terça-feira, 25 de julho de 2017

"SAÚDE E BEM-ESTAR": O SEGUNDO MÊS DO DESAFIO DE ANE NO PROGRAMA ONLINE "EXERCÍCIO E ENDOMETRIOSE"!

Ane, ao fundo, se exercita com seu esposo, Paulo: grande incentivador
de seu novo projeto para voltar à forma e resgatar a qualidade de vida.



Em seu segundo mês do desafio (leia o primeiro mês aqui) do programa online "Exercício e Endometriose" Ane conta como passou suas férias com a família em outra cidade.  Férias na casa de parentes significa muita comilança, não é mesmo?! E não foi diferente para Ane. Será que ela conseguiu seu objetivo de engordar o menos possível para manter os cinco quilos que emagreceu no primeiro mês? Mesmo estando em outra cidade, Ane conseguiu se exercitar? Eu só posso dizer que estou muito orgulhosa e certa que os 18 quilos serão eliminados mais rápido que pensei. Beijo carinhoso! Caroline Salazar  


Por Ane Bulcão
Edição: Caroline Salazar

Olá meninas!!

Olha eu aqui de novo para compartilhar com vocês o segundo mês do desafio proposto pela Caroline no programa online “Exercício e Endometriose”.

Neste ano consegui ajustar minhas férias com as de meu esposo e as de meu filho, e assim curtir um descanso merecido com a família. Aproveitamos para viajar e, apesar de estar de férias, procurei me exercitar quase todos os dias a fim de que pudesse manter o peso ou que pelo menos não engordasse muito. Mas devo dizer que dessa vez não fiquei bitolada e muito menos paranoica contando as calorias de tudo que comia. Apenas fui procurando fazer boas escolhas alimentares como me recomendou meu personal Renato (nota da editora: idealizador do programa online “Exercício e Endometriose”), e aproveitei muito o momento com a família e os amigos, que diga-se de passagem nos receberam muito bem, e claro, com comidas deliciosas que foram carinhosamente preparadas para nós. Como negar?

Ane e Paulo na trilha no 
zoológico de Itatiba, São Paulo.
Para não perder o pique meu esposo e meu filho também me acompanharam nos exercícios. Nessas férias preferi me exercitar sempre no final do dia porque, afinal de contas, não dá para acordar cedo quando se está de férias e na casa de parentes, não é mesmo? (risos). Fizemos uma trilha bem legal, alongamento e caminhadas periódicas sempre respeitando o limite da minha dor. Teve dias que fiquei mais dolorida, porém não me abati. Já falei em outro momento aqui no A Endometriose e Eu que não permitirei que a doença me roube a alegria de viver. Minha força vem de Deus e minha família que é meu bem maior, como também de amigos verdadeiros que sei que sempre torcem por mim.

Ao retornar à rotina do cotidiano, precisava ver o saldo positivo e ou negativo dos sabores e dos temperos diversos que provei. Confesso que diferentemente de outras vezes, agora estava em paz, consciente de que poderia ter recuperado alguns quilos, o que realmente veio a se confirmar: 2 quilos a mais. Se fiquei chateada? Sim fiquei sim, mas não desesperada. E logo que retornei tive consulta com minha psiquiatra e com a psicóloga e elas falaram que foi justamente essa atitude minha de não ter ficado ansiosa e conseguido relaxar que fez com não engordasse demais. Se fosse tempos atrás eu jamais conseguiria me divertir com as pessoas que amo, pois estaria reclamando e me recusando a comer para não engordar. E o pior de tudo: é que mesmo assim com tantas restrições engordava horrores. Tenho aprendido que todo extremismo é perigoso, que nós precisamos viver a vida em equilíbrio.

Ela também conta com o apoio
e a participação do filho, Danilo.
Outra coisa importante que percebi é que quando temos o apoio necessário seja da família ou de amigos tudo flui mais fácil. Porém sei que muitas vezes algumas endoguerreiras se veem desamparadas de alguma forma. Neste momento é fundamental firmarmos nossa fé em Deus, pois é o único que não nos desampara nunca. E também é importante buscarmos ajuda profissional. Não podemos ter vergonha de buscar ajuda de médicos, de psicólogos, de psiquiatras ou qualquer outra especialidade que precisar. O acompanhamento multidisciplinar que estou tendo tem me ajudado muito. Eu ainda não deixei de tomar remédios para dor, não deixei de tomar os ansiolíticos e continuo com a acupuntura. Sei que todos esses recursos profissionais têm sido um grande diferencial na minha vida. Mas nada se compara a minha fé em Deus e posso dizer com convicção que sou feliz por que mesmo meio a dor que a endometriose nos causa, foi através e por meio dessa doença que tenho conhecido pessoas maravilhosas e apaixonantes, grandes amigas como Caroline e outras tantas endoirmãs.


Bom é isso meninas. Nestas férias engordar dois quilos foi bem positivo, pois sempre engordei muito mais neste período. Já retornei ao trabalho e à minha rotina em São Paulo. Agora vou correr atrás deste pequeno prejuízo, pois como já tinha emagrecido cinco quilos no primeiro mês com esses dois quilos, meu saldo agora são 3 quilos a menos. Ou seja, dos 18 iniciais ainda restam 15 quilos a serem perdidos. Mês que vem volto para contar como será meu terceiro mês no meu desafio. Beijo carinhoso e até o próximo texto! 

domingo, 23 de julho de 2017

"COM A PALAVRA, O ESPECIALISTA" DOUTOR ALYSSON ZANATTA!!


Na segunda parte de “Com a Palavra, o Especialista” deste mês de julho, o doutor Alysson Zanatta tira alguns mitos sobre a doença. Pois é, infelizmente, a endometriose ainda não é tão levada a sério por conta de seus muitos mitos. Vejo constantemente o pavor que a maioria das endomulheres tem em menstruar por achar que a cada menstruação a doença irá se espalhar pelo seu corpo. Será que a doença se espalha? Ou ela é uma doença previsível? Mito ou Verdade? Outro mito já esclarecido várias vezes pelo doutor Alysson no A Endometriose e Eu é a respeito da possível cura da doença. Há uma idade certa para as mulheres terem todos os seus focos desenvolvidos? Beijo carinhoso! Caroline Salazar

– Ouvi de um especialista que a endometriose é progressiva. É verdade que ela se espalha na mulher conforme a idade e o passar dos anos?  Ana Clara – Recife – PE

Doutor Alysson Zanatta: Não Ana Clara, a endometriose não se espalha. Esse mito (mais um) deriva da ideia de que a endometriose venha de menstruação, e que então ela poderia se espalhar por qualquer lugar na pelve. O doutor. David Redwine já demonstrou que as lesões de endometriose são previsíveis, ocorrendo sempre nos mesmos lugares, e, portanto não se espalham. Essa é também a minha observação durante as cirurgias: as lesões estão sempre no mesmo lugar.

