Apesar dos avanços dos últimos anos, em comparação a décadas atrás, a endometriose ainda é uma doença pouco compreendida e cercada de muitos mitos e equívocos. Infelizmente esses mitos e equívocos ainda não proferidos por médicos que se dizem especialistas. Não é raro ver um médico dando como opção de cura da doença à sua paciente a gravidez ou algum tratamento hormonal. Ambos são paliativos e certamente são ótimos controladores dos sintomas. Outra opção de cura de tantos médicos é a histerectomia, ou seja, a retirada do útero. Tadinho do útero! Tornou-se um grande vilão de uma doença que nada tem a ver com o útero. E junto ainda levam os ovários, impossibilitando a mulher de ser mãe. Como o doutor Alysson Zanatta já disse aqui no blog, "a endometriose é caracterizada pela presença de um tecido semelhante ao endométrio". Veja que ele usou a palavra semelhante e não igual. Em 2014, durante uma Jornada de Endometriose a qual participei, escutei na aula do doutor Ricardo Pereira que o endométrio do útero e o endométrio dos implantes de endometriose são diferentes. Ou seja, eles não são iguais.
É preciso haver um melhor entendimento da doença por parte dos médicos. Outra frase do doutor Alysson em seus artigos aqui no blog é que "os médicos só vão saber tratar a doença corretamente quando eles entenderem de onde ela vem". Mas ainda bem que hoje existe a internet, e uma das missões do A Endometriose Eu é propagar a correta conscientização da doença com informações sérias e com embasamento científico e nunca baseada no achismo. Há cerca de três anos começamos a propagar que a doença não vem da menstruação retrógrada com os artigos do médico e cientista americano doutor David Redwine e os do doutor Alysson Zanatta. Sei que temos um longo caminho pela frente, mas tenho esperança de que muito em breve possamos mudar as informações erradas pelas certas. Tenho esperança de que vá surgir algum jornalista inteligente que irá ler os textos seja do doutor Alysson ou do doutor Redwine e começar a questionar sobre a real origem da doença.
Neste artigo damos às boas-vindas a mais uma colaboradora-voluntária, a portuguesa Miriam Ávila, portadora da doença que irá traduzir textos para o blog. Seja bem-vinda! Obrigada por acreditar no trabalho do A Endometriose e Eu. Na nota de tradutor, no rodapé, Miriam conta sua história com a doença, e fiquei muito emocionada quando soube que ela encontrou o alento e as informações que tanto precisava aqui no blog. Beijo carinhoso! Caroline Salazar
Mitos e equívocos na
endometriose.
Por Ross Wood, Heather Guidone e Lone Hummelshoj
Tradução: Miriam Ávila
Edição: Caroline Salazar
Questões de
gênero e a natureza complexa da endometriose levaram a uma infeliz criação de
muitos mitos e equívocos sobre uma doença que afeta cerca de 176 milhões de
mulheres (e suas famílias) em todo o mundo.
Aqui estão alguns fatos sobre a endometriose - e iremos
dissipar alguns mitos também!
-
Endometriose: uma doença difícil de
entender:
Do ponto de vista de uma mulher, a endometriose é uma
doença cercada por tabus, mitos, diagnóstico tardio, tratamentos errados e uma
falta de consciência sobrepostos a uma ampla variedade de sintomas que cercam
uma teimosa, frustrante e, para muitos, uma dolorosa condição crônica.
Ela afeta mulheres e jovens durante o auge de suas vidas e não
tem qualquer ligação com falhas pessoais por suas escolhas de estilos de vida.
O bem-estar físico, mental e social dessas pessoas é afetado
pela doença, afetando potencialmente sua capacidade de terminar seus estudos, manter
uma carreira, tendo como consequência um efeito sobre suas relações, atividades
sociais e, em alguns casos, fertilidade. Cerca de metade das mulheres com
endometriose também sofrem de dor associada nas relações sexuais.
O acesso a um diagnóstico e tratamento atempados para esta
grande população de mulheres e jovens não deveria ser afetado pelos mitos e
concepções errôneas que, infelizmente, continuam a existir.
- Dor severa durante o período
menstrual não é normal:
Os
"problemas das mulheres" deixaram perplexos os médicos do século XIX,
que os encararam como indicadores das condições psicológicas instáveis e
delicadas das mulheres.
Embora as
atitudes em relação às mulheres tenham melhorado durante o século XX, algumas
das velhas crenças ainda persistem inconscientemente, e afetam as atitudes dos
profissionais médicos em relação às queixas das mulheres, incluindo a dor
dourante o período menstrual.
Como
resultado, ao procurar ajuda para a dor pélvica (que pode ocorrer fora da
menstruação), muitas mulheres com endometriose são informadas de que sua dor
(frequentemente severa) durante o período é "normal", "que faz parte
de ser mulher" ou "que está tudo na sua cabeça". Outras são
informadas de que têm "um limiar de dor baixo" ou são "psicologicamente
inadequadas".
A verdade é
que se a dor interfere na sua vida diária (seja na escola, no trabalho ou participando
de atividades cotidianas), não é normal.
