quinta-feira, 16 de maio de 2013

"A VIDA DE UM ENDO MARIDO" O PRIMEIRO CONTATO DO CASAL COM A ENDOMETRIOSE - PARTE 2

Na segunda parte da trilogia intitulada “Primeiro contato com a endometriose”, Alexandre fala das limitações de uma endomulher nas atividades corriqueiras que toda mulher deve exercer muito bem, a profissional e a doméstica. Pois é, quem não tem endometriose adora falar mal da dor alheia. Mas, ora bolas, eu queria ver essa pessoa aí que vive falando como ela seria se a dor da endo a incapacitasse de realizar tarefas simples e que muitas gostam. Eu digo isso, pois como já falei aqui tem uma coisa que eu sempre adorei fazer, mas que a dor me impedia: como lavar os banheiros, a cozinha. Também sei dar uma boa faxina em casa, mas confesso que adoro mexer com água. Talvez por eu ser de um signo do elemento água, será? O fato é que eu tive de parar de executar essas tarefas. E hoje se a executo faço com muito cuidado e bem devagar. Vai fazer um ano no dia 1° de junho que estou livre das dores da endo (parece um sonho, meu grande milagre!), mas isso também gera um trauma. Eu sempre quis que ele abordasse a questão “doméstica”, porque muitos pensam que “se nasceu mulher então tem de fazer tudo em casa.” Muitas mulheres morrendo de dores são obrigadas a exercerem as tarefas de casa só porque estão em casa por conta das dores. Graças a Deus nunca apareceu na minha vida um homem com uma mente pequena dessa. E que Deus continue me abençoando! Amém! E a questão profissional também é de suma importância. Eu que o diga, já que tive de parar a minha por dois anos para me tratar, para fazer a fisioterapia uroginecológica para melhorar a dispareunia. Mas como Deus é sempre maravilhoso com seus filhos do bem, aos poucos vou retomando aquilo que eu era antes de tudo começar e virar minha vida de cabeça pra baixo. Mas hoje quem dita a coluna é nosso endo marido Alexandre. Um texto para ler, refletir, pensar... e para que muitas pessoas que convivem com as portadoras, e não só os endo maridos, passem a ter uma nova atitude perante as dores desta doença. Beijo carinhoso! Caroline Salazar

Tal como prometido, vamos continuar. Agora falando sobre a vertente profissional/doméstica. Como vocês sabem portadora de endometriose tem muitas limitações nas atividades que pode realizar. Se a mulher for bem prendada, ela saberá como fazer as coisas em casa. Cozinha, tanque, engomar roupa, supermercado, etc. Mas a mulher que tem endo morre de dor quando surgem as crises da doença, e fica difícil fazer as tarefas domésticas. Para os homens vou dar o seguinte exemplo: quase todo o mundo já teve dor de dente. Imaginem que estão tendo que cuidar da casa com dor de dente, mas não tem dentista. Se for um dente, no limite você pode até arrancar o dente em casa, arriscar uma infecção, mas se tratando da endometriose, isso não é possível. Você irá viver com essa dor por anos, com pouco alívio pela medicação, e tendo que cumprir com suas obrigações. Na esfera profissional, acontece a mesma coisa. Você tem dor, tem hora que fica sem funcionar, mas enquanto que em casa você pode deixar pra depois, no trabalho isso tem consequências maiores. Ficar faltando ao trabalho é complicado, mesmo com justificação do médico. Você arrisca o seu emprego porque está doente, não tem culpa, parece que não tem nada que alguém possa fazer para lhe ajudar, e aos poucos, seu emprego e seu salário estão indo pro brejo. Pior, você vai ao hospital e quando fala que precisa de analgésico forte porque está morrendo de dor, lhe xingam de toxicodependente. Isso não é exagero, aconteceu com a minha esposa. Tem mulher que tem dor na relação sexual e o marido acha que ela está de frescura. Aguentar tudo isso não é mole.


