O que fazer com essas pessoas? Eu simplesmente aprendi a ignorar. Não há nada mais sábio que "ignorar os ignorantes". Entrei 2014 tendo essa frase como um de meus lemas. Assim evita-se discussão. E são as atitudes que demonstram quem é realmente cada um de nós. Atitudes, muitas vezes, falam mais que palavras. E não podemos esquecer que tem alguém que está vendo tudo: Deus. E como diz Zeca: "Deixe a vida me levar, vida leva eu!" Sejam felizes com a vida que Deus te deu! Um beijo carinhoso!! Caroline Salazar
Pessoas xeretas, como lidar?
Por Alexandre Ferreira
Tem horas que a
gente nem sabe o que sentir ou pensar. O último dia 21 de junho foi um dia bem legal para nós. Tive o prazer
de ser convidado, junto com minha esposa, para a festinha de um garotinho que
fez 2 anos. Foi uma fusão de povo brasileiro e português. Mamãe brasileira e
papai português, saiu um menino lindo com umas bochechas bem grandonas e um
sorriso que é o xodó do casal.
Festinha de quintal, com a garotada brincando e churrasquinho para os adultos. Olha, foi uma coisa bem legal, eu tive um tiquinho de amostra do que é o jeito de vocês aí no Brasil. Faltou o samba, pagode, essas coisas, mas Brasil só tem um, então, para perceber como é de verdade só mesmo estando aí um dia.
É claro que não
podendo ter filho, e tendo que entrar em loja para comprar o presente do guri,
já começa o massacre. É duro ficar olhando brinquedo para o filho dos outros.
Piorou quando a moça da loja veio com conversa mole falando se era para o nosso
filho. Lá veio a informação de que não temos, a pergunta dela se não vamos ter,
a resposta de que não podemos, e a lamentação típica de quem pisou na bola e
vai pedindo desculpa. Todo casal na mesma situação já passou por isso, pior que
doloroso é que fica cansativo. Até hoje eu me pergunto: porquê as pessoas ficam
xeretando na vida dos outros e passando julgamento?
Na festinha, a gente
fica vendo um casal após o outro entrar tudo com menino de colo. Claro que os
outros não têm culpa de a gente não poder ter filho, e não vamos descontar em
ninguém. Aliás, ficamos felizes vendo a felicidade dos outros, sem inveja e sem
ressentimento da vida. Tudo isso me deu a ideia de falar dessa parte que eu acho que ainda não foi
abordada no blog, mas se foi nunca é demais. Como reagir a essas situações quando
se enfrenta a infertilidade?
Brasileiro não é
assim tão diferente de Português, sempre tem uma expressão para tudo. E tem uma
que eu gosto particularmente, que aliás escutei recentemente em uma música do
Zeca Pagodinho: “ao trancos e barrancos lá vou eu”. A vida não é simpática, não
pretende ser. Cada um recebe e carrega a sua cruz, umas mais pesadas que
outras, mas quando Deus nos entrega o destino é aceitar com muita humildade e
botar o pé na estrada seguindo em frente e agradecendo. Sempre tem algumas
coisas que a gente não gosta, umas até que parecem crueldade. Infertilidade
para muitos é uma catástrofe.
Mas eu vou falar
aqui o que o padre - quem cuidou do nosso casamento - falou quando nos
reencontramos algumas semanas atrás. Ele quis saber se estava tudo bem. Claro
que perguntou se tínhamos filhos, e quando percebeu que não, e que também não
tínhamos planos para adotar, ficou um pouco mais atento à explicação do que
fazíamos com o nosso tempo. Reagiu com muita naturalidade ao saber que
trabalhamos para ajudar pessoas que precisam, e o comentário dele foi muito
interessante: “Existem muitas formas de sermos fecundos, não apenas
procriando.” Poucas palavras, mas sábias e respeitosas. Esse aí não é apenas um
padre, é um homem de grande coração e que sabe olhar a frente. Nós não somos
seres cuja única missão é gerar vida. O homem é uma criatura multidimensional,
capaz de ínumeras ações, de fazer o bem de diversas formas. Esse padre escolheu
uma via que não passa por gerar descendência, mas ele também é fecundo ao se
entregar a melhorar a vida de muitas pessoas, não apenas dos seus fiéis, mas de
todos os que o procuram para buscar conselho e conforto.
Eu posso dizer que,
desde então, eu reajo melhor às pessoas que fazem perguntas sobre questões
privadas e que podem até ser dolorosas. Ao invés de responder com ironia, muitas
vezes o meu silêncio é a melhor resposta. As vidas das pessoas são todas
diferentes, independentemente do que a sociedade nos empurra como sendo o
modelo “aceitável”. E cada um leva do jeito que pode, ninguém tem nada que ver
com isso. Abençoe a ignorância das pessoas que cruzarem seu caminho. Elas são
felizes e despreocupadas, desconhecem a sua realidade porque não sentem a mesma
dor. Deus os continue abençoando, e quem sabe, coloque uma jabuticaba na boca
deles para não falarem tanta besteira.
Continuo agradecendo
por minha esposa, todos os dias. Eu a acho linda, inteligente e não lamento
nada. Gostaria que ela não tivesse essa doença, e que não sofresse tanto, mas
ela tem e reclamar do destino não adianta coisa nenhuma. Então, eu deixo a vida
me levar, porque quando eu quis forçar o caminho pelo meio do mato, teimando em
fugir da estrada tortuosa que a vida me apresentou, eu só me dei mal. A estrada
poderia ser mais direita, asfaltada, com uma banca de limonada fresca a cada 2 quilômetros, mas ainda assim é muito melhor do que ficar pendurado pelo pescoço
nas lianas que tem no meio do mato.
É por isso que essa
música do Zeca faz tanto sentido. Sou feliz e agradeço por tudo o que Deus me
deu.
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