No artigo de hoje, uma tradução muito interessante de um estudo americano, mas com a visão do cientista inglês Matthew Rosser, parceiro exclusivo do A Endometriose e Eu no Brasil. Eu já estava com saudades de seus estudos, mas
agora com a ajuda de voluntários na tradução, talvez, poderemos ler os artigos
de Matthew mais frequentes por aqui. Desta vez, assim como ele, não irei me
estender muito por aqui. Mas peço que leia com atenção o texto que fala sobre
uma pesquisa que relaciona o índice de massa corporal (IMC) x endometriose. À
priori, vocês podem achar esquisito o resultado, mas é só lerem com calma, todo
o texto e vai ver o porquê do resultado do estudo que diz: mulheres com maior índice
de massa corporal têm menos chance de ter endometriose. A explicação é muito
mais complexa que o resultado. Como pode se sabemos que as células de gordura
são alimentadas com o grande vilão da endometriose, o estrogênio? Múltiplos
fatores são levados em conta, desde a primeira menstruação mais tardia e com
menor fluxo em mulheres mais magras, até a Síndrome dos Ovários Policísticos, a
SOP, mais comum em mulheres obesas.
E o grande lance no meu ponto de vista é o simples fato de mulheres que estão acima o peso produzirem mais testosterona, o hormônio masculino que pode inibir os implantes de endometriose. Mas as explicações não param por aí. Nas próximas semanas o blog vai passar a traduzir com exclusividade no Brasil outras teorias sobre a doença. Aqui, Matthew pincela sobre elas, mas iremos a fundo, já que eu conversei e muito com o pesquisador que vem revolucionando a teoria de Sampson. Quero saber qual foi sua conclusão! Abaixo, a tabela para quem quiser calcular seu IMC. O meu deu 23, segundo a tabela, normal. Mas porque será que eu tenho endo, se sempre fui magra? Ah, e devemos levar em conta que muitas mulheres com endo que estão obesas podem estar acima do peso por conta dos medicamentos e ou também por conta das aderências (artigo 1, artigo 2), o que era meu caso. Beijo carinhoso!!! Caroline Salazar
E o grande lance no meu ponto de vista é o simples fato de mulheres que estão acima o peso produzirem mais testosterona, o hormônio masculino que pode inibir os implantes de endometriose. Mas as explicações não param por aí. Nas próximas semanas o blog vai passar a traduzir com exclusividade no Brasil outras teorias sobre a doença. Aqui, Matthew pincela sobre elas, mas iremos a fundo, já que eu conversei e muito com o pesquisador que vem revolucionando a teoria de Sampson. Quero saber qual foi sua conclusão! Abaixo, a tabela para quem quiser calcular seu IMC. O meu deu 23, segundo a tabela, normal. Mas porque será que eu tenho endo, se sempre fui magra? Ah, e devemos levar em conta que muitas mulheres com endo que estão obesas podem estar acima do peso por conta dos medicamentos e ou também por conta das aderências (artigo 1, artigo 2), o que era meu caso. Beijo carinhoso!!! Caroline Salazar
IMC
= Peso (kg) / Altura
Até 25 kg/ m²
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Normais
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de
|
Pesados (Sobrepeso)
|
de
|
Obesos leves (Grau I)
|
de
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Obesos moderados (Grau II)
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mais de 40 kg/m²
|
Obesos severos (Grau III)
|
A dimensão do problema:
Por Mathhew Rosser
Tradução: Jorge Francisco
Edição: Caroline Salazar
Ultimamente, existe um burburinho
a respeito de um novo estudo sobre a endometriose. Esse aborda a relação entre
o índice de massa corporal (IMC) e a endometriose. O estudo concluiu que as
mulheres mais magras são mais sujeitas à ser portadora da doença. Isso
significa que para diminuir o risco de endo, você deve ficar enchendo a cara de
comida, ou mesmo esquecer a etiqueta e comer direto com as mãos sem usar
talher? Definitivamente não. A maioria das agências de notícias que relataram
esse estudo fez um trabalho muito decente ao explicar as descobertas, mas neste
artigo iremos olhar para o estudo original e descobrir exatamente o que foi
feito, o que foi descoberto e o que poderemos aprender com ele.
