Eu, Paulo Soares e Adriana Heintz, do Endometriose Brasil, no plenário 7, na Câmara dos Deputados, em Brasília |
Na coluna EndoSocial, o sociólogo e endomarido, Paulo Soares, relata o que aconteceu no Seminário “Debater a Endometriose”, realizado na Câmara dos Deputados, em Brasília, no último dia 10 de junho de 2014. Mais que relatar, ele cita as reivindicações que todos os palestrantes pediram neste dia. E mais: pede para que nosso slogan “a união faz a força e juntos somos mais fortes” encoraja mais pessoas a lutarem na mesma direção, sem distinção de grupos. Afinal estamos todos lutando em prol de um mesmo direito, um mesmo benefício, não é mesmo? Ou será que há outra coisa por trás disso?
Dentre as minhas reivindicações mostrei na minha apresentação que até a Nigéria, um país economicamente inferior ao Brasil, já tem desde 2012, dia Nacional de Conscientização da Endometriose. Logo após minha apresentação, o deputado Alexandre Roso, do PSB – RS, que presidiu a mesa, essa será uma das primeiras a ser levada em consideração, pois só com mais conscientização sobre a doença é que poderemos alcançar mais pessoas e, com isso, ter o diagnóstico precoce no Brasil. Para quem não viu o primeiro artigo sobre o seminário, aquiestá o link. E coloco também o link do vídeo e do áudio para que todos possam ver o que rolou lá. O texto do Paulo, como sempre, está incrível! Agradeço, mais uma vez, ao apoio e a presença do Paulo e da querida Adriana Heintz, do nosso grupo parceiro, Endometriose Brasil. Parceria é assim, onde um está o outro está junto. Obrigada pelo apoio sempre! A união faz a força e juntos somos mais fortes! Um beijo carinhoso!!! Caroline Salazar
Reivindicando políticas públicas para as portadoras de endometriose, |
Por uma práxis "EndoSocial"
Por Paulo Soares
Olá a todos! Gostaria de expor neste artigo minhas impressões sobre o Seminário sobre Endometriose, promovido pela Comissão da Seguridade Social e da Família da Câmara dos Deputados, no último dia 10 de junho, em Brasília. Desde já agradeço o apoio de Caroline Salazar para que tivéssemos lá, para colaborar com esse processo de reivindicações por políticas públicas para as portadoras de endometriose no Brasil.
Muitas pessoas criticam quando falamos que vamos cobrar dos nossos políticos, ações para atender alguma demanda, bem como, na área da educação, segurança, moradia ou saúde, que é o nosso caso, e especificamente a saúde às mulheres, porque acreditam que não vai adiantar em nada nossos esforços. Como diz o ditado popular: "É dar murro em ponta de faca!". Ainda existem outras pessoas que querem somente resolver o seu problema individualmente, e não tem tempo para se envolver com política, manifestação, Marcha ou movimentos do tipo.
Esse tipo de atitude está subjacente a um pensamento individualista que permeia esse mundo (sistema) pós ou hipermoderno. Uma sociedade individualista, antagônica em si mesma, por ser sociedade deveria primar por interesses sociais, mas é contrário a isto, pois seus interesses são individualistas.
Para que mudemos este tipo de mentalidade, precisamos do que chamo aqui de uma práxis "Endosocial", ou seja, uma participação efetiva na vida social, com consciência livre, para realizar uma ação política consciente e transformadora. Dizendo de maneira mais simples e direta, é deixarmos de sermos alienados (alheio, excluído, separado) para fazermos uma crítica radical ao sistema, por meio da ação política, e não apenas ficarmos falando: "eles (os políticos) não fazem nada!". Acreditamos, portanto, que é por meio dessa práxis que podemos transformar as vidas de milhões de mulheres portadoras de endometriose no Brasil.
E, se estamos diante de um problema na saúde de milhões de mulheres, não podemos mais pensar individualmente. Por isso, para começar a resolver o problema da endometriose, foram apontadas algumas reivindicações no Seminário em Brasília, são elas:
1. Capacitação dos médicos;
2. Capacitação dos radiologistas;
3. Centros de referência;
4. Agilização do protocolo.
Essas reivindicações foram feitas pelos palestrantes, de forma unânime, diante dos deputados presentes e dos representantes dos ministérios da educação (Secretaria de Ensino Superior), da saúde e da Secretaria de Políticas Públicas para as Mulheres. Como podemos notar, estávamos diante do poder legislativo (os deputados) e do poder executivo (os ministérios e secretárias).
