terça-feira, 13 de outubro de 2015

MATTHEW ROSSER: ENDOMETRIOSE EM ADOLESCENTES? SIM, ELAS TAMBÉM TÊM!

imagem cedida por Free Digital Photos
O texto de hoje é extremamente importante, pois ele poderá salvar vidas do sofrimento. Depois de sofrer com as dores severas da endometriose por 18 anos, eu tive o diagnóstico da doença, já pra lá da casa dos 30 anos. Quando comecei meu tratamento num centro especializado descobri que é bem provável que tenho endo desde os meus 13 anos, quando retirei meu apêndice. Ou seja, desde a adolescência. Nunca nenhum médico levou em conta minhas cólicas fortes e minhas dores nas pernas. Dores essas que me impediam de andar durante meu período menstrual. Por conta da doença ter o ridículo rótulo "de que a endometriose é a doença da mulher moderna", pelo fato de hoje as mulheres estarem mais ativas no mercado de trabalho, uma frase machista e extremamente preconceituosa, esse texto vai tirar esse mito e tomara Deus abrir as mentes dos médicos, especialmente, dos mais velhos que meninas jovens, adolescentes podem ter endometriose, sim. Compartilhe este texto e ajude na correta conscientização da endometriose para que haja o diagnóstico precoce da doença. Beijo carinhoso! Caroline Salazar


Por Matthew Rosser 
Tradução: Alexandre Vaz
Edição: Caroline Salazar

Um dos muitos mitos acerca da endometriose é que a doença afeta apenas mulheres adultas na casa dos 30 anos. Essa crença tem sido mantida por muitos, muitos anos e ainda corre por aí.
Contudo, embora possa ser verdade que a maioria das portadoras são geralmente diagnosticadas entre os 20 e os 30 anos de idade, a verdade é que os sintomas surgem muito antes e, ao serem ignorados, isso conduz a um atraso no diagnóstico fazendo com que a idade real em que a endometriose se apresenta não seja enxergada.

Felizmente hoje existe uma vontade de intensificar os estudos e a conscientização sobre a endometriose em jovens moças. Hoje vou falar de um desses estudos com origem nos Estados Unidos, um texto grátis e completo que vocês podem acessar aqui.

Esse estudo contou com 25 casos de moças com idade inferior a 21 anos que fizeram laparoscopia por conta de dor pélvica e que não tinham diagnóstico prévio de endometriose, fosse por laparoscopia ou por métodos radiológicos (ressonância magnética, ultrassom, etc). Foi recolhida informação de todas as pacientes antes e depois da cirurgia para determinar o que as características da endometriose nessas pacientes poderiam nos indicar sobre a doença na adolescência (apesar de ser um grupo pequeno, é necessário começar em algum lugar).

A idade média das pacientes desse grupo era de 17,2 anos. O interessante é que 14 dessas 25 (56%) reportaram um histórico de endometriose na família. Isso é muito superior ao que seria de se esperar se fosse um grupo escolhido ao acaso a partir da população geral. O que isso significa é que o risco de desenvolvimento de endometriose em idade precoce é aumenta significativamente pelo histórico de endometriose na família, um fato que médicos e portadoras precisam ter consciência.

Os resultados desse estudo parecem sugerir que os casais com endometriose são bem capazes de identificarem os sintomas , já que 44% das pacientes do grupo vieram indicadas pelas suas mães.

No que diz respeito aos sintomas experimentados pelas pacientes, os ginecológicos mais comuns eram aqueles tipicamente associados à endometriose, tais como dismenorreia (períodos menstruais excessivamente dolorosos) em 64% dos casos, e sangramento anormal em 60% dos casos. Esse é um assunto de extrema importância, já que esses sintomas poderão levar a ausências na escola todos os meses, potencialmente destruindo os projetos da jovem para a sua vida adulta. Apenas 4 das 25 pacientes reportaram sofrer de dispareunia (relações sexuais dolorosas), mas como apenas 8 das 25 assumiram ser sexualmente ativas, a dispareunia é um fraco indicador de endometriose nesse grupo.

Dos sintomas gastrointestinais, a náusea foi o mais comum, presente em quase metade das pacientes (44%). Entre 20 e 25% do total das pacientes experimentaram outros sintomas gastrointestinais, como prisão de ventre ou diarreia. Fadiga, um sintoma da endometriose frequentemente ignorado, estava presente em cerca de 25% das pacientes, e parece ficar mais comum com a idade.

Foi reportada uma variação muito elevada no intervalo que existiu na primeira visita ao médico e a obtenção de um diagnóstico. Nesse grupo em particular a obtenção de diagnóstico foi entre 1 mês e 9 anos, sendo que a média entre o início dos sintomas e o diagnóstico situou-se em 2 anos.

Isso vem demonstrar quão importante é que os médicos estejam bem preparados para a identificação dos sinais de endometriose em jovens adolescentes e mulheres adultas.

Os autores desse estudo referiram um inquérito a mais de 4 mil mulheres diagnosticadas com endometriose. Dois terços dessas mulheres afirmaram que os seus sintomas eram muito menos valorizados quando eram adolescentes do que após virarem adultas.

Após as 25 pacientes terem feito a cirurgia, foi descoberto que 17 delas tinham endo grau I, 5 tinham endo grau II, 3 tinham grau III e nenhuma tinha grau IV. Essas descobertas são coincidentes com um estudo publicado faz algumas semanas que incluiu 55 jovens de idades inferiores a 19 anos previamente diagnosticadas com endometriose. Não constituiu surpresa verificar que não existiam casos de endo grau IV, já que estudos anteriores revelaram uma taxa muito baixa de cistos endometrióticos ovarianos em adolescentes. Contudo, graus severos de endometriose em jovens moças não são inéditos, em particular após os 17 anos, e portanto não devem ser descartados.

Uma das observações feitas pelos autores é que a aparência da endometriose em adolescentes pode ser diferente da existente em mulheres adultas. Por exemplo, eles notaram que os tipos predominantes de lesões eram sutis, atípicas, translúcidas, brancas ou vermelhas, enquanto que nas portadoras adultas tendiam a ser mais escuras, um tom azul bem escuro, quase preto. Esse é um fator importante que os cirurgiões devem levar em consideração, como sendo formas mais sutis da doença e que podem facilmente passar despercebidas.

Após um ano de acompanhamento das pacientes, 80% tinham melhorado ou eliminado a dor, mas esse foi um acompanhamento curto e como os tratamentos pós-operatórios foram diferentes, fica difícil dizer o que foi que influenciou a resolução dos sintomas.

Ainda assim, esse artigo levanta várias questões importantes em torno da endometriose em adolescentes. Em particular a forma como ela pode se apresentar com diferentes aspectos, tanto sintomática quanto fisicamente, relativo a portadoras adultas e como melhor caracterizar a endometriose na adolescência podendo conduzir a um diagnóstico mais rápido, melhores tratamentos e a um fardo menor causado pela doença nas portadoras e na sociedade.

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