Na segunda parte de "Redefinindo a endometriose na era moderna", o doutor David Redwine explica a teoria da endometriose, a qual é fundamentada suas pesquisas, alguns dos principais sintomas, e da também da importância do exame físico realizado por quem realmente entende da doença. Por isso é muito importante ter acesso ao currículo lattes do médico e também buscar referência com outras pacientes. E hoje temos a grande ajuda da internet. Mas é preciso saber a fonte de tudo, já que nem tudo na web é real e verdadeiro. Tudo que ele apresenta no texto abaixo é fruto de mais de quatro décadas de estudo e dedicação. Ele passou a se interessar em estudar a doença, após sua primeira esposa ter sido diagnosticada com a doença na década de 1970. Durante mais de três décadas, estudou a doença em suas mais diversas formas. Um dos motivos que ele contesta a teoria de Sampson, é o fato de ter encontrado endométrio diferente do original, o do útero. Sua teoria, a Mulleriana, publicada em 1998, é a expansão da teoria de Russel, a qual sugere que as lesões de endometriose surge na fase embrionária, além de outros fatores (leia a primeira parte aqui). Segundo ele mesmo diz, o importante é o médico conhecer bem sobre a doença e suas várias manifestações. Aos poucos vamos falando tudo aqui na coluna.
Por doutor David Redwine
E não se esqueça de preencher a ficha de inscrição para a Million Women March for Endometriosis, a maior manifestação em massa do mundo em prol de uma doença, nunca realizada antes. Até o momento 23 países sairão às ruas no dia 13 de março de 2014 para mostrar a todas as pessoas do mundo que existimos, que somos muitas (176 milhões de mulheres), reivindicar nossos direitos, cuidados, tratamento especializado acessível em todo país, inclusive, no SUS, conscientizar a sociedade, pois só assim passaremos a ser tratadas com o respeito e a dignidade que merecemos. Esta é a nossa grande chance de ter a doença reconhecida como social pelo governo federal, já que temos um dos maiores especialistas do mundo, o doutor Camran Nezhat, à frente da Marcha de Milhões de Mulheres contra a Endometriose. Compartilhe a Fichade Inscrição entre seus amigos. Todos podem e devem participar. Afinal, a endo não tem idade e basta ser mulher para ter a possibilidade de desenvolver a doença. A união faz a força e juntas somos mais fortes!! Beijo carinhoso!! Caroline Salazar
Redefinindo a endometriose na era moderna - parte 2
Por doutor David Redwine
Tradução: Alexandre Vaz
Edição: Caroline Salazar
A origem da endometriose:
Para ser considerada racional qualquer
teoria sobre a origem da endometriose terá de satisfazer o que é conhecido
sobre a doença, incluindo os seguintes fatos:
- A doença pode ocorrer em mulheres e
meninas com idades entre 10 até 78 anos. Foram encontradas evidências que
apontam para endometriose no fundo de saco de Douglas (nota da editora:
localizado atrás do útero) de uma criança de sexo feminino que morreu de
Síndrome de Morte Súbita.
- A endometriose no seu estado inicial
pode ser muito sutil e facilmente passa despercebida, mas pode tornar-se mais
óbvia ao longo do tempo, dando assim a incorreta impressão de que surgiu uma
nova doença. Pode ocorrer em homens mais velhos com metástases de câncer da próstata que
fazem terapia com estrogênio.
- A endometriose não tem características
de autotransplante na medida em que difere de forma tão fundamental do
endométrio eutópico (nota da editora: o endométrio original, o do
útero). Estas diferenças incluem uma camuflagem morfológica, histológica,
imuno-histoquímica, enzimática, expressão de genes e cromossomos. Um
autotransplante mantém-se essencialmente idêntico ao tecido que lhe deu origem.
- A endometriose está ligada ao crescente
aumento de anomalias associadas, incluindo alterações imunológicas, genéticas e
diferenças fundamentais do endométrio. Não se espalha geograficamente na pelve
com aumento da idade, embora possa ocorrer invasão local ou metaplasia
fibromuscular, dando a impressão de uma ligeira expansão local.
- A endometriose é curável por excisão em
mais de 50% dos casos através de uma única cirurgia, e nos restantes casos por
uma segunda cirurgia. Sampson não detinha o conhecimento existente nos nossos
dias, como tal, a sua teoria foi assente, sobretudo em especulação. Com as
circunstâncias existentes na época, as hipóteses de a sua teoria estar correta
eram muito pequenas.
Os fatos apontam inevitavelmente para
uma origem embrionária da doença. No momento da concepção, fatores genéticos,
ambientais e pura sorte combinados resultam em tratos de tecido alvo
depositados na cavidade celômica (nota da editora: cavidade geral do
corpo, que serve de espaço para os órgãos internos) posterior durante a
organogênese pélvica (nota da editora: processo de
desenvolvimento da pelve no embrião). Dada a reduzida dimensão e plasticidade
do embrião, e a variação possível, que é a marca da biologia, estes tratos podem
por vezes ficar alojados fora da pelve, em locais como o diafragma, os pulmões,
o cérebro ou nas extremidades inferiores.
