terça-feira, 28 de julho de 2015

ENTREVISTA EXCLUSIVA COM DOUTOR ALYSSON ZANATTA, ESPECIALISTA EM BRASÍLIA!!

Foto: arquivo pessoal


Hoje o A Endometriose e Eu apresenta aos leitores o doutor Alysson Zanatta, de Brasília. Paranaense radicado em Brasília, doutor Alysson é ginecologista especializado em endometriose, é diretor da Clínica Pelvi, professor adjunto de Ginecologia na Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília, e colaborador do blog desde o início do ano onde escreve textos e faz traduções de textos internacionais, em especial, os do doutor David Redwine complementadas com a sua opinião. 

Ele é um dos poucos cirurgiões brasileiros que faz a chamada "cirurgia de excisão dos focos", a mesma do médico americano doutor David Redwine. Aqui você vai conhecer um pouco mais sobre este grande especialista e sua visão sobre a endometriose. Por alguns anos ele viajava semanalmente a São Paulo para atender endometriose no Hospital Sírio Libanês, que interrompeu após o nascimento de sua filha em 2014. Uma entrevista exclusiva e muito interessante. Boa leitura! Beijo carinhoso! Caroline Salazar

Caroline Salazar: Quando e como começou o seu interesse pela endometriose?

Doutor Alysson Zanatta: Bom dia, Caroline. Parabéns pelo blog A Endometriose e Eu, pelo seu trabalho de promoção da informação sobre a doença. Obrigado pela oportunidade, é um grande prazer falar às leitoras do blog. Meu interesse começou ainda na residência médica, quando eu observava o sofrimento das mulheres com endometriose, e a falta de tratamentos eficientes. Sofri uma forte influência de dois grandes mestres e amigos: o Dr. Ricardo Mendes Alves Pereira, que se dedica de corpo e alma ao tratamento cirúrgico das mulheres com endometriose, e o Dr. Paulo Serafini, esterileuta e renomado pesquisador da área, cuja vida é dedicada ao tratamento das mulheres inférteis, especialmente aquelas com endometriose. Durante 10 anos, tive a oportunidade única de partilhar das experiências desses dois grandes mestres, e, principalmente, das histórias de vida dessas pacientes.

Caroline Salazar: Como o doutor caracteriza a endometriose?

Doutor Alysson Zanatta: Como uma doença de origem ainda durante o período embrionário, cuja evolução se inicia já após as primeiras menstruações sob a influência dos hormônios femininos (estrogênios), podendo, ao longo da vida da mulher, levar à dor, infertilidade, a ambos, ou a nenhum destes.

Caroline Salazar: Com certeza passam muitas pacientes em busca de diagnóstico pelo seu consultório. Como portadora eu sei o quanto essa doença afeta a vida da mulher, e também do nosso companheiro, dos familiares e amigos, além dos aspetos social e profissional. Em termos emocionais, como a paciente típica chega na sua consulta?

Doutor Alysson Zanatta: Elas costumam chegar desacreditadas, com muitas dúvidas pelas informações desencontradas que recebem, e inseguras. Algumas estarão revoltadas pela demora no diagnóstico. Na maioria das vezes, o simples fato de conversarmos que a causa de seus sintomas não tem nada de psicológico, mas sim uma doença orgânica e real, faz com que elas se sintam muito melhor por finalmente encontrarem uma explicação para seus sintomas.

Caroline Salazar: Com sua experiência, a paciente típica já vem com algum conhecimento sobre o que é endometriose? Se sim, ela vem com uma noção correta sobre a doença, ou traz um conhecimento composto de escutar aqui e ali algumas noções desconexas e mitos?

Doutor Alysson Zanatta: Felizmente, elas chegam cada vez mais bem informadas. Algumas já têm a consciência de que a endometriose não é causada pela menstruação, porém a maioria ainda traz esse conceito, que é o conceito (infelizmente) divulgado na mídia, na literatura médica, e pelos formadores de opinião. Os mitos sobre a doença existem sim e muitas ainda os trazem, como aquele de que a gravidez trata a endometriose, ou de que precisará ficar para sempre sem menstruar para que não haja progressão da doença. Em todas as consultas, busco antes de tudo explicar os mecanismos de origem da endometriose que são cientificamente comprovados, pois, para decidirmos como tratar a doença, precisamos antes entendê-la.

