Foto: artigo original Daily Mail |
Hoje em "A Vida de um Endomarido" Alexandre traz um texto que está dando o que falar nas comunidades gringas. Você leu bem o título: mulher com endometriose morre após negligência de um hospital em Londres. A gente sempre pensa que essa barbaridade da "negligência" só acontece em nosso país. Mas não, desta vez, foi num país de primeiro mundo, e o que dizer? Eu só lamento que há maus profissionais como os do texto abaixo, e falo que todas nós estamos sujeitos às negligências médicas. Muitas pessoas não dão o real valor a quem sofre com esta enfermidade. Depois falam que endometriose não mata, que é uma doença boba. Já traduzimos um artigo de uma assistente médica americana sobre sua endometriose que poderia ter matado-a. A endometriose pode matar, sim! Esse artigo é muito importante já que a própria paciente, uma assistente médica (alguém da área da saúde), fala da gravidade do seu tumor de endometriose. Portanto não é qualquer paciente falando. Precisamos ser levadas à sério. Precisamos mostrar nossa cara, para mostrar que somos muitas e que precisamos de respeito e de tratamento digno, como qualquer ser humano. Por isso junte-se a nós na 3ª edição da EndoMarcha, clique aqui e faça seu cadastro. Basta preencher o cadastro uma única vez. Juntas somos mais fortes. Beijo carinhoso! Caroline Salazar
Tradução: Alexandre Vaz
Edição: Caroline Salazar
Mulher
falece após recepcionista do hospital considerar que ela não estava
“tão doente assim”
Madhumita,
30 anos de idade, morreu após falha dos seus órgãos em menos de
quatro dias após a recepcionista do hospital considerar que ela não
estava “tão doente assim”, como relatam os investigadores do
caso. Essa decisão foi tomada por um dos membros do staff do
Hospital Universitário Corydon em Londres, na Inglaterra, e terminou
com a morte dessa jovem mulher.
Mandal
foi levada para a urgência do hospital universitário Croydon pelo
marido, Prabhanjan Behera, após vomitar por mais de quatro horas na
manhã de um sábado em setembro de 2013.
A recepcionista
Triveni Dhavade encaminhou-a para a urgência que cuida apenas de
doenças menos grave. Dhavade recebeu formação como farmacêutica na Índia, mas alegadamente nunca exerceu a profissão e trabalhou no
hospital por 17 anos. A sua única qualificação reconhecida no
Reino Unido é de conselheira de hipoteca.
Behera
implorou para que uma enfermeira atendesse sua esposa, que vomitava
repetidamente na sala de espera, mas Dhavade alegadamente não
conseguiu achar uma profissional por mais de uma hora. Eloise
Power, a advogada que representa a família, perguntou a Dhavade como
foi possível que ela não achasse uma enfermeira para olhar a
paciente. Dhavade respondeu: “Ela não estava assim tão doente. Eu
não tinha como saber que ela estava tão doente assim.”
Quando uma enfermeira estava disponível e viu a gravidade do estado de Mandal, ela correu com a paciente para a sala de reanimação.
Quando Mandal finalmente foi observada por um médico, vários
desentendimentos entre dois colegas forçaram um médico júnior a dar
instruções para que ela fosse levada para os cuidados intensivos.
A
doutora Jessica Davies falou que o escrivão do departamento de
urgência, doutor Ademola Tokan-Lawal, atrasou a chamada de uma
equipe médica, insistindo que Mandal simplesmente precisava receber
fluidos para diminuir seu ritmo cardíaco. Acabou falando: “Você
pode consultá-la se quiser, mas eles não vão recebê-la, pois ela
não está ruim o suficiente”, e aí a doutora Jessica referenciou
a paciente.
Mandal
chegou a ser operada de um cisto ovariano estourado, quase oito horas
após chegar ao hospital no Sul de Londres.
Ela
faleceu de septicemia e falha múltipla de órgãos quatro dias
depois. Dehera falou que sua esposa tinha endometriose e estava com
cirurgia marcada para remoção dos cistos alguns dias depois.
