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Hoje
iniciamos mais uma parceria com o objetivo de esclarecer ainda mais sobre esta
doença pouco conhecida que afeta cerca de 10 milhões de brasileiras e mais de
200 milhões de meninas e mulheres no mundo todo. Quem de nós já não foi chamada
de louca por sentir dores, muitas delas inexplicáveis? Quem já não foi chamada
de mole, de fraca, dentre muitos outros adjetivos de inferioridade por aqueles
que não sabem o que é a doença? Pensando em tudo isso, e sempre à frente
levando informações de qualidade, a psicóloga Ana Rosa Detilio Mônaco passa a
ser nossa colunista mensal para esclarecer do âmbito da psicologia como a
doença pode afetar nosso corpo e, principalmente, nossa mente. O mais
interessante é que além de atender as endomulheres, Ana Rosa também tem endometriose,
o que facilita seu entendimento sobre a doença. Faz uns 2 anos que namoro sua
participação aqui no A Endometriose e Eu,
desde que a conheci no programa “Papo de Mãe”. Quem persevera alcança. Agradeço
à Ana Rosa por ter aceitado nosso convite. Nosso objetivo é que o A Endometriose e Eu continue a ser o
blog mais completo do mundo sobre a doença. Em seu primeiro artigo, Ana Rosa
traça o perfil da portadora e dá alguns recados essenciais às endomulheres. E
às portadoras nunca se esqueçam que somos mulheres fortes, guerreiras,
decididas, muitas vezes, pilares da família, vencedoras, perfeccionista e mil e uma
utilidades! Beijo carinhoso!! Caroline Salazar
Psicologia
versus Endometriose: O perfil da endomulher é diferente das demais?
Por
Ana Rosa Detilio Mônaco
Edição:
Caroline Salazar
Pensar
em psicologia e em endometriose é um desafio imenso, já que nos deparamos com
um tema que aborda uma patologia que está contida em um diagnóstico médico. Porém, quando abordamos a
endometriose questionando o olhar da psicologia, nos deparamos com a necessidade
de analisar cada indivíduo frente sua singularidade. Por mais que atualmente
tenhamos mais informações a respeito desta doença tão enigmática, também nos
deparamos com as questões enigmáticas dos serem humanos. E aí temos um lugar muito fértil para refletir.
Um
estudo de 2002 (Low et Al) aponta que mulheres com endometriose apresentam um
determinado perfil: elas têm nível de ansiedade aumentado em relação às outras,
auto exigência, insegurança, mecanismos de defesa estruturais, portanto, são mais
rígidas. Alta capacidade de controle e comando, intolerância as falhas humanas
ou frente as frustrações, não contato com suas emoções e onipotência.
Fico
um pouco apreensiva frente tais questões, pois desde que tal pesquisa veio à
tona , sinto que de certa forma muitas mulheres com a doença se sentiram
acolhidas, considerando que finalmente alguém as compreendeu depois de tanto
tempo. Antes dessa pesquisa muitas se sentiram e ainda se sentem sozinhas nesta
vivência. E falar do perfil psicológico de mulheres com esta doença pode
significar para muitas um conhecimento muito além das questões físicas, algo
que remete intimidade, já que falar de comportamento é algo que gira em torno de
questões muito mais primitivas. Não tenho aqui a intenção de desmerecer tal
estudo, e sim, prosseguir além dele.
Pois
bem, aonde quero chegar é que saber como estas mulheres funcionam, como é seu
perfil psicológico, não tem apresentado conforto para suas vidas frente aos
sintomas que a endometriose pode apresentar. Pode apresentar? Sim, pois nem
todas as mulheres com a doença apresentam sintomas que tiram sua qualidade de
vida, algumas se deparam com a doença quando tentam engravidar sem sucesso ou
ainda podem demorar muito mais para descobrir ou ainda nunca chegar a este
conhecimento. Questiona-se também paralelamente a relação entre tal perfil e a
intensidade da dor da portadora.
Penso
que percorrer uma abordagem de acolhimento, respeito e compreensão da paciente
com endometriose e seus sintomas independente da intensidade. O caminho mais indicado
seria oferecer um ambiente de suporte para elas. E as pessoas mais próximas e
envolvidas com as endomulheres são a família e, em especial, o companheiro
quando há, e o médico especialista - o profissional que elas buscam quando
necessitam de ajuda -, seja para esclarecimento quanto para orientações. Atualmente sinto que traçar características,
diagnósticos ou ainda perfis é uma realidade, principalmente, na área da saúde,
pois se apresenta à falsa sensação de controle e conhecimento. Por este caminho
estaríamos todas no mesmo “balaio” e assim seria mais fácil ter algo a
oferecer. É claro que o conhecimento médico-cientifico é fundamental para termos
noção do corpo humano. Aqui estou percorrendo outro caminho, este que a
medicina não pode alcançar: os sentimentos.
Portanto,
mulheres portadoras de endometriose, cuidem-se e não somente do corpo, cuidem
de suas emoções, conheçam-se a si próprias e não sejam vulneráveis quando dizem
que vocês têm determinado perfil, pois muito do que se engloba neste “perfil”
pertence a própria condição humana e não somente em mulheres com endometriose.
Sinto que acolher estas informações pode levá-las a culpa, pois o que teoricamente
alimentaria a doença seria características da personalidade de tais mulheres, e
eu conheço mulheres que passam muito longe do “perfil” que também sofrem com a
endometriose.
Doença
da mulher moderna (linkar artigo), como tem sido nomeada também nos culpa por
termos deixado somente de cuidar da casa e da família e soa como um castigo por
termos mudado de foco. Sei de mulheres com mais idade que dão sinais legítimos
de ter tido endometriose e que eram donas de casa e não produziam por outro
caminho.
A
qualidade de vida pode, sim, fazer a diferença para todos, mas não nos livrará
totalmente de estarmos expostos a problemas com a saúde. Portanto, mulheres,
não se culpem pela doença e sim busquem forças para lutar contra ela, já que
ela já é presente. E a saúde emocional é um passo fundamental para encontrar saídas
e força para enfrentar esta batalha que é a convivência com a endometriose.
Sobre
Ana Rosa Detilio Mônaco:
Há 17 anos atuando na área cínica, a
doutora Ana Rosa foi residente e atuou como psicóloga hospitalar no Centro de
Referência da Mulher no Hospital Pérola Byington, em São Paulo. É especialista
em saúde, em psicoterapia breve e atua também em reprodução assistida. É professora convidada do Instituo Gerar e atende em seu consultório em São Paulo.
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