imagem cedida por Free Digital Photos |
Por Matthew Rosser
Tradução: Alexandre Vaz
Edição: Caroline Salazar
Um
dos muitos mitos acerca da endometriose é que a doença afeta apenas
mulheres adultas na casa dos 30 anos. Essa crença tem sido mantida
por muitos, muitos anos e ainda corre por aí.
Contudo,
embora possa ser verdade que a maioria das portadoras são geralmente
diagnosticadas entre os 20 e os 30 anos de idade, a verdade é que os
sintomas surgem muito antes e, ao serem ignorados, isso conduz a um
atraso no diagnóstico fazendo com que a idade real em que a
endometriose se apresenta não seja enxergada.
Felizmente
hoje existe uma vontade de intensificar os estudos e a
conscientização sobre a endometriose em jovens moças. Hoje vou
falar de um desses estudos com origem nos Estados Unidos, um texto
grátis e completo que vocês podem acessar aqui.
Esse
estudo contou com 25 casos de moças com idade inferior a 21 anos que
fizeram laparoscopia por conta de dor pélvica e que não tinham
diagnóstico prévio de endometriose, fosse por laparoscopia ou por
métodos radiológicos (ressonância magnética, ultrassom, etc). Foi
recolhida informação de todas as pacientes antes e depois da
cirurgia para determinar o que as características da endometriose
nessas pacientes poderiam nos indicar sobre a doença na adolescência
(apesar de ser um grupo pequeno, é necessário começar em algum
lugar).
A
idade média das pacientes desse grupo era de 17,2 anos. O
interessante é que 14 dessas 25 (56%) reportaram um histórico de
endometriose na família. Isso é muito superior ao que seria de se
esperar se fosse um grupo escolhido ao acaso a partir da população
geral. O que isso significa é que o risco de desenvolvimento de
endometriose em idade precoce é aumenta significativamente pelo
histórico de endometriose na família, um fato que médicos e
portadoras precisam ter consciência.
Os
resultados desse estudo parecem sugerir que os casais com
endometriose são bem capazes de identificarem os sintomas , já que
44% das pacientes do grupo vieram indicadas pelas suas mães.
No
que diz respeito aos sintomas experimentados pelas pacientes, os
ginecológicos mais comuns eram aqueles tipicamente associados à
endometriose, tais como dismenorreia (períodos menstruais
excessivamente dolorosos) em 64% dos casos, e sangramento anormal em
60% dos casos. Esse é um assunto de extrema importância, já que
esses sintomas poderão levar a ausências na escola todos os meses,
potencialmente destruindo os projetos da jovem para a sua vida
adulta. Apenas
4 das 25 pacientes reportaram sofrer de dispareunia (relações
sexuais dolorosas), mas como apenas 8 das 25 assumiram ser
sexualmente ativas, a dispareunia é um fraco indicador de
endometriose nesse grupo.
Dos
sintomas gastrointestinais, a náusea foi o mais comum, presente em
quase metade das pacientes (44%). Entre 20 e 25% do total das
pacientes experimentaram outros sintomas gastrointestinais, como
prisão de ventre ou diarreia. Fadiga, um sintoma da endometriose
frequentemente ignorado, estava presente em cerca de 25% das
pacientes, e parece ficar mais comum com a idade.
Foi
reportada uma variação muito elevada no intervalo que existiu na
primeira visita ao médico e a obtenção de um diagnóstico. Nesse
grupo em particular a obtenção de diagnóstico foi entre 1 mês e 9
anos, sendo que a média entre o início dos sintomas e o diagnóstico
situou-se em 2 anos.
Isso
vem demonstrar quão importante é que os médicos estejam bem
preparados para a identificação dos sinais de endometriose em
jovens adolescentes e mulheres adultas.
Os
autores desse estudo referiram um inquérito a mais de 4 mil mulheres
diagnosticadas com endometriose. Dois terços dessas mulheres
afirmaram que os seus sintomas eram muito menos valorizados quando
eram adolescentes do que após virarem adultas.
Após
as 25 pacientes terem feito
a cirurgia, foi descoberto que 17 delas tinham endo grau I, 5 tinham
endo grau II, 3 tinham grau III e nenhuma tinha grau IV. Essas
descobertas são coincidentes com um estudo
publicado faz algumas semanas que incluiu 55 jovens de idades
inferiores a 19 anos previamente
diagnosticadas com endometriose. Não constituiu surpresa verificar
que não existiam casos de endo grau IV, já que estudos anteriores
revelaram uma taxa muito baixa de cistos endometrióticos ovarianos
em adolescentes. Contudo, graus severos de endometriose em jovens
moças não são inéditos, em particular após os 17 anos, e
portanto não devem ser descartados.
Uma
das observações feitas pelos autores é que a aparência da
endometriose em adolescentes pode ser diferente da existente em
mulheres adultas. Por exemplo, eles notaram que os tipos
predominantes de lesões eram sutis, atípicas, translúcidas,
brancas ou vermelhas, enquanto que nas portadoras adultas tendiam a
ser mais escuras, um tom azul bem escuro, quase preto. Esse é um
fator importante que os cirurgiões devem levar em consideração,
como sendo formas mais sutis da doença e que podem facilmente passar
despercebidas.
Após
um ano de acompanhamento das pacientes, 80% tinham melhorado ou
eliminado a dor, mas esse foi um acompanhamento curto e como os
tratamentos pós-operatórios foram diferentes, fica difícil dizer o
que foi que influenciou a resolução dos sintomas.
Ainda
assim, esse artigo levanta várias questões importantes em torno da
endometriose em adolescentes. Em particular a forma como ela pode se
apresentar com diferentes aspectos, tanto sintomática quanto
fisicamente, relativo a portadoras adultas e como melhor caracterizar
a endometriose na adolescência podendo conduzir a um diagnóstico
mais rápido, melhores tratamentos e a um fardo menor causado pela
doença nas portadoras e na sociedade.
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