Sobre a primeira reivindicação é de suma importância a capacitação dos médicos, isto é, desde estudantes de medicina a médicos e médicas ginecologistas. Porque o que ocorre é a falta de informação das novas pesquisas sobre a endometriose, que estão "demitologizando" a doença, há muitos mitos sobre ela que precisam ser banidos entre os médicos e das faculdades. Falou-se, também, a respeito da capacitação dos médicos e dos profissionais da saúde básica, pois eles têm o primeiro contato com a população, para que, o quanto antes for diagnosticada a doença, melhor será o tratamento e até mesmo a cura, evitando, inclusive, uma geração de mulheres inférteis, porque se for diagnosticada ainda na adolescência, as chances de retirar todos os focos e de gravidez natural são enormes, quase 100%.
Paulo e Adriana com uma das 7 faixas da marcha mundial de Brasília e de São Paulo |
A segunda reivindicação além de capacitar radiologistas, está atrelada a compra de equipamento de diagnóstico por imagem e a manutenção permanente dos que já estão em uso. Precisamos de mais aparelhos para ressonância magnética, aparelhos de ultrassons e laparoscopos (para a realização da videolaparoscopia). Hoje no SUS, a fila de espera para fazer os exames que necessitam desses equipamentos é de 6 meses a 1 ano. Isso quando os equipamentos estão funcionando, pois quando o aparelho de ressonância quebra são necessários cerca de 8 meses para ser consertado.
A capacitação dos radiologistas é necessária para que o laudo médico seja mais preciso, porque não adianta investir em equipamentos de última geração, se não existirem radiologistas capacitados e sensibilizados. Quando se faz um exame com a qualidade de imagem, melhora em muito a localização dos focos endometriais, e consequentemente, o laudo médico terá mais precisão para se realizar a cirurgia com mais eficiência.
Michele e Raquel com outra das 7 faixas usadas na marcha mundial em São Paulo e em Brasília |
Outro problema que precisa ser resolvido é o da ampliação dos centros de referência para tratamento integral da Endometriose pelo SUS. Nossa reivindicação (a que o A Endometriose e Eu fala há mais de 4 anos) é para que seja criado em cada capital do Brasil um centro de referência, para que mais mulheres tenham acesso ao tratamento sem sair do seu estado de origem, pois só na cidade de São Paulo existem quatro centros públicos, três deles ligados à universidades. Todos eles atendem mulheres de todo o Brasil. Isso gera uma fila de espera enorme para o tratamento, especialmente, para as cirurgias. Neste caso, a espera chega de 1 a 3 anos para casos mais sérios, que envolvem órgãos como os intestinos, e de 3 a 4 (ou até mais) para endometriose menos grave. Lembro que ter uma endometriose “menos grave” não significa que a mulher não tenha dores.
No entanto, é preciso descentralizar o tratamento da região Sudeste (São Paulo e Rio) por dois motivos:
- A portadora de endometriose não precisará mais gastar com passagem e hospedagem para fazer o tratamento. Lembro que é dever do Estado arcar com essas despesas, por meio do Tratamento Fora Domicílio - TFD, pois se não existe possibilidade nenhuma de tratamento da doença na cidade ou no estado que a mulher reside, é obrigatório fazer o TFD;
- O outro motivo está na qualidade do tratamento que será muito melhor, pois a portadora será tratada próximo da sua residência, perto da família, com médicos capacitados e com os equipamentos necessários.
Mediante essas reivindicações, vamos conseguir um tratamento mais humano e digno para as portadoras de endometriose do nosso Brasil. Para tanto, é necessário uma práxis EndoSocial, isto é, o empenho e o envolvimento de todas as mulheres que estão nessa luta, bem como, seus familiares, seus amigos, para melhorarmos a qualidade do tratamento da endometriose e expandirmos a oferta deste para todo o Brasil e transformarmos a realidade de milhões de mulheres.
Parabéns pela coluna, gostei muito do que foi dito, espero que essas mudanças aconteçam no Brasil. Ana ~Goiânia
ResponderExcluirParabéns a iniciativa. Temos que brigar sim, pelos direitos enquanto grupo, porque sozinho não se consegue nada. Foi uma das primeiras coisas que pensei: fortalecer a bandeira pelas políticas públicas de atendimento à endometriose nas esferas municipal e estadual. Estou verificando grupos de articulação para que localmente possa agir. Um abraço
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