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O texto que nosso endomarido Alexandre traz hoje é de muita importância não só para as pessoas que têm doenças consideradas invisíveis, mas principalmente, aos profissionais de saúde. Muitas vezes, eles são nossa única saída que temos para fazer as pessoas mais próximas acreditarem em nós, em nossas dores. Porém, muitos desses profissionais não acreditam em nossa dores. Muitos que se dizem especialistas não acreditam que uma mulher que tem endometriose de grau leve pode sim ter mais dores que uma que tem endometriose de garu mais severo. Infelizmente, o relato da paramédica abaixo é muito comum para as portadoras de endometriose. Muitas vezes a endo é sim uma doença invisível. Precisamos de mais compreensão e menos julgamentos. Por isso compartilhe este texto para chegar aos mais diversos profissionais de saúde, pois só assim poderemos mudar essa triste realidade: a de quem não acredita nas nossas dores. Beijo carinhoso! Caroline Salazar
Por Ashley Mould
Tradução: Alexandre
Vaz
Edição: Caroline
Salazar
Para as pessoas com doenças invisíveis de uma paramédica que não acreditava em vocês
Sou paramédica há 10
anos, mas dei algum tempo na carreira durante esses anos. Tenho assistido ao bom e ao
ruim, provavelmente mais ruim do que bom, mas passei a enxergar a realidade de
um jeito diferente.
Assisti muitas
pessoas em grupos do facebook postando sobre como profissionais de saúde fazem
descaso dos pacientes com doenças invisíveis por não as entenderem. Eu era uma
dessas profissionais.
Quando você é uma
paramédica novata, tudo o que você quer é se enturmar e pertencer ao grupo de
trabalho. Você pode ser colocada com um parceiro mais experiente (oficial de
treinamento na área) que está ativo há muito tempo. Porém, muitas vezes, eles
estão esgotados, e para eles, cada paciente é mais uma chamada que os fazem
levantar da cama ou do sofá, interrompendo os programas que estão passando na
televisão.
Infelizmente eu
acabei me tornando esse tipo de médico. Se alguém falasse que tinha fibromialgia,
por exemplo, eu admitia que a pessoa estava querendo drogas (remédios). Eu achava que todo
mundo conseguia caminhar até a ambulância. Se você não tinha uma doença visível,
era tratado como lixo. Eu falaria “vamos lá, você consegue caminhar.”
Só depois que minha
saúde começou a deteriorar e eu mesma comecei a precisar da ajuda dos outros,
que eu passei a entender.
Fui de médico em
médico tentando explicar o que tinha de errado comigo. Eles olhavam pra mim
como se eu estivesse mentindo. “Eu não sei o que tem de errado com você, mas
pegue esses antidepressivos”. Era isso que eu escutava. “Tente isso porque está
tudo na sua cabeça (como se fosse psicológico).”
Agora eu entendo o
que acontecia com os meus pacientes. Eu não tinha a noção do tanto que estava
diminuindo-os quando falava para eles desse jeito. Eu apenas queria ser igual os meus colegas.
Peço desculpa a
todos os que tratei desse jeito. Agora eu entendo. Não trabalho mais na
estrada, mas ainda assisto casos desses no hospital. Ainda dou por mim fazendo
alguns comentários com meus colegas, mas nesse momento fico quieta.
O que precisamos é
de um pouco de compaixão e isso é algo que não é ensinado na faculdade de
medicina. Eu gostaria que tivesse mais conscientização. Então, por favor, continuem educando os médicos por aí. Nós gostamos de aprender.
Comentário do
endomarido:
É de uma tremenda
coragem o que essa médica acaba de fazer. Ainda que tenha aprendido do jeito
mais doloroso, mas ultrapassar o ego e o status publicamente pedindo perdão
para todos aqueles com quem ela sente ter sido injusta no exercício das suas
funções, é digno de louvor.
Segundo as suas
próprias palavras, é uma pena que as faculdades não desenvolvam aquilo que
diferenciaria um médico de um mecânico. Uma pessoa não é um carro. No carro
você troca peça, lubrifica, e se não der certo ou ficar muito caro, envia pra
sucata e compra outro.
As pessoas precisam
de outro cuidado, inclusive ao nível emocional.
De que serve fazer a manutenção do corpo, um trabalho tecnicamente
perfeito, se você não é gentil com o emocional e ou psicológico do paciente?
Como você sabe que
não está agravando uma situação já bem complicada a nível psicológico? E se
esse paciente que você está recebendo hoje em seu consultório estiver dando uma
última chance para a vida? Já pensou que a falta de um sorriso, um momento de
atenção de sua parte, pode fazer com que esse paciente que você atendeu hoje
desista de viver? Porque, você nem imagina por quanto tempo essa atenção tem
sido negada para ele, essa pessoa pode estar no limite. E, talvez, você tome
conhecimento ou não, mas é possível que alguns dos pacientes que você atende, acabem
a própria vida por descaso de quem deveria estar do lado deles. Você pode não
ser o único responsável, mas pode ser a gota d’água que faz derramar o copo.
Conscientemente ou
não, o médico que age dessa forma falhou. Pode pegar o diploma e jogar no lixo.
Ele pode ser formado em medicina, mas não é médico. Vive correndo atrás dos
números e cada vez mais afastado das pessoas que jurou ajudar até o limite das
suas capacidades.
Felizmente nunca é
tarde para mudar. E esse foi o caso da corajosa Ashley que compartilhou o seu
testemunho, assumindo que errou, que ainda erra, mas está dando tudo para não
errar novamente.
Mas não são apenas
os médicos e enfermeiros que erram. Todos nós erramos. A falta de apoio não
acontece apenas nas clínicas, nos hospitais ou nos postos de saúde. Ela ocorre
também na rua, em nossas casas, nas nossas próprias famílias e nos grupos de
amigos. Quando alguém que sofre não acha conforto em lugar nenhum, não deveria
ser surpresa que surja uma depressão e que um dia essa pessoa possa se
suicidar. E não me venha com historinha de pecado mortal.
Cada um que negou um
sorriso, um momento de atenção, um ombro para chorar também pecou. Essa pessoa
é parcialmente responsável pela aproximação do abismo. E quando alguém está na
beira desse abismo, por vezes, basta uma leve brisa para que a pessoa se deixe
ir. A dor pode ser grande demais para suportar. Sabia que um sorriso pode ser o
suficiente para que essa pessoa dê um passo para atrás?
Estamos todos
cheios de problemas, e por vezes, não é fácil pensar em outras coisas fora do
nosso mundinho. Mas sempre que puder, ofereça um sorriso. Faça um elogio
sincero para alguém. Você não tem noção até que ponto esse pequeno gesto pode
ser a diferença entre a vida e a morte para alguém.
levei uma ressonância para uma especialista da rede pública e ela me disse: _vc tem uma endometriose discreta (no laudo estava escrito profunda) e tirou umas caixas de anticoncepcional sem pausa de brinde e disse tchau.
ResponderExcluirFalta consciência e empatia.
ResponderExcluirMuitos homens abandonam suas esposas nesses momentos em que devemos ajudá-las. Lamentável.
ResponderExcluirVamos em frente tudo vai dar certo.
ResponderExcluirÓtimo texto para reflexão.
ResponderExcluirDesejo muita força a todos vocês
ResponderExcluirEu sou um endo marido participativo mas não é fácil
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