Dando continuidade ao especial de infertilidade
na coluna “Com a Palavra, o Especialista” deste mês de junho (leia a parte 1), o doutor Alysson
Zanatta responde uma dúvida muito comum entre as portadoras, e até mesmo de
muitos médicos: a gravidez trata a doença? Apesar de ser um dos grandes mitos
da doença - já falamos muito sobre o assunto no A Endometriose e Eu, recomendo a leitura do texto do médico e
cientista americano David Redwine “A gravidez é a cura para a endometriose?” traduzido
em 2013 -, a gravidez infelizmente não cura e nem trata a endometriose. Há
cerca de quatro anos começamos a desmistificar a doença no Brasil, e este
assunto é de muita relevância. Aqui o doutor Alysson explica porque muitas endomulheres
podem ter a sensação de “estarem curadas” durante e após a gravidez. Já a outra
questão é sobre a diferença entre endometriose e adenomiose. Infelizmente,
muitas endomulheres demoram a gestar e outras não conseguem por conta da
adenomiose. Mas qual é a causa da adenomiose? É a mesma da endometriose? E qual
seu tratamento? Compartilhe mais um texto exclusivo A Endometriose e Eu e espalhe a correta conscientização da
endometriose. Beijo carinhoso! Caroline Salazar
- Doutor Alysson escutamos muito de médicos,
inclusive, quando são entrevistados em programas de tevê, que a gravidez é um
tratamento para a endometriose, mas eu nunca entendi muito bem por quê? Como
seria esse tratamento? Qual sua opinião sobre isso? Anônima
Doutor
Alysson Zanatta: Gravidez não
trata endometriose. Tratar no sentido de erradicar a doença, fazê-la
desaparecer. É mais um dos vários mitos associados à endometriose.
O que acontece é que, durante a gravidez, os
sintomas da endometriose podem desaparecer, e de fato, algumas mulheres não
voltam mais a ter dor após a gestação (ou as tem em menor intensidade). Isso é
erroneamente interpretado como tratamento da endometriose. As lesões continuam
lá, exatamente como antes da gestação, porém às vezes podem causar menos dor.
E como a dor pode
diminuir, surge à sensação de cura. Na verdade, a lesão estará menos inflamada,
talvez decorrente das altas doses de progesterona que circulam no corpo da
mulher durante a gestação.
A progesterona é
antagonista do estrogênio. Reduz os efeitos do estrogênio. Como a lesão da
endometriose é estimulada pelo estrogênio e fica inflamada sob sua ação, a
progesterona age contrapondo-se ao estrogênio, diminuindo a inflamação e a dor.
Entretanto, não há redução da lesão em si.
-
Qual a diferença entre endometriose e adenomiose? Qual seria a causa delas e o
tratamento mais indicada para cada uma delas?
Bruna Lane – Brasília – DF
Doutor Alysson Zanatta: Olá
Bruna. Ambas estão correlacionadas, e talvez tenham a mesma origem.
Endometriose refere-se à presença de lesões (nódulos, cistos e aderências) que
contêm células parecidas com endométrio localizadas FORA do útero. Já a
adenomiose refere-se também à presença de células semelhantes ao endométrio NA
PAREDE MUSCULAR do útero, o miométrio.
Os
sintomas (cólica menstrual, sangramento e dor durante a relação sexual) de
ambas poderiam ser controlados, parcial ou totalmente, com medicações
hormonais. A ressecção cirúrgica máxima dos focos de endometriose por
laparoscopia é o tratamento mais efetivo para combater a dor da endometriose.
Quanto à adenomiose, a única cirurgia possível é a histerectomia (retirada do
útero), quando necessária.
Sobre o doutor Alysson Zanatta:
Graduado e com residência médica pela Universidade Estadual de Londrina, doutor Alysson Zanatta tem especializações em uroginecologia e cirurgia vaginal pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), cirurgia laparoscópica pelo Hospital Pérola Byington de São Paulo e doutorado pela Universidade de São Paulo, USP. Suas principais áreas de atuação são a pesquisa e o tratamento da endometriose, com ênfase na cirurgia de remoção máxima da doença. Seus interesses são voltados para iniciativas que promovem a conscientização da população sobre a doença, como forma de tratar a doença adequadamente. É diretor da Clínica Pelvi Uroginecologia e Cirurgia Ginecológica em Brasília, no Distrito Federal, onde atende mulheres com endometriose, e ex-professor-adjunto de Ginecologia da Universidade de Brasília (UnB). (Acesse o currículo lattes do doutor Alysson Zanatta).
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