O americano doutor John A. Sampson
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Muito se fala na teoria da menstruação retrógrada, ou simplesmente, a teoria de Sampson como a principal causa da endometriose. Mas você sabe quem foi Sampson? Você sabe o que diz sua teoria? Você sabe se essa teoria foi comprovada cientificamente? Há provas de que a endometriose é causada pela menstruação retrógrada? Se mais de 80% das mulheres no mundo têm a chamada "menstruação retrógrada" por que apenas 10 a 15% delas desenvolvem a doença? Nosso parceiro exclusivo, o médico, cientista e estudioso da endometriose, o americano David Redwine decifra quem é Sampson e discorre sobre sua tão falada teoria. Hoje iniciamos um bloco das traduções do Redwine que vai ajudar a tirar o principal mito sobre a doença. Esse é apenas o primeiro texto! Estamos rumo aos 2 milhões de acessos, e esses textos são o presente especial do nosso colaborador voluntário, o endo marido português, Alexandre, aos leitores do blog. Meu agradecimento especial ao Alexandre por usar os dias de suas preciosas férias a trabalhar nesses textos. Leia aqui a entrevista exclusiva de David Redwine concedida ao blog em sua passagem ao Brasil. Beijo carinhoso!! Caroline Salazar
Por doutor David Redwine
Tradução: Alexandre Vaz
Edição: Caroline Salazar
Quem foi Sampson e qual é a sua teoria para a
endometriose?
Quem foi
Sampson?
Um bacharel em
ginecologia de Albany, Nova York.
Qual é a teoria
de Sampson?
Trata-se da
teoria de origem da endometriose mais aceita e popular, desenvolvida na década
de 1920.
O que afirma
essa teoria?
Todo mês, durante a menstruação, ao invés de todo o sangue menstrual sair pela vagina, alguma porção desse sangue segue o caminho inverso e acaba voltando pelas trompas. Esse sangue menstrual carrega algumas células vivas do revestimento do útero. Essas células entram em contato com a superfície da pelve, onde se depositam, implantam-se e daí se transformam em endometriose. Uma versão anterior da teoria postulava que a endometriose poderia ocorrer por implantação resultando da ruptura e derrame dos endometriomas do ovário (cistos conhecidos como "chocolates").
Todo mês, durante a menstruação, ao invés de todo o sangue menstrual sair pela vagina, alguma porção desse sangue segue o caminho inverso e acaba voltando pelas trompas. Esse sangue menstrual carrega algumas células vivas do revestimento do útero. Essas células entram em contato com a superfície da pelve, onde se depositam, implantam-se e daí se transformam em endometriose. Uma versão anterior da teoria postulava que a endometriose poderia ocorrer por implantação resultando da ruptura e derrame dos endometriomas do ovário (cistos conhecidos como "chocolates").
O que prevê
essa teoria?
A teoria de
Sampson prevê que a endometriose irá progressivamente espalhar pela pelve com o
passar do tempo, igual a semente de dente de leão (nota do
tradutor: sabe aquela planta que as crianças adoram brincar de assoprar e
que sai vários pedacinhos? O vento bate e espalha a semente de dente de leão,
do mesmo jeito que as células endometriais se espalham na pelve soltando um
monte em pedacinhos quando bate o vento). Mais e mais superfícies na pelve
serão afetadas pela doença, e a taxa de recorrência após remoção cirúrgica será
de 100%.
Existe prova
cientifica irrefutável apoiando essa teoria?
Não, e já deveria existir considerando o tempo que passou (quase 100 anos após sua descoberta). A literatura sobre a teoria de Sampson detalha uma variedade de provas circunstanciais que parecem suportar quase todos os pontos da teoria. Foram encontrados traços de sangue no dialisato peritoneal (nota da editora: líquido drenado do abdômen) durante o fluxo menstrual em mulheres que realizavam diálise para doença renal (embora esse estudo não tenha buscado a presença de células endometriais).
Não, e já deveria existir considerando o tempo que passou (quase 100 anos após sua descoberta). A literatura sobre a teoria de Sampson detalha uma variedade de provas circunstanciais que parecem suportar quase todos os pontos da teoria. Foram encontrados traços de sangue no dialisato peritoneal (nota da editora: líquido drenado do abdômen) durante o fluxo menstrual em mulheres que realizavam diálise para doença renal (embora esse estudo não tenha buscado a presença de células endometriais).