Por outro lado a endometriose pode sim ser progressiva. Em algum momento da vida ela progrediu, pois quando encontramos lesões avançadas, significa que elas certamente começaram como lesões menores. O mais provável é que aquelas células de endometriose já presentes no feto (sim, elas estão presentes no feto, fato comprovado leia os textos já publicados no blog texto 1, texto 2 e texto 3) progridam para lesões nodulares e aderências de endometriose ao longo da vida, talvez até no máximo 35 anos de idade. Após essa idade, não costumamos observar novas lesões, exceto talvez por cistos endometrióticos nos ovários.

- A endometriose tem cura? Já fiz uma videolaparoscopia, mas a minha voltou. Anônima, Rio de Janeiro

Doutor Alysson Zanatta: Cura significa ausência de doença. Ou ausência de sinais e sintomas de uma doença. No caso da endometriose, ausência de dor e de sinais da doença por exames de imagem (ultrassonografia e/ou ressonância) com especialista. Os dados científicos mais robustos que dispomos citam mulheres operadas por endometriose que foram acompanhadas por até 10 a 12 anos após a cirurgia. Cerca de 60 a 70% delas não tiveram nem sinais e nem sintomas de endometriose durante todo esse tempo. Podemos dizer que é a cura? Talvez sim. Todas essas mulheres passaram por laparoscopia de remoção máxima da doença e as cirurgias foram realizadas por cirurgiões especialistas e experientes.

Ninguém pode afirmar com certeza, mas é possível que a mulher desenvolva todos os focos de endometriose de sua vida até cerca de 30 a 35 anos. Ou seja, aquela mulher que é operada antes dessa idade, mesmo que bem operada, pode vir a desenvolver novos focos, mas jamais na mesma intensidade desde que tenham sido adequadamente removidos. Por outro lado, mulheres operadas após essa idade têm menos chance de ter sintomas da doença, desde que tenham sido bem operadas.


Sobre o doutor Alysson Zanatta:


Graduado e com residência médica pela Universidade Estadual de Londrina, doutor Alysson Zanatta tem especializações em uroginecologia e cirurgia vaginal pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), cirurgia laparoscópica pelo Hospital Pérola Byington de São Paulo e doutorado pela Universidade de São Paulo, USP. Suas principais áreas de atuação são a pesquisa e o tratamento da endometriose, com ênfase na cirurgia de remoção máxima da doença. Seus inter­esses são voltados para iniciativas que promovem a conscientização da população sobre a doença, como forma de tratar a doença adequadamente. É diretor da Clínica Pelvi Uroginecologia e Cirurgia Ginecológica em Brasília, no Distrito Federal, onde atende mulheres com endometriose, e ex-professor-adjunto de Ginecologia da Universidade de Brasília (UnB). (Acesse o currículo lattes do doutor Alysson Zanatta). 

quinta-feira, 20 de julho de 2017

ENDOMARCHA 2018: AS CAPITAIS BELÉM, DO PARÁ, E PALMAS, DO TOCANTINS, ESTREIAM NA 5ª EDIÇÃO DA MARCHA!

Logo oficial da EndoMarcha Time Brasil 2018

Duas importantes capitais do Norte do país, Belém, no Pará, e Palmas, no Tocantins, estão confirmadas na 5ª edição da Marcha Mundial pela Conscientização da Endometriose. Além das cidades participantes deste ano - São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Campo Grande, Porto Alegre, Curitiba, Londrina, Maringá, Salvador, Fortaleza, Florianópolis e Boa Vista - o norte do país ganha duas importantes capitais na EndoMarcha 2018. Até o momento, no dia 24 de março de 2018, 15 cidades brasileiras, de 14 estados, estarão unidas em prol da divulgação e da conscientização de uma doença ainda pouco conhecida, mas que atinge uma a cada 10 mulheres. 

Em abril a Suellen entrou em contato comigo pelo instagram do blog @aendoeeu  com interesse em coordenar a caminhada pacífica na capital paraense. Após a largada da EndoMarcha 2018, em junho, a Kelly, de Palmas, me enviou e-mail confirmando a entrada da capital do Tocantins. Ver a expansão da EndoMarcha em tão pouco tempo enche meu coração de gratidão. Em 2014 quatro cidades marcaram a estreia do Brasil no primeiro movimento em prol das endomulheres. Quatro anos depois já triplicamos as cidades. Mais de 70 países saem às ruas no mesmo dia para difundir os sintomas da endometriose e também para alertar a sociedade, especialmente, os governantes a respeito de uma doença que impacta muito na vida de 200 milhões de mulheres no mundo. No Brasil somos mais de 6 milhões. Os números são realmente assustadores. Vocês acreditam que existem mais portadoras de endometriose que a soma dos portadores de HIV, lúpus e artrite reumatoide? 

Marcha Mundial pela Conscientização da Endometriose é a oportunidade que temos de nos unir para reivindicar os direitos que já teríamos de ter como cidadãos. Mas cadê a união das endomulheres brasileiras? Não adianta reclamar e ficar sentada no seu sofá. Precisamos nos unir em prol de nós mesmos e das futuras gerações. Desde 2014 nós temos um dia para chamar de "nosso". Um dia que nós reivindicamos o que teria de ser nosso por direito. Não é um absurdo isso? Pois é, mas precisamos ir à luta. Por isso a união de todos, independente, de que grupo participa é muito importante. Como nos anos anteriores, os interessados a participarem da caminhada têm de se inscrever no Cadastro de Voluntários (clique aqui). Quem já se inscreveu nos anos anteriores, não precisa se cadastrar novamente. É importante se cadastrar, pois é por ele que as coordenadoras estaduais entram em contato para passar as informações referentes à EndoMarcha de sua cidade. Já escrevi um texto sobre o "Papel dos voluntários na EndoMarcha Time Brasil". 

As inscrições das cidades vão até o dia 30 de novembro. Precisamos dar um basta em nosso silêncio. Esta é a nossa oportunidade anual de mostrar nosso rosto, de gritar para quem quiser ouvir que a endometriose é uma doença séria, que precisa ser levada a sério pela sociedade e, principalmente, pelos médicos para que haja o diagnóstico precoce da doença. A média mundial é de sete a 12 anos. E  doença afeta uma a cada 10 mulheres. É muita mulher sofrendo. Cadê essa mulherada toda? Não adianta ficar reclamando sentada no sofá. É muito melhor arregaçar as mangas e ir à luta, não é mesmo? A união faz a força e juntas somos mais fortes. Beijo carinhoso! A capitã, Caroline Salazar

terça-feira, 18 de julho de 2017

A HISTÓRIA DA LEITORA VANESSA RODRIGUES PESSOA E SUA ENDOMETRIOSE OVARIANA!!

