“Essa minha participação começou de um
jeito meio desorganizado, mas eu acho que no início tudo começa assim quando é
espontâneo. Hoje pensei em dar uma organizada nesse negócio de escrever para o
blog, e então vamos lá. Como sempre o melhor ponto de partida é o começo. Então,
hoje, vamos abordar o ponto de partida para um endocasal. O momento em que a
endo começa se revelando e complicando as cabeças e a vida do casal. Podem ocorrer
duas situações distintas: o casal se conhece e a mulher já tinha endo diagnosticada,
ou estão juntos e descobrem que ela tem endo. Problemão, coisa complicada, mula
sem cabeça... certo ou errado? Certo porque é um problemão; tem o choque
inicial, os tratamentos são caros, tem muita dor envolvida para a maioria das
mulheres, a sexualidade do casal será afetada também na maioria dos casos,
correm vários médicos, depois vocês passam para os especialistas, quem pode
pagar recorre ao tratamento particular e descobre que poucos possuem respostas.
E muitos deles ainda estão aprendendo como a doença funciona, fazendo
tratamentos experimentais, mas pelo menos existe alguma evolução. E se vocês
observarem direito vão descobrir que os avanços da ciência, médica ou não, é
assim mesmo. Um dia alguém vai ter um progresso maior e passar esse
conhecimento para outros médicos e será mais fácil seguir em frente. E errado por quê? Porque a complicação maior
está na cabeça das pessoas. E essa é a única parte que você pode mudar sozinho.
O resto é com os médicos e com Deus. Por agora, vamos isolar o casal. Mais a
frente falarei sobre a forma como a sociedade encara as portadoras.
Eu identifico três áreas complicadas
onde o comportamento da mulher se altera profundamente: sexual,
profissional/doméstica e social. Vamos analisar uma de cada vez. Na sexual, tem
dois sintomas principais. A dor e a perda da libido. Isso faz com que a mulher
não tenha vontade de ter sexo, mas por conta da dor chega a temer a penetração
e ganha trauma, como já foi muitas vezes descrito pela Caroline. Não é fácil
para o homem lidar com isso. Por isso, aqui é fundamental o diálogo. Vai ser
necessária total honestidade entre o casal. A solução não é a fuga como a
mulher vai ter vontade, de evitar o assunto. Não dá para tapar o sol com a
peneira. O problema está aí, não vai embora sozinho e um milagre é altamente
improvável. Façam a vossa parte. A mulher fala, o homem escuta. Depois falam os
dois. Consultem o blog, vejam outras publicações, leiam folhetos, assistam vídeos...
tudo o que conseguirem. Parece massacre, mas quanto mais informados estiverem
os dois sobre a doença, melhor vão conseguir enfrentar.
Muito importante:
além de ser fundamental consultar um ginecologista experiente em tratar a
doença. Quando a mulher suspeitar que possa ser portadora da doença, não deixe
o homem de fora. Ela vai à consulta e ele deve ir junto. Essa história de que o
médico pode não gostar é frescura, viu? O problema é dos dois e um médico
responsável tem que tratar não só a mulher, mas o casal. De nada vale fazer
tratamento pra mulher, se o homem cair fora por não entender o que está
acontecendo com ela. Muitas mulheres acabam se suicidando decorrente de uma
depressão profunda. Se a mulher afasta o homem das consultas, vai esperar o
quê? Que ele esteja presente, sorrindo feito anjinho quando não ele não tem na
cama o que os colegas gabam ter com as mulheres deles? Porque homem é assim
mesmo, fica sempre contando vantagem. Seu companheiro não vai sofrer apenas em
casa, no trabalho e junto com os amigos vai ter a mesma coisa. Então, envolva o
seu homem quando for ao médico. O doutor vai tratar seu corpo e de quebra trata
a cabeça dele, fornecendo informação que combate a ignorância e facilita a
compreensão. Nessa essa vocês podem estar pensando que eu tenho um remédio para
a libido. Não tenho gente, mas se conseguir uma dica comprovada eu coloco aqui.
E peço o favor de quem conheça, que
envie e-mail pra Caroline que ela postará aqui. É claro que apenas o diálogo
não é suficiente. Precisa de carinho. Não fuja do seu homem na cama. Permita namoro,
carícias, descubra a sexualidade com ele do jeito que conseguirem que funcione.
Estabeleçam limites nos quais ambos concordam e confie nele. Porque vou falar
para vocês, se a mulher fica escondida num canto da cama, um dia esse homem vai
estourar. O homem não está com problema algum exceto que a sua amada não
consegue ter sexo com ele. Mas lembrem-se sempre, poderia ser o contrário. O
homem poderia ter dificuldade em alguma parte, e não ia gostar que a mulher
cobrasse dele. Então, na vida do casal com ou sem endometriose, a primeira
regra é respeito. Respeitem as limitações um do outro, porque amanhã
poderá ser com você (marido) e daí você vai precisar de ajuda também. Seja
humilde.
A segunda regra é compreensão.
Procure se informar sobre tudo o que está acontecendo com sua mulher, porque os
diagnósticos são tão difíceis de obter, em que ponto os médicos estão no
conhecimento da doença, e sobretudo, como ela afeta a sua mulher em particular.
