Uma das reivindicações de uma das faixas da EndoMarcha Time Brasil |
Por Caroline Salazar
Edição: doutor Alysson Zanatta
Edição: doutor Alysson Zanatta
Você sabe qual é seu real direito? Já escrevi muitos outros textos sobre
os direitos enquanto cidadãos brasileiros (texto 1, texto 2), mas eu não me canso de escrever e
falar sobre o assunto, sabe por quê? Porque você precisa entender que ter um
tratamento digno, honesto e humano é direito de todos os brasileiros. Ah, mas
porque não tem para endometriose? Infelizmente o descaso que ocorre hoje com as
cerca de 6 a 10 milhões de endomulheres brasileiras aconteceu no passado com
portadores de outras doenças, como a AIDS.
Você sabia que a conquista de políticas públicas aos portadores de HIV
só foi concretizada após luta e reivindicação por parte da sociedade civil? A
pressão exercida pelos movimentos sociais, em especial, na época da
epidemia, pressionou o governo e gerou respostas por parte do poder público. As
manifestações, que começaram como protestos nas ruas e que ganharam vida com
outros movimentos, foram responsáveis por difundir na sociedade conhecimentos
sobre a doença exigindo seus direitos e respostas do poder público. Olha a
importância da EndoMarcha para a conquista de
nossos direitos.
Se hoje o Brasil é pioneiro em pesquisas e tratamentos do HIV, damos
graças a pessoas no passado que se engajaram na causa. Eu citei esse exemplo
para ver se crio ânimo nas endomulheres. Eu não me conformo de sermos tantas,
mas tantas e ver tanta desunião entre as portadoras. Além da desunião há também
a questão de que muitas pessoas não sabem que têm direitos e que eles deveriam
valer de verdade.
Eu sei que a maioria da população não tem acesso à educação, não sabe
qual é seu real direito constitucional. A maioria das pessoas, inclusive, tem
preguiça de ler textos, pois não estão acostumados a ler e sim a ter tudo
mastigado. Nós, portadoras de endometriose, temos um grande poder em nossas
mãos: nós somos mais de 6 milhões de brasileiras. O A Endometriose e Eu foi
o primeiro veículo que falou na possibilidade de sermos cerca de 10 milhões de
brasileiras. O cálculo foi fácil. Foi só tirar a questão da “idade reprodutiva”
e ampliar a possibilidade de já termos a doença em outras idades, de acordo com
estatística do Censo de 2010. Hoje até associações médicas já usam esse dado
que revelamos aqui. E com o próximo Censo esse número deve ser ainda
maior. Já que estamos falando em AIDS, você sabia que no Brasil existem
cerca de 800 mil a 1 milhão de portadores da doença que atinge ambos os sexos?
Nossa, mas como pode ter 1 milhão de portadores de HIV e 10 milhões de
endomulheres? Pois é, se hoje o Brasil é um dos primeiros países a oferecer
tratamentos gratuitos desde 1996 – dentre os de baixa e média renda – esta
conquista se deve graças aos movimentos da sociedade civil em torno da doença.
Eu poderia ficar até amanhã discorrendo sobre este assunto, mas eu quero
te dizer (se você chegou até aqui) que a mudança do comportamento político e a
ampliação de assistências e direitos só dependem de nós. Aliás, depende de
você. Espero que este texto sirva de reflexão para que haja a união que tanto
precisamos para mudar o cenário das políticas públicas para as milhões de
meninas e mulheres que sofrem com a endometriose. Eu estou há 7 anos na luta.
Hoje tenho braço nas 13 cidades que aconteceu a 4ª edição da Marcha Mundial pela
Conscientização da Endometriose. Mas precisamos que vocês se unam a elas. Não
adianta reclamar minha gente e ficar de braços cruzados ou sentada assistindo
televisão.
Quem mais fala e escreve sobre os direitos e políticas públicas para as
endomulheres? Não adianta se fechar em grupos - os grupos são extremamente
importantes e de grande ajuda -, mas quem vai te ver fechada nele? Se você não
for à rua, se você não por a boca no trombone (de forma elegante), não mostrar
que você existe, você vai continuar sofrendo e ninguém vai te ver. E seu último
voto para quem foi? Você cobra alguma coisa de quem você elegeu? Nesses 7 anos
o blog A Endometriose e Eu continua ativo e a cada ano cresce
a “nossa voz” em busca de tratamento digno, honesto e humano gratuito pelo SUS.
E também continuamos a lutar pelos nossos direitos que devem ser garantidos e
assegurados por lei. Pense em você, pense no seu direito que, a cada ano que
passa, está sendo tirado de você. A
experiência do Brasil é exemplo de articulação entre a sociedade civil e o
Estado para a construção de políticas públicas no enfrentamento da Aids, tanto
nas estratégias de prevenção com modelos adequados às realidades locais, quanto
no tratamento e cuidado.
O Brasil já tem um belo exemplo de articulação entre a sociedade civil e
o Estado para a construção de políticas públicas no enfrentamento da AIDS.
Porque isso não pode acontecer com a endometriose? Vamos juntos construir um
novo Brasil. Vamos mostrar que nós somos muitas e que merecemos e devemos ser
respeitadas. Vamos ser a voz daquelas que não conseguem sair da cama por conta
das dores. Essas sim estão caladas, mas muitas de nós ainda temos voz para
mudar nossa realidade e da próxima geração de portadoras. Pense nisso! Quero
você conosco nesta luta. Chega de silêncio! Chega de ignorância! A união faz a
força e juntas somos mais fortes. Beijo carinhoso!
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