Por doutor David Redwine
Tradução: doutor Alysson Zanatta
Edição: Caroline Salazar
Diagnóstico
Enemas
opacos,
ultrassonografia,
colonoscopia, ressonância magnética (RM) ou tomografia
computadorizada (TC) raramente diagnosticam a endometriose
intestinal. Isso acontece porque a doença começa na serosa (nota do tradutor: camada superficial externa) e,
ou permanece nessa camada, ou invade a camada muscular em grau
variável, porém raramente envolve a mucosa (nota
do tradutor:
camada mais interna).
Exames pré-operatórios ou colonoscopia que diagnosticam a doença
dependem de um grau suficiente de distorção do segmento intestinal
acometido [24, 30, 31, 32, 33]. Ocasionalmente, a colonoscopia pode
reproduzir a dor da paciente quando se alcança um nódulo durante o
exame.
O
exame físico pode sugerir a possibilidade de acometimento intestinal
pela presença de nódulo no fundo de saco associado à uma
sensibilidade intensa que pode reproduzir a dor da paciente. Nem
todos os nódulos que podem ser encontrados durante a cirurgia serão
palpáveis durante o exame físico [34, 35]. Em algumas pacientes, o
fórnice vaginal posterior é invadido pela endometriose que se
estende do reto ou do ligamento útero-sacro. Quando presente, a
endometriose vaginal pode se manifestar simplesmente como um
enrugamento epitelial (as estruturas “semelhantes a mamilos”, de
Lockyer) sem descoloração, como um enrugamento epitelial com
pápulas arroxeadas, ou pelo envolvimento de toda sua espessura por
uma superfície polipoide avermelhada que é sangrante em algumas
ocasiões. Essas manifestações da endometriose vaginal são
frequentemente ignoradas no consultório porque o espéculo costuma
ser usado apenas para colher a citologia do colo do útero. O
espéculo deve ser direcionado posteriormente para examinar o fórnice
posterior em todas as pacientes.
O
diagnóstico mais preciso da endometriose intestinal ocorre durante a
cirurgia e cada área potencial de acometimento pode ser vista
facilmente com o laparoscópio. Após examinar o abdômen superior e
o diafragma, o ceco e o apêndice são inspecionados.
A
endometriose do apêndice se manifesta mais comumente como uma área
cicatricial esbranquiçada, em sua porção média ou em sua ponta, o
que faz com que o apêndice se dobre sobre a área cicatricial.
Alterações hemorrágicas são incomuns. Uma das primeiras
impressões do cirurgião é que o apêndice dobrado sobre si mesmo
não consegue ser esticado, mesmo sendo tracionado (Fig. 1).
Figura
7. Tanto a doença de Crohn como a endometriose podem estar
associadas a adenopatia mesentérica, vista como pequenos nódulos
“semelhantes à carne” no interior da gordura mesentérica.
A
endometriose do retossigmoide pode estar presente como pequenas
máculas esbranquiçadas assintomáticas ou acinzentadas com pequenas
alterações hemorrágicas (Fig 8.). Assim como a endometriose
do íleo, os nódulos de endometriose do retossigmoide estão
localizados na borda anti-mesentérica da parede intestinal e ocorrem
mais comumente adjacentes à reflexão do fundo de saco ou na porção
média do sigmoide alguns centímetros mais longe. Raramente haverá
dois nódulos de endometriose do retossigmoide na mesma paciente. Os
nódulos no sigmoide são esbranquiçados devido à hiperplasia
fibromuscular subjacente e pode haver uma pequena (ou nenhuma)
alteração hemorrágica. Mais comumente, a área de máxima retração
fibrótica da parede intestinal anterior no centro do nódulo
apresentará alterações hemorrágicas e adesões hemorrágicas
superficiais. Pode haver hipertrofia localizada ou generalizada dos
apêndices epiploicos em um ou ambos lados do intestino (Fig. 9).
