quarta-feira, 15 de outubro de 2014

"SAÚDE E BEM-ESTAR": O PERFIL DA ENDOMULHER É DIFERENTE DAS DEMAIS? NOVA COLUNISTA NO BLOG!!

imagem cedida por Free Digital Photos

Hoje iniciamos mais uma parceria com o objetivo de esclarecer ainda mais sobre esta doença pouco conhecida que afeta cerca de 10 milhões de brasileiras e mais de 200 milhões de meninas e mulheres no mundo todo. Quem de nós já não foi chamada de louca por sentir dores, muitas delas inexplicáveis? Quem já não foi chamada de mole, de fraca, dentre muitos outros adjetivos de inferioridade por aqueles que não sabem o que é a doença? Pensando em tudo isso, e sempre à frente levando informações de qualidade, a psicóloga Ana Rosa Detilio Mônaco passa a ser nossa colunista mensal para esclarecer do âmbito da psicologia como a doença pode afetar nosso corpo e, principalmente, nossa mente. O mais interessante é que além de atender as endomulheres, Ana Rosa também tem endometriose, o que facilita seu entendimento sobre a doença. Faz uns 2 anos que namoro sua participação aqui no A Endometriose e Eu, desde que a conheci no programa “Papo de Mãe”. Quem persevera alcança. Agradeço à Ana Rosa por ter aceitado nosso convite. Nosso objetivo é que o A Endometriose e Eu continue a ser o blog mais completo do mundo sobre a doença. Em seu primeiro artigo, Ana Rosa traça o perfil da portadora e dá alguns recados essenciais às endomulheres. E às portadoras nunca se esqueçam que somos mulheres fortes, guerreiras, decididas, muitas vezes, pilares da família, vencedoras, perfeccionista e mil e uma utilidades! Beijo carinhoso!! Caroline Salazar

Psicologia versus Endometriose: O perfil da endomulher é diferente das demais?

Por Ana Rosa Detilio Mônaco
Edição: Caroline Salazar

Pensar em psicologia e em endometriose é um desafio imenso, já que nos deparamos com um tema que aborda uma patologia que está contida em um diagnóstico médico. Porém, quando abordamos a endometriose questionando o olhar da psicologia, nos deparamos com a necessidade de analisar cada indivíduo frente sua singularidade. Por mais que atualmente tenhamos mais informações a respeito desta doença tão enigmática, também nos deparamos com as questões enigmáticas dos serem humanos. E aí temos  um lugar muito fértil para refletir.

Um estudo de 2002 (Low et Al) aponta que mulheres com endometriose apresentam um determinado perfil: elas têm nível de ansiedade aumentado em relação às outras, auto exigência, insegurança, mecanismos de defesa estruturais, portanto, são mais rígidas. Alta capacidade de controle e comando, intolerância as falhas humanas ou frente as frustrações, não contato com suas emoções e onipotência.

Fico um pouco apreensiva frente tais questões, pois desde que tal pesquisa veio à tona , sinto que de certa forma muitas mulheres com a doença se sentiram acolhidas, considerando que finalmente alguém as compreendeu depois de tanto tempo. Antes dessa pesquisa muitas se sentiram e ainda se sentem sozinhas nesta vivência. E falar do perfil psicológico de mulheres com esta doença pode significar para muitas um conhecimento muito além das questões físicas, algo que remete intimidade, já que falar de comportamento é algo que gira em torno de questões muito mais primitivas. Não tenho aqui a intenção de desmerecer tal estudo, e sim, prosseguir além dele.

Pois bem, aonde quero chegar é que saber como estas mulheres funcionam, como é seu perfil psicológico, não tem apresentado conforto para suas vidas frente aos sintomas que a endometriose pode apresentar. Pode apresentar? Sim, pois nem todas as mulheres com a doença apresentam sintomas que tiram sua qualidade de vida, algumas se deparam com a doença quando tentam engravidar sem sucesso ou ainda podem demorar muito mais para descobrir ou ainda nunca chegar a este conhecimento. Questiona-se também paralelamente a relação entre tal perfil e a intensidade da dor da portadora.

Penso que percorrer uma abordagem de acolhimento, respeito e compreensão da paciente com endometriose e seus sintomas independente da intensidade. O caminho mais indicado seria oferecer um ambiente de suporte para elas. E as pessoas mais próximas e envolvidas com as endomulheres são a família e, em especial, o companheiro quando há, e o médico especialista - o profissional que elas buscam quando necessitam de ajuda -, seja para esclarecimento quanto para orientações.  Atualmente sinto que traçar características, diagnósticos ou ainda perfis é uma realidade, principalmente, na área da saúde, pois se apresenta à falsa sensação de controle e conhecimento. Por este caminho estaríamos todas no mesmo “balaio” e assim seria mais fácil ter algo a oferecer. É claro que o conhecimento médico-cientifico é fundamental para termos noção do corpo humano. Aqui estou percorrendo outro caminho, este que a medicina não pode alcançar: os sentimentos.

Portanto, mulheres portadoras de endometriose, cuidem-se e não somente do corpo, cuidem de suas emoções, conheçam-se a si próprias e não sejam vulneráveis quando dizem que vocês têm determinado perfil, pois muito do que se engloba neste “perfil” pertence a própria condição humana e não somente em mulheres com endometriose. Sinto que acolher estas informações pode levá-las a culpa, pois o que teoricamente alimentaria a doença seria características da personalidade de tais mulheres, e eu conheço mulheres que passam muito longe do “perfil” que também sofrem com a endometriose.

Doença da mulher moderna (linkar artigo), como tem sido nomeada também nos culpa por termos deixado somente de cuidar da casa e da família e soa como um castigo por termos mudado de foco. Sei de mulheres com mais idade que dão sinais legítimos de ter tido endometriose e que eram donas de casa e não produziam por outro caminho.

A qualidade de vida pode, sim, fazer a diferença para todos, mas não nos livrará totalmente de estarmos expostos a problemas com a saúde. Portanto, mulheres, não se culpem pela doença e sim busquem forças para lutar contra ela, já que ela já é presente. E a saúde emocional é um passo fundamental para encontrar saídas e força para enfrentar esta batalha que é a convivência com a endometriose.

Sobre Ana Rosa Detilio Mônaco:

Há 17 anos atuando na área cínica, a doutora Ana Rosa foi residente e atuou como psicóloga hospitalar no Centro de Referência da Mulher no Hospital Pérola Byington, em São Paulo. É especialista em saúde, em psicoterapia breve e atua também em reprodução assistida. É professora convidada do Instituo Gerar e atende em seu consultório em São Paulo.  

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