Caroline Salazar: Quais os maiores receios da portadora de endometriose?

Doutor Alysson Zanatta: Certamente é o da infertilidade. O medo da dor crônica e intratável também é presente, mas, acreditem ou não, algumas se conformam e aceitam sofrer as dores, simplesmente por acreditarem que não têm outra opção.

Caroline Salazar: Muitas referem à infertilidade como a maior consequência da doença. A dor parece vir em segundo lugar. Mas infertilidade e esterilidade são duas coisas bem diferentes, certo? Poderia nos elucidar sobre essa diferença?

Doutor Alysson Zanatta: Exatamente isso, Caroline, a infertilidade costuma ser a maior preocupação, o que é diferente de esterilidade. Esterilidade é a impossibilidade permanente e definitiva de gestar. Infertilidade é a demora do casal em gestar após 1 ano de tentativas.
A endometriose costuma estar associada à infertilidade, ou subfertilidade, pois algumas mulheres que não gestaram em um ano poderão o fazer após esse período de forma natural.
Quanto maior o tempo de tentativas do casal, menores são as chances de que ocorra uma gestação natural, podendo então haver a necessidade de algum tipo de tratamento.

Caroline Salazar: Entre as frases comuns que se escutam por aí estão: “Engravide que a endometriose passa”, ou “Depois da menopausa, não terá mais endometriose”. O senhor acha sobre isso?

Doutor Alysson Zanatta: São mitos, que infelizmente atrapalham o entendimento da doença e atrasam os tratamentos. Esses mitos são consequência direta do entendimento de que a endometriose é causada pela menstruação retrógrada, o que jamais foi provado cientificamente. No dia que pararmos de acreditar que a endometriose vem da menstruação, esses mitos acabarão.

Caroline Salazar: Um dos meios usados por muitos médicos para tratamento da endometriose é o uso da pílula contínua. Quais os benefícios que esse tratamento tem? Ele é eficaz? E quais os riscos?

Doutor Alysson Zanatta: A pílula contínua pode ser um método eficaz de CONTROLE dos sintomas associados à endometriose. Digo controle porque nenhuma medicação é capaz de erradicar a doença (fazê-la desaparecer), o que não significa que a mulher não possa tomar medicações. A pílula também não terá influência sobre o desenvolvimento da doença. Ou seja, ela nem evita, e nem piora as lesões. Ela simplesmente controla as dores, em maior ou menor grau, e esse é o seu grande benefício. Os riscos associados às pílulas vêm sendo bastante discutidos na mídia, como riscos de trombose, por exemplo. Penso que esses riscos são raros, e os benefícios superam os riscos, quaisquer que sejam as indicações para uso de pílula.
Em relação à endometriose, talvez o principal malefício da pílula seja o atraso no diagnóstico da doença. Como costuma haver uma melhora dos sintomas, deixamos de pensar que possam existir lesões, e essas mulheres podem ser surpreendidas com uma doença avançada e com relativamente poucos sintomas. Outro malefício é acreditarmos que estamos tratando a doença, ou evitando a sua progressão, quando na verdade estamos apenas controlando os sintomas.

Caroline Salazar: Com sua experiência, qual o melhor tratamento para eliminar a endometriose e devolver à portadora a qualidade de vida que ela tinha antes de começar a ter sintomas que alteram sua rotina?

Doutor Alysson Zanatta: Caroline, o tratamento sempre deverá ser individualizado e baseado em dois fatores principais: presença de dor e/ou infertilidade. A PRESERVAÇÃO da fertilidade daquela mulher que ainda não tem planos para engravidar também tem que ser levada em conta. Considerando uma mulher que tem sua qualidade de vida bastante afetada pela endometriose, penso que a cirurgia de remoção máxima da doença pode ser altamente eficaz para restabelecer seu bem-estar. Não falo de cirurgia de cauterização de focos, ou de cirurgia apenas para os cistos ovarianos de endometriose (endometrioma), mas sim de uma cirurgia que buscará a remoção máxima e completa dos focos profundos. Quando bem indicada e bem realizada, as taxas de sucesso são superiores a 80-90% para melhora de dor.

