximo da percentagem que se esperariam encontrar na população feminina adulta (nota da editora: no caso os 10% da população feminina).

Por muito interessante que pareça, a questão permanece, como é que esse tecido endométrico se desloca para os locais onde é encontrado? A menstruação retrógrada não é seguramente a resposta. Os autores dessa pesquisa sugerem que possa dever-se a erro no desenvolvimento dos órgãos reprodutores do feto. Veja bem, na fase inicial do desenvolvimento, não é homem nem mulher, tem dois conjuntos de canais, o canal Wolff (que desenvolverá para ser os órgãos masculinos) e o canal  Mülleriano (que se desenvolverá para ser os órgãos femininos).

O corpo envia sinais para esses canais dizendo a eles para se tornarem na parte anatômica correta. Então, se você é mulher, o canal Wolff desaparecerá e o seu corpo enviará sinais para as diferentes partes do canal Mülleriano, falando “ok, isso aqui será um ovário, essa parte será o útero, essa parte será o endométrio, essa aqui a vagina... etc, etc". O problema surge quando esses sinais ficam embaralhados (é possível que toxinas ambientais possam ter alterado o sinal, ou as mensagens do seu DNA estão erradas). Com isso, você pode ficar com as “peças” crescendo no lugar errado. É basicamente isso que os pesquisadores estão sugerindo, que durante a fase inicial do desenvolvimento do corpo, os sinais estão sendo alterados por uma razão qualquer, e pedaços de endométrio estão se desenvolvendo onde não deveriam (isso é chamado de  “Müllerianose”), e quando chega a puberdade, esses pedaços de endométrio que estavam adormecidos desde o nascimento se tornam ativos e o resultado é a endometriose.

No geral é uma teoria nova bem interessante sobre a origem da endometriose que devemos considerar. Será necessária muita investigação antes que possa se tornar uma teoria globalmente aceita, mas ela providencia uma base para futuras pesquisas.  Adicionalmente, se essa teoria conseguir dar esse passo de aceitação geral, a pergunta seguinte será “Afinal, o que está embaralhando os sinais?”

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