No entanto, antes de começar, sei
que este estudo é controverso para alguns, por isso não tecerei comentários
sobre o valor do estudo. Irei apenas dar um esclarecimento das descobertas e a
minha interpretação, deixando que cada leitor tire as suas conclusões. Para
começar, é sempre bom relembrar se no passado surgiu outro estudo semelhante. E
na verdade surgiu, e fui eu que o escrevi antes, lá no ano obscuro de 2010.
Então, a descoberta de que a mulher com baixo IMC é mais suscetível a sofrer de
endo não é realmente uma novidade.
Então, no que difere este novo estudo
do anterior? Para começar é maior, muito maior. O mesmo grupo de pesquisa nos
Estados Unidos que conduziu em 2010 um estudo sobre 1,817 mulheres incluiu
nesse estudo 5.504 mulheres portadoras da doença. E quanto mais mulheres forem
incluídas em um estudo, maior a precisão dos resultados. De onde vieram todas
essas mulheres então? Bom, nos Estados Unidos, desde 1989 que 116.430
enfermeiras de 14 estados diferentes preencheram questionários sobre sua saúde
a cada dois anos. Toda essa informação junta forma o Nurse's Health Study II
(Estudo sobre Saúde de Enfermeiras 2) – um vasto recurso de informação para
pesquisadores que buscam ligações entre estilo de vida, fatores ambientais e o
risco de todo o tipo de doenças.
Esse estudo corrente analisou
todos os questionários de 1989
a 2011. Puxou a informação das mulheres diagnosticadas
com endometriose e comparou com as mulheres que não têm a doença. O maior fator
examinado foi o IMC, que é o resultado do peso dividido (em quilos) pela altura
(em metros). Meu IMC está em torno de 20, que é classificado como normal, mas
eu sou um leviatã desengonçado, portanto alguém com menos 30 centímetros teria
um IMC de 28, e seria classificado como obeso. O IMC não é uma medição muito
fiável da dimensão do corpo e não leva em conta a forma do mesmo. Felizmente o
IMC não é o único fator que esses pesquisadores estavam procurando; para ter
uma ideia melhor da forma do corpo eles levaram em conta as medidas racionais,
como cintura/quadril, em especial, a circunferência da cintura.
Seja como for, chega de
metodologia e vamos nos resultados. A descoberta central desse estudo foi que
mulheres com IMC mais elevado seriam menos propensas a ser diagnosticadas com
endometriose – de fato, mulheres com obesidade mórbida (IMC superior a 40) tinham
menos 39% de chance de serem diagnosticadas com a doença que mulheres com IMC
entre 18.5 e 22.4. O que os pesquisadores encontraram foi uma correlação
inversa entre endometriose e IMC. O que isso significa é que enquanto o IMC
sobe, o risco de endometriose desce. Abaixo podemos ver um gráfico desse estudo
que mostra essa relação (a linha a preto é a importante, não se importe com a
pontilhada).
Fonte: Endometriosis Update |
Como pode observar, é bastante semelhante,
e apesar do fato de que o resultado foi levemente atenuado, as mulheres com
obesidade mórbida ainda tinham 25% menos de chance de serem diagnosticadas com
endometriose. Um detalhe importante aqui é não tirar a conclusão de que as
mulheres com IMC maior não poderão ter endometriose. O estudo apenas sugere que
é menos provável que tenham quando são mais novas. Por exemplo, se olharmos
para os resultados desse estudo, as mulheres aos 21 anos tinham um taxa média
de endometriose que é 1 em 10. Contudo, mulheres com IMC acima de 40, possuíam
uma redução de 39%, equivalente a 0.6 em 10. Então, em mulheres com um IMC
normal, a estimativa seria de que 10 em cada 100 teriam endometriose. Contudo
nas mulheres com obesidade mórbida seria de 6 em cada 100.
Então, mas e os outros fatores que
citamos acima estão sendo investigados? Os resultados do estudo mostraram que
uma cintura maior também estaria associada a um risco menor, mas apenas para
mulheres inférteis, e não haveria associação com a altura e a endometriose. A medida
cintura/ quadril foi um dado mais difícil de obter, já que muitas mulheres não
tinham registrado essa informação. Apesar de os pesquisadores descobrirem que
as mulheres com a medida cintura/ quadril menor teriam um risco aumentado em três
vezes de ter endo. Esse estudo foi baseado em dados de apenas oito mulheres. Portanto,
não deveremos dar muita importância ao resultado neste momento até que possa
ser verificado com mais mulheres.