Vanessa Rodrigues e sua avó, Maria José Rodrigues


A endometriose ainda é uma doença cercada de mitos. Um deles é a questão de a doença atingir apenas mulheres "em idade reprodutiva". O que seria idade reprodutiva? Já a partir da primeira menstruação? A maioria dos médicos cita que "a endometriose atinge as mulheres em idade reprodutiva entre 15 a 45 anos de idade". Na semana que contamos a história da leitora adolescente Clara Flaviane, de 16 anos, recebi parte do depoimento da mineira Vanessa Rodrigues, de 22 anos, falando que sente os sintomas da endometriose desde sua menarca, aos 12 anos. É mais uma história real comprovando que a endometriose não tem idade. Vanessa sempre passou muito mal durante seu ciclo menstrual, teve sua doença confundida com outra - ovário policístico, como acontece em muitos casos - e começou a tratar essa outra doença que ela não tinha com anticoncepcional contínuo. Ela ficou bem por um tempo, já que os sintomas da endometriose foram mascarados durante este tempo, mas de repente as dores voltaram piores do que eram e o fluxo que já era intenso, piorou e ela teve de usar fraldas para conter o sangramento. Este testemunho é mais uma prova que a doença não escolhe idade para acometer uma mulher. Apesar de ainda muito jovem Vanessa perdeu parte de seus órgãos reprodutores já na primeira cirurgia. Há tempos falamos no blog sobre endometriose em adolescentes - leia o texto do médico e cientista americano doutor David Redwine e do cientista inglês Matthew Rosser. Infelizmente a endometriose pode acometer qualquer mulher, das mais jovens às mais velhas. Estima-se que 2/3 das adolescentes que sofrem com dor pélvica crônica e dismenorreia (dor durante a menstruação) têm endometriose. Destas 1/3 tem a doença de moderada a severa. É um dado que assusta bastante. Mas nossa união em propagar a correta informação sobre a doença ajudará a derrubar esses mitos da endometriose. Por isso é muito importante compartilhar os textos do A Endometriose e Eu e espalhar a correta conscientização da endometriose. Beijo carinhoso! Caroline Salazar


"Meu nome é Vanessa Maria Rodrigues Pessoa tenho 22 anos, moro em Uberlândia, Minas Gerais, e há pouco mais de um ano, em maio de 2016, descobri ser portadora de endometriose. Menstruei pela primeira vez aos 12 anos. Meu ciclo sempre foi desregulado e sentia muita cólica. Com o passar dos meses, a dor aumentava gradativamente. Fui me acostumando com essa cólica e a tratava com remédios para dor cada vez mais fortes. Todo mês era um sofrimento enorme, as cólicas menstruais eram tão fortes que chegava a ter crises de choro, tinha enjoo, vomitava, atacava a enxaqueca, e não queria conversar e nem ver ninguém.

Aos 13 anos, pela primeira vez, uma ginecologista, após meu relato de dores fora do comum e com fluxo sempre desregulado, e depois de alguns exames, disse que eu tinha ovário policístico. Ela me receitou Gestinol 28 de uso continuo durante seis meses. Com o uso do medicamento não menstruei durante este período. As dores não eram mais tão intensas, como não sentia mais as dores fortes, após os seis meses parei com o anticoncepcional e voltei à minha rotina normal. Quando retornei ao ginecologista, como era da rede pública pelo SUS, não foi a mesma médica que me atendeu. Então, foi feito apenas os exames de rotina.

Quando completei 17 anos, em 2012, senti que as dores voltaram. Até então meu fluxo continuava bem desregulado, passava meses sem menstruar, porém, quando acontecia meu ciclo era maior que 10 dias e tinha de ir sempre ao pronto-socorro para conter o sangramento e tomar remédios na veia. A cada ida ao pronto-socorro as doses de remédios eram mais fortes, a dor passava e eu adiava novamente minha ida ao ginecologista.

Em 2013 comecei a notar que os sintomas que sentia pré-menstrual não aconteciam com mais ninguém próximo a mim. Procurei novamente um ginecologista e outra vez foi me receitado Gestinol 28 para uso continuo e acompanhamento mensal. Com o passar de alguns meses, mesmo tomando esse anticoncepcional pela segunda vez, meu ciclo continuou muito desregulado, tive de usar fraldas para conseguir conter todo fluxo. Procurei a unidade médica e lá fui medicada para conter o fluxo intenso e as dores.

Todos os sintomas que sentia foram piorando, as cólicas, as dores na perna esquerda, dor ao evacuar em alguns casos, dores agudas na região pélvica próxima da coxa esquerda como se fossem ficadas.  Em 2016, eles passaram a ser constantes e a dor era dia e noite, 24 horas por dia e começou a prejudicar minha vida profissional. Nesta época eu era vendedora, não conseguia ficar em pé por muito tempo. Já não tinha posição para ficar. No período menstrual todos os sintomas que relatei aumentavam de tal maneira que tinha de ser hospitalizada, mas nunca tinha um diagnóstico fechado. Sempre tomava os medicamentos para dor, inclusive, morfina, mas nenhum médico descobria o que eu tinha.

No mês seguinte, fui internada novamente e quando falei todos os sintomas que sentia
para o médico de plantão, ele já falou que a suspeita era endometriose. Após o ultrassom pélvico ficou constatado um aumento volumétrico de formação cística em meu ovário esquerdo, medindo cerca de 5,2 cm, podendo corresponder a endometrioma (leia o texto "O verdadeiro significado do endometrioma de ovário). Após alguns exames minha médica me informou que o caso era de cirurgia, mas ela não realizava esse procedimento. Me indicou alguns médicos no mesmo hospital onde ela trabalhava e consegui um para me operar. Foi feito todo o processo para a cirurgia, novos exames de sangue, pedido de internação para o convênio, ultrassom e ressonância magnética. Quando faltava menos de uma semana para o que eu acreditava ser o fim dos meus problemas, ao entregar o resultado dos exames, o exame de sangue CA 125 estava muito alterado com 113,1U/ml. Então, o médico me informou que pelo tamanho da alteração ele não correria o risco de me operar, e me comunicou que esse exame em especifico se tratava de um indicador tumoral. Fui encaminhada para um médico cirurgião oncológico em minha cidade e, desta vez, eu fiquei sem saber o que fazer, não estava sabendo lidar com a última notícia e até o momento eu nunca tinha ouvido falar sobre cisto, muito menos sobre endometriose.

