Em “A
Vida de um Endo marido”, Alexandre aborda um tema de extrema importância para
nós, endo mulheres, e para todos os seres humanos do mundo: o atendimento nas
unidades de saúde, pode ser em hospitais, postos de saúde, ambulatório, enfim,
em qualquer lugar onde há médico x paciente. Muitas vezes pensamos
que a falta de respeito acontece apenas no Brasil, ou em países onde o
doutor na frente do nome significa status. Bom, em primeiro lugar deixo bem
claro que a maioria desses médicos que se acham com o dr. na frente do nome,
nem deveria ter essa nomenclatura, visto que doutor é qualquer pessoa que cursa
o doutorado. Independente da área, e não apenas para quem veste branco ou cursa
direito. Faz a faculdade, depois a pós ou o mestrado, e só depois vem o
doutorado. Eu acho o fim da picada muitas
coisas erradas que acontecem por aqui, inclusive, isso. Por isso, muitas
pessoas que fazem faculdade da área de saúde já saem da faculdade arrogantes.
Daí, quando vão clinicar acontece a situação que o Alexandre descreve abaixo: o medico
“se acha” e não escuta o paciente, daí não sabe indicar o próximo passo para
resolver a situação. Resultado: deixa o paciente e o acompanhante dele nervosos.
Outra questão
é a falta de educação do ser humano. Deixo bem claro que ter educação não tem nada a ver com a condição sócio-econômica da pessoa. Educação vem de berço, vem de família e não tem a ver se a
pessoa tem grana ou não. Eu mesma conheço pessoas ricas, abastardas no
dinheiro que não tem nenhum pingo de educação e ainda são amargas e
rancorosas. Assim como, conheço pessoas que não têm dinheiro, mas que têm uma
educação exemplar. Afinal, nós não temos educação nas escolas. Ou a pessoa já
vai com ela, ou então, baubau, não tem e ainda corre o risco de ficar mais mal
educada do que já é. Outro fato muito interessante ressaltada pelo nosso endo marido, é a
questão de saber seus direitos. A maioria das pessoas não sabe que todos nós
temos direitos. Alguns anos atrás, numa época dura onde não tínhamos convênio,
minha mãe estava com sua enxaqueca explodindo e eu e minha irmã do meio a
levamos ao hospital. Fomos para um hospital que sempre íamos pelo nosso
convênio, que é considerado de luxo. As pessoas pareciam que estavam todas
mal-humoradas. Tá de mal-humor? Enfia a cabeça na terra, na água, mas não precisa
contaminar o mundo.
Na época,
eu ainda não sabia o que eu tinha e como não tinha operado ainda estava maluca. Ou seja, com endometriose
e aderências, eu era bem grossa e um tanto louca. Hoje eu sei diferenciar isso,
mas na época ainda não sabia. E num dos setores fomos mal tratadas e no fim
pagamos uma fortuna. Na época eu dava uns surtos, pois tinha os focos e meus
órgãos estavam todos embolados dentro de mim. Após minha primeira cirurgia em 2010, eles foram diminuindos e cessaram após a segunda, em 2012. Hoje não tenho mais esses surtos,
e sei bem como é difícil para uma mulher com endo controlar isso em
qualquer situação. Até mesmo nas brigas com marido, namorado, amigos, familiares, etc. A endo é mais perigosa que imaginamos. Bem, voltando ao assunto, ao sermos
mal tratadas, já que gritar e espernear é perder toda a razão, eu peguei um
formulário de reclamação e preenchi, assi como fal Alexandre. Relatei tudo, tudo mesmo e como coloquei
lá particular, ligaram no mesmo dia para falar comigo. Numa outra oportunidade,
já com convênio tivemos a mesma experiência. Preenchi outro formulário. E, desta vez, para minha surpresa, a direção do hospital
não deu bola, porque coloquei na ficha “convênio”, no meu caso, um seguro
saúde. Mas o importante é a pessoa saber que tem direito de reclamar e reclamar
com classe. Alexandre nos dá essa dica. Beijo com carinho!! Caroline Salazar
Atendimento
em unidades de saúde
Por Alexandre Vaz
Edição: Caroline Salazar
Edição: Caroline Salazar
Hoje
vou abordar uma questão muito importante, causadora de muita lágrima e
humilhação, da qual a minha esposa já foi alvo. Não é meu apanágio reclamar
apenas, sempre gosto de apresentar uma ou mais possíveis soluções.
