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Em
mais uma tradução do cientista inglês Matthew Rosser o texto
aborda a questão da endometriose ser uma doença recorrente. Por que
a doença volta com rapidez? Por que sua taxa de reincidência ainda
é alta? Por que ela está sendo encontrada cada vez mais em mulheres
mais jovens? Apesar de ainda não ter respostas para todas as
questões, Matthew coloca em discussão o fato de a endo ser uma
doença ainda traiçoeira. Beijo carinhoso! Caroline Salazar
Por
Matthew Rosser
Tradução:
Alexandre Vaz
Edição:
Caroline Salazar
Um
problema recorrente
Um
dos problemas de uma doença como a endometriose é porque o nosso
conhecimento sobre ela vai mudando ao longo do tempo. As certezas que
temos hoje poderão ser consideradas incorretas, mal interpretadas ou
mesmo erradas no futuro. Por exemplo, era comum pensar que a
endometriose era uma doença quase exclusiva das mulheres entre os 30
e 40 anos, mulheres que investiram em sua carreira profissional,
expressão ainda usada nos dias de hoje. Parece que nunca existiu uma
explicação racional para isso, não existem motivos para que as
mulheres nessa faixa etária estivessem em maior risco, era
simplesmente aceita. Provavelmente pela experiência partilhada por
muitas pessoas da área, acabou conduzindo a essa conclusão. No
entanto essa percepção parece estar a mudar radicalmente,
especialmente nos últimos 5 anos.
Hoje
em dia é cada vez mais reconhecido que os casos estão a aumentar e
ocorrem em mulheres cada vez mais jovens, em particular entre jovens
adolescentes (foi reportado um caso de uma menina de 11 anos com
endometrioma). Se olharmos a literatura, podemos ver que nos últimos
10 anos (nota do tradutor: esse artigo é de 2011) foram
publicados 526 artigos contendo as palavras-chave “endometriose”
e “adolescente”. Comparando com a década anterior, o número foi
de apenas 278 artigos.
Então
porque será que isso acontece? Existe alguma prova de que as jovens
moças estão ficando mais suscetíveis à doença? Ou será que a
maior conscientização, tanto na comunidade médica como no público
em geral, leva a que os sintomas sejam investigados em idades
menores? Eu sei que o tempo médio está entre 7 e 9 anos (dependendo
da pessoa com quem você fala), e sei também que muitas mulheres
lutam para que os seus sintomas sejam levados a sério. Para começar,
a idade na qual a mulher é diagnosticada não pode servir como
indicador para o surgimento da doença. Essa é provavelmente a
origem da ideia de que a endometriose é uma doença da mulher a
partir dos 30 anos; porque era essa a idade na qual ela obtinha o
diagnóstico e não a idade em que surgiram os sintomas. (leia nossos
textos sobre Endometriose
- a doença da mulher moderna texto
1, texto
2).
Você
já assistiu um filme de terror em que o protagonista vai em uma
sala, esperando dar de cara com algo horrível, para descobrir que
afinal a sala está vazia? Ele fica com aquela sensação de alívio,
volta atrás e aí um monstro sai da sombra fazendo com que você
pule na cadeira por conta do susto que acabou de tomar? Pois a
endometriose é meio parecida com esse monstro. Porque mesmo após a
remoção cirúrgica dos focos, e de todos respirarmos aliviados, ela
ainda pode estar escondida na sombra. Esse estudo exemplifica
o potencial recorrente da endometriose, cuja conclusão é de que uma
em cada 5 portadoras sujeitas a cirurgia laparoscópica acabam tendo
recorrência da doença. Mais estudos sobre
uma vasta literatura descobriram que a recorrência pós-cirúrgica
pode ser de até 21,5% após 2 anos e 40-50% após 5 anos.
No
momento não temos uma ideia clara sobre o porquê dessa recorrência
ser tão elevada. Certamente a perícia do cirurgião e a qualidade
do equipamento usado desempenham um papel importante nisso, mas se
existem outros fatores que podem influenciar a recorrência da
endometriose, tais como estilo de vida, medicação ou genética,
isso está por descobrir.
O
motivo pelo qual estou falando de endometriose em mulheres mais
jovens e o problema da recorrência é que existe um artigo publicado
recentemente e que combina esses dois temas. Esse estudo também com
origem na Itália juntou 57 jovens de idades inferiores a 21 anos
previamente diagnosticadas com endometriose e seguiu o seu histórico
médico por 5 anos. Das 57 moças que entraram no estudo, 32 (56%)
tiveram recorrência de endometriose. Dessas 32, 11 foram sujeitas a
nova laparoscopia para tratar a doença. Os autores do estudo
descobriram que fatores como: sintomas, estágio/localização dos
focos, tipo de cirurgia e tratamento médico não influenciaram quem
teve recorrência e quem não teve.
A
taxa de recorrência nessas jovens é muito elevada, mais de metade
dessas portadoras tiveram recorrência da doença ou dos sintomas.
Mas a pergunta valendo 1 milhão de dólares continua sendo, porquê?
Eu
não tenho uma resposta clara, mas sei que a endometriose pode ser
uma doença sorrateira. Pequenos focos de endometriose podem iludir o
olho treinado até do cirurgião mais experiente, e dessas sementes,
os espinhos maléficos da doença podem florescer. No futuro,
melhores métodos para a visualização da doença poderão ajudar
muito o cirurgião a remover todos os focos. Até lá, para muitas
portadoras, a endometriose continuará a sendo um problema
recorrente.
Muito bom o artigo e esclarecedor! Tenho 3 meses de operada, todos os focos realmente foram retirados, pois na ressonancia magnetica pós cirurgica vimos que os 12 locais onde tinham focos, agora não tem mais. Porém um novo foco apareceu e em dois meses ele já chega a 2,0cm, um novo endometrioma no ovário direito. A endometriose é como uma luta que perto do fim, quem está apanhando e quase vencido se levante e consegue reagir...uma luta exaustiva e intensa. Mas eu to na luta!
ResponderExcluirJá tem filhos. Quantos anos você tem?
ExcluirLeia os artigos do Dr. Redwine. Ele fala das diferentes aparências dos focos. Existem médicos que não sabem disso. Também existe a possibilidade de ter tido endometriose superficial quando fez os exames, e esses focos não são detetados pela ressonancia magnética. Isso poderá explicar o porquê de o mapeamento da sua endometriose possa não ter sido completo.
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