Caroline Salazar: Quando a paciente entra no seu consultório, e o senhor conclui que ela precisa ser operada, quais os cuidados que geralmente tem na informação sobre o quadro clínico e a preparação emocional da portadora? O senhor envolve também o parceiro dela nas consultas?

Doutor Alysson Zanatta: Certamente o parceiro da paciente, ou uma pessoa próxima, será fundamental para o sucesso do tratamento. Busco sempre informá-los ao máximo sobre a cirurgia, seus riscos e benefícios, para que decidam da melhor forma. A minha decisão jamais será suficiente para indicar uma cirurgia, mas sempre uma decisão em conjunto.
Se houver instabilidade emocional, a cirurgia é adiada até que haja um melhor momento. A informação e a empatia são as melhores armas para o restabelecimento da estabilidade emocional. E conseguimos isso após muitas horas de conversa, durante várias consultas. Assim, as pacientes chegam decididas e confiantes à cirurgia.

Caroline Salazar: Existe um enorme impacto para o casal e para a família quando a mulher é acometida por essa doença. Qual a importância que o doutor atribui à participação do homem nessa terrível jornada que é a endometriose?

Doutor Alysson Zanatta: O homem tem papel fundamental. Ele será o suporte, o ponto de apoio, durante a jornada que as mulheres enfrentam. Eles deverão entender que a mulher não se sente daquela maneira porque elas querem, mas sim porque têm uma doença real. Eles deverão reforçar positivamente que as dificuldades serão superadas, e de que sempre haverá um caminho a seguir. Com o acolhimento e o suporte positivo, os desafios tornam-se mais fáceis de serem enfrentados.

Caroline SalazarSão frequentes os casos em que o Dr. recomenda a histerectomia? Em que situações pode ser justificada a remoção dos ovários, das trompas e do útero?

Doutor Alysson Zanatta: Como tratamento exclusivo da endometriose, NÃO HÁ indicação de retirada de útero ou ovários, por um simples motivo: a doença não é causada pela menstruação. Entretanto, haverá situações onde existe simultaneamente a ADENOMIOSE, que se caracteriza por um “amolecimento” e crescimento irregular do miométrio (o músculo uterino), e que pode também ser fonte de dores e sangramento irregular, entre outros. A adenomiose costuma ser mais frequente após os 35 ou 40 anos de idade, idade em que muitas mulheres tiveram os filhos desejados. Assim, se houver adenomiose associada, e se a mulher já tiver realizado seus planos reprodutivos, podemos recomendar a histerectomia associada à remoção das lesões de endometriose. Cabe observar que a retirada única do útero em vigência de endometriose pode não ser suficiente para tratamento da dor, pois as lesões persistentes podem continuar prejudicando. Assim, o benefício ocorrerá apenas com a remoção da endometriose. A endometriose pode sim afetar as trompas uterinas, e maior ou menor grau. Devemos sempre ser conservadores, e a remoção das trompas estará indicada apenas nas distorções severas, especialmente quando houver hidrossalpinge (dilatação). Felizmente, são raras as situações onde são necessárias as remoções de ambas as trompas. Quanto aos ovários, estes deverão ser preservados quase sempre, salvo em raríssimas situações de comprometimento completo de sua função. Observo que muitas mulheres que chegam a mim já foram operadas no passado e tiveram um ovário retirado. Isso é extremamente ruim para a mulher, pois são nos ovários onde está concentrada toda sua reserva de óvulos, além do seu papel fundamental na produção de hormônios que dão proteção óssea e cardiovascular. Novamente, os ovários são retirados acreditando-se que a doença venha da menstruação, e que se retirássemos os ovários e interrompêssemos o estímulo para a menstruação, a doença estaria tratada. Isso não é verdade, e a retirada dos ovários pode apenas prejudicar ainda mais a mulher com endometriose.