Depois de alguns dias esperando para a consulta com o novo médico, ele me explicou que devido ao tamanho e ao estado avançado do meu cisto era normal este marcador estar elevado, que pelas imagens e pelos laudos de meus exames não se tratava de um tumor e sim de endometriose. Este médico me indicou a outro médico, desta vez um amigo dele, mas sinceramente depois de passar por vários médicos eu estava ficando desacreditada que algum deles fosse realmente me operar. Já era agosto quando consegui uma consulta com o doutor Leonardo. Ele me examinou e me explicou todos os riscos que teríamos. Falou sobre a dificuldade para me operar também por eu ser obesa, e deixou muito bem explicado que apesar dos laudos e das imagens dos ultrassons e das ressonâncias não saberia o que realmente poderia encontrar quando começasse o processo cirúrgico e que faria uma videolaparoscopia. Dei entrada nos papeis para a cirurgia e durante um mês todo cravei uma briga com o convênio médico que não queria liberar minha cirurgia. Após muitas ligações, laudos e provas de que precisava com urgência dessa cirurgia conseguimos marcar para o dia 18 de outubro de 2016.


A cirurgia teve algumas complicações. O cisto tomava conta de todo meu sistema reprodutor, foi necessário retirar todo ovário e trompa do lado esquerdo, tive sangramento e focos no intestino e na bexiga, dois cistos menores em meu ovário direito, que foram retirados preservando meu ovário e trompa. No dia seguinte a cirurgia já estava de alta voltando para casa. Ele pediu repouso de 15 dias e retorno com 30 dias de cirurgia. Foi feita biópsia do cisto retirado e também do ovário e da trompa. Para minha alegria foi constatado que não se tratava de tumor e sim de endometriose. Tive todos os cuidados médicos, retornei ao consultório, vi toda a cirurgia e confesso que jamais imaginaria o tamanho do cisto se não o tivesse visto pelo vídeo. Comecei a tomar o dienogeste 2mg uso continuo durante seis meses onde retornarei para fazer novos exames. Espero que minha história ajude alguma menina que passa mal durante a menstruação, pois não é normal sentir dor. Beijo carinhoso, Vanessa".

domingo, 16 de julho de 2017

DAVID REDWINE: QUEM É O MÉDICO E CIENTISTA AMERICANO QUE REVOLUCIONOU A ENDOMETRIOSE?

Eu e o médico e cientista americano doutor David Redwine,
em sua passagem por São Paulo em 2014


No próximo mês, agosto, completaremos quatro anos de parceria com o médico e cientista americano doutor David Redwine. O A Endometriose e Eu é o pioneiro no Brasil em traduzir seus textos e também em difundir suas ideias e sua prática cirúrgica entre as portadoras da doença. Quando o conheci pela internet, em 2013, por meio das queridas Nancy Petersen e Heather Guidone comecei a ler seus textos e percebi que ele é o grande revolucionário da endometriose. A cada novo artigo ficava ainda mais fascinada pela inteligência desse homem que transformou um problema pessoal em esperança a milhares de endomulheres mundo afora ao comprovar que a endometriose tem um tratamento efetivo chamado de padrão ouro: a remoção de toda a doença do corpo da mulher, tirando os focos pela raiz e não cauterizando-os. Eu o conheci em 2014, fiz uma entrevista exclusiva com ele em sua passagem por São Paulo, e lá mesmo percebi a revolução que o doutor Redwine representa para a endometriose quando entrevistei outro renomado especialista, o chinês radicado nos Estados Unidos, doutor Charles Koh (leia aqui a entrevista). Com certeza seu nome ficará marcado na história da endometriose, pois pela primeira vez falou-se em cura para a doença. E eu serei eternamente grata a internet por ter me apresentado esse grande homem e grata por ajudar a difundir suas ideias em meu país. Hoje apresentamos sua trajetória de como um menino atleta se transformou num dos maiores (se não o maior) cientistas da endometriose. Mesmo após sua aposentadoria, em 2012, o doutor Redwine continua a estudar incansavelmente a endometriose. Beijo carinhoso! Caroline Salazar


Tradução: doutor Alysson Zanatta
Edição: Caroline Salazar


Até a sua recente aposentadoria em 2012, doutor David Redwine liderou o mundialmente conhecido e vencedor de prêmios Instituto Oregon de Endometriose no Hospital St. Charles, Bend, Oregon, tratando milhares de mulheres com endometriose dos Estados Unidos, do Canada, e de muitos outros locais.

No período escolar era um atleta de ponta, destacando-se nacionalmente em natação e atletismo, e conseguindo uma bolsa de estudos através do atletismo na Universidade de Stanford, onde completou seus estudos básicos. Já como garoto ele tinha uma atração natural por ciência e sabia que a Medicina o chamava. Após Stanford, ele conquistou seu diploma médico na Baylor College of Medicine, no Texas, antes de se mudar para o Oregon para completar seus estágios práticos.  Ele gostava de todas as subespecialidades, mas decidiu-se por Ginecologia porque “ela tinha tudo”: pacientes jovens e comunicativas que se preocupavam com sua saúde, cirurgia, medicina geral, e pediatria. Em 1978 ele abriu seu consultório particular em Oregon.

A endometriose tornou-se parte central de sua vida devido à sua primeira esposa, debilitada pela doença. Eles lutaram para conseguir tratamento efetivo e viveram a mesma falta de compreensão nas mãos da comunidade médica que tantas outras mulheres vivem em suas jornadas para conseguirem tratamento efetivo. Foi a sua experiência pessoal que o motivou a se aperfeiçoar e fazer o melhor pelas suas pacientes. Ele aprendeu tudo o que pôde sobre a doença, documentado suas aparências visuais, como ela se comportava ao longo do tempo, e como ela se formava, e chegou rapidamente à conclusão de que o que haviam lhe ensinado na faculdade tinha pouco a ver com a realidade do que a endometriose realmente é e como ela pode ser melhor tratada. Com os livros médicos colocados de lado, ele desenvolveu novos conceitos sobre a endometriose e seu tratamento efetivo: a completa ressecção de toda a doença do corpo. De sua pequena cidade rural Bend, suas ideias e seus trabalhos começaram aos poucos a chamar a atenção da comunidade médica geral, e hoje são reconhecidas por líderes da especialidade como representando o padrão ouro de tratamento da endometriose.