Estes tratos são o resultado de uma
diferenciação anômala e da migração de precursores do canal Muleriano, e podem
conter traços da endometriose em si, ou simplesmente ter o potencial para a
metaplasia sob a influência da libertação do estrogênio durante a puberdade. De
início, estes traços são incolores e insuspeitos, ou tratos de substrato alvo
mesenquimal podendo ser indiferenciados, e, portanto, não identificáveis. Com o
aumento dos níveis de estrogênio, os elementos glandulares iniciam a segregação
de um produto parácrino (nota da editora: hormônio produzido por uma
célula para agir em suas células vizinhas) não identificado que pode irradiar
tecido e causar dor. Os capilares adjacentes podem ficar desestabilizados e
sangrar.
Fatores de crescimento epiteliais,
quimiocinas (nota da editora: da família das citocinas, funcionam
como fortes reguladores de uma inflamação) e citocinas (nota da editora:
é um extenso grupo de moléculas envolvidas na emissão de sinais entre as
células) associadas com a reparação do tecido em resposta a ferimentos crônicos
resultam em angiogênese (nota da editora: crescimento de novos vasos
sanguíneos a partir dos já existentes), neurovascularidade e fibroses
subjacentes. Os tratos mesenquimais associados com as estruturas
parenquimatosas tais como os ligamentos úterossacros, ou musculares da bexiga,
podem estar sujeitos a metaplasia em torno de vestígios de endometriose.
Assim, as lesões que antes eram
incolores ou translúcidas, podem adotar um tom vermelho, depois amarelo ou
esbranquiçado devido à fibrose (nota da editora: é a
formação de tecido conjuntivo ou conectivo - os responsáveis por unir, ligar,
sustentar os outros tecidos como parte de um processo de cicatrização), e mais
tarde escuro devido ao sangue aprisionado no seu interior que degenera. As
estruturas parenquimatosas podem progressivamente desenvolver nódulos e a
formação de aderências resulta da conicidade do processo irritativo.
Nem todos os tratos embriologicamente
padronizados ou vestígios terão o mesmo nível de potencial para atividade
biológica, quer na mesma pelve quer na de outra mulher. É possível assistir a
endometriose aparentemente inócua numa parte da pelve, e noutra existir
endometriose agressiva.
Para, além disso, nem todas as doenças
irão surgir com o passar do tempo, e certas mulheres terão apenas uma forma
superficial da doença, sem apresentar alterações de cor. Por volta dos 25 anos,
a mulher já terá provavelmente formado todos os focos de endometriose que terá
na sua vida inteira, levando a que a possibilidade de cura seja a excisão
completa.
Sintomas:
A endometriose causa dor localizada,
embora por vezes possa originar dor em áreas mais extensas. O fundo de saco é a
área pélvica geralmente mais afetada, e por essa razão, esta área pode sofrer
com impacto durante o ato sexual, movimentos intestinais, ou simplesmente o fato de a mulher estar
sentada pode causar dores, sobretudo, durante o período menstrual. Cistos de
endometriose nos ovários podem causar dor ipsilateral (nota da editora:
dor que acontece do mesmo lado da lesão, ou seja, neste caso, onde está
localizado o endometrioma), principalmente, se as aderências que tiver
nos ovários forem sendo esticadas pelo crescimento dos cistos.
Vazamento do conteúdo dos cistos pode causar dor aguda por um período de várias
horas, com um desconforto geral nas zonas pélvica e abdominal inferior que pode
durar vários dias até que o líquido que causa a irritação seja reabsorvido. A
endometriose intestinal pode ser assintomática no caso de ser superficial,
enquanto que os nódulos retais associados com a completa obliteração do fundo
de saco irão causar movimentações intestinais dolorosas (nota da editora:
evacuações dolorosas), mesmo fora do período menstrual.
A endometriose invasiva do ligamento
úterossacro poderá envolver um ureter adjacente com fibrose
envolvente, ou em casos bastante raros, invadir o ureter, resultando em
sintomas de hidroureter e hidronefrose. Se a compressão da uretra for gradual,
poderá ocorrer uma falha renal silenciosa e permanente. Nódulos de grande
dimensão no íleo terminal (nota da editora: parte inferior do intestino
delgado) podem provocar sintomas semelhantes à obstrução intestinal. Dores no
lado peito e ombro direito durante o período menstrual são causadas por endometriose
no diafragma.
Figura 1:
Exame físico:
Pontos mais macios ou nódulos no fundo
de saco e nos ligamentos úterossacros que se revelem ao toque (nota da
editora: quando o especialista faz exame físico, o de toque na paciente)
nestas áreas são sintoma de endometriose no. O aumento de um ovário pode ser ou
não devido a endometriose. Ocasionalmente, a paciente poderá ter endometriose
no fórnix posterior da vagina (nota da editora: região onde o canal da
vagina se encontra com o colo do útero, veja Figura 2), com erosão devido a um
nódulo do ligamento úterossacro ou reto. Isto poderá ser confirmado num exame
pélvico em consultório médico, se o espéculo for direcionado para a parte
posterior. Endometriose numa cicatriz de cesariana ou no ligamento
redondo à saída do canal inguinal irá manifestar-se como uma
protuberância dolorosa que poderá aumentar durante a menstruação.
Figura 2:
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