terça-feira, 3 de dezembro de 2013

MAIS UMA ESTREIA! NOVA COLUNA: ENDO SOCIAL - A ENDOMETRIOSE E A EXCLUSÃO SOCIAL DA PORTADORA!

Dezembro chegou, o último mês do ano de 2014! E é nele que irei realizar um de meus sonhos! É até com arrepios que o A Endometriose e Eu estreia sua nova coluna, a Endo Social. Quando comecei o blog em 2010, o único objetivo era desabafar o impossível de se explicar aos outros, e o que era incompreensível a todos. Por muito tempo, ele foi minha válvula de escape quando pensava alguma besteira, e em muitos momentos, minha terapia. Depois passamos a ter uma relação de mãe e filho, já que exercitava a grande paixão de minha vida: a escrita. Desde criança adorava criar histórias, mas nunca imaginei que um dia iria desbravar a minha própria e em meio a tanto sofrimento. E que algo que começou solitário se tornaria o que é hoje, e que um dia teria colaboradores voluntários (e tantos assim num mesmo ano!). E que um dia eu chamava no "pronome possessivo em primeira pessoa do singular" se tornaria "da primeira pessoa do plural". E que o "nosso filhote" ficaria tão grande com tão poucos anos de vida! Levei um tempo para perceber que a doença “é realmente séria”. Como todas que descobrem ser portadoras de uma doença tão séria como essa, passei por todos os processos do chamado “luto”: negação, depressão, raiva, negociação e aceitação. Foi difícil e lá se foram alguns anos. Mas foi depois disso resolvi ir à luta e que fiquei cada vez mais forte. 

Há quase quatro anos pedindo para ter a endometriose reconhecida como doença social no Brasil, a partir de agora, vamos justamente provar porque precisamos deste reconhecimento. E como vivemos num mundo de “provas e expiações”, diariamente a vida nos faz passar por provações, para ver quem merece estar onde está. E todas as provações diárias nos deixam mais fortes. Não estou aqui para aparecer, mas para fazer acontecer. Não sei se escolhi estar nesta batalha ou se fui escolhida. Eu só sei que cada dia chega mais e mais soldados no exército. E soldados incríveis. Porque é impossível lutar sozinho. A minha luta é com liberdade, já que vivemos numa democracia. Por isso é com muita felicidade e ainda arrepiada que estreamos a nova coluna do blog, a Endo Social, do nosso querido endo marido e sociólogo Paulo Soares, o mesmo que escreveu o brilhante artigo em sobre “A Vida Sexualde um Endo Casal”, em “A Vida de um Endo Marido”. Bastou apenas um encontro para nossa ideia bater. Agora sim, não vamos apenas “pedir”, mas “provar” porque a endometriose precisa ser reconhecida como uma doença séria, porque precisamos de medidas públicas para combater o sofrimento das mulheres acometidas por esta terrível doença. 

Muitas portadoras vão querer atravessar a tela do computador para abraçar cada palavra de Paulo. Em alguma linha, ele coloca cada uma de nós. O primeiro artigo é muito importante e é preciso compartilhá-lo entre seus amigos, já que a maioria deles nos julgam de "antissocial" e nos excluem dos programas por achar que somos "moles ou frescas" ou por achar que estamos com a cara "brava, enfezada" Hoje, só tenho uma palavra para descrever o que sinto: feliz. Com os olhos marejados e ainda arrepiada não canso de dizer: “Obrigada Paulo, você está realizando um dos meus sonhos." E é também nisso que a marcha Mundial contra a Endometriose será muito importante. Continue votando no A Endometriose e Eu, no prêmio TopBlog Brasil 2013 (clique aqui e dê seu voto). O primeiro turno vai até 25 de janeiro. Conto com o voto de todos e a gentileza em compartilhar a votação entre seus amigos. Obrigada a todos os voluntários que estão comigo nesta causa! Juntos iremos não só conseguir o reconhecimento, mas fazer o A Endometriose e Eu, o blog mais completo do mundo sobre endometriose. E ainda nesta semana, mais novidades! Aguardem e não percam! Beijo carinhoso! Caroline Salazar
  
A endometriose e a exclusão social da mulher:

Por Paulo Soares

Sou casado há quatro anos com minha amada esposa Neidiane, portadora de endometriose, e não temos filhos. Por ver diariamente seu sofrimento e sem muito o que fazer (a não lhe dar muito carinho e amor e apoiá-la), aceitei o desafio de Caroline em escrever a coluna para ajudar no reconhecimento da doença como social e de saúde pública no Brasil. No primeiro artigo falarei sobre como a endometriose pode causar a exclusão social de uma mulher e a exclusão de suas relações sociais. No entanto, o que significa exclusão social? Para Anthony Guiddens[1], “o fenômeno da exclusão social refere-se a maneiras em que os indivíduos podem ser separados do envolvimento pleno na sociedade mais ampla.”. Outro conceito complementar afirma que a exclusão social[2] “(...) é em sua essência multidimensional, incluindo não apenas a falta de acesso a bens e serviços, mas também a segurança, justiça e cidadania”.

