domingo, 2 de julho de 2017

ENDOMETRIOSE: POR QUE NÃO PODEMOS ACEITAR O RÓTULO DE “A DOENÇA DA MULHER MODERNA”?

imagem cedida por Free Digital Photos


Por Caroline Salazar
Edição doutor Alysson Zanatta

Chegou meu tão esperado mês, o mês do meu aniversário. Para comemorar escrevi mais um texto autoral para todas as endomulheres refeltirem. Já falei sobre este assunto algumas vezes no 
A Endometriose e Eu (leia meu texto sobre “Endometriose: doença da mulher moderna?" e o do endomarido Alexandre sobre o tema ambos publicados em 2013) e também abordamos com a psicóloga e portadora, Livia Burin, "Os rótulos que as portadoras não deveriam ter", mas nunca é demais abordar o assunto quando se fala da endometriose. Até porque é o que mais escuto por aí é a propagação desse tal rótulo de a doença da mulher moderna. Ok, hoje a mulher engravida mais tarde e menstrua mais, certo? Certo, mas se a tal da teoria de Sampson ou da menstruação retrógrada - quase 100 anos depois de sua descoberta – ainda não foi comprovada cientificamente, porque raios têm a ver a doença com o fato de a mulher menstruar mais ou menos?

A endometriose sempre existiu. Ela não é uma doença desencadeada por conta da vida moderna. Se hoje a doença ainda é um enigma, imagina 70, 80 anos atrás? Estamos falando da época de nossas avós. Infelizmente a menstruação sempre foi e ainda é um tabu na nossa sociedade machista. Porém em algumas culturas, como a indiana, menstruar ainda é algo sujo, impuro. Lá a mulher menstruada não pode sentar-se no sofá, e ainda hoje há templos que proíbem a entrada de mulher menstruada. Para nós, um verdadeiro absurdo!

Pelo fato de menstruar menos e engravidar mais, os sintomas da endometriose são amenizados. Se ainda hoje a cólica forte é tida como chilique e frescura da mulher, já pensou como as mulheres com dores menstruais da época de nossas avós eram tratadas? Há relatos desses sintomas que poderiam ser de endometriose muito antes do nascimento de Cristo, descritos nos Papiros de Kahun (também conhecidos como os Papiros de Lahun), que são documentos oficiais escritos pelos sacerdotes e nobres egípcios sob a forma de hieróglifo (sinais e gravuras) em 1825 aC. Também foram encontrados documentos históricos indianos datados de 800 aC, nos quais os médicos da época responsabilizavam (culpavam) as pacientes com dor pélvica pelo surgimento da doença, condenando o seu estilo de vida por causa de uma enfermidade da qual elas não possuíam o controle. (fonte doutor Hélio Sato)

Quando rotulam a endometriose como “a doença da mulher moderna” sem querer quem fala isso culpa a mulher por ela ter uma grave enfermidade, é como se ela tivesse endometriose por querer, entendem? Infelizmente escutamos muito isso de médicos, seja eles homens e ou mulheres. Confesso que dói mais ouvir da boca de uma mulher. Será que ela já se colocou no lugar de sua paciente? É muito mais fácil colocar a culpa na mulher do que solucionar o problema. Não podemos aceitar que nos culpem por ter uma doença, aliás, nenhuma doença. E o que dizer de adolescentes com endometriose? Vou escrever mais sobre isso, mas leiam a história da Clara Flaviane, de 16 anos, que mesmo com a pouca idade sofre como uma portadora aos 20, 30, 40... O doutor David Redwine também já falou sobre endometriose em adolescentes. Neste contexto onde se encaixa a frase "a doença da mulher moderna"? A adolescente também é culpada por ter endometriose e por não ter engravidado ainda?


A endometriose é uma doença grave demais para achar quem é o culpado. É preciso que os médicos conheçam sua causa para conseguir trata-la. Já basta ser uma doença que deixa a mulher deprimida, com baixa-estima, mais inchada e até mesmo com uns quilos a mais, por conta das altas doses de medicamentos que muitas endomulheres tomam diariamente para aliviar os sintomas. Não precisamos de rótulos para nos descrever. Precisamos de mais apoio, mais compreensão, mais carinho. Precisamos de mais amor e menos julgamentos. Beijo carinhoso!

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