Caroline Salazar: A maioria das mulheres são mutiladas numa cirurgia de endometriose e ainda continua com a doença. Como o senhor vê essa mutilação e como promover a preservação da capacidade reprodutiva da mulher?

Doutor Alysson Zanatta: Os melhores resultados cirúrgicos (efetividade na remoção da doença sem complicações cirúrgicas) dependerão de melhor capacitação da equipe médica, além da disponibilidade de materiais e condições hospitalares adequadas. A capacitação prevê uma longa curva de aprendizado. Lesões podem acontecer mesmo com equipes experientes, mas essas devem ser a exceção, e não a regra.

Caroline Salazar: Vários cirurgiões falam que a cirurgia pélvica para endometriose é a mais complexa que pode ser realizada no corpo humano. O que sustenta essa afirmação?

Doutor Alysson Zanatta: A completa distorção anatômica que pode ocorrer com a endometriose é o que pode tornar a sua cirurgia bastante complexa. Porém, nem todas as mulheres com endometriose têm essa distorção. Eu diria que a cirurgia é uma cirurgia de detalhes, de minúcia. Depende fundamentalmente da identificação das lesões (o que acontecerá apenas se você tiver visto endometriose no passado), do conhecimento da anatomia pélvica, da paciência em removê-las, e da iniciativa da equipe cirúrgica, assumindo riscos controlados para o maior sucesso da cirurgia.

Caroline Salazar: Tivemos o enorme prazer de tê-lo conosco na marcha de São Paulo, junto com o doutor Hélio Sato, que ocorreu simultaneamente em cerca de 60 países pela conscientização da endometriose. Como o senhor vê esse movimento iniciado pelo doutor Camran Nezhat a partir dos Estados Unidos?

Doutor Alysson Zanatta: Acho fantástico. Minhas maiores esperanças para avanços reais na luta contra a endometriose estão na conscientização e informação das mulheres e da sociedade. Só assim venceremos os mitos e avançaremos nos tratamentos.

Caroline Salazar: Agora como professor-adjunto de ginecologia na Universidade de Brasília o que o doutor pretende passar a seus alunos?

Doutor Alysson Zanatta: A empatia, a sensibilização com o sofrimento das mulheres que têm endometriose. Tento passar a não rejeição que nós médicos, involuntária e inconscientemente, podemos ter com os doentes para os quais nos sentimos incapazes de tratar. Ensino-os a fazer o diagnóstico precocemente a partir da história clínica e do exame ginecológico, pois isso pode mudar para melhor o destino da mulher.

Caroline Salazar: Desde os países mais desenvolvidos até aos mais modestos, mulheres de todo o mundo lutam para entender esse flagelo e para conseguir que os seus governos reconheçam a doença, implementando políticas de tratamento humanas e acessíveis a qualquer cidadã. Essa marcha tem vindo a unir essas vozes que nesse evento se juntam em coro. Hoje já verificamos que existem mais pessoas familiarizadas com o nome da doença. Esse movimento do povo para o povo, que importância tem na sua opinião?

Doutor Alysson Zanatta: A mobilização das portadoras é o principal movimento de todos, Caroline. Mais importante até do que movimentos científicos originados da classe médica. Quanto mais pessoas tiverem ouvido o nome da doença, maiores serão as chances de que as mulheres sejam diagnosticadas mais precocemente, e portanto com maiores chances de serem tratadas adequadamente.

Caroline Salazar: Por ser uma doença que não é visível exteriormente, muitas pessoas não acreditam no sofrimento das portadoras. Muitas vezes somos xingadas de toxicodependentes quando pedimos analgésico forte, ou de folgadas porque não conseguimos levantar da cama para fazer tarefa doméstica ou ir trabalhar. Isso gera muita frustração e desgosto, que um pouco por todo o mundo levou à utilização das redes sociais para criar grupos onde as portadoras se entreajudam e podem desabafar. Muitas delas resistem ao suicídio através desses grupos. Enquanto cirurgião, é importante que elas tenham essas âncoras emocionais?

