quinta-feira, 18 de maio de 2017

UNIÃO, APOIO E ATITUDE: A TRÍADE QUE FALTA ENTRE AS PORTADORAS DE ENDOMETRIOSE E SEUS PRÓXIMOS!!

Fonte: Pixabay

União, uma palavra muito falada, mas pouco praticada entre as mulheres. Infelizmente! O significado da palavra ao pé da letra diz que união é a junção ou a combinação de vários elementos, sejam eles iguais ou distintos, com o objetivo de formar o conjunto. Quando as pessoas se unem elas são capazes de mudar o rumo de muitas coisas. Então, porque não há a união entre as portadoras de endometriose? Capaz que a maioria está satisfeita com tudo que o Estado oferece, certo? Pois quando as pessoas não estão satisfeitas, elas se unem àquelas que fazem algum movimento em prol do que está errado para reivindicar pelo que acha que é correto. O xis da questão é que falta união entre as próprias portadoras da doença, falta apoio de quem as cercam e no final de tudo falta atitude de ambos os lados. Para falar um pouco sobre isso, convidei a cabeleireira Kátia Victória Del Sent, mãe da nossa querida Giselle. A Kátia é um exemplo de mãe pelo apoio que sempre deu à filha. Ela já contou no blog, como ajudou a filha a descobrir a endometriose. E o mundo provavelmente seria outro se todos nós seguíssemos bons exemplos, não é mesmo? Então, compartilhe este texto com sua mãe, com seu pai, com sua irmã, com suas primas, com suas amigas, com seus parentes mais distantes, com seus conhecidos e peça a eles para se juntarem a nós. Beijo carinhoso! Caroline Salazar 


União, apoio e atitude: a tríade que falta entre as portadoras de endometriose!!

Por Kátia Victória Del Sent
Edição: Caroline Salazar

Apesar de vivermos no século XXI, os índices de violência contra as mulheres ainda são muito elevados. Como mãe de uma endomulher, acho importante que possamos nos questionar sobre o cuidado dispensado quando diz respeito à educação das meninas. É importante refletir sobre como educamos por meio de nosso exemplo, como mãe e mulher, para que nossas meninas respeitem a ética do seu corpo, não permitindo de forma alguma que, em nenhum momento de sua vida, ela seja agredida física ou emocionalmente.

Não basta a educação do não deixar fazer, mas sim a atitude que deve ser tomada diante de situações inoportunas. É preciso que as mulheres reconheçam não só a agressão como um ato doméstico masculino, mas também o descaso a pouca atenção que lhes é conferida nas diversas áreas nos diferentes momentos da vida. E neste caso é importante refletir de como agimos ou reagimos diante das dores que acometem o corpo feminino como, por exemplo, a cólica menstrual. Será que ainda aceitamos e repassamos para as nossas filhas o que diziam nossas avós? “É assim mesmo, é coisa de mulher”, ou “Quando casar passa”.

Diante desta nossa postura, reforçando que é normal sentir cólica, torna-se comum ao buscarmos atendimento em saúde- seja público ou privado - por queixa de cólicas fortes, recebermos dos profissionais de saúde respostas semelhantes às de nossas avós, ou falarem que a dor é psicológica. Este fato se dá pela falta de inclusão no currículo das universidades aos estudantes da área da saúde o estudo específico sobre a endometriose. Em especial, sobre o que de fato uma mulher com endometriose sente, passa, sofre.

Por isso que as portadoras de endometriose, quando acometidas pelo desconforto dos problemas causados pela doença, têm suas queixas relegadas, em primeiro lugar, na família por falta de conhecimento, e depois pelos profissionais que as atendem, por conta do despreparo e também por falta de conhecimento, tornando a vida destas jovens mulheres ainda mais sofrida, principalmente aquelas que sofrem com as dores severas. Por exemplo: se durante a consulta o profissional que trata a doença faz pouco caso das dores de sua paciente na frente de um membro da família, como essa pessoa vai acreditar que as dores são reais e incapacitantes?

