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É com grande orgulho que anuncio mais uma parceria internacional exclusiva do A Endometriose e Eu: a tradução dos artigos de Casey Berna, uma assistente social com experiência no terceiro setor, escritora e ativista na questão da endometriose e da infertilidade, que usa sua própria luta com a endometriose, a infertilidade e seus abortos recorrentes para ajudar ao próximo. Casey e a equipe do blog têm muito em comum, em especial, o amor como atua nesta luta contra a endometriose e a infertilidade, além de escrever também com muito amor (esse é um dos segredos do crescente acessos do A Endometriose e Eu). Agradeço e parabenizo o nosso colaborador Alexandre Vaz, nosso endomarido e nosso tradutor, por ter feito essa parceria incrível, já que há tempos temos uma coluna especialmente dedicada à infertilidade (a Superando a Endo Infertilidade), e agora, sem dúvida, ela ficará ainda mais completa com os relatos de Casey. Aqui no blog é assim: todos são muito importantes para torná-lo cada vez mais, o blog mais completo do mundo sobre endometriose idealizado por uma portadora de endometriose. Todos os colaboradores são proativos, todos têm a liberdade de expressarem suas ideias, todos são ouvidos com muito carinho e todas as opiniões e sugestões são discutidas e muito bem aceitas. Aqui somos uma equipe, e eu me orgulho muito em ter dado o pontapé inicial a este lindo e premiado blog. Fico muito emocionada com o caminho que ele está tomando e com os colaboradores e parcerias que Deus tem me enviado. Tudo isso é fruto de muito trabalho, muito suor, muitas madrugadas a fora passadas aqui e Deus está vendo e recompensando! Obrigada Senhor!
Muito se fala sobre a infertilidade causada pela endometriose. Porém, pouco se fala sobre as dificuldades que a doença traz à mulher para criar seu tão desejado filho, que, muitas vezes, demora uma eternidade a chegar. Eu sempre falei aqui, em especial, nos meus discursos e palestras deste empecilho, já que acompanho muitas endomulheres que têm seus filhos até mesmo antes de descobrir a endo, mas que, infelizmente, não conseguem criá-los da maneira que sempre desejaram por conta das dores da doença. É uma dor sem fim não conseguir ser a mãe que precisamos e que queremos ser. É uma dor sem fim não conseguir brincar com eles, não conseguir acompanhar os filhos em suas atividades e nas festinhas escolares, na dos amiguinhos, é uma dor sem fim não ser como as outras mães são. Este primeiro artigo desta incrível parceria, temos o relato deste lado pouco explorado. Espero que este texto sirva de reflexão, pois as dores da infertilidade vão muito além da questão de não poder ter filhos. "Que tipo de mãe poderei ser ao meu filho?" Um beijo carinhoso!! Caroline Salazar
Os desafios de ter filho enquanto portadora de
endometriose
Por Casey Berna
Tradução: Alexandre Vaz
Edição: Caroline Salazar
Eu sempre fico muito emotiva quando chega o Dia da Mães.
Por muitos anos, enquanto eu lutava contra a infertilidade, esse dia trazia
mais tristeza do que alegria. Parecia que todo o mundo em volta estava
engravidando facilmente, enquanto eu ficava cada vez mais afundada em
tratamentos de fertilidade. A vida era tão incerta. Eu não sabia que ser mãe
seria o meu futuro.
Eu recordo vivamente o meu primeiro diagnóstico por
cirurgia laparoscópica para endometriose. Estava aterrorizada com a
possibilidade de algo acontecer comigo, deixando meu marido sozinho no mundo.
Tinha pavor que o médico não encontrasse endometriose e, ao invés disso, me falasse que
as dores que eu sentia eram psicológicas. Também tinha pavor de que mesmo
após a cirurgia eu ainda não conseguisse engravidar e que a cirurgia não
servisse para nada.