Porque todas terão uma endo diferente, ela afeta cada mulher de um jeitinho
especial. A terceira regra é cumplicidade. Brinquem muito, namorem bastante,
partilhem atividades juntos, coloquem um som bem alegre em casa. Inundem as
vossas vidas de coisas que dão prazer, porque sofrimento vai ter de sobra. Se
for preciso estabeleçam tempos em que cada um faz as suas coisas. Imagina que o
homem gosta de ler um livro sentado no alpendre... ou que a mulher gosta de um
bom banho de sais para relaxar... se permitam esse tipo de coisas dentro das possibilidades
de cada um. Se morarem perto do mar, experimentem ir à praia juntos. O ar do
mar ajuda nos problemas respiratórios, é bom pra relaxar e sempre é um programa
legal para ambos. Até ir ao supermercado pode ser uma atividade divertida se
ambos estiverem com bom astral e brincarem o tempo todo. Positivismo gente.
A quarta regra é paciência. Seja
paciente, saiba esperar. Quando for a hora certa, a cura surgirá. Quem sabe se
não acontece nessa geração e ajuda as 176 milhões de portadoras? Seria muito
bom, mas se não for agora, estressar só vai piorar as coisas. Vocês esquentam a
cabeça, acabam discutindo, não resolve nada, e adivinha... acabou de piorar a
frequência do sexo. Perdeu em todas. Então vamos ser inteligentes e dar amor em
vez de guerra. Aqui em Portugal nós falamos “Não é com vinagre que a gente pega
mosca”. Mel é bem mais atrativo. Vou terminar essa parte com votos de que para
alguns casais, esse texto seja um bom ponto de partida para darem uma melhorada
em suas vidas conjugais. Não esqueçam que todo o edifício começa sendo
construído nas fundações. Reforcem suas fundações, para que a vossa casa seja
firme e não desmorone com a primeira tempestade. Como vocês falam aí no Brasil, samba no
pé minha gente. Abraço.”
Adorei o que acabei de ler, realmente dá nos força para aceitar a endo, faz apenas 4 meses que descobri a doença e ando ainda tentando aceitar e meu marido por sorte tem sido muito compreensivo, já ando compartilhando o blog "A endometriose e eu" para as amigas, espero que seja um sucesso. bjos e boa sorte.
ResponderExcluirOi Kelly. Agradeço as suas palavras e começo por lhe dizer que o sucesso do blog não dá para distinguir do sucesso das famílias onde tem mulheres com endo. É para elas que fazemos esse trabalho.
ExcluirAproveite para dar os parabéns ao seu marido, que pelo visto é seu heroi. Sejam felizes e sempre que precisarem venham nos visitar
muito bom !
ResponderExcluirOi Marilene. Estamos trabalhando para todos os dias trazer algo novo e melhor a esse espaço. É dedicado a todos nós, até quem escreve tem alguém que escuta os desabafos e que por vezes vem com uma solução para os seus próprios problemas pessoais.
ExcluirAproveito para agradecer também aos que nos seguem no silêncio. Sabemos que estão aí. Aguentem firme nessa provação, e precisando nos contatem.
É isso mesmo! Apesar de sermos inexperientes na área, começamos com o meu afastamento,mas logo chegamos a conclusão de que o problema seria nosso.Muitas vezes me deu vontade,por amar ele muito,de mandar ele embora ter uma vida normal com outra mulher,mas ele bateu o pé até que chegamos no ponto: sinceridade,intimidade e união. A doença não é minha é nossa,o problema não é meu,é nosso. o sexo é sim mais complicado e a unica coisa que nos deixou unidos nesse sentido realmente foi o diálogo aberto e franco.O que tu escreveu aqui para nós foi sim a nossa solução. Como falamos aqui em casa: é na saúde e na doença, e a saúde há de vir! Boa sorte pessoal!!
ResponderExcluirNão posso completar nada na sua resposta, está tudo aí. A diferença é que vem desse lado, não sou apenas eu falando. Obrigado por confirmar a parte do diálogo em que eu tanto insisto, porque sei que é a melhor forma de enfrentar tanto sofrimento.
ExcluirContinuem sendo amigos, descobrindo o vosso jeito especial de funcionar como casal.
Abraço pra vocês e ventos favoráveis que vos levem à felicidade.
Foi muito bom ler seu texto!!! Eu estava desesperada achando que a falta de libido era problema meu apenas... estou enfrentando isso com meu noivo e tem sido tão frustante!
ResponderExcluirME
Meu marido deveria ler isto! Adorei bem isto mesmo. Descobri a doenca a 1 ano desde entao tenho ouvido muitas coisas a respeito ate mesmo de um medico q isso era loucura da minha cabeca! Estou prestes a fazer a cirugia e o blog tem me ajudado. Agradeco
ResponderExcluirOi Meu Nome é Joyce, tenho 31 anos e há 10 anos descobri a endometriose, já passei por 4 cirurgias... tive uma gestação onde não passou dos 3 meses. Na primeira cirurgia em 2003 foi retirado meu ovário direito... mais mesmo assim fico muito esperançosa em ser mãe... minhas cirurgias foram em: 2003,2005,2009 e 2012.... espero ter contato com outras mulheres que tem endo e conseguiram engravidar.... que Deus abençõe a vida de cada uma de nós que sofremos tanto com essa doença desconfortável..
ResponderExcluirBeijos