Juntamente com a enfermeira Nancy Petersen, que trabalhava no mesmo hospital e que também tinha endometriose, fundou o Instituto Oregon de Endometriose em 1987, quando então o doutor Redwine começou a receber pacientes de fora do Estado. Em 1988 ele estava recebendo um número tão grande de pacientes que decidiu abandonar seu atendimento de obstetrícia para dedicar-se exclusivamente ao tratamento de mulheres com endometriose. O Instituto passou a ser reconhecido mundialmente. Foi destaque na  Hospital Benchmarks, a revista sobre as melhores práticas médicas, e foi citado pela Self Magazine como um dos melhores serviços de saúde do país, além de receber um prêmio por excelência da Associação Nacional de Mulheres Profissionais de Saúde.

Durante a sua carreira o doutor David Redwine publicou mais de 110 artigos científicos, monografias, cartas editoriais, capítulos de livros, e livros. Ele serviu em conselhos editoriais de várias revistas científicas e foi eleito para vários cargos de responsabilidade nos conselhos nacionais e internacionais de associações de ginecologia e laparoscopia. Ele apresentou seu trabalho ao redor do mundo, e durante suas viagens foi convidado a realizar cirurgias em alguns dos mais difíceis e desafiadores casos da doença. Ele também recebeu em Bend cirurgiões de várias partes do mundo que vinham aprender com suas técnicas cirúrgicas.

Enquanto a abordagem do doutor Redwine não era de forma alguma radical, seus resultados ofereciam esperança onde não havia nenhuma. A base de sua abordagem era simples: melhor identificação da doença e remoção meticulosa de todo tecido doente.  O objetivo do doutor Redwine era remover completamente e com segurança toda a endometriose do corpo de suas pacientes. Na maioria das vezes, seu objetivo era alcançado. Os resultados de longo prazo em seu instituto mostravam uma taxa de recorrência de menos de 19%, mesmo em cinco anos ou mais após a cirurgia. A maioria de suas pacientes ficava curada após uma única cirurgia.

Qualquer pessoa que o conheça apreciará seu senso de humor espirituoso, e sua inteligência afiada. Suas pacientes lembram-se do carinho e do acolhimento com que as tratava e aos seus familiares durante suas estadias em Bend. Ele era um médico realmente dedicado, fazendo tudo o que podia para proporcionar a cada paciente o melhor resultado possível, tendo todo e necessário tempo para conversar e escutá-las, e nunca desistindo independente do tamanho do desafio e da complexidade de suas doenças. Ele ainda detém o recorde no St. Charles Medical Center da cirurgia mais longa já realizada, passando 11 horas ressecando meticulosamente a doença de uma de suas pacientes.

O doutor Redwine passou 35 anos tratando endometriose, mudando a vida de milhares de mulheres em todo o mundo, e inspirando outros cirurgiões a seguirem seu legado fazendo o mesmo.

Para saber mais sobre a carreira e as publicações do Dr. Redwine, faça o download de seu curriculumvitae.


Fotos de David Redwine (esquerda para direita): foto de jornal, 17 anos de idade, vencedor da corrida da milha no torneio regional de atletismo dos estados do sul. Primeiros dias como interno (1975). Momentos antes de realizar cirurgia no hospital Acibadem, Istambul (Maio de 2010). Realizando apresentação no 2. Simpósio Cirúrgico e Encontro Anual da Endometriosis Foundation of America em Nova York (Março, 2011). Com sua esposa, Laurie, no Baile de Gala da Endometriosis Foundation of America, tendo acabado de receber um prêmio por suas contribuições no campo da endometriose (Março, 2011).


Nota do Tradutor: é certamente uma honra e um privilégio a nós, contribuidores (as) e leitores (as) do blog A Endometriose e Eu, podermos desfrutar dos ensinamentos do doutor David Redwine. Esse texto é um breve resumo de sua biografia, uma oportunidade para que todos nós o conheçamos um pouco melhor.

Como citado, a experiência do doutor Redwine influenciou médicos ao redor do mundo, sendo eu um deles. Tive uma influência indireta em um primeiro momento através de outro médico que considero amigo e mestre, e posteriormente tive o prazer de conhecer doutor Redwine pessoalmente. Em várias situações observei em congressos médicos o seu “embate” com outros profissionais da área de endometriose, que alegam ser a endometriose uma doença sempre recorrente e “sem cura”. Parece que não é bem assim.

Considero precoce (porém merecida) a aposentadoria do Dr. Redwine, no auge de sua experiência. Felizmente, nos deixou farto material (que sabiamente traduzimos com exclusividade aqui no blog), além de ser extremamente ativo ao dividir sua experiência com médicos e pacientes nas redes sociais. Obrigado, doutor Redwine.



Sobre o doutor Alysson Zanatta:
Graduado e com residência médica pela Universidade Estadual de Londrina, doutor Alysson Zanatta tem especializações em uroginecologia e cirurgia vaginal pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), cirurgia laparoscópica pelo Hospital Pérola Byington de São Paulo e doutorado pela Universidade de São Paulo, USP. Suas principais áreas de atuação são a pesquisa e o tratamento da endometriose, com ênfase na cirurgia de remoção máxima da doença. Seus inter­esses são voltados para iniciativas que promovem a conscientização da população sobre a doença, como forma de tratar a doença adequadamente. É diretor da Clínica Pelvi Uroginecologia e Cirurgia Ginecológica em Brasília, no Distrito Federal, onde atende mulheres com endometriose, e ex-professor-adjunto de Ginecologia da Universidade de Brasília (UnB). (Acesse o currículo lattes do doutor Alysson Zanatta). 

quinta-feira, 13 de julho de 2017

6 MILHÕES DE ACESSOS NO BLOG!! MUITO OBRIGADA PELA AUDIÊNCIA E PELA CONFIANÇA!!





Seis milhões de acessos!!! É com muita emoção que escrevo este post, pois estou me lembrando de quando fizemos 1 milhão... depois 2, 3, 4, 5 e cá estamos nos 6 milhões de acessos. Sabe quando imaginei tudo isso? Nunca! Mas quando trabalhamos com amor, com carinho, com honestidade e integridade alcançamos resultados positivos. O A Endometriose e Eu é fruto de muito carinho e amor, tanto meu quanto dos meus colaboradores-voluntários. E todo esse sucesso do blog é graças a vocês, leitoras (es), que acessam o blog diariamente, que partilham conosco suas histórias, suas lutas e suas angústias, que compartilham nossos textos, que fazem todos os dias eu levantar e ter prazer de trabalhar aqui, levando ainda mais informações sobre a endometriose, seja escrevendo ou editando os textos dos nossos colaboradores. São madrugadas, dias e mais madrugadas de um trabalho árduo, sério e de muita dedicação. 

