terça-feira, 4 de novembro de 2014

"GESTAÇÃO DO CORAÇÃO": POR QUE OPTEI GERAR MEU FILHO NO CORAÇÃO?

Imagem cedida por Free Digital Photos
É com grande satisfação que estreamos hoje a coluna "Gestação do Coração", que vai contar a saga de Ane e Paulo em busca do sonho de serem pais. Ane é quem vai escrever a coluna relatando passo a passo como é o processo de adoção no Brasil. Ane é nossa velha conhecida no blog. Ela é esposa de Paulo, que escreve a "Endo Social" e também a "A Vida de um Endo Marido". Já contamos a história dela com a endo e a infertilidade no blog, e com certeza, essa será mais uma coluna com o objetivo de levar mais esperança, mais perseverança e, principalmente, mais amor aos endo casais, em especial, às endo mulheres. Nos outros textos que falamos sobre o tema, vi que há grande repercussão nos grupos, pois há sim muitas pessoas que também optaram por ter seus filhos de coração. Mas, também, há aqueles que torcem o nariz quando o assunto é abordado. Pretendemos tirar o mito de que filho é apenas aqueles que geramos em nossa barriga. Mesmo quando geramos em nosso ventre, de onde vem o amor? Não é do coração? Então, porque não gerar um filho lá?! A coluna vai tratar, em especial, da adoção tardia e também daqueles que são excluídos, como por exemplo, as crianças negras. O filho de Ane e Paulo será de um dos menos propensos a adoção. Meus parabéns ao casal por ter a mente e o coração tão abertos ao amor ao próximo, e por dar chance a uma criança fora do estereótipo de adoção a voltar a sorrir! Por isso tenho certeza do sucesso desta coluna. Aqui abriremos espaço àquelas que querem contar suas histórias com seus filhos do coração. A coluna ficará hospedada em "Superando a Endo Infertilidade". Não podemos nunca perder a fé e a esperança de realizar nossos sonhos. Beijo carinhoso!! Caroline Salazar

Por que optei gerar meu filho no coração?

Por Ane Bulcão 

Olá queridos leitores e queridas leitoras! Após contar minha história com a endometriose no A Endometriose e Eu, passo a ser a nova colunista do blog. Na coluna intitulada “Gestação do Coração” vou falar sobre a experiência de gerar um filho no coração... Pois é, como meu esposo Paulo contou no mês passado em “A Vida de um Endo Marido - Por que resolvi ter meu primeiro filho de coração”, não podemos ter filhos naturalmente e a indicação dos médicos de fazermos a FIV está fora de cogitação neste momento, pois o alto-custo do tratamento foge de nossas possibilidades financeiras.

No entanto, isso nunca foi um motivo de tristeza ou frustração para nós, pois bem antes de sabermos de minha doença, ainda quando eu e Paulo namorávamos, nós já tínhamos decidido em adotar uma criança. Sempre tive esse sonho que foi inspirado ao ver meu pai que com muita dedicação lutava para defender os direitos de crianças e adolescentes da pequena cidade onde morávamos na Bahia. Meu pai era conselheiro tutelar e também foi presidente do conselho da criança e do adolescente e isso me fascinava e eu dizia comigo mesma: “Quando eu crescer eu vou adotar uma criança, graças a Deus, Paulo também sempre teve esse sonho. Quando fomos conversar sobre esse assunto, a princípio ambos ficamos apreensivos com medo do outro não aceitar (risos), mas Deus é lindo e sabe o que faz né. Quando resolvemos compartilhar com os amigos sobre a decisão de adotar uma criança, nós ouvimos de tudo um pouco, desde aqueles que nos parabenizaram e incentivaram, aos que tentaram nos dissuadir com argumentos nada sólidos do tipo: diziam que é perigoso adotar porque não se sabe de onde vem a criança e que ela talvez poderia “reproduzir” as coisas ruins que seus pais de repente tivessem feito! Imagina só que loucura.