Doutor Alysson Zanatta: Sem dúvida. O diálogo e o extravasamento de nossas angústias são necessários para que possamos vencê-las. A coragem em se manifestar é importantíssima. A troca de experiências tornará a mulher mais forte, mais orientada sobre a doença, e com maiores chances de tomar as decisões corretas para seu próprio tratamento.

Caroline Salazar: Poderíamos continuar nossa entrevista por horas sem esgotar o tema. Para finalizar, gostaria de referir que muitas portadoras partilham experiências sobre medicação, e também sobre o tempo de recuperação pós-operatório, inclusive, para reiniciar a atividade sexual. Pode nos dar uma opinião sobre os riscos e benefícios dessa partilha?

Doutor Alysson Zanatta: Caroline, entendo que as experiências serão diferentes e variadas, pois as cirurgias costumam ser diferentes. Além disso, há diferentes graus de endometriose, o que levará a essas diferentes experiências. Mesmo assim, não vejo risco algum nessa troca de experiências. Ela é importante para que a mulher possa discutir com o seu médico os aspectos de seu tratamento. É a partir da troca de experiência que surgem as dúvidas, e isso é muito bom. Mais uma vez, agradeço a ótima oportunidade de estar em contato com as leitoras do blog. Parabéns pelo seu trabalho, pela linda Bárbara e toda sua família. E vamos em frente sempre! 


Sobre o doutor Alysson Zanatta:
Graduado e com residência médica pela Universidade Estadual de Londrina, doutor Alysson Zanatta tem especializações em uroginecologia e cirurgia vaginal pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), cirurgia laparoscópica pelo Hospital Pérola Byington de São Paulo e doutorado pela Universidade de São Paulo, USP. Suas principais áreas de atuação são a pesquisa e o tratamento da endometriose, com ênfase na cirurgia de remoção máxima da doença. Seus inter­esses são voltados para iniciativas que promovem a conscientização da população sobre a doença, como forma de tratar a doença adequadamente. É diretor da Clínica Pelvi Uroginecologia e Cirurgia Ginecológica em Brasília, no Distrito Federal, onde atende mulheres com endometriose, e Professor-adjunto de Ginecologia da Universidade de Brasília (UnB). (Acesse o currículo lattes do doutor Alysson Zanatta). 

18 comentários:

  1. Oi Carol, é meu primeiro comentário no blog (apesar de já acompanhar há alguns meses). Sou portadora de endometriose, e realizei minha cirurgia há pouco mais de 1 mês. E estou ótima.

    Adorei a entrevista, mas fiquei com 2 dúvidas:

    1. Se a menstruação não é causa da endometriose, qual é a real causa? E pq a maioria dos tratamentos envolve o bloqueio da menstruação?

    2. Engravidar ajuda, atrapalha ou não faz diferença no tratamento e/ou estabilização da doença?

    Obrigada pelas informações de sempre!

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    1. Gabriela, a causa da endometriose é ainda motivo de investigação. Tudo o que existe são teorias de origem, umas fazem mais sentido do que outras, mas a verdade é que ainda não surgiu nada que prove sem margem para duvidas qual é a origem.

      A maioria dos tratamentos envolve o bloqueio da menstruação porque isso alivia os sintomas, mas não providencia cura nem é um tratamento. Podemos considerar como cuidado paliativo. Nada contra essa abordagem, desde que acompanhada por um tratamento eficaz, e o que apresenta maiores taxas de sucesso continua sendo a cirurgia. Providencia alívio dos sintomas e com isso uma melhoria da qualidade de vida, mas apenas isso. A endometriose continuará avançando silenciosa dentro da portadora e poderá causar problemas mais graves no futuro, já que a portadora quer mais é esquecer que tem um problema, e acaba ignorando a existência da endometriose, muitas vezes acreditando nos médicos que falam que com a pílula contínua o problema acaba.

      A gravidez pode ajudar temporáriamente, já que o corpo sofre uma alteração hormonal, passando ao mesmo estado que a pílula anticoncepcional imita (engana o corpo que reage como se estivesse em estado de gravidez). No entanto, no futuro os sintomas voltarão e isso não significa que a doença não tenha progredido até durante a gravidez.