Em 2010, o blog começou como hobby. Na verdade ele começou como um diário meu cheio de desabafos. Eu contava meu tratamento, postava bem esporadicamente, aos poucos fui vendo um texto diferente em inglês e comecei a traduzi-lo. Criei as colunas "História das Leitoras" e "Com a Palavra, o Especialista". Conheci dois cientistas o americano doutor David Redwine e o inglês Matthew Rosser e os convidei para serem nossos parceiros exclusivos. Introduzimos no Brasil o que o mundo inteiro já fazia: eventos de conscientização da endometriose no mês de março. E colocamos o Brasil no calendário mundial de conscientização, em 2013. Sem querer eu já unia meu trabalho de jornalista e pauteira com tudo que fazia no blog. Com a minha cura em 2012, passei a me dedicar cada vez mais ao blog, mesmo com o retorno à minha carreira (após alguns anos na cama por conta das fortes dores) continuei me dedicando ao A Endometriose e Eu, a quem chamo de filho. 

Ele continuou sendo meu companheiro constante, não conseguia desgrudar os olhos dele. Em agosto de 2012 fiz minha primeira cobertura como repórter de saúde credenciada pelo blog. Até então, eu era repórter de celebridades. Trabalhava em revistas conceituadas da área. Varava a madrugada aqui, mal dormia e já acordava cedo para trabalhar fora. Ia levando essa vida de quase zumbi, deixei muitos encontros e saídas com amigos para "trabalhar" no blog. Eram dias de semana e fins de semana com meu note escrevendo no meu filhote. Ai percebi que meu trabalho, até então, que era para ser um hobby há tempos ocupava o topo da minha vida. Em 2014 eu tive de decidir: ou unia meu trabalho de jornalista no blog ou continuava trabalhando com celebridades e largava de vez o blog. Nossa, até para escrever esta frase me deu aquele aperto no coração. Como uma mãe desiste de um filho, eu pensava. Não dava. Então, resolvi unir meu trabalho de jornalista à endometriose. Eu amo o que faço. E agradeço a Deus o dom que Ele me deu e por cada dia me capacitar ainda mais para esta minha grande missão de vida. 

Cada texto é pensado e repensado para levar informação de qualidade às endomulheres, aos endomaridos e à toda família das portadoras de endometriose. A mensagem de fé, de esperança e de perseverança que o blog passa faz o sucesso de cada artigo postado aqui. O A Endometriose e Eu é um grande amigo das portadoras de endometriose. Aqui elas encontram consolo, o blog acalenta corações aflitos e desesperançosos. Por isso, cada comentário, cada compartilhamento é uma grande emoção para todos nós. Nunca imaginei que este trabalho despretensioso, acalentaria tantos corações, que renovaria a esperança e a fé de muitas mulheres. Agradeço a Deus por esta oportunidade, por Ele ter me dado a sabedoria das palavras e por ter encontrado no meio do caminho pessoas maravilhosas que hoje são colaboradores fundamentais no blog. Agradeço também todos os dias tudo que passei, todo sofrimento, pois sem meus obstáculos eu não teria idealizado o blog. Hoje, a homenagem é para todos que fazem do blog, o mais lido do mundo sobre endometriose.

Nossa missão: educar e conscientizar a família da portadora e toda a sociedade acerca da endometriose. Dar suporte, acolher, aconselhar e acalentar as pessoas que nos procuram, seja portadora, como também seus familiares. E nossa principal missão além de passar a informação correra sobre a doença é tornar a endometriose uma doença reconhecida como social e de saúde pública pelos nossos governantes. Ter leis para que as portadoras passam a ter seus direitos como todo cidadão tem por direito. Vamos continuar com fé, caminhando juntos, com bondade, com generosidade e muita honestidade. Porque tudo que é honesto dá certo, vai pra frente. Agradeço a Deus e a todos pelo blog ser hoje referência mundial em endometriose! Beijo carinhoso!! Caroline Salazar e equipe!

quinta-feira, 6 de julho de 2017

"COM A PALAVRA, O ESPECIALISTA" DOUTOR ALYSSON ZANATTA!!

A endometriose é uma doença que pode atingir qualquer órgão do corpo feminino. Infelizmente ainda é uma doença pouco compreendida e cercada de muitos mitos. Principalmente quando se trata de sua origem. Já contamos histórias de leitoras com endometriose na parede abdominal, na cicatriz da cesárea, em endomulheres que já tiveram filhos, mas como explicar este tipo de endometriose, especialmente, a endometriose umbilical, naquelas que nunca tiveram filhos e nunca fizeram cirurgia na vida? A outra dúvida é sobre os endometriomas, os famosos cistos de chocolate. O doutor Alysson Zanatta já escreveu um texto brilhante sobre o assunto, “O verdadeiro significado do endometrioma de ovário”, e agora, em “Com a Palavra, o Especialista”, ele fala se esses cistos podem se romper, o que acontece após essa ruptura e qual o tratamento ideal para o endometrioma. Como em seu texto, o doutor Alysson aproveita a oportunidade e faz um alerta muito importante. Beijo carinhoso! Caroline Salazar


- Doutor Alysson como surge a endometriose de parede abdominal? Qual é o tratamento correto para este tipo de endometriose? Maria Vitória – Juiz de Fora – MG

Doutor Alysson Zanatta: Olá Maria Vitoria. A causa da endometriose abdominal é controversa. Muitos sugerem que seja decorrente de implantação de células endometriais diretamente na parede abdominal durante o parto cesáreo. Porém, essa teoria não explica a endometriose de parede abdominal que ocorre após cirurgias de hérnia ou apêndice, por exemplo. Também não explica a endometriose de cicatriz umbilical, que pode ocorrer em mulheres que jamais tiveram qualquer cirurgia.

Pessoalmente, acredito que a endometriose de parede abdominal seja decorrente de processo de cicatrização defeituoso, onde, durante a formação da cicatriz na parede, haja o surgimento de células endometriais a partir de transformação de células totipotentes (células imaturas com potencial de transformação em diversos tipos de célula). O tratamento efetivo é a retirada do nódulo e também removendo toda a doença do corpo da mulher. Não há outra opção para tratamento definitivo do endometrioma de parede. Mulheres com endometriose de parede abdominal costumam ter também lesões de endometriose pélvica. Mas isso não quer dizer que a lesão da parede abdominal seja causada por “disseminação” da doença pélvica. 