Agora que sabemos os resultados,
a próxima questão é, porque será que isso acontece? À primeira vista não faz
sentido, já as células de gorduras produzem estrogênio. Portanto, mais células
gordas iguais é mais estrogênio no corpo da mulher. Sendo que a endometriose é
uma doença dependente do estrogênio, não deveriam as mulheres com mais gordura
(e, portanto, maior IMC) ser mais suscetíveis à doença? De forma semelhante, ser
magra quando criança está associada a ter a primeira menstruação mais tarde e
menstruação com menor fluxo. No entanto, as mulheres com endo geralmente
menstruam mais cedo, por isso essa também não faz sentido.
Existem algumas teorias para o
porquê de estarmos vendo esses resultados. É sabido que as mulheres obesas são
mais propensas a ter Síndrome de Ovário Policístico (SOP) e alguns pesquisadores
pensam que SOP pode conferir alguma “proteção” contra endo devido a um número
reduzido de ciclos menstruais e maiores níveis de androgênio (nota da
editora: ou andrógeno é um dos hormônios secretados pelo córtex, dá origem
ao desenvolvimento de características próprias do sexo masculino, como a
testosterona, o mais conhecido), que pode suprimir lesões de endometriose. Não
sabendo quais as mulheres que têm SOP, não podemos afirmar se esse é o caso. A
ligação com o androgênio, no entanto, pode ser importante. Estudos sugerem que
os níveis de androgênio são elevados em jovens e adultas, independentemente de
terem SOP. Níveis mais elevados de androgênio nessas mulheres podem suprimir a
endometriose e explicar porque assistimos um risco menor de endo no grupo com
IMC mais elevado.
Os autores desse estudo também
sugeriram que poderá existir um diagnóstico tendencioso para as mulheres obesas
e com obesidade mórbida. Os cirurgiões não são muito favoráveis a realizar
laparoscopias nessas mulheres pela dificuldade acrescida, e, portanto, é menos
provável a confirmação de endometriose. Contudo, os autores ressalvam que se
esse fosse o caso, não haveria uma tão grande associação entre a endo e o IMC
em mulheres inférteis comparado com mulheres com sintoma de dor isoladamente. Existem
muitos outros fatores que podem modificar o IMC, tais como medicamentos, estilo
de vida, doenças comórbidas (nota da editora: doenças como diabetes,
hipertensão, colesterol, apneia do sono, triglicerídeos aumentos dentre outras,
ou seja, doenças que têm podem melhorar com o controle da obsesidade) e todos
eles devem ser levados em conta quando se examinam relações entre a
endometriose e o IMC, que tanto quanto posso avaliar esse estudo não levou muito
em consideração.
Outra questão sobre esse estudo é
sobre a população de onde as mulheres foram recolhidas. Todas as mulheres do
estudo são enfermeiras com até 20 anos de profissão. Como a endometriose quando
se apresenta com sintomatologia grave geralmente impede que a mulher mantenha o
seu emprego a longo termo (especialmente um com tanta exigência física como a
enfermagem), é provável que mulheres com sintomatologia de endometriose grave
não tenham sido representadas na mesma proporção, o que pode distorcer o
resultado a favor de mulheres com formas menos graves da doença, que seriam
mais ativas fisicamente, e como tal, com menor IMC.
Claro que pode acontecer que o
que quer que faça uma mulher suscetível à endometriose também faça com que
tenha um IMC menor quando jovem. Um conjunto de indícios crescente sugere que a
endometriose é algo com que já se nasce (nota da editora: este assunto
será tema de outros artigos, de outra parceria exclusiva do blog), e que é
hereditário. Portanto, pode ou não ser que fatores genéticos/ epigenéticos
resultem em que uma mulher desenvolva endometriose, também afete o seu
metabolismo antes que comece a tomar medicação hormonal. Infelizmente ainda
persistem muitas questões que necessitam ser respondidas antes que possamos
concluir alguma coisa mais definitiva, mas quando eventualmente encontrarmos as
respostas, teremos um maior entendimento sobre essa doença paradoxal.
Esta é a minha interpretação do
estudo corrente, e como sempre encorajo todos os que quiserem fazer as suas
próprias pesquisas e retirar suas próprias conclusões.
Fonte: Endometriosis Update
Fonte: Endometriosis Update
Ótimo site e ótimo contéudo
ResponderExcluirMostrei o site à minha esposa e está sendo bem útil. Ela estava perdida com a doença.
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