Mais tarde, nesse mesmo dia, após ter voltado da cirurgia, a
auxiliar do hospital empurrou minha cadeira de rodas pelo hall até à saída
enquanto meu marido caminhava ao meu lado. Tentando iniciar um papo, a auxiliar
perguntou: “Vocês têm crianças em casa?” Essa pergunta doeu e lágrimas caíram
pelo meu rosto. “Não”, respondi. “Isso é bom, eles iam ficar pulando em cima de
você querendo abraços. Pelo menos assim você pode ir para casa e descansar”. Eu me lembro que na hora pensei
que daria tudo para ter esse problema.
Tive muita sorte de poder engravidar após essa cirurgia,
por meio de ajuda de tratamentos de fertilidade. Mas, nos últimos 6 anos, após o
nascimento da minha filha, eu tive quatro abortos, incontáveis tratamentos de
fertilidade, remoção da vesícula biliar por laparoscopia, e após duas cirurgias para excisão com
o doutor Seckin, co-fundador da Endometriosis Foundation of America (Fundação
Americana para Endometriose), que trouxeram de volta a minha qualidade de vida, o doutor Seckin e a sua equipe de cirurgiões removeram a endometriose de toda a
minha área pélvica, incluindo do cólon, reto, bexiga e ureteres. Em minha
última cirurgia, ele removeu até tecido cicatricial
relacionado com endometriose do meu diafragma.
Mesmo quando eu já tinha parado com as minhas
tentativas de formar família (eu nunca consegui engravidar de novo por conta de
uma deficiência genética dos meus óvulos), os desafios de viver com
endometriose enquanto a gente cria um filho se arrastaram no tempo, provando
que a endometriose não é apenas uma questão de saúde reprodutiva, mas de
qualidade de vida. Frequentemente deixados de lado são os desafios de criar um
filho enquanto se sofre de uma doença crônica debilitante como a endometriose.
Ter filho enquanto portadora de endometriose pode ser
incrivelmente difícil e, por vezes, de quebrar o coração. Como os outros bebês de
portadoras de endometriose, minha filha nasceu seis semanas antes do tempo por
cesárea. Cada dia que ela passou na unidade de cuidados intensivos neonatal,
eu culpei meu corpo por ter falhado com ela. Desde o nascimento de minha filha,
eu tive mais três cirurgias. Antes de cada uma delas, justo quando a anestesia estava
me levando, eu pensava nela e pedia para que o universo permitisse que eu
acordasse e fosse capaz de ser a mãe que ela precisa.
Quando ela era menor, era muito difícil para ela
entender porque eu não conseguia pegá-la, brincar e estar com ela quando eu
estava lutando para recuperar das cirurgias. Ainda me lembro quando eu e meu
marido a colocamos prematuramente no berço justo antes da minha primeira
cirurgia de excisão, para que fosse mais fácil no pós-operatório. Estou muito
grata por ter tido uma família compreensiva e amigos que ajudaram a mim e a meu
marido a cuidar de nossa filha nesta época complicada. Guardo no coração todas
as mães que não têm a mesma sorte que eu tive.
Antes das minhas cirurgias de excisão, meus períodos
eram tão horrendos que eu não conseguia cuidar da minha filha nos dois primeiros
dias do ciclo menstrual. Acordava com dor lancinante, inchada para lá do
imaginável e sangrando profusamente, e ainda tinha de improvisar para
conseguir ajuda para esse dia. Implorava ao meu marido para trabalhar de
casa e pedia pra meus pais se eles poderiam ajudar. Lembro-me de minha cunhada
ligar convidando para que minha filha fosse ao aniversário do filho dela. Acabei
ficando encabulada por ter de falar que não conseguia sair de casa por estar
com tanta dor devido ao período menstrual. Sair de casa parecia uma tarefa impossível.
