imagem cedida por Free Digital Photos
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Já escrevi sobre como a dor da endometriose afeta o psicológico de uma endomulher. Infelizmente as portadoras de endometriose ainda sofrem muito julgamento e 'pré-conceitos' da sociedade, seja dos próprios médicos (um grande absurdo!), bem como de seus familiares, amigos e afins. Um dos grandes erros dos profissionais de saúde é rotular as portadoras como se fosse culpa da mulher o fato de ela ter uma doença tão grave quanto a endometriose. Como seria o seu humor se você que come todos os dias, faz todas as refeições, mas evacua apenas duas, três vezes ao mês? Sim ao mês! Pois é dias atrás conversando com uma amiga de como eu era antes da minha primeira cirurgia, em 2010, falei que eu evacuava no máximo umas três vezes ao mês, quatro era luxo, e na mesma hora ela perguntou: "Nossa, isso significa que você era muito estressada, nervosa, mal-humorada?" A resposta foi: "Sim". O intestino é nosso segundo cérebro, e nosso corpo funciona bem quando todos nossos órgãos funcionam adequadamente. Quando um não funciona direito tudo no nosso organismo se desestrutura. Sem contar a dor lancinante da endo. Como seria seu humor vivendo assim? Como não ser estressada, nervosa? Não é justo rotular a portadora. É fácil falar e colocar a culpa na mulher quando não sabem resolver o problema. Para falar sobre os rótulos que colocam nas endomulheres convidei a psicóloga e também portadora da doença Lívia Burin (já contamos a história dela no blog). Beijo carinhoso! Caroline Salazar
Por Lívia Burin
Edição: Caroline Salazar
Sou psicóloga
clínica e sempre me interessei pela contribuição que a psicologia pode oferecer
à área da saúde. Após concluir minha graduação (há dez anos), realizei
aprimoramentos nas áreas de psicossomática, psico-oncologia e psicanálise. Hoje
atuo em saúde pública, no Programa de Saúde da Família, em uma Unidade Básica
de Saúde (UBS). Também atendo em consultório, e ambas as práticas são muito
enriquecedoras.
Apesar de toda a
conscientização por atendimento mais humanizado nos últimos anos, muitas vezes
os pacientes não são vistos como um todo pelos profissionais de saúde, o que
interfere negativamente no tratamento. Quando há escuta qualificada e um bom
trabalho em equipe multiprofissional, o desfecho costuma ser muito positivo.
O indivíduo
precisa ser devidamente informado sobre seu quadro. É fundamental que se sinta
à vontade para tirar suas dúvidas e expor sua história. Cada caso é único,
mesmo que os sintomas físicos se assemelhem. Com acesso à informação,
atendimento de qualidade e acolhimento, é muito mais fácil aderir ao
tratamento, e se responsabilizar por ele.
Fui diagnosticada
com endometriose em 2012 e, apesar do diagnóstico tardio, encontrei uma ótima
profissional, responsável por um tratamento de qualidade no qual não sou apenas
“endomulher”. Tenho clareza de que fui privilegiada e venho notando em minha
prática clínica muitas mulheres com sintomas que podem ser de endometriose (ou
algum outro quadro ginecológico importante), sem ideia alguma de como buscar
ajuda. Algumas afirmam ser algo normal, pois acabaram incorporando a própria
fala de profissionais mal informados, e seguem com dores e incômodos
significativos.
Por conta destes
aspectos profissionais e pessoais, venho estudando mais a respeito da
endometriose, em especial no que diz respeito ao comprometimento da qualidade
de vida e aspectos psicológicos. Contarei abaixo um pouco do que tenho
acompanhado na literatura científica.