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    2. Olá Gabriela, bom dia. Alexandre respondeu com clareza e precisão, e estou perfeitamente de acordo.

      Apenas acrescentaria que, muito possivelmente, a endometriose tenha uma origem embrionária, ainda durante nossa formação no interior do útero. Recentes trabalhos que mostram endometriose em fetos falam a favor dessa hipótese. É como se a mulher já nascesse com a predisposição, e as lesões crescessem progressivamente sob estímulos hormonal.

      Um abraço, e obrigado pelo seu interesse

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  2. Olá. Gostaria de saber mais sobre a origem da endometriose, pois eu sempre soube que era da menstruação. Obrigada bjs.

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    1. Bom dia, Joh. Esse é um tema de grande discussão, e extremamente necessário para avançarmos na efetividade do tratamento da doença.

      Como mencionei na resposta acima, acredito (assim como alguns outros médicos e pesquisadores) que a endometriose tenha uma origem embrionária, durante a formação dos órgãos da mulher ainda no interior do útero de sua mãe. É como se algumas "sementes" fossem plantadas em locais errados, e que depois crescessem sob estímulo de hormônios femininos ao longo da vida da mulher.

      Um grande abraço

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  3. Olá, Dr. Zanatta. Muito obrigada pelo seu excelente artigo. Ano passado passei por uma videolaparascopia e minha endometriose foi diagnosticada como estágio IV. Após cauterizacao de alguns focos e tratamento com um análogo do GnRH, uma segunda laparoscopia mostrou que estou agora no estágio I. Esta segunda cirurgia foi sem cauterizacao, várias aderências foram retiradas. Isso faz 3 meses. No momento, estou tomando Primolut em base diária para evitar sangramento. Mas ainda sinto dores.
    Gostaria de entender melhor o que faz a endometriose progredir. Eu achava que era a atividade dos ovários. Sem ovários sem endometriose, o que também não é uma solução no meu caso, porque estou num grupo de risco para reposição hormonal. Mas gostaria de entender e explicar melhor para minha família e amigos o que faz a doença progredir.
    Muito obrigada.

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    1. Olá Priscilla, boa noite. Obrigado pelo seu interesse, e desculpe a demora em responder.
      A endometriose é sim uma doença estimulada pelo hormônio feminino (estrogênio), produzido principalmente pelo ovário. Entretanto, a retirada dos ovários não deve ser recomendada como tratamento da endometriose, mas sim a retirada máxima da doença por cirurgia, ou eventualmente controle com medicação (que não cura a doença), a ser discutido com seu médico.
      Se ainda há dor, há de se entender se são dores de endometriose, ou de alguma outra causa. Hoje conseguimos saber com precisão se existe endometriose através de um exame ginecológico cuidadoso e uma ultrassonografia transvaginal com preparo intestinal ou ressonânca pélvica FEITA POR MÉDICOS EXPERIENTES NO DIAGNÓSTICO DA ENDOMETRIOSE. Infelizmente, são poucos. A partir da informação de que existe ou não endometriose, as decisões ficarão mais fáceis de ser tomadas.
      Torço para que fique bem, um grande abraço.

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    2. Muito obrigada por sua resposta, Dr. Zanatta.

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  4. As informações foram muito esclarecedoras. Mas as dúvidas sobre o meu caso só aumentam (e a angústia também). Fiz uma videolaparoscopia em 2009, com 39 anos (nunca engravidei), por conta de um endometrioma no ovário esquerdo. O ovário e as trompas do lado esquerdo foram retirados. Também foi encontrado um foco de endometriose pequeno na pelve. Nunca tive cólicas fortes, nem dores fortes, apenas tive dores eventuais na relação sexual. Agora surgiu um cisto no ovário direito que pode ser funcional, mas por conta do meu histórico o médico sugeriu tomar o Allurene. Após a leitura desta entrevista me veio a dúvida: se eu não sinto absolutamente nada e a pílula só serve para o controle dos sintomas e não evita nem piora as lesões da endometriose para que tomar o Allurene (uso contínuo) ? Gostaria de entender.