Vamos voltar à questão da mulher prendada. Ela foi educada para cuidar da casa e da família. Quando consegue, ela parece um furacão, vira a casa do avesso. Deixa tudo brilhando, cheiroso, bem bonito. Em seguida cai na cama com dor, poderá ficar vários dias sem conseguir fazer mais nada, se enchendo de drogas para aliviar os sintomas da doença. Claro que já adivinhou, não vai ter sexo. A mulher profissional, que não larga o serviço para os colegas, gosta de ser vista como alguém em quem podem confiar, e tem orgulho em seu trabalho, dá o máximo na empresa. Ela vai chegar em casa e muitas vezes ainda vai ter que fazer a janta, o almoço do dia seguinte, cuidar dos filhos... desse jeito não vai demorar pra ela cair na cama morrendo de dor de novo. E mesmo antes disso, no final do dia ela vai estar quebrada, morta de cansaço. Se a medicação já rouba a libido dela, imagina cansada também. Ninguém é de ferro, né? Você é bem esperto, e já logo pensa: não vai ter sexo de novo. Essa vida é bem complicada para gerir, nas tarefas e emocionalmente. É por isso que eu insisto tanto na comunicação entre o casal. Mas sempre tem um jeito de melhorar, e eu vou dar umas dicas para isso.


Divisão de tarefas: Sejam organizados. Sentem os dois com caneta e papel. Façam uma lista das tarefas que são realizadas em casa. Para os caras que não estão acostumados a dividir as tarefas domésticas, isso vai mostrar a capacidade enorme de trabalho que as mulheres têm. Assinale as tarefas que ela não consegue realizar. Essas geralmente incluem movimentar coisas pesadas e fazer trabalhos muito curvada. Essas tarefas podem ser realizadas pelo homem. Eu garanto que não é tanta coisa assim, se todos os dias fizerem um pouco. Então, o truque é fazer uma escala de tarefas. Quando eu bolei isso aqui para casa, imaginei que poderia dedicar duas horas de trabalho em casa por dia. Ela de um canto, eu no outro. Cada um fazendo as suas coisas, e depois desse tempo poderíamos jantar e ter tempo para nós. E funciona gente, se tiverem a disciplina para cumprir a escala. Quando chegar o fim de semana, poderão sair os dois pra namorar, visitar família, ou simplesmente descansar. Dá para imaginar que um funcionamento regular das tarefas domésticas reduzirá a ansiedade da mulher, e a divisão das tarefas permitirá que a mulher esteja menos cansada. Adivinhou, maior disponibilidade para o sexo. Tenham em atenção que muitas vezes a mulher não vai conseguir cumprir as tarefas. Mas o cara não pode se matar compensando o que ela não fez. Faz as suas e no final de semana compensa o que não deu para fazer no tempo normal. Nunca se deve cair no erro de esgotar as forças, pensando que aguenta tudo. Até Deus precisou de descanso.

Se você quiser ir trabalhar todos os dias estando ao seu melhor nível, respeite o seu descanso. Se não o fizer, vai ser nossa esposa arriscando o emprego dela e nós também o nosso. Usar duas ou três horas pra cozinhar no domingo de tarde, por exemplo, também pode ajudar. Você faz a comida para a semana inteira e já economiza tempo, energia e terá sempre refeições econômicas e saudáveis para levar para o serviço. Se alimentem direito. Comer bem não significa comer caro nem comer muito. Consulte uma tabela nutricional para ver como deve equilibrar a sua dieta. Geralmente, uma dieta equilibrada até que fica barata. Nos projetos profissionais, se apoiem mutuamente. Não é fácil a mulher se manter ativa e confiante profissionalmente, por isso sempre que ela tiver um novo desafio, apoie –a. E a mulher apoie também os projetos do homem. Quando eu falo apoiar, não é concordar com tudo. É ajudar um ao outro a ver onde estão os pontos fortes e as fragilidades de cada projeto. Sejam bons parceiros. Ter projetos ajuda a pensar em outras coisas, não ficar focado apenas na endo. Não permitam que as vossas vidas sejam absorvidas pela doença. Sei que nos momentos de dor isso é impossível e a tendência vai ser essa, mas vocês precisam contrariar.Ter planos para o futuro é ter esperança. Mas não faça planos apenas para longo prazo. Crie metas a curto, médio e longo prazo. Assim você vai ver as coisas acontecendo, podendo comemorar pequenas vitórias, celebrando que está vivo e mexendo, batalhando para ultrapassar as dificuldades. Façam tudo se amando, ajudando alguém se possível. Não estamos sozinhos nesse mundo, e todas as pessoas precisam de um abraço de vez em quando. Hoje estou deixando aqui o meu para vocês. Alexandre.”

