sexta-feira, 4 de julho de 2014

"A VIDA DE UM ENDO MARIDO": COMO LIDAR COM AS PESSOAS XERETAS??

Neste texto de "A Vida de um EndoMarido", o português Alexandre retrata bem a curiosidade do ser humano. No Brasil, na Europa, na China, ou em qualquer lugar do mundo, o ser humano é igual, e sua curiosidade também. Afinal são todos seres humanos. Pode ser um vizinho, um vendedor numa loja e até mesmo amigos ou conhecidos: muitas pessoas preferem xeretar a vida dos outros a cuidar da sua. Isso é fato! Alexandre relata muito bem o que muitas portadoras passam, em especial, àquelas que perderam seus úteros por conta da doença.

O que fazer com essas pessoas? Eu simplesmente aprendi a ignorar. Não há nada mais sábio que "ignorar os ignorantes". Entrei 2014 tendo essa frase como um de meus lemas. Assim evita-se discussão. E são as atitudes que demonstram quem é realmente cada um de nós. Atitudes, muitas vezes, falam mais que palavras. E não podemos esquecer que tem alguém que está vendo tudo: Deus. E como diz Zeca: "Deixe a vida me levar, vida leva eu!" Sejam felizes com a vida que Deus te deu! Um beijo carinhoso!! Caroline Salazar


Pessoas xeretas, como lidar?

Por Alexandre Ferreira

Tem horas que a gente nem sabe o que sentir ou pensar. O último dia 21 de junho foi um dia bem legal para nós. Tive o prazer de ser convidado, junto com minha esposa, para a festinha de um garotinho que fez 2 anos. Foi uma fusão de povo brasileiro e português. Mamãe brasileira e papai português, saiu um menino lindo com umas bochechas bem grandonas e um sorriso que é o xodó do casal.

Festinha de quintal, com a garotada brincando e churrasquinho para os adultos. Olha, foi uma coisa bem legal, eu tive um tiquinho de amostra do que é o jeito de vocês aí no Brasil. Faltou o samba, pagode, essas coisas, mas Brasil só tem um, então, para perceber como é de verdade só mesmo estando aí um dia.

É claro que não podendo ter filho, e tendo que entrar em loja para comprar o presente do guri, já começa o massacre. É duro ficar olhando brinquedo para o filho dos outros. Piorou quando a moça da loja veio com conversa mole falando se era para o nosso filho. Lá veio a informação de que não temos, a pergunta dela se não vamos ter, a resposta de que não podemos, e a lamentação típica de quem pisou na bola e vai pedindo desculpa. Todo casal na mesma situação já passou por isso, pior que doloroso é que fica cansativo. Até hoje eu me pergunto: porquê as pessoas ficam xeretando na vida dos outros e passando julgamento?

Na festinha, a gente fica vendo um casal após o outro entrar tudo com menino de colo. Claro que os outros não têm culpa de a gente não poder ter filho, e não vamos descontar em ninguém. Aliás, ficamos felizes vendo a felicidade dos outros, sem inveja e sem ressentimento da vida. Tudo isso me deu a ideia de falar dessa parte que eu acho que ainda não foi abordada no blog, mas se foi nunca é demais. Como reagir a essas situações quando se enfrenta a infertilidade?

Brasileiro não é assim tão diferente de Português, sempre tem uma expressão para tudo. E tem uma que eu gosto particularmente, que aliás escutei recentemente em uma música do Zeca Pagodinho: “ao trancos e barrancos lá vou eu”. A vida não é simpática, não pretende ser. Cada um recebe e carrega a sua cruz, umas mais pesadas que outras, mas quando Deus nos entrega o destino é aceitar com muita humildade e botar o pé na estrada seguindo em frente e agradecendo. Sempre tem algumas coisas que a gente não gosta, umas até que parecem crueldade. Infertilidade para muitos é uma catástrofe.

Mas eu vou falar aqui o que o padre - quem cuidou do nosso casamento - falou quando nos reencontramos algumas semanas atrás. Ele quis saber se estava tudo bem. Claro que perguntou se tínhamos filhos, e quando percebeu que não, e que também não tínhamos planos para adotar, ficou um pouco mais atento à explicação do que fazíamos com o nosso tempo. Reagiu com muita naturalidade ao saber que trabalhamos para ajudar pessoas que precisam, e o comentário dele foi muito interessante: “Existem muitas formas de sermos fecundos, não apenas procriando.” Poucas palavras, mas sábias e respeitosas. Esse aí não é apenas um padre, é um homem de grande coração e que sabe olhar a frente. Nós não somos seres cuja única missão é gerar vida. O homem é uma criatura multidimensional, capaz de ínumeras ações, de fazer o bem de diversas formas. Esse padre escolheu uma via que não passa por gerar descendência, mas ele também é fecundo ao se entregar a melhorar a vida de muitas pessoas, não apenas dos seus fiéis, mas de todos os que o procuram para buscar conselho e conforto.

Eu posso dizer que, desde então, eu reajo melhor às pessoas que fazem perguntas sobre questões privadas e que podem até ser dolorosas. Ao invés de responder com ironia, muitas vezes o meu silêncio é a melhor resposta. As vidas das pessoas são todas diferentes, independentemente do que a sociedade nos empurra como sendo o modelo “aceitável”. E cada um leva do jeito que pode, ninguém tem nada que ver com isso. Abençoe a ignorância das pessoas que cruzarem seu caminho. Elas são felizes e despreocupadas, desconhecem a sua realidade porque não sentem a mesma dor. Deus os continue abençoando, e quem sabe, coloque uma jabuticaba na boca deles para não falarem tanta besteira.

Continuo agradecendo por minha esposa, todos os dias. Eu a acho linda, inteligente e não lamento nada. Gostaria que ela não tivesse essa doença, e que não sofresse tanto, mas ela tem e reclamar do destino não adianta coisa nenhuma. Então, eu deixo a vida me levar, porque quando eu quis forçar o caminho pelo meio do mato, teimando em fugir da estrada tortuosa que a vida me apresentou, eu só me dei mal. A estrada poderia ser mais direita, asfaltada, com uma banca de limonada fresca a cada 2 quilômetros, mas ainda assim é muito melhor do que ficar pendurado pelo pescoço nas lianas que tem no meio do mato.

É por isso que essa música do Zeca faz tanto sentido. Sou feliz e agradeço por tudo o que Deus me deu.



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