terça-feira, 9 de maio de 2017

"COM A PALAVRA, O ESPECIALISTA", DOUTOR ALYSSON ZANATTA!!

Nos últimos meses recebi muitas mensagens questionando sobre como é feita a cirurgia de remoção total dos focos. É a mesma coisa que cauterizar os focos? Ou são diferentes? Em muitos textos há inúmeros comentários de leitoras que fizeram a “cauterização” dos focos e, poucos meses depois, a endometriose voltou. Mas será que voltou ou a doença nunca saiu de lá? A outra dúvida é sobre endometrioma. Sabemos que quem tem o cisto conhecido como chocolate nos ovários tem endometriose profunda. Mas é necessário retirá-los ou apenas esvaziá-los? Quando optar pela primeira ou segunda opção? E em qual das duas a reincidência é maior? Em “Com a Palavra, o Especialista”, o doutor Alysson Zanatta, de Brasília, responde muito bem estas duas questões. Beijo carinhoso! Caroline Salazar

- Quando se fala em remoção máxima da doença, qual seria a cirurgia? É a mesma coisa que cauterizar os focos? Se não explica a diferença entre elas? Anônima – Juiz de Fora – MG

Doutor Alysson Zanatta: A cirurgia de remoção máxima consiste na ampla remoção dos focos de endometriose profunda, buscando a totalidade. Envolve dissecção do retroperitôneo, que é o local situado “abaixo” da cavidade que reveste os órgãos abdominais e pélvicos, o peritôneo. A cirurgia envolve, quase que invariavelmente, dissecção de ureteres, artérias e veias uterinas, nervos que controlam micção e evacuação, eventualmente ressecções intestinais e apendicectomias. Isso porque a endometriose pode estar situada em todos esses locais e, para removê-la na totalidade, será necessária a manipulação e dissecção desses órgãos. É a cirurgia mais efetiva, porém pouco reprodutível. Dez médicos diferentes farão 10 cirurgias diferentes.

Cauterização de focos envolve apenas “queimar” lesões superficiais, no peritôneo. Poucas mulheres terão endometriose exclusivamente no peritôneo, razão pela qual a cauterização dos focos é altamente ineficaz.

 – Doutor Alysson sou jovem, tenho pouco menos de 30 anos e endometriomas grandes nos dois ovários. O médico quer retirá-los. Li que ele poderia esvaziá-los. Qual a diferença entre retirar o endometrioma e esvaziá-los? Nas duas técnicas qual a porcentagem desses cistos voltarem? Aline Oliveira – Salvador

Doutor Alysson Zanatta: Obrigado pela pergunta, Aline. A endometriose no ovário é uma das formas mais difíceis de serem tratadas, especialmente quando acometem ambos os ovários. É nos ovários que está toda a reserva produtiva da mulher, e devemos buscar sua preservação. Infelizmente, em algumas situações, o acometimento ovariano é tão extenso que há pouca reserva residual.

Retirar o endometrioma significa esvaziar o líquido achocolatado e em seguida retirar sua cápsula. É a maneira mais efetiva, com recorrência em torno de 20%, porém pode haver remoção de tecido ovariano saudável, mesmo com equipe experiente. Assim, em algumas situações de maior complexidade, o médico opta apenas por esvaziar o líquido, sem retirar a cápsula do endometrioma. 

Nesse caso há maior preservação ovariana, porém a recorrência do endometrioma pode chegar a 50-70%.

Em qualquer das situações, só haverá benefício da cirurgia ovariana se a endometriose profunda for removida durante a cirurgia. Não há endometrioma sem endometriose profunda. O simples fato de haver endometriomas nos dois ovários aumenta o risco de endometriose no intestino para 70%. Daí a importância que haja um mapeamento COMPLETO da doença antes da cirurgia, por um exame de imagem com especialista. Faze cirurgia apenas para mexer nos ovários é uma tragédia.



Sobre o doutor Alysson Zanatta:
Graduado e com residência médica pela Universidade Estadual de Londrina, doutor Alysson Zanatta tem especializações em uroginecologia e cirurgia vaginal pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), cirurgia laparoscópica pelo Hospital Pérola Byington de São Paulo e doutorado pela Universidade de São Paulo, USP. Suas principais áreas de atuação são a pesquisa e o tratamento da endometriose, com ênfase na cirurgia de remoção máxima da doença. Seus inter­esses são voltados para iniciativas que promovem a conscientização da população sobre a doença, como forma de tratar a doença adequadamente. É diretor da Clínica Pelvi Uroginecologia e Cirurgia Ginecológica em Brasília, no Distrito Federal, onde atende mulheres com endometriose, e ex-professor-adjunto de Ginecologia da Universidade de Brasília (UnB). (Acesse o currículo lattes do doutor Alysson Zanatta). 

Um comentário:

  1. Dr boa tarde,
    O Sr. não imagina o quanto esclareceu todas as dúvidas que eu possuía!
    Fui diagnosticada com endometriose profunda em janeiro de 2017. Sofri um aborto espontâneo e dois dias após a curetagem, comecei a sentir fortes dores pélvicas, como se fossem contrações e um leve sangramento de cor achocolatada. Baixei a emergência e lá os médicos suspeitaram de apendicite, mas como eu não tinha outros sintomas associados, resolveram fazer uma investigação.Fiz uma ressonância magnética que atestou uma endometriose. A médica então me mandou tomar o Dine por 6 meses, que na verdade melhorou os sintomas, mas como é sabido, não tratou o problema Posteriormente fiz uma ultrassonografia com preparo que identificou endometrioma no ovário direito e aderências no intestino, que segundo o ginecologista precisarei operar juntamente com o proctologista, já que segundo ele, precisarei retirar um pedaço do intestino. Pergunto: ambas as cirurgias são feitas por laparoscopia?
    Eu tenho 39 anos e praticamente fui a vida toda assintomática para a endometriose, porque sempre tive menstruação normal, e sentia dor de cólica suportável apenas no primeiro dia. Lembro de uma única vez ter uma crise, ainda adolescente, em que cheguei a vomitar.
    Mas enfim, muito das minhas dúvidas foram esclarecidas e me sinto mais confiante em fazer a cirurgia, o Dr. Carlos Mungo é especialista em endometriose no MAto Grosso, sinto que estou em boas mãos e sob o comando de DEus.
    abs

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