- O cisto de endometrioma pode se romper? O que ocorre se isso acontecer? Camila Barreto – Rio de Janeiro

Doutor Alysson Zanatta: Olá Camila. Sim, o endometrioma pode se romper. Quando isso acontece, há extravasamento de parte do seu líquido achocolatado, gerando irritação e dor pélvica. A dor pode ser intensa o suficiente para levar a mulher a um serviço de emergência.

E aqui é o ponto de maior importância: quando a mulher chega ao serviço de emergência, com quadro de dor intensa, o médico irá se deparar com exames que mostram cistos, líquido livre na cavidade, e talvez suspeita de apendicite. Isso irá alarmá-lo, e fará com que proponha uma cirurgia de emergência (na maioria uma cirurgia aberta de corte). Durante a cirurgia, verificará o ovário aumentado pela endometriose, com líquido achocolatado por toda a pelve, e fará a retirada do cisto ou do ovário (situação infelizmente comum).

Essa é a PIOR SITUAÇÃO que pode ocorrer durante a ruptura de um endometrioma: uma cirurgia de emergência com retirada do ovário. Isso não irá tratar a endometriose, e a mulher terá que se recuperar de uma cirurgia infrutífera, e sem o ovário.

Por outro lado, o correto a se fazer, na imensa maioria dos casos, é AGUARDAR. Deve-se administrar analgésicos, ainda que demore um pouco, pois a dor irá passar. O líquido extravasado será reabsorvido, e em poucas horas ou dias não haverá mais dor. Então, a mulher deverá procurar seu médico para planejar o tratamento definitivo da endometriose.


Resumindo: EVITEM CIRURGIAS DE EMERGÊNCIA POR RUPTURA DE ENDOMETRIOMA.


Sobre o doutor Alysson Zanatta:
Graduado e com residência médica pela Universidade Estadual de Londrina, doutor Alysson Zanatta tem especializações em uroginecologia e cirurgia vaginal pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), cirurgia laparoscópica pelo Hospital Pérola Byington de São Paulo e doutorado pela Universidade de São Paulo, USP. Suas principais áreas de atuação são a pesquisa e o tratamento da endometriose, com ênfase na cirurgia de remoção máxima da doença. Seus inter­esses são voltados para iniciativas que promovem a conscientização da população sobre a doença, como forma de tratar a doença adequadamente. É diretor da Clínica Pelvi Uroginecologia e Cirurgia Ginecológica em Brasília, no Distrito Federal, onde atende mulheres com endometriose, e ex-professor-adjunto de Ginecologia da Universidade de Brasília (UnB). (Acesse o currículo lattes do doutor Alysson Zanatta). 

terça-feira, 4 de julho de 2017

"SAÚDE E BEM-ESTAR": EXERCÍCIOS FÍSICOS - AÇÃO E MOTIVAÇÃO PARA VOCÊ SE EXERCITAR!

Fonte: Pixabay

Praticar atividade física faz um bem danado ao corpo, a mente e ao espírito. Quando se tem uma doença que causa dores crônicas, então, o exercício é fundamental para reabilitar o corpo. Muito se fala da endometriose versus exercícios físicos, mas pouco se fala dos benefícios que ele dá às endomulheres. Não é só endorfina não. Em "Saúde e Bem-estar", o educador físico Renato Trevisan, criador do programa online "Exercício e Endometriose", reproduz para as leitoras do blog A Endometriose e Eu uma entrevista que ele concedeu à uma rádio local na cidade onde mora, Maringá, no Paraná. No bate-papo ele explica tudo, desde como entrou para o meio das endomulheres, o que inspirou a criação do programa de exercícios online, e todos os benefícios que os exercícios do programa, especialmente, os regenerativos, idealizados para quando a endomulher está em plena crise de dores. Beijo carinhoso! Caroline Salazar


Por Renato Trevisan, educador físico
Edição: Caroline Salazar

Olá meninas!

Hoje vou bater um papo diferente com vocês. Quero pedir licença para reproduzir uma entrevista que dei a uma rádio local de Maringá, no Paraná, onde tive a oportunidade de falar um pouco sobre a relação do Exercício com a Endometriose, e de como eu recebi este presente de ter contato com essa Patologia e de alguma maneira tentar contribuir para que mulheres pudessem melhorar sua qualidade de vida.

No bate-papo, eu contemplo muitos questionamentos que tenho recebido nas redes sociais. Espero que vocês possam aproveitar, e que para muitas essa entrevista seja o ponta pé inicial para uma nova jornada!

Seguindo com o tema endometriose, hoje o nosso papo será com um personal trainer de Maringá, que desenvolveu um programa de exercícios para mulheres com endometriose. Vamos conversar Renato Trevisan. Boa Tarde Renato? Fala um pouco de você.
Olá, boa tarde a todos que nos acompanham, eu sou o Renato Trevisan, professor de Educação Física, sócio da A3 Atividade Física para a Saúde, um estúdio de Personal localizado na cidade de Maringá que foi criado com foco total na busca pela qualidade de vida e saúde das pessoas. Fiquei muito tempo afastado da área da educação Física e quando resolvi voltar, tinha como convicção oferecer algo que transformasse a vida das pessoas. Eu havia feito isso com a minha de certa forma, quando emagreci 30 quilos para voltar a trabalhar como personal, então queria oferecer isso as pessoas. Neste meio tempo, dentre outras coisas, surgiu a endometriose na minha vida.

Muito bem, isso parece ser mesmo um fato interessante. Como isso aconteceu, você teve algum caso na família que te inspirou a ajudar as mulheres com endometriose?
Não, não foi um caso na família não. Uma querida aluna me relatou o seu problema e como fazemos com todas as patologias que surgem em nosso estúdio, fui estudar e me aprofundar. Quando fiz isso, fiquei impressionado com os relatos que encontrei. Relatos de muito sofrimento, de muita luta, de muita abstinência de vida social, etc..... Isso me fez olhar para aquela situação muito além da aluna que se encontrava ali para meu atendimento. Isso me fez conhecer algo que eu nem imaginava que seria possível existir. Então fui pesquisar, estudar e buscar soluções para resolver o caso que ali se encontrava, mas queria ajudar mais mulheres. Experimentamos as atividades com a primeira aluna, depois foram surgindo outras, e então eu entendi que seria possível replicar esse modelo de atividades para outras pessoas com as mesmas características e melhorar muito a vida destas pessoas.