 Kátia, à esquerda, com apito e cartaz
na EndoMarcha 2017, ao lado da filha, Giselle
Ultimamente tem se falado tanto em sororidade, mas cadê a atitude de união que esta palavra significa? Somente com a união de todos nós - seja portadoras da doença, familiares, amigos (as), conhecidos, profissionais de saúde – que as cerca de 10 milhões de brasileiras que sofrem com a doença deixarão de ser invisível à sociedade. E a EndoMarcha foi idealizada justamente para dar voz as mais de 200 milhões de mulheres que sofrem com a doença no mundo todo. Por que você não vai à EndoMarcha? Por que sua mãe, sua irmã, seus amigos, seus vizinhos não vão à EndoMarcha? Vergonha? Preguiça? Está em crise de dor?

De acordo com as nossas leis o atendimento da área de saúde deve ser humanizado, mas a realidade das endomulheres está longe da humanização. O atendimento ainda é precário. Fazer exames específicos e cirurgias pelo Sistema Único de Saúde (SUS) é uma verdadeira via-sacra, e nas raras cidades que têm, a fila pode demorar anos e anos. Por isso lutamos por políticas públicas efetivas e a EndoMarcha é o nosso caminho para isso. Nós, mães de portadoras, precisamos apoiar nossas filhas. Sair às ruas é uma maneira de se manifestar pacificamente e dentro da lei. Precisamos lutar para que se um dia tivermos netas, elas não sofram tanto quanto nossas filhas sofreram. Sei que há muita desunião das próprias portadoras, mas isso precisa mudar, e vejo o apoio da família um ponto crucial para que essa mudança aconteça.

Em 2014, quando minha filha soube da 1ª edição da Marcha Mundial pela Conscientização da Endometriose ela entrou em contato com a Caroline e foi convidada para coordenar a EndoMarcha em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. E eu a apoiei. Na época ela tinha 18 anos. Por dois anos ela esteve à frente da EndoMarcha na capital gaúcha, e mesmo após deixar a coordenação, nós (eu e ela) participamos ativamente das outras duas que teve até então. E iremos participar de todas que pudermos. Sabe por quê? O nosso apoio é essencial.

 Sempre ao lado da filha, Kátia, à direita,
participa ativamente da EndoMarcha
desde a 1ª edição em 2014, quando Giselle
coordenou a caminhada em Porto Alegre.
É fundamental que a paciente tenha a segurança de que não está sozinha e pode sim contar com o apoio das pessoas mais próximas, em especial das mulheres, como mães, irmãs e demais membros da família. O apoio começa em observar nossas meninas, observar seu corpo. É superimportante ter um olhar mais sensível às queixas de cólicas fortes das mulheres, especialmente, das jovens por parte das mães e de familiares. Jamais devemos ignorar a intensidade de sua dor e de seu sofrimento. Jamais devemos menosprezá-las (tanto a cólica quanto às mulheres). Muito pelo contrário devemos sempre estar ao seu lado na busca de diagnósticos corretos e eficazes, bem como lutar por políticas públicas que lhes tragam benefícios assegurando-lhes tratamento gratuito, digno, humanizado e direitos de saúde, com qualidade de vida e também direitos à reprodução. Afinal, a endometriose é a principal responsável pela infertilidade feminina.

Tudo isso fará a diferença no tratamento de seu ente-querido. Mostrar que o não à violência também deve ser o caminho na busca para ter seus direitos respeitados enquanto menina ou mulher, no qual não basta reproduzir a queixa com acomodação, é preciso ter atitude de enfrentar a doença e suas adversidades com força e muita fé. A união e a participação de todos fará a diferença. O envolvimento da família nos eventos de conscientização, tais como nas palestras e na EndoMarcha, é mais que uma demonstração de amor e carinho, é o alicerce que ela poderia estar esperando para dar um novo rumo à sua vida. Pense nisso com carinho. Vamos nos unir na de EndoMarcha 2018? Beijo carinhoso!

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