4 comentários:

  1. Parabéns Alexandre pela sua atitude. É raro encontrar maridos como você. Se todos procurassem entender a rotina de uma casa,tudo entre as pessoas que habitam nela ficariam mais fáceis em todos os sentidos da vida.

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    1. A vida me deu muito castigo antes de encontrar a minha esposa. Sofri muito, tinha muita coisa que eu não entendia. Uma coisa eu tinha certa, eu sabia que a mulher que eu ia encontrar estava por aí, e eu não desisti.

      Quando a gente sofre sempre gostariamos que parasse rápido, parece injustiça. Eu passei pelo que passei, isso fez de mim o homem que eu sou hoje, com todos as qualidades e defeitos que tenho, como faz com qualquer um de nós.

      O que eu vejo é que me deu muita capacidade de entender o sofrimento dos outros. Eu consigo entender que a minha esposa não consegue fazer tudo o que normalmente faria. Mas é uma doença, não é culpa dela. E se fosse comigo? Eu gostaria que ela voltasse as costas para mim? Não faça aos outros o que não gostaria que fizessem com você.

      As pessoas evoluem, e esse bando de gente que forma uma sociedade muda com a mudança dos seus individuos. Aos poucos todos seremos um pouco melhor, daí a sociedade mudará também.

      Vamos continuar batalhando para despertar o amor no coração de todo o mundo. É bem melhor ter um amigo na casa do vizinho do que brigar com o cara. E na sua casa, como dá mais prazer entrar pela porta? Sabendo que vai receber aquele abraço? Então vamos caminhar nessa direção, vamos começar dando sem cobrar de volta.

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  2. Acabei de receber a notícia de que estou com endometriose, mas tb tenho cistos e um mioma. Tô bastante assustada tb pq pode ter ido para a bexiga, já que estou com sangramentos ao urinar. Não sei o que faço, nunca tive problemas sérios de saúde. Nossa, que bomba!!!
    Passam mil coisas na minha cabeça agora, pq casei faz pouco mais de um ano... Tô segurando para falar sobre isso com as pessoas e tá bem difícil. Só meu marido sabe, mas ele não tem noção do que é. É muita barra para segurar!!! gostaria de entrar em contato por e-mail, se possível. Obrigada por esse espaço. Vai me ajudar a me preparar para o que ainda está por vir. Bjs e boa noite. Cá,

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    1. Oi Cá. Esse espaço é mesmo para isso, para ajudar a encontrar informação, dissipar as dúvidas que conseguirmos, apontar algumas soluções, e cada pessoa decide o caminho que vai seguir.

      Sobre as questões de saúde, a Caroline é a pessoa mais indicada já que ela sabe mais do que eu nessa área.

      O meu email é alexandre.vaz.endo@gmail.com

      O seu marido pode começar por ler o que eu tenho escrito na aba "A vida de um endomarido". Em seguida, querendo pode me contatar, bem como a senhora se quiser. Essa triologia que está sendo publicada agora mesmo foi escrita pensando em casos como o vosso.

      É barra pesada sim, e ainda depende do grau da sua endometriose. A Caroline vai lhe dar apoio sobre as questões médicas.

      Você e seu marido não estão abandonados. Eu passo por uma vida assim, sei do que falo. Mas também sei que não sendo o sonho de casal algum, tem jeito ser feliz. Se eu pudesse curar essa doença estalando os dedos, ninguém ia sofrer. Mas ela existe, e tapar o Sol com a peneira não adianta. É peitar a realidade o mais rápido possível, pois quanto mais cedo começar o tratamento, melhores as chances de os médicos lhe ajudarem.

      Seja bem vinda Cá, apesar de infelizmente chegar a nós por esse motivo. Faremos o que estiver ao nosso alcance para apoiar vocês.

      Um abraço para vocês dois

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