Após
o falecimento de Mandal, Behera que era considerado seu
dependente na Inglaterra não conseguiu a renovação do visto e teve de voltar
para a Índia, pois “não existiam motivos imperiosos e
compassivos” para continuar a residir no Reino Unido.
Behera retornou ao Reino Unido para acompanhar a investigação sobre a morte de sua esposa.
Behera retornou ao Reino Unido para acompanhar a investigação sobre a morte de sua esposa.
Fonte: Daily Mail
Comentário
do Endomarido:
Olhando
esse caso já de 2013, várias são as situações que correram da
pior forma. Em primeiro lugar, permitam esse comentário. Tenho
bastantes amigos brasileiros aqui em Portugal, e todos me indicaram
que o SUS é um horror por comparação ao nosso sistema de saúde
pública, que nós achamos ruim e que segundo eles por comparação é
um luxo. Como puderam ler, esse caso aconteceu na Inglaterra, mais
precisamente em Londres, um país que consideramos ter um padrão bem
acima do nosso. E, no entanto, isso pode acontecer, como relatado
pelo Daily Mail.
Como é possível? Bom, esquecendo o vício que tanto Portugueses como Brasileiros tem de botar a culpa no governo sobre chover demais e chover de menos, precisamos encarar que em todas as áreas e em todos os países existem bons e maus profissionais. São os trabalhadores que fazem a empresa, não o contrário.
Costumamos falar que a empresa X é certificada. É nada, a certificação é do profissional, se ele for embora aquele documento que foi emitido em nome do Manuel Feijão Preto não serve para mais ninguém. Da mesma forma, o prestígio que um hospital exibe foi conseguido pelo bom trabalho dos seus funcionários, e se eles diminuírem na qualidade, casos desses surgirão que irão abalar essa reputação. Isso deveria ser o suficiente para que a administração do hospital ponderasse muito bem quem contratar para os lugares chave. Quem está na triagem e na recepção não pode ser alguém sem experiência médica. Essa não é uma posição menor. Uma falha na avaliação da gravidade do estado de saúde de um paciente pode conduzir a uma demora que torne inúteis os esforços do melhor médico do mundo. Aí joga uma moeda para o alto: cara você chama o santo, coroa chama o cangalheiro. Se uma paciente chega vomitando desse jeito, tem alguma coisa errada com ela. Precisa ser observada o quanto antes por quem saiba o que está fazendo.
Pelo texto, que é uma interpretação do relato de alguém que talvez nem tenha acompanhado o caso diretamente, o marido parece ter entrado em pânico. Pobre homem, ele talvez tenha ficado desnorteado e sem saber o que fazer, levou a esposa para o hospital, mas poderia talvez ter feito mais; vamos ver o quê: Faz anos que minha esposa vai para todo o lugar com uma pasta contendo os exames médicos mais recentes, lista de medicamentos que está tomando e relatórios médicos. Isso está dentro do carro, pois quando ela vai para qualquer lugar mais longe ela sempre vai de carro. Basta uma hora de pé e ela já fica com dor, por vezes menos que isso. Então o carro é uma das melhores coisas que ela tem para manter autonomia. Isso faz com que nunca fique muito longe dos registros médicos caso precise apresentar eles, ou numa ida de urgência ao hospital, rapidamente dar a conhecer seu histórico ao profissional que atenda ela.
Mesmo numa condição como a endometriose, desvalorizada por muitos médicos, a assinatura de um colega (melhor se for especialista) afirmando que é portadora dessa doença e eles deixam de colocar muitos obstáculos. A razão é, já tem quem assuma a responsabilidade. O médico poderá facilmente alegar que não teve tempo de examinar um quadro tão complexo em contexto de urgência e baseou na informação que o colega passou no relatório. Não comece já a xingar a mãe do médico. O exercício da medicina hoje é muito complexo e bons advogados sempre conseguem colocar a culpa em alguém.