O principal
obstáculo é a busca por diagnóstico, que leva em média 10 anos. Neste período,
a mulher acaba se deparando com julgamentos diversos, tanto profissionais, como
leigos. A maioria demonstra descaso em relação aos sintomas, o que a leva a se
culpabilizar e a se desqualificar, chegando a acreditar que não existe doença
alguma. “É frescura; isto é
psicológico; engravida que passa; é normal ter cólica; tem um tratamento
natural que cura isto” – e
por aí vão os palpites, muitas vezes na melhor das intenções.
Os principais
impactos decorrentes do quadro – em especial os mais graves ou ainda não
diagnosticados – são os seguintes:
- Limitações
devido à dor (diminuição da vida social, menor produtividade no trabalho, falta
de disposição);
- Sensação de
impotência frente aos sintomas, e maior risco para quadros depressivos;
- Aumento de
estresse e ansiedade (em especial quando há pouco acesso a serviços de saúde e
não há perspectiva de tratamento possível);
- Prejuízos na
vida sexual/afetiva (quando há dor durante a relação, denominada dispareunia);
- Comprometimento
da fertilidade (dependendo do caso).
Há uma série de
estudos que propõem um perfil da mulher com endometriose. Segundo eles, há
alguns traços comuns entre as portadoras, tais como: ansiedade, autoexigência, elevado
coeficiente intelectual e estresse. Há autores que usam a expressão “doença da mulher
moderna” (nota da editora: já falamos sobre isso leia os textos 1 e 2), associando o quadro às mulheres que se dividem entre suas carreiras e
demais demandas da sociedade (família, tarefas domésticas, etc).
Penso que estas
hipóteses rotulam e generalizam muito mais do que contribuem para refletir
sobre apoio, políticas públicas e formas de prevenção e promoção de qualidade
de vida das portadoras. É bastante delicado afirmar que se trata de um quadro
que acomete mulheres ansiosas, por exemplo, pois isto responsabiliza
inteiramente a portadora, e ignora tantos outros fatores também atuantes quando
se fala em origem da doença. Tais como: predisposição genética, tendência a
gestações mais tardias e menarcas mais precoces, menstruação retrógrada, entre
outros aspectos culturais, ambientais e orgânicos.
Ansiedade e
estresse interferem negativamente em qualquer quadro de dor crônica (não são
privilégio da endometriose) e alteram negativamente a percepção que as pessoas
têm de si mesmas e da própria dor. Mas é necessário avaliar caso a caso, e
verificar o que veio primeiro: os sintomas psicológicos acima citados ou a dor
crônica e demais desconfortos trazidos pela endometriose? A prevalência de
depressão em pessoas com doenças crônicas é alta e também foi constatada nas
portadoras de endometriose, acometendo principalmente as que referem dor
crônica e constante (aproximadamente 80%).
O atraso no
diagnóstico e a dificuldade de acesso aos tratamentos aumentam ainda mais os
riscos para transtornos depressivos e outras alterações de humor, pois
prejudicam a qualidade de vida daquela mulher. Orientação à família
(especialmente ao parceiro), grupos de apoio, psicoterapia, atividade física,
práticas de relaxamento e controle da dor são algumas opções de estratégias
para lidar com os sintomas e buscar maior qualidade de vida.
Para elaborarmos
medidas efetivas e complementares ao tratamento ginecológico é importante
partir da escuta a estas mulheres, a fim de dar voz as suas queixas. O estudo
mais interessante que li a respeito propõe exatamente isto: mais pesquisas que
levem em conta aspectos qualitativos. Temos que ouvir sobre como cada mulher
vivencia seu quadro, e ter como meta informá-las e fortalecê-las, a partir de
suas necessidades.
Outro estudo destacou
a importância dos grupos de apoio e conscientização como instrumento para empoderar
as mulheres. A troca de informação de qualidade, e de experiências dentro do
grupo as auxilia a ter mais condições de lutar por seus direitos, e exigir
providências da área da saúde. Acho que o trabalho do A Endometriose e Eu contribui muito neste sentido.