Figura
8. Endometriose superficial do cólon sigmoide. As quatro
lesões hemorrágicas, duas na serosa e duas nos apêndices
epiploicos, chamam a atenção mais facilmente do que os quatro
nódulos esbranquiçados (setas).
Figura
9. Um nódulo de endometriose na porção do sigmoide é visto no
centro da imagem. A parede intestinal é nodular e esbranquiçada,
particularmente no lado direito. Na linha média do intestino
anterior, é vista uma área de hemorragia, assim como uma
hipertrofia localizada do apêndice epiploico. Essa é a mesma
paciente da endometriose de íleo vista na Fig. 4.
A
obliteração do fundo de saco ocorre quando a porção inferior do
retossigmoide está aderida à face posterior do colo uterino e
ligamentos útero-sacros. Essa condição está frequentemente
associada à presença de endometriomas ovarianos que podem esconder
a verdadeira doença (Fig. 10). Apesar do aspecto ser aquele de
aderências com pequenas lesões hemorrágicas superficiais sobre as
aderências, a obliteração do fundo de saco significa a presença
de doença invasiva oculta sob as superfícies, incluindo os
ligamentos útero-sacros, o colo posterior, e usualmente a parede
intestinal. Quando o intestino for acometido por nódulos, sua parede
ficará arredondada (Fig. 11). Quando não houver doença ou
esta for pequena, o reto estará esticado ao se juntar ao colo
uterino (Fig. 12). Eventualmente, poderá estar presente uma
endometriose de vagina com obliteração do fundo de saco. A
“endometriose do septo retovaginal” pode ser na verdade um termo
incorreto que é vigente há quase um século [2, 36]. Enquanto uma
doença extensa, como aquela que pode ser encontrada com bloqueio de
fundo de saco, pode habitualmente ser palpada entre os dedos com o
exame vaginal e retal combinados, o tecido areolar do septo estará
raramente comprometido. Haverá apenas um pequeno comprometimento por
fibrose na porção final do septo retovaginal onde o grande nódulo
o invade, devido ao seu crescimento expansivo com o avançar da
doença. Assim como em outras áreas pélvicas, o tecido gorduroso é
francamente poupado da invasão pela endometriose.
Figura
10. Cistos de endometriomas ovarianos bilaterais estão aderidos
entre si e ao útero na linha média. O reto pode ser visto entre os
ovários e parece estar sendo puxado para fora de sua posição
normal. De fato, a obliteração completa do fundo de saco está
presente, porém largamente obstruída pelos ovários. Pacientes com
endometriomas ovarianos têm maiores chances de acometimento
intestinal, assim como maiores chances de comprometimento pélvico
mais significativo.
Figura
11. Obliteração completa do fundo de saco. Há apenas uma pequena
lesão hemorrágica ao longo da linha de aderência entre o reto e o
colo posterior. A parede do reto está discretamente arredondada,
indicando que está infiltrado por endometriose, assim como os
ligamentos útero-sacros e o colo posterior.
Figura
12. Obliteração completa do fundo de saco. A parede do reto está
achatada no ponto que está aderido ao colo posterior, indicando
pequena ou nenhuma infiltração da parede intestinal por
endometriose.
Sobre o doutor Alysson Zanatta:
Graduado e com residência médica pela Universidade Estadual de Londrina, doutor Alysson Zanatta tem especializações em uroginecologia e cirurgia vaginal pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), cirurgia laparoscópica pelo Hospital Pérola Byington de São Paulo e doutorado pela Universidade de São Paulo, USP. Suas principais áreas de atuação são a pesquisa e o tratamento da endometriose, com ênfase na cirurgia de remoção máxima da doença. Seus interesses são voltados para iniciativas que promovem a conscientização da população sobre a doença, como forma de tratar a doença adequadamente. É diretor da Clínica Pelvi Uroginecologia e Cirurgia Ginecológica em Brasília, no Distrito Federal, onde atende mulheres com endometriose, e Professor-adjunto de Ginecologia da Universidade de Brasília (UnB). (Acesse o currículo lattes do doutor Alysson Zanatta).
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