Imagine a seguinte situação: uma mulher com seus 25 anos, com suas condições plenas de trabalho, remunerada, casada, com uma rede social ampla. Porém, neste ano algumas dores pélvicas que ela já tinha, aumentaram ao ponto de faltar ao trabalho, adiar compromissos com as amigas e sentir dor na relação sexual com seu marido. Após uma consulta com ginecologista particular, pois pelo SUS, os médicos sempre diziam que era normal, foi diagnosticado endometriose. A partir daí, coincidência ou não, ela perde o emprego por causa do excesso de falta, indisposição no horário de trabalho e pelo chefe não acreditar que essa doença pode causar tanta dor. Parou de estudar, porque as dores não a deixam se concentrar nos estudos e assistir as aulas. E seus amigos não a chamam mais para sair, porque sempre está com dores. Diante de tudo isso, como uma mulher com endometriose pode viver no seu estado de bem-estar social pleno?

O processo de exclusão social segue etapas, no qual pode-se incluir a endo mulher. Todo ser é social e por isso ele se compreende ou é compreendido quando pertence a um grupo, sendo que neste grupo existem valores, e é preciso defendê-los, levando a excluir aquele que não pertence ao grupo ou não defende os mesmos valores, desta forma se desqualifica o outro excluindo-o, e desta forma a consequência é uma ruptura, isto é, uma quebra de vínculos sociais.

Mediante esta exposição sobre o conceito podemos inferir que uma mulher com endometriose corre o risco de ser excluída da sociedade, porque dependendo do grupo social a qual pertence, a endo mulher pode passar pelo processo de exclusão social. Antes de falar da exclusão, precisamos chamar a atenção para a desigualdade social que a mulher passa pelo fato da questão de gênero, que chamamos de desigualdade de gênero, que seria a dominação persistente masculina sobre as mulheres – nos campos da economia, política, família e outros (que talvez exploraremos mais no próximo artigo). Por isso muitas delas são impedidas de trabalhar fora, por serem consideradas do âmbito privado, ou seja, somente da casa e aquelas que rompem essa barreira enfrentam outra, a do salário ser menor do que o do homem no mercado de trabalho.

Então, a partir do momento que a mulher, por causa da doença, não tem mais acesso ao trabalho fora, a mesma perde oportunidade de socialização e ascensão social, ou seja, crescimento econômico e social. Sem falar que o mercado de trabalho é muito insensível e ignorante com relação à doença. Enquanto pessoas portadoras de hipertensão, diabetes, doenças respiratórias e dentre outras são toleradas no ambiente de trabalho, porque existem medicamentos para reduzir e controlar os efeitos da doença, por outro lado, para as mulheres com endometriose não há tanta tolerância assim. Os chefes e os colegas de trabalho que não buscam informação ou se conscientizam sobre a doença, acham que é “frescura” e ela está fazendo “corpo mole”. Diante disso, podemos inferir que falta de conhecimento sobre endometriose causa exclusão do mercado de trabalho, isto é desemprego, em seguida diminuição da renda familiar e redução do consumo de serviços e mercadorias básicos e desejáveis.

Muitas vezes, ouço minha esposa, portadora de endometriose, dizer: “sou uma pessoa inútil, eu não sirvo para nada”. Essa é uma das maiores queixas das portadoras. Pois, além de sair do mercado de trabalho, a mesma não consegue realizar os afazeres básicos de casa, ou aquelas que têm filhos não conseguem cuidar deles, sempre necessita do auxílio de outrem para realizar funções tão básicas. Isso tudo gera na mulher não somente exclusão, mas também, baixa autoestima. Portanto ela mesma se exclui do meio social, pois não tem mais a quem recorrer, se isolando no seu mundo de dor.

As mulheres perdem totalmente sua qualidade de vida, e muitas, suas vidas (em vários sentidos). Muitas vivem trancadas em seus quartos, em suas casas. Nesta coluna, vamos mostrar que precisamos lutar para mudar esta realidade de milhões de brasileiras. E que é preciso mais e mais reflexão sobre a endometriose em vários âmbitos, não apenas no científico. Abraço!

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

Exclusão social e o mundo contemporâneo, texto disponibilizado na plataforma moodle para o curso de pós-graduação em Gestão do 3º Setor da Faculdade Teológica Batista.

Guiddens, A. (2012). Sociologia (6 ed.). (R. C. Costa, Trad.) Porto Alegre: Penso.


[1]              Guiddens, Anthony. Sociologia. Porto Alegre, Penso: 2012, p. 357

Um comentário:

  1. Parabéns Paulo por falar de uma forma tão verdadeira sobre essa doença horrorosa.

    Eu tenho endometriose muito forte e só consegui engravidar com a reprodução assistida, eu sabia que essa doença era severa, mas não tanto.

    Gostaria de saber se tem algum médico credenciado a diagnosticar essa doença aqui Manaus-Amazonas- Brasil?

    Tri-beijos Desirée
    http://astrigemeasdemanaus.blogspot.com.br/

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