Se você foi
diagnosticada com endometriose ou conhece alguém que esteja nesta situação, não
tente atribuir causas à doença, e lembre que cada caso é um caso. Apoie, ouça,
não critique. Busque tratamento, informação e apoio psicológico se necessário.
Com o tratamento adequado e demais forma de apoio é possível levar uma vida
normal, com melhora significativa na qualidade de vida e alternativas para a
infertilidade. Aproveito para convidar todas que lerem este texto para marchar
conosco no dia 25 de março, na EndoMarcha 2017. Juntas somos mais fortes! Beijo carinhoso!
Acesse a fanpage da psicóloga Lívia Burin
Boa noite, estou muito interessada em participar da endoMarcha 2017. E uma questão: se alguém tiver alguma informação sobre Allurene e outros dienogeste 2mg, é possível engravidar tomando este medicamento? Uso aprox. 3 meses, estou sem menstruar, mas as vezes sinto sintomas de ovulação parecidos, como os mesmos sintomas normais antes de tomar o remédio, que são claras vaginais bem transparentes e elásticas, como aspecto de "baba de quiabo". Pois essas secreções ocorreram umas duas vezes desde que iniciei a medicação. Se tiverem algum conhecimento, me respondam. Agradeço e bjos de luz para todas!
ResponderExcluirBoa tarde, estou imensamente feliz em descobrir esse blog, sofro com fortes dores pélvicas desde 2011 já fui em vários especialistas onde me disseram que eu tinha era os ovários policísticos, mas o inchaço era enorme, as dores, o fluxo sanguíneo, e meu sangue sempre saia com uns vasos preto, meu intestino funcionava uma vez ou outra no mês, o nível de estresse era altíssimo. Até que um dia li sobre a endometriose e retornei ao médico solicitando um exame específico, o mesmo me negou e disse que eu jamais poderia ter "isso" e que as dores que eu sentia eram cólicas menstruais, o inchaço era por conta da menstruação, e o intestino é porque eu não fazia nenhum tipo de exercício físico, então deu o caso por encerrado ai.As dores só aumentavam cada mês era um grau diferente, já não conseguia colocar os pés no chão, andar era a maior dificuldade, ficar sentada então era aquela luta, e segui com todas essas dores. Em 2013 fui diagnosticada com trombose venosa cerebral, causada possivelmente por anticoncepcional, de acordo com a medicina era um "milagre" eu ainda esta viva pelo avanço da doença, tive que parar com o hormônio,e fazer acompanhamento terapêutico, ginecológico, gástrico e nutricional, passado seis meses de tratamento, com a graça de Deus me livrei daquele diagnóstico, e foi ai onde o meu pesadelo iniciou. Ao parar com o anticoncepcional as dores vieram 3x piores que antes, o inchaço era gigantesco, a constipação intestinal durava meses, ficava pulando de médico em médico e ninguém nunca descobriu o que era, cheguei a implorar para um médico que me abrisse e olhasse o que tinha, porque aquelas dores não eram psicológicas elas eram reais. E hoje em 2017 ainda não encontrei NENHUM médico que olhasse pra mim, sentisse minha dor, e tentasse me ajudar, e sei que a cada dia a endo avança em meu corpo, me sinto incapaz, é dolorido você ouvir um médico dizer que você nunca poderá engravidar porque você tem uns cistos no ovário ou porque você teve uma trombose cerebral. É horrível você querer colocar uma calça e ela não fechar por conta do inchaço, ou você colocar um vestido e todos acharem que você esta grávida, biquínis então nem se fala. Quando encontrei o seu blog Carol até chorei de emoção, por ler e ver que tem pessoas que passam e passaram por isso, e com a graça de Deus acharam um médico com potencial em ajuda-las. Hoje o que mais peço a Deus é que coloque um bom profissional, acima de tudo um ótimo humano que vai entender a minha dor e vai poder me ajudar. Que Deus continue abençoando a cada uma de vocês.
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