Vou
começar por descrever um caso recente. Recentemente acompanhei minha esposa em
uma consulta de urgência, pois ela estava com dor insuportável, os analgésicos
mais fortes não estavam surtindo efeito, e inclusive, tinha algumas perdas de
sangue. Chegamos no hospital em um dia meio complicado, estava havendo uma afluência
pouco normal. Vou já esclarecendo que não sendo rico, nem perto disso, o
hospital em que fomos é particular e dos mais bem cotados no país. O que
permite nosso atendimento nesse hospital é o sistema de saúde de minha esposa,
e tendo em conta a qualidade de atendimento que recebemos até esse dia. Nunca
nada nos tinha feito imaginar que um dia
fosse diferente. Como as aparências iludem...
Entramos,
fizemos a inscrição e ficamos esperando. Eu estava meio ansioso e por isso fui
comprar uma revista. Depois que cheguei ela estava com fome e sede, aí fui
comprar algo, e quando cheguei ela estava saindo da consulta com lágrimas nos
olhos. O que foi, o que aconteceu... o mesmo de sempre. A médica tinha olhado
pra ela, nem quis escutar os sintomas, falou mesmo que estava interessada
apenas em uma parte (além de tudo estava um pouco gripada, e foi aí que aquela
anta focou seu interesse), desvalorizando tudo o resto e ainda falando “Mas
você até que está com boa cara”.
Meu
sangue ferveu na hora, minha vontade foi de mostrar minhas aptidões de dentista
para ela e remodelar o piano daquela jumenta (nota: sou mecatrônico). Mostrei
minha indignidade, inclusive reclamando alto. Olhei para ela e pensei: “Isso
não vai resolver é nada, o problema fica igual e minha esposa nervosa já está.”
E
detalhe: foi nesse mesmo hospital onde ela foi acompanhada e operada no piso
superior. Fui lá, falei com a assistente do médico que operou minha esposa e
pouco tempo depois ela voltou dizendo que ele estava e que estava livre, sem consulta.
E se necessário ele nos receberia. Desci, falei o que aconteceu, e enquanto ela
foi fazer exames subi novamente e falei com o médico ali mesmo no corredor.
Expliquei por alto o que tinha acontecido, ele revirou os olhos em sinal de
desaprovação meio inconformado pela conduta da sua colega. Ele diferentemente
da outra, escutou os sintomas e muito calmamente falou: “Olha, o que está me
descrevendo não é mais endo. Nós estamos acompanhando o progresso dela, e essa
sintomatologia corresponde a um quadro neurológico. É para lá que vocês devem
ir. Infelizmente eu não tenho mais influência sobre o percurso dela aqui no
hospital. A questão do sangramento, poderá ser uma pequena fissura. Tem um
especialista aqui da minha confiança que eu gostaria que observasse ela.” Como
estava demorando, fomos andando e não é que o tal especialista vinha chegando?
Na hora ele nos apresentou, falou que gostaria que a minha esposa fosse
acompanhada por ele, e de imediato a disponibilidade dele foi revelada. Era só
marcar a consulta. Que diferença. Agradeci aos dois e voltei para junto da
minha esposa que estava sendo medicada.
As
análises não revelaram nada, claro. A gênia pediu análise para coisas que não
tinham nada a ver. A única coisa boa que resultou daquela ida ao hospital foi
algo que eu poderia ter resolvido pelo telefone com esse médico humano e
profissional. Mas saímos de lá com a consulta marcada, e isso foi muito
importante. E posso falar que no momento em que estou escrevendo isso, ela já
iniciou o acompanhamento com esse médico, cujo profissionalismo não parece
ficar atrás do que referi antes.
Finalizada
a descrição do episódio, vamos ao que interessa. Como reagir a situações dessas
com resultados positivos, evitando chutar o pau da barraca. Lembre-se, tem outras
pessoas doentes lá também, algumas sofrendo horrores, física e psicológicas.
Evite criar mais problemas para eles, afinal, eles não têm culpa do mau
trabalho de alguém que é formado em medicina, mas que de médico não tem nada.
Na
consulta: Se o médico está desvalorizando o que você fala, mas de um jeito que
você percebe que não está nem aí, ele quer é despachar os pacientes receitando
alguma coisa banal, confronte esse médico, mas calmamente.