Os hospitais possuem departamentos jurídicos que muitas vezes conseguem lidar com isso sem consequências para os médicos ou o próprio hospital, mas que irá deixar o médico em maus lençóis perante a chefia de qualquer jeito. É a carreira deles em jogo. Podem inclusive ser presos. Então hoje o médico precisa se preocupar com tanta coisa além do exercício da sua função, que ser médico começa a ocupar a menor parte do que ele na realidade faz. Para evitar ser processado, o profissional hoje tem que se blindar contra toda e qualquer situação. Isso faz reduzir o tempo disponível para executar a sua função principal e dispara os custos pois essa blindagem não é de graça. Exemplo: na minha área, manutenção industrial, muitas vezes temos que usar instrumentos calibrados e certificados para garantir as leituras efetuadas num determinado processo. Para terem uma noção, por vezes só essa certificação que é anual, muitas vezes custa mais do que o próprio instrumento. Alguém vai ter que pagar isso, geralmente o cliente final. Qualidade custa dinheiro.
Será que foi falado para os médicos que Mandal tinha uma cirurgia marcada para remoção de cistos nos ovários dentro de alguns dias? Agora não adianta mais para Mandal, mas poderá fazer a diferença para você que lê isso agora. Leve sempre com você a documentação relevante que comprove que tem uma doença e a lista da medicação que está tomando. Pode ser que calhe com um médico picareta e não vai fazer diferença, mas se for atendida por um bom profissional, você estará ajudando e muito para que ele possa fazer o melhor trabalho e lhe dar a melhor chance. Procure ajudar o seu médico. Ele não é nem adivinho nem santo milagreiro. É apenas um ser humano que dedicou muito tempo a estudar para poder ajudar quem precise. Colabore com ele, pela sua saúde.
Já falei da recepcionista, ela não tinha a qualificação necessária (na minha opinião) para estar naquele posto, vamos nos médicos que ficam discutindo perante uma paciente. Que triste espetáculo esse. Como vocês falam aí, uma verdadeira palhaçada. É inadmissível que um médico júnior tenha que intervir perante dois colegas mais antigos solicitando aquilo que deveria ser a primeira coisa que qualquer um deles deveria ter feito. Encaminhar sem demora a paciente para o serviço adequado para garantir a sua segurança e bem estar.
Mas na cabeça desses dois provavelmente estava rolando uma batalha de egos enquanto eles estavam fazendo orçamento de quanto iria custar atender essa paciente e como poderia ficar mais barato. Num caso desses, se foi como eu julgo ter entendido, esses dois estariam no olho da rua e sem prejuízo das sanções legais resultantes das consequências na saúde da paciente.
Muita gente poderia ter feito melhor nesse processo todo. Fica a sensação de que o que aconteceu foi a pior versão possível que essa história poderia ter tido.
Como é possível? Bom, esquecendo o vício que tanto Portugueses como Brasileiros tem de botar a culpa no governo sobre chover demais e chover de menos, precisamos encarar que em todas as áreas e em todos os países existem bons e maus profissionais. São os trabalhadores que fazem a empresa, não o contrário.
Costumamos falar que a empresa X é certificada. É nada, a certificação é do profissional, se ele for embora aquele documento que foi emitido em nome do Manuel Feijão Preto não serve para mais ninguém. Da mesma forma, o prestígio que um hospital exibe foi conseguido pelo bom trabalho dos seus funcionários, e se eles diminuírem na qualidade, casos desses surgirão que irão abalar essa reputação. Isso deveria ser o suficiente para que a administração do hospital ponderasse muito bem quem contratar para os lugares chave. Quem está na triagem e na recepção não pode ser alguém sem experiência médica. Essa não é uma posição menor. Uma falha na avaliação da gravidade do estado de saúde de um paciente pode conduzir a uma demora que torne inúteis os esforços do melhor médico do mundo. Aí joga uma moeda para o alto: cara você chama o santo, coroa chama o cangalheiro. Se uma paciente chega vomitando desse jeito, tem alguma coisa errada com ela. Precisa ser observada o quanto antes por quem saiba o que está fazendo.