Mas nós entendemos que filhos são benção de Deus, e que a adoção é um ato de amor sublime e a inspiração encontramos no próprio Pai do céu que nos adotou como filhos através de Jesus Cristo. Também tivemos de saber lidar com a estranheza e preconceito velado de muitos, uma vez que o perfil de criança que escolhemos está fora do padrão convencional dos pretendentes a adoção, pois optamos pela adoção tardia (criança com idade acima de 3 anos até os 7 e meio), e criança negra. Nós conversamos muito sobre isso e os riscos que implicariam nessa decisão, e vamos em frente.

Ficamos imaginando essas crianças que estão nos abrigos vendo as pessoas entrando e saindo de lá com bebês brancos no colo... (essa é a preferência da maioria dos pretendentes a adoção). Penso que por vezes estes pequenos em sua oração antes de dormir peçam a Deus que alguém os escolham para dar-lhes um lar e nos comovemos. Tenho uma amiga que adotou uma criança, e ela me falou que certa vez quando ela foi num abrigo olhar algumas crianças, uma menina de uns 5 ou 6 puxou a barra de sua saia e disse-lhe: “Tia me adote, eu vou ser uma boa filha, vou arrumar meu quarto e te obedecer!” Nossa, meu coração se encheu de compaixão e amor e se antes eu tinha alguma dúvida com este testemunho de minha amiga, elas se acabaram. Essas crianças necessitam de um lar onde elas se sintam amadas e protegidas. Eu acredito que nós seres humanos estamos em constante formação, nunca prontos e acabados, por isso a máxima de que seria impossível educar uma criança maior por que ela já estaria com seu caráter e personalidade formados, na minha concepção não passa de clichê ou desculpa para não adotar, uma vez que educar uma criança grande demandaria maior esforço e dedicação, e sobretudo, muito amor para não desistir tão facilmente desta vida. Caso venham surgir problemas, isso não significa que esta tarefa seja impossível. Sei de uma coisa, Deus nos ama incondicionalmente e não desiste nunca de cada um de nós, mesmo quando somos rebeldes e lhe voltamos as costas, por isso eu acredito no poder transformador do amor.

E foi nessa certeza que no final do mês de agosto eu e Paulo demos entrada com a documentação no fórum da nossa região aqui em São Paulo, dando início oficialmente, à nossa gestação no coração. Como toda gestação leva um tempo desde o início até o fim pretendemos compartilhar cada passo e progresso que fizermos neste processo, com todos os leitores do blog, que também abriram seus corações para este nobre ato de amor e que entendem que ser mãe ou ser pai é muito mais do que gerar, é também quem cria com todo amor e carinho. E àqueles que de repente não se sentem preparados para adotar, entendo que nem todos estão prontos para tal, isso é direito que cada um tem, mas por favor uma dica que dou (somente aos que fazem isso, tem gente que não faz) se você não quer também não precisa ficar tentando fazer mudar de ideia quem deseja adotar com os argumentos já citados acima, pois assim como as crianças que estão nos abrigos, tem direito de ter uma família que as ame, essas pessoas também tem direito de se permitirem ser “adotados” por uma criança e vivenciarem esta linda experiência de serem mães e pais.


Devo dizer que cada progresso feito será relatado aqui, de acordo com o andamento do processo, por isso creio que isso não acontecerá mensalmente, pois como nós sabemos aqui em nosso Brasil o processo de adoção não é tão rápido. No próximo texto contarei como foi a visita da assistente social na nossa casa e a entrevista com a psicóloga no fórum, como nos sentimos nos dias que antecederam a este momento. Espero do fundo do meu coração que essa coluna possa levar ainda mais esperança aos endo casais que se encontram na mesma que eu e meu marido, e que ela ensine a todos nós como é dar um lar a uma criança que precisa de muito amor. Fiquem com Deus. Um beijo carinhoso!

2 comentários:

  1. Queridos Paulo & Ane, desejo que a gestação do coração de vcs seja uma benção e que o parto aconteça na hora determinada por Deus. Desfrutem da beleza desta gestação pois ela é muito real. Com carinho, Luciane, autora do blog "Gravidez Invisível" que visa colaborar para a nova cultura da adoção no Brasil.

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  2. Assim mesmo! Filho é filho, independente de como foi gerado! Há tantos filhos sanguíneos que dão um trabalhão! Meu filho nasceu no meu coração e é melhor do que mil filhos gerados no ventre! Parabéns, Ane! Por Urânia Vianna

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