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    1. Boa noite, prezada Leyla. Concordo com você. Pessoalmente, não utilizo nenhuma medicação se não houver dor. Não há nenhuma prova científica que o Allurene (ou qualquer outra medicação hormonal) evite progressão da endometriose, apesar de ampla divulgação em contrário.
      Um abraço, e obrigado

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    2. Dr Alysson. Muito obrigada. Você não imagina o quanto isto é importante para mim. Sem palavras pelo alívio que a sua resposta me trouxe. Parabéns pelo seu trabalho. A sua competência e honestidade devem ser exemplo para os profissionais da área médica. Que você continue ajudando a todas nós portadoras desta doença tão desafiadora.

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    3. Meus desejos para que fique bem e tenha muita saúde, querida Leyla

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  5. Parabens pela entrevista! Extremamente esclarecedora!

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  6. O Dr Alysson atende por convênio?

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  7. Olá meninas, adorei o blog muito esclarecedor. Fiz um videolapatocopia dia 04-01'2016, o médico disse q estava apenas na vagina tirou um pouco mais de 10 focos de Endo. Vou retirar os pontos na segunda dia 11. Porém, Fiz a cirurgia no Paraná e moro em Rondônia, e este ano fizemos a loucura de vir de carro. Perguntei para o médico qdo eu estava liberada pra viajar, pois seria uma viajem longa de 3 dias sentada. Ele respondeu q poderia ser no mesmo dia da retirada dos pontos. Lendo alguns posts aqui no blog, fiquei preocupada. O q devo fazer?? Seria melhor ir de avião??

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  8. Olá meninas, adorei o blog muito esclarecedor. Fiz um videolapatocopia dia 04-01'2016, o médico disse q estava apenas na vagina tirou um pouco mais de 10 focos de Endo. Vou retirar os pontos na segunda dia 11. Porém, Fiz a cirurgia no Paraná e moro em Rondônia, e este ano fizemos a loucura de vir de carro. Perguntei para o médico qdo eu estava liberada pra viajar, pois seria uma viajem longa de 3 dias sentada. Ele respondeu q poderia ser no mesmo dia da retirada dos pontos. Lendo alguns posts aqui no blog, fiquei preocupada. O q devo fazer?? Seria melhor ir de avião??

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  9. Preciso encarecidamente de ajuda acerca dos valores que o Dr. Allyson cobra, valor consulta e média preço da cirurgia, por favor, pois meu caso não é dos melhores, eu já fiz duas cirurgias, a primeira quando descobri a endometriose, ano passado, com uma médica que não era especialista, através de um ultrasson descobri um endometrioma no ovário direito de 5 cm, ela retirou meu ovário e disse que eu estava curada, ingênua e desinformada, acreditei nisso, mas depois de seis meses estava eu me operando de novo, dessa vez por causa de cisto no outro ovário e aderências pélvicas, tirei um cistoadenoma seroso e dois endometriomas menores, o médico, dessa vez especialista, realizou uma vídeo, mas disse que como eu pretendia engravidar, não compensava retirar a lesão no intestino. Após a vídeo, que fiz em novembro, ele me receitou allurene, o qual tomei por apenas dois meses, pois inchou muito minha barriga e ocasionou uma constipação terrível, além de sangramento, o médico mudou para o cerazette, o qual esperei para tomar após o primeiro dia da menstruação, mas bem antes de menstruar, comecei a sangrar pelo ânus, como se eu estivesse menstruando, alternei diarreia com constipação e o inchaço horrível na barriga, quando faço esforço incha minha barriga, estou desesperada, só choro, e depois de ler essa entrevista, vi que a pílula contínua não vai resolver meu problema. Por favor eu só quero uma média dos valores, para eu poder me programar, pois já gastei muito dinheiro com essa doença, mesmo tendo convênio médico, agora vou vender meu carro, faço o que for preciso, só quero me ver livre desse tormento. Tenho 32 anos, não tenho filho. Por favor me responda. Email carla.84proc@gmail.com

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