A infertilidade e a endometriose me fizeram hesitar em
fazer novas amizades e a recusar convites para ir a eventos ou a datas especiais. Era difícil
explicar para outras pessoas o que meu marido e eu passamos Me isolei e, com isso, isolei minha filha também. Sinto que muito da vida dela, eu e meu
marido vivemos em crise, tudo por conta dos meus problemas de saúde. Me
preocupa o impacto que isso causou nela.
Era complicado não focar em todas essas coisas que a
endometriose tirava de minha filha. Desde as minhas cirurgias de excisão, tenho
tido uma grande qualidade de vida. Desde então, não precisei mais de ajuda durante meus
períodos. Minhas dores nas costas e nas pernas, diarreia e ter de urinar
frequentemente melhoraram bastante. Mas eu ainda luto contra a endometriose.
Não sou a mais ativa das mães. Nunca me irão me ver caminhar pelas montanhas ou
pedalando de bicicleta com minha filha. Fico ansiosa de pensar em fazer longas
caminhadas sem um banheiro por perto.
Outro dia minha filha me perguntou: “Mamãe, porque você está sempre tão cansada?” Embora já tenham me falado que a minha filha tem mais energia
do que a maioria das crianças, eu luto constantemente para entregar a ela a
energia que ela precisa de mim. Ah, e tem as mudanças de humor induzidas pelos
hormônios! Acabei marcando no calendário os dias do ciclo em que estarei super
impaciente e mal humorada. Sempre tento me explicar para ela: “Mamãe está mal
humorada hoje. Desculpe se eu perder a paciência com você.” ou “Mamãe está
muito cansada hoje.” Minha filha também fica frustrada com o meu “endocérebro”
e a tendência para esquecer algumas coisas, ou por vezes, ficar distante.
Existem coisas maiores, mais profundas que pesam no meu
pensamento. Eu não consegui dar um irmão para ela, algo que entristece muito a
mim e a meu marido. Eu também me preocupo se passei endometriose para ela.
Minha mãe e tias lutaram com essa doença. O fato de um dia minha filha poder
ter que travar uma batalha contra essa doença é impensável.
Esses são fardos pesados que eu carrego em meu coração,
mas que estão totalmente fora do meu controle. Mamães conseguem ser peritas em
sentir culpa e são incrivelmente exigentes com elas mesmas. Eu não sou exceção.
Muitas vezes penso em como seria minha vida sem esse fardo da endometriose.
Qual será a sensação de não lutar contra seu corpo o tempo todo? O que eu seria
capaz de alcançar se o véu do cansaço fosse levantado? Quanto mais eu conseguiria
dar de mim para minha filha se eu não lutasse contra essa doença?
No fim das contas, minha imensa gratidão ultrapassa
minha culpa. Eu sei que sou muito sortuda em ter essa filha. Tento pensar nas
coisas positivas que resultaram dessa doença. Conhecer e trabalhar regularmente
com outras pacientes incríveis, que lutam como eu luto, é uma dessas coisas.
Essa doença também me deu uma perspetiva da vida que eu acho que os outros podem
não ter. Eu sei que estou fazendo o melhor que posso, e isso tem que ser
suficiente.
As minhas limitações não me definem, mas me tornam mais
forte. Porque eu luto, ganhei mais compaixão pelas outras pessoas que também
lutam. Se eu conseguir transmitir essa sabedoria para minha filha, eu sei que a
ajudará no futuro a enfrentar seja o que for que se atravesse em seu caminho.
Quando eu descobri que tinha endometriose, estava acima do peso, e por isso, antes da cirurgia minha medica me aonselhou que emagrecesse um pouco. começei a dieta e a me exercitar....quando voltei para novos exames, meu ovario tinha diminuido de tamanho (tínhamos suspeita de endo) e eu nao sentia mais dores. Diante de tantas pesquisas que fiz, uma delas foi a de que se exercitar ajudar a diminuir a dor...eu fui um caso desse. Hoje ainda sinto um pouco de dor quando a menstruação acaba, ms nos ultrassons, nao tem mais nenhuma alteração.
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