Isso me parece muito interessante, mas o exercício físico é capaz de promover a cura da endometriose?
Absolutamente Cristina, o exercício físico é um complemento do tratamento da endometriose, jamais poderia fazer tal afirmação de que o exercício promove a cura da doença, mas posso com toda certeza afirmar que ele pode sim melhorar a qualidade de vida de portadoras de endometriose. Poderia aqui citar muitos fatores fisiológicos promovidos pela pratica regular do exercício, mas gostaria de me ater a dois em especial, que são eles: a produção de serotonina e o controle dos índices glicêmicos de nosso corpo. O primeiro deles a produção de Serotonina tem uma relação muito grande com motivar-se para as atividades do dia a dia, melhora do humor, melhora na sensação de bem-estar. Gosto muito de enfatizar esse benefício, pois nos depoimentos que encontrei ao longo de minhas pesquisas, vi muitos casos de mulheres que não saem mais de casa, que sofrem com dores, que sofrem pela falta de reconhecimento da doença e que de certa forma ficam marginalizadas pela mesma. Poder se sentir mais motivada, mais ativa, ter os sintomas das dores diminuídos pode ajudar muito na construção de outra realidade para estas mulheres. O segundo fator é o controle glicêmico, que aparece ai também relacionado à falta de estimulo, ao aumento de associação de Diabetes Tipo II, Neuropatias, Síndrome Metabólica e outras. Apesar de ainda não existir um consenso sobre a etiologia da síndrome metabólica, parece estar claro na literatura, que ela é originada a partir do excesso de tecido adiposo visceral. Em vários estudos a relação hipertrofia dos adipócitos, (célula de gordura), provoca um desequilíbrio na homeostase metabólica do tecido adiposo, aumentando a produção de adipocinas pró-inflamatórias, como a (TNF-alfa) e reduzindo a produção de adipocinas anti-inflamatórias, como interleucina-10 (IL-10), culminando no processo inflamatório crônico de baixa intensidade. Índices Glicêmicos mais elevados são comuns em mulheres com endometriose, estudos iniciais apontam uma possível relação com alguns medicamentos e a associação de um estilo de vida regulado pelas crises de dor incapacitantes.

Temos mesmo relatos de ganho de peso com a utilização de alguns medicamentos, isso é comum?
Bom não sou a pessoa indicada a falar sobre medicamentos, mas posso relatar aqui que alguns medicamentos podem sim ajudar no ganho de peso, principalmente impedindo a realização regular da quebra de gordura como fonte de energia (lipólise). Isso associado à ausência de estímulos pela falta de uma vida mais ativa pode contribuir muito para o ganho de peso. Como já disse anteriormente pode trazer além do sofrimento da endometriose outros fatores de doenças associadas. Por isso tenho falado muito com as “endomulheres” - esse termo eu aprendi com elas (risos)-, busquem tratamento, orientação médica, mas se preocupem também e sempre, com as mudanças de hábitos e, principalmente, com a motivação de se manter sempre ativa. Eu aqui falando deve ter muitas mulheres com endometriose ouvindo e me xingando (risos). Eu imagino que não é fácil, mas é muito importante se manter ativa. É muito importante fazer com que o exercício promova qualidade para o seu dia a dia. Foi por isso que criei o programa “Exercício e Endometriose”, para que mulheres como a Dani, a Ane, a Jô, a Paula, a Adriana e muitas outras conquistassem uma qualidade de vida melhor, com menos dor e com muito mais disposição em seu dia a dia.

Fale para nós como é o programa Exercício e Endometriose?
O proposito do programa é tirar as mulheres da inatividade, promovendo a melhora no quadro de dores e sintomas da endometriose e trazendo mais motivação e disposição no dia a dia destas mulheres. O programa leva em consideração o ciclo hormonal feminino, e tem como proposta inicial a realização de exercícios regenerativos. Para exemplificar o nosso entendimento de exercício regenerativo, vou citar aqui o exemplo da Ane, querida “endomulher” da cidade de São Paulo que há uma semana atrás me fez um relato fantástico. Ela recebeu sua planilha de treino e lá dizia, por exemplo, que ela deveria realizar caminhadas por um determinado período de tempo durante cinco dias... depois iríamos reavaliar sua condição de traçar novas tarefas.... bom na terceira prescrição ela me relatou que a “perua” que levaria seu filho à escola não iria passar para pegá-lo, e que por esse motivo, ela não conseguiria fazer a caminhada, pois teria que levar seu filho até a escola. E dai ela me perguntou: posso fazer o trajeto até o metrô caminhando, vai dar uns 15 minutos, e depois de pegar o metrô, vamos caminhando até a escola, mais uns 10 minutos? Confesso que quase chorei com a pergunta dela! Respondi que sim imediatamente e dei os parabéns a ela pela escolha. Acho que isso resume um pouco do que se trata o programa: dar oportunidade às mulheres a iniciarem a prática do exercício físico quando estas estão em casa, com muitas dores, sofrendo a dor física e psíquica do isolamento. Nos relatos pude compreender que muitas vezes, fazer um café pode ser uma vitória para estas mulheres.

Renato, que lindo esse depoimento! E como as mulheres que estão nos ouvindo, podem conhecer, adquirir ou participar deste programa?
O programa é totalmente online, é um e-book explicativo, com uma planilha de exercícios regenerativos e exercícios de força que foi elaborado para iniciantes, para mulheres que sofrem com dores e que passam grande parte dos seus dias sem realizar muitas atividades cotidianas. Ele tem um valor bastante acessível, e através dele nosso suporte se encontra à disposição de todas as mulheres, para dúvidas, esclarecimentos e atendimento, assim como foi no exemplo da Ane que citei anteriormente. Para conhecer mais sobre o programa basta entrar no site http://camp.aendometrioseeeu.com.br/livro-online-exercicio-e-endometriose/ e você vai encontrar mais explicações sobre como ele funciona. Para quem quiser fazer contato com nosso estúdio, tirar dúvidas e esclarecimentos sobre a endometriose pode acessar o nosso site http://a3saude.com.br. Terei o maior prazer em atender.

Que pena que nosso tempo esta acabando. Gostei muito de receber você. Você já deixou seus contatos, mas se quiser repetir ou deixar alguma mensagem fique a vontade.
Gostaria de agradecer o espaço, dizer que sou novo nesta luta em prol da endometriose, mas são oportunidades como esta que estamos buscando para poder falar um pouco sobre essa patologia que atinge mais de 15% das mulheres em todo o mundo. Gostaria também de deixar a mensagem que escrevi mês passado em um blog sobre o Tema: Meninas vamos parar de olhar só para a endometriose e olhar um pouco também para você! Não deixem de buscar uma ajuda, não deixem a endometriose apagar você. Um abraço imenso a todas.

Delicioso o bate papo né?

Espero que vocês tenham curtido, eu adorei participar!

Mandem perguntas através dos comentários, terei imenso prazer em responder todas elas.

Um super abraço e até o próximo texto.