Primeiro:
Você tem o direito de ser esclarecido, mesmo que não tenha muita instrução. O
médico não pode chegar de nariz empinado e só lidar com gente com a mesma
formação que ele. A sua obrigação é tratar TODOS iguais e com respeito. Do peão
ao deputado, todos estão abrangidos pelo seu juramento hipocrático, portanto
fazer discriminação não é aceitável.
Segundo:
médico que atende pessoas precisa escutar o paciente. Apenas se a pessoa se
mostrar confusa, o médico poderá ultrapassar o que ele diz e seguir um
diagnóstico com procedimento diferente. Mas ainda assim falando com o paciente.
Quem faz diagnóstico sem falar com o paciente é veterinário, e para ter esse
comportamento, o médico que o faça quando estiver atendendo a mãe dele. Se até
bicho merece respeito, imagine gente. Não é aceitável que clínico tenha esse
tipo de atitude.
Terceiro:
faça das tripas coração, mas nunca podemos perder a calma. Cabeça fria pensa
bem, cabeça quente só cria mais problemas. Aqui é muito importante que o
companheiro esteja acompanhando a mulher. Geralmente, um acaba acalmando o
outro e a coisa esfria. É de cabeça fria que você resolve os problemas.
Quarto:
saiba exatamente os seus direitos. Um direito seu é um dever do clínico, e
vice-versa. Por pior profissional que ele seja, a lei garante o direito à
dignidade. E não ganhando nada em xingar o médico, ainda pode conseguir alguns
problemas legais. Conhecimento é poder gente. Quando a gente sabe exatamente o
que pode fazer para reagir a uma situação adversa, é mais fácil reagir a ela. A
cabeça só esquenta geralmente por frustração. Não se deixe encurralar nisso.
Reaja civilizadamente e mostre para o clínico arrogante que você sabe
exatamente quais são os deveres dele, e como fazer para denunciar
comportamentos errados e/ou negligentes da parte dele.
Quinto:
não quebre o barraco com o pessoal do atendimento. Recepcionista não tem culpa
do que o clínico faz de errado. Pelo amor de Deus, é só uma pessoa que nem você
e eu que está lá trabalhando, ganhando seu sustento. Por parecer o alvo mais
fácil não descarregue sua fúria na pobre da recepcionista. Ela é o alvo mais
fácil, o clínico tá lá no consultório rindo se for preciso, e a infeliz está
levando bronca de uma coisa que ela não fez. Reclame com quem de direito, não
complique o dia de alguém que saindo de lá vai ter que pegar filho na escola,
fazer a janta, e todas as outras coisas que todos nós temos que fazer. Sabe o
que acontece quando você destroi a cabeçinha da recepcionista? O fígado dela
sofre, a paciência para aguentar o menino dela diminui (ainda dá umas palmadas
no inocente), chega em casa queima o arroz com feijão, e de quebra o marido
dela fica na mão porque ela tá com dor de cabeça. O culpado: clínico
incompetente. Os lesados: todo o mundo que não tem culpa.
Então,
simples procedimentos para evitar isso: durante a consulta, veja se o médico
está atento ao seu caso. Se não estiver, tente ajudá-lo. Por vezes estão
cansados de muitas horas trabalhando, podem estar com problemas pessoais que
todo o mundo tem... mas veja bem se ele é um profissional ou não.
Se a
conclusão for de que não é profissional, que não está nem aí, confronte ele.
Exija um atendimento decente. Existem 3 possibilidades: ou está com algum
problema, ou ele não domina o assunto e não quer assumir, ou não está nem aí.
Descartemos a primeira e vamos na segunda. Se não domina o assunto, o
procedimento correto é indicar um colega. Ele não precisa falar que não está à
vontade nessa matéria, e além disso é humano. Só Deus sabe tudo. Mas segurar
você na consulta dele e não dar resposta, isso é inaceitável. Não estar nem aí
para o seu problema... piorou.
Se não
conseguir resultados positivos na consulta, quando sair peça o livro de
reclamações. Reclame por escrito, se possível exigindo a devolução do seu
dinheiro. Se precisar peça ajuda para alguém da sua confiança. Relate todo o
episódio, descreva tudo com a maior honestidade e clareza. Segure o rancor, não
deixe que raiva transpareça no que escreve. Não sei como as coisas funcionam no
Brasil, mas em Portugal isso tem algum impacto. A sua queixa será analisada e
um dia acaba recebendo um relatório na sua caixa postal.