Pelo texto, que é uma interpretação do relato de alguém que talvez nem tenha acompanhado o caso diretamente, o marido parece ter entrado em pânico. Pobre homem, ele talvez tenha ficado desnorteado e sem saber o que fazer, levou a esposa para o hospital, mas poderia talvez ter feito mais; vamos ver o quê: Faz anos que minha esposa vai para todo o lugar com uma pasta contendo os exames médicos mais recentes, lista de medicamentos que está tomando e relatórios médicos. Isso está dentro do carro, pois quando ela vai para qualquer lugar mais longe ela sempre vai de carro. Basta uma hora de pé e ela já fica com dor, por vezes menos que isso. Então o carro é uma das melhores coisas que ela tem para manter autonomia. Isso faz com que nunca fique muito longe dos registros médicos caso precise apresentar eles, ou numa ida de urgência ao hospital, rapidamente dar a conhecer seu histórico ao profissional que atenda ela.
Mesmo numa condição como a endometriose, desvalorizada por muitos médicos, a assinatura de um colega (melhor se for especialista) afirmando que é portadora dessa doença e eles deixam de colocar muitos obstáculos. A razão é, já tem quem assuma a responsabilidade. O médico poderá facilmente alegar que não teve tempo de examinar um quadro tão complexo em contexto de urgência e baseou na informação que o colega passou no relatório. Não comece já a xingar a mãe do médico. O exercício da medicina hoje é muito complexo e bons advogados sempre conseguem colocar a culpa em alguém.
Os hospitais possuem departamentos jurídicos que muitas vezes conseguem lidar com isso sem consequências para os médicos ou o próprio hospital, mas que irá deixar o médico em maus lençóis perante a chefia de qualquer jeito. É a carreira deles em jogo. Podem inclusive ser presos. Então hoje o médico precisa se preocupar com tanta coisa além do exercício da sua função, que ser médico começa a ocupar a menor parte do que ele na realidade faz. Para evitar ser processado, o profissional hoje tem que se blindar contra toda e qualquer situação. Isso faz reduzir o tempo disponível para executar a sua função principal e dispara os custos pois essa blindagem não é de graça. Exemplo: na minha área, manutenção industrial, muitas vezes temos que usar instrumentos calibrados e certificados para garantir as leituras efetuadas num determinado processo. Para terem uma noção, por vezes só essa certificação que é anual, muitas vezes custa mais do que o próprio instrumento. Alguém vai ter que pagar isso, geralmente o cliente final. Qualidade custa dinheiro.
Será que foi falado para os médicos que Mandal tinha uma cirurgia marcada para remoção de cistos nos ovários dentro de alguns dias? Agora não adianta mais para Mandal, mas poderá fazer a diferença para você que lê isso agora. Leve sempre com você a documentação relevante que comprove que tem uma doença e a lista da medicação que está tomando. Pode ser que calhe com um médico picareta e não vai fazer diferença, mas se for atendida por um bom profissional, você estará ajudando e muito para que ele possa fazer o melhor trabalho e lhe dar a melhor chance. Procure ajudar o seu médico. Ele não é nem adivinho nem santo milagreiro. É apenas um ser humano que dedicou muito tempo a estudar para poder ajudar quem precise. Colabore com ele, pela sua saúde.
Já falei da recepcionista, ela não tinha a qualificação necessária (na minha opinião) para estar naquele posto, vamos nos médicos que ficam discutindo perante uma paciente. Que triste espetáculo esse. Como vocês falam aí, uma verdadeira palhaçada. É inadmissível que um médico júnior tenha que intervir perante dois colegas mais antigos solicitando aquilo que deveria ser a primeira coisa que qualquer um deles deveria ter feito. Encaminhar sem demora a paciente para o serviço adequado para garantir a sua segurança e bem estar.
Mas na cabeça desses dois provavelmente estava rolando uma batalha de egos enquanto eles estavam fazendo orçamento de quanto iria custar atender essa paciente e como poderia ficar mais barato. Num caso desses, se foi como eu julgo ter entendido, esses dois estariam no olho da rua e sem prejuízo das sanções legais resultantes das consequências na saúde da paciente.
Muita gente poderia ter feito melhor nesse processo todo. Fica a sensação de que o que aconteceu foi a pior versão possível que essa história poderia ter tido.
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