Nas
laparoscopias realizadas durante o período menstrual, foram observadas fluido
com sangue saindo das trompas de Falópio (embora quando inserido uma vareta
rígida no útero para manipulação, isso também pode causar algum sangramento
cuja saída pode ocorrer forçadamente pelas trompas). Células endometriais foram
encontradas nas trompas, no fluido peritoneal e também no sangue menstrual.
As células
endometriais que foram encontradas no sangue menstrual são viáveis e podem ser
cultivadas em laboratório (ainda que tenham crescido em tecido subcutâneo das
próprias dadoras em apenas 11% dos casos). Sampson demonstrou que se uma
histerectomia fosse realizada durante o período menstrual, se o cirurgião cortasse
a trompa de Falópio junto ao útero e apertasse-o com os dedos, poderia fazer
com que o sangue saísse da ponta da trompa cortada. A distribuição da
endometriose na pelve tem sido apontada como uma das provas fortes que apoiam a
teoria de Sampson.
Foi debatido
que os ovários eram a área pélvica geralmente mais afetada, já que estão mais
perto do término das trompas de Falópio. Por isso a deposição e a fixação das
células endometriais expelidas deveriam ocorrer primariamente nessa região
(eventualmente, Sampson percebeu que os ovários não são a área mais afetada, e
sim, a parte inferior da pelve).
Foi mais tarde
postulado que o fundo da pelve é a área mais afetada devido aos efeitos da
gravidade, que puxaria essas células endometriais viáveis para o Saco de
Douglas (então, a teoria de Sampson pode sofrer mutações para se ajeitar à
informação disponível).
Foi sugerido
que a endometriose se espalha progressivamente como se tratasse de um campo
agrícola sendo semeado (observações em mulheres de idade mais avançada não
demonstraram uma maior distribuição da doença no mapa pélvico).
Foi debatido
que a existência de uma taxa de recorrência de 100% após a cirurgia se deve ao
simples fato de que a pelve recebe novas células endometriais todo o mês (e, no
entanto, as taxas de recorrência publicadas são bem menores que isso) e a
elevada taxa de “recorrência” será simplesmente devida à persistência da doença
que não foi destruída pela vaporização superficial a laser, ou
eletrocoagulação, ou terapia medicamentosa.
Joseph Meigs,
um renomado ginecologista de meados do século XX, escreveu em 1953 que a
endometriose poderia ser curada através de cirurgia conservativa (isso mesmo,
ele usou a palavra começada pela letra C).
Se você não
olhar com muita atenção e de forma crítica para a teoria de Sampson e ignorar
as palavras entre parentesis, ela parece bastante perfeita. Se pelo menos a
realidade das portadoras coincidisse com a teoria, tudo seria perfeito. Mas não
é. A vida é imperfeita porque a teoria está errada e existem dados científicos
inegáveis que mostram isso mesmo.
Para entender a
falha da teoria de Sampson, tudo que precisamos fazer é visualizar uma floresta
de pinheiros. Quando percorremos o terreno da floresta, o que está estalando
por baixo dos nossos pés? É o som de pinhas embaixo dos nossos sapatos. Quando
olhamos para o chão, verificamos que a gravidade mantêm as pinhas no chão.
Também poderemos observar novos rebentos e árvores jovens entre as que já
atingiram a maturidade.
Agora vamos
imaginar o assoalho pélvico. A teoria de Sampson prevê que células endometriais
individuais devem grudar nas superficies do assoalho pélvico em quantidades
assinaláveis. Essas células não são pequenas e devem ser facilmente observáveis
através de um microscópio. Deveria ser facílimo descobrir essas células
grudadas. Poderíamos inclusive fazer biópsias aleatórias e esperar encontrar
essas células com um microscópio. A essa altura os livros deveriam estar cheios
de microfotografias de dezenas ou centenas dessas células grudadas.
Além disso,
deveria existir abundância de provas da invasão progressiva dessas células
grudadas na superfície pélvica, seguido da evolução dessas células para o
estado de endometriose. Esse trajeto da ligação inicial das células
endometriais e a sua metamorfose para endometriose deveria ser informação
fácil de encontrar e de provar através de registros fotográficos. Essas provas
visuais deveriam constituir a introdução de cada apresentação da teoria de
Sampson em cada manual, e, no entanto, não estão lá porque essa abundância de
provas não está disponível.
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