Após sabermos como é o histórico, os sintomas, o diagnóstico e o tratamento cirúrgico, na última parte do texto sobre endometriose intestinal, o doutor Redwine fala sobre os cuidados pós-operatórios e as complicações que a paciente poderá ter. Essa parte é muito importante não só para as portadoras, mas para os médicos também. Boa leitura! Beijo carinhoso! Caroline Salazar
Por doutor David Redwine
Tradução: doutor Alysson Zanatta
Edição: Caroline Salazar
Cuidados
Pós-operatórios
Não é necessária nenhuma
mudança de cuidados em pacientes com ressecção intestinal tipo
“shaving” profundo, e elas podem receber alta no dia da cirurgia
caso tolerem líquidos e medicações por via oral sem vômitos, e se
forem capazes de urinar espontaneamente com sinais vitais normais. Em
pacientes com uma ou duas ressecções discoides de espessura total,
podem ser permitidos líquidos no mesmo dia logo após a cirurgia, e
a paciente pode ser liberada na parte da tarde se estiver estável.
Ela deverá receber uma dieta leve até iniciar a eliminação de
flatos.
Após resseções intestinais
segmentares, administra-se apenas cubos de gelo por via oral até que
a paciente inicie eliminação de flatos. Sondagem nasogástrica não
é necessária. Os flatos começam geralmente no quarto dia.
Começa-se então a administração de líquidos. Se a paciente
tolerar, progride-se para uma dieta líquida completa e a paciente
pode ser liberada. Em casa, acrescenta-se carboidratos por um ou dois
dias, seguida de carne, e então dieta conforme a aceitação. Essa
dieta deve conter poucos resíduos para ser facilmente digerida no
estômago e intestino delgado. Os principais itens a serem evitados
na dieta são aqueles ricos em fibra vegetal, como saladas e
vegetais, ou alimentos ricos em proteínas, como carne e feijão. O
volume de ingesta hídrica no pós-operatório também é importante,
pois água em grandes volumes pode sobrecarregar muito o intestino. A
maior parte das pacientes estará com dieta regular em 10 dias após
a cirurgia.
Complicações
Caso haja náuseas ou vômitos
significativos após a cirurgia, a paciente deverá receber apenas
líquidos até que esteja melhor, assim como deverá evitar
analgésicos narcóticos. Esses analgésicos podem causar gastrite e
estimularem o centro neural de vômitos causando problemas em algumas
pacientes. A paciente deverá informar o médico sobre condições
incomuns como vômitos persistentes, piora da dor ou distensão
abdominal, ou febre, para que eventuais complicações possam ser
consideradas. A desidratação causada pela redução da ingesta oral
pode às vezes confundir o quadro já que a paciente pode apresentar
fraqueza e vômitos nessas circunstâncias. Se a paciente ligar para
informar problemas, podemos obter informações clínicas relevantes
pedindo a algum familiar que encoste o ouvido sobre o abdômen da
paciente e ouça o som de movimentos intestinais, e que meça a sua
temperatura. Informações sobre desidratação podem ser obtidas
questionando-se o débito urinário nos últimos dois dias.
Se houver preocupação quanto
à uma complicação importante, e paciente deverá ser levada ao
hospital para que se realize exames de sangue, culturas se houver
possibilidade de infecção, assim como testes de integridade dos
tratos urinário e intestinal. Para as ressecções de ceco,
retossigmoide, e algumas ressecções de íleo, os enemas
contrastados com água ou bário podem dar rápidas informações
sobre extravasamentos intestinais. Alguns radiologistas podem
manifestar preocupação que, caso haja algum extravasamento, a
paciente possa piorar com a realização do exame. Esta preocupação
é infundada. Tal extravasamento deve ser identificado pois pode ser
potencialmente fatal e se for identificado isso levaria a paciente
para uma cirurgia imediata de qualquer maneira para correção do
problema e limpeza do contraste extravasado. Tomografia
computadorizada com contraste oral ou endovenoso ou pielografias
contrastadas podem ser úteis na identificação de problemas no
trato urinário ou intestino delgado. Radiografias abdominais simples
podem identificar íleo paralítico com excesso de gás no intestino
delgado e níveis hidroaéreos aumentados. Ar livre sob o diafragma
pode estar relacionado à cirurgia recente e também pode indicar um
extravasamento intestinal.
Algumas pacientes podem estar
tão graves que a realização de exames passa a não fazer sentido,
e a cirurgia de urgência torna-se a melhor escolha. Se a paciente
for levada à cirurgia de urgência sem a realização de exames de
imagem, o corante índigo carmin deverá ser injetado por via
intravenosa durante a cirurgia já que algumas pacientes podem ter
lesão concomitante do trato urinário. A insuflação de ar no reto
imerso em líquido pode ajudar a identificar pequenos extravasamentos
no cólon. As grandes perfurações serão óbvias pela presença de
líquido fecal de mau odor. Eventualmente, não será encontrada uma
perfuração intestinal, e o quadro clínico da paciente poderá ser
devido à uma complicação urinária. Um líquido turvo que pode ser
encontrado durante a cirurgia pode ser confundido com um abscesso
inicial, se o cirurgião estiver focado em uma perfuração
intestinal mais preocupante.
Durante a cirurgia, o reparo
das lesões intestinais e urinárias estará frequentemente sob os
cuidados de um cirurgião geral ou urologista, e tais reparos estão
além do objetivo desse artigo. Pequenas lesões intestinais que são
tratadas precocemente podem necessitar apenas de suturas.
Sobre o doutor Alysson Zanatta:
Graduado e com residência médica pela Universidade Estadual de Londrina, doutor Alysson Zanatta tem especializações em uroginecologia e cirurgia vaginal pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), cirurgia laparoscópica pelo Hospital Pérola Byington de São Paulo e doutorado pela Universidade de São Paulo, USP. Suas principais áreas de atuação são a pesquisa e o tratamento da endometriose, com ênfase na cirurgia de remoção máxima da doença. Seus interesses são voltados para iniciativas que promovem a conscientização da população sobre a doença, como forma de tratar a doença adequadamente. É diretor da Clínica Pelvi Uroginecologia e Cirurgia Ginecológica em Brasília, no Distrito Federal, onde atende mulheres com endometriose, e Professor-adjunto de Ginecologia da Universidade de Brasília (UnB). (Acesse o currículo lattes do doutor Alysson Zanatta).
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