Você
recomenda o trabalho de um bom profissional? Gosta que seus amigos e familiares
possam ser bem servidos? Por que não mostrar o mau trabalho de um mau
profissional? Evite que as pessoas caiam no mesmo açougueiro que você. Se
alguém tivesse feito isso antes, você não estaria passando por isso. Como
paciente você paga o mesmo pela consulta de um e do outro. Exija seus direitos
e ajude a purgar alguns vermes que andam por aí, tendo vidões e ainda esnobando
o pobre. Pobre tem direitos, viu? Não precisa ficar aí denegrindo a imagem do
outro na praça pública, aliás nem faça isso. Mas se alguém perguntar, se a
conversa puxar para esse lado, fale sua opinião, do seu caso, mas de forma
educada e objetiva. Mantenha sua cabeça erguida e sua dignidade. Você pode ser
pobre, mas educação a gente pega em casa, não na escola. Educação e formação
são duas coisas bem diferentes no dicionário português. Deus acompanhe.
Caroline Salazar, é uma felicidade poder contar com a ajuda do seu Blog! Tenho endometriose e sofro, ultimamente, estou de hospital em hospital, atrás de respostas para o que vem acontecendo com a minha doença. Meu dilema é que mesmo estando em tratamento, tomando anti-concepcionais sem intervalo, continuo menstruando muito. Muito sangue, muito coágulo, enfim...além das dores ao urinar e evacuar. Estou sofrendo!!Você já passou por isso?aprecio muito sua ajuda.Brigada!!
ResponderExcluirAdorei esta publicação, até enviei p/ meu esposo; recentemente passamos por algo parecido, estávamos em Natal/RN em Lua de Mel, tive fortes dores, era insuportável. Tínhamos acabado de nos instalar no hotel; recorremos ao SAC do convenio e fomos ao atendimento (Clinica infantil/adulto) mais próxima, indicado por eles. O atendimento foi rápido, pois estava quase desmaiando, então logo me colocaram na sala de procedimentos de urgência... A médica mal fez perguntas, ou deixou meu esposo falar, suspeitou de "uma crise de calculo renal" e receitou medicação pra dor na veia, ah, e concluiu que já que não tinham aparelho de Ultrassom, que eu procurasse em Nefrologista no próximo dia útil... Logo que tive uma melhora, depois de nausear, vomito e etc, de tantas dores, a enfermeira disse que eu já estava liberada... Como assim, cadê a médica?! Não receberei nenhuma orientação caso ocorra repetição do quadro?! Bom, nessa hora meu esposo não se conformou, já estava segurando-se p/ não explodir e, foi procurar a médica... Ele falou da Endo, que eu havia operado fazia apenas um ano; ela disse que era possível que tivesse uma relação, receitou um comprimido "se dor" e ainda disse: - espero que consigam aproveitar a viagem... Imaginem, recém casados, em outro estado, s/conhecer alguém, fora o medo de ter que encarar nossa saúde brasileira, ainda mais no nordeste, com todos os noticiários que assistimos diariamente... Umas 6 horas depois, o quadro se repetiu, e o desespero de ambos era transparente; novamente o SAC e meu esposo solicitou um lugar c/ estrutura, equipamentos, com atendimento de PS e internação, e aproveitou para se queixar do local anterior.
ResponderExcluirFomos de táxi a este outro local, dava-nos a impressão de ser mais estruturado, pessoas mais preparadas, após triagem c/ enfermagem fui colocada na porta do médico de plantão (era um Domingo), estava aos prantos de dor, medo, dor... Fui atendida, bem atendida, fomos ouvidos pelo médico, examinada e encaminhada de imediato para medicação e exames (urina, sangue, ultra som). A todo momento era amparada pela enfermagem e pelo meu esposo que estava assustado, sem chão indo de lá pra cá para conseguir autorização de exame, pegar água pra mim, me levar ao banheiro e claro, respirar. Saí de lá dopada, mas sem dor, com orientação e conduta, c/ prescrição médica para os próximos dias, até poder procurar o local onde faço tratamento em SP. Consegui me levantar no dia seguinte após horas de sono e graças a Deus, ainda pudemos curtir nossa tão sonhada Lua de Mel.
Obrigada a todos os profissionais no Hospital PAPI, no bairro do Tirol, Natal-RN.
Fica aqui um desabafo de uma experiência real vivida por um "casal endo"
Milene e Jose Carlos.