Se a dor
interfere com o seu dia-a-dia, por favor, procure ajuda e peça para ser examinada
para determinar a causa de sua dor.
- Ninguém é jovem demais para ter
endometriose:
Muitos
médicos ainda acreditam que a endometriose é rara em adolescentes e mulheres
jovens. (nota da editora: leia o texto do médico e cientista americano doutor David Redwine sobre o assunto, o do cientista inglês Matthew Rosser e a história da adolescente Clara Flaviane, de 16 anos, que confirmam que a doença pode acometer tanto a mulher como a menina).
Consequentemente,
eles não têm em conta um diagnóstico de endometriose quando meninas e mulheres
jovens vão até eles queixando-se de sintomas como dor no período, dor pélvica e
relações sexuais dolorosas.
Infelizmente,
essa crença já persiste há algum tempo. Antes da introdução da laparoscopia na
década de 1970, a endometriose só poderia ser diagnosticada durante uma laparotomia,
uma cirurgia importante envolvendo uma incisão de 10-15 cm no abdômen. Os
riscos e custos de uma laparotomia significava que normalmente era feito apenas
em um último recurso em mulheres com sintomas mais graves que já tivessem
passado a idade fértil. Porque somente mulheres com 30 ou 40 anos eram operadas,
então a doença era diagnosticada somente em mulheres dessa idade. Subsequentemente
surgiu "o fato” de que a endometriose era uma doença que surgia apenas nas
mulheres em seus 30 e 40 anos.
Foi apenas
com a introdução nos anos 1970 e 1980 da laparoscopia para investigar as
mulheres com problemas de infertilidade, que os ginecologistas começaram a
diagnosticar a doença em mulheres nos seus 20 anos de idade e início dos seus 30
anos, a faixa etária a ser investigada. Assim, eles revisaram a faixa etária
típica para a endometriose até o final dos anos 1920 e início dos 1930 anos.
Mais uma vez, eles não consideraram que poderiam estar "encontrando"
porque eles estavam "olhando" para ele (o diagnóstico).
A descoberta
de que a endometriose podia ser observada em adolescentes e mulheres jovens
surgiu como resultado de uma pesquisa feita pelos grupos nacionais de apoio à
endometriose em meados dos anos 1980, o que chamou a atenção de alguns
ginecologistas eminentes na década de 1990. O doutor Marc Laufer, do Children's
Hospital Boston, conduziu estudos em adolescentes com dor pélvica crônica. Um
de seus estudos mostrou que as adolescentes cuja dor pélvica crônica não era
aliviada por uma pílula anticoncepcional oral e um anti-inflamatório não-esteróide
como Ponstan tinham uma alta presença de endometriose - até 70%.
Mais
recentemente, o Estudo Global de Saúde da Mulher (The Gobal Study of Women’s
Health), realizado em 16 centros em 10 países, mostrou que dois terços das
mulheres procuraram ajuda para os seus sintomas antes dos 30 anos, muitas com
sintomas desde o início da primeira menstruação.
Adolescentes e mulheres jovens com 20 anos de idade não são muito jovens
para ter endometriose - na verdade, a maioria das mulheres já têm sintomas
durante a adolescência, mas infelizmente não são diagnosticados e tratados até
que elas atinjam os 20 ou 30 anos.
- Tratamentos hormonais não curam a
endometriose:
Medicamentos
hormonais sintéticos como a pílula, progestina, Danazol e análogos de GnRH têm
sido usados por muitos anos para
"tratar" a endometriose.
No entanto,
estes tratamentos hormonais não têm qualquer efeito a longo prazo sobre a
própria doença. Eles temporariamente suprimem (silenciam) os sintomas, mas
apenas enquanto as drogas são tomadas. Uma vez cessado o uso dos medicamentos,
os sintomas voltam com mais frequência.
Isto
significa que os tratamentos hormonais não têm um papel no tratamento (erradicação)
da endometriose. Se pretende erradicar a doença, a cirurgia realizada por um
ginecologista com vasto conhecimento e experiência das técnicas especializadas
utilizadas para endometriose é o único tratamento médico eficaz.
Significa
também que os tratamentos hormonais não devem ser usados para melhorar as chances das
mulheres de conceber. Não só eles não têm nenhum efeito sobre a doença em si, mas também reduzem o tempo disponível para conceber, porque a concepção não é
possível enquanto a mulher está sob o efeito de drogas. Se é necessário um tratamento
para a infertilidade, a cirurgia feita por um ginecologista especialista é
imperativa.
- Gravidez não cura a endometriose:
Felizmente, o mito de que a gravidez cura endometriose
está desaparecendo aos poucos. (Nota da editora: leia o texto do doutor David Redwine "A gravidez é a cura para a endometriose?"
No entanto,
não está desaparecendo rápido o suficiente! A realidade é que a gravidez - assim
como os tratamentos medicamentosos hormonais - pode temporariamente suprimir os
sintomas da endometriose, mas não erradicar a doença em si. Portanto, os
sintomas geralmente reaparecem após o nascimento da criança. Algumas mulheres
podem retardar o retorno dos sintomas por conta da amamentação, mas somente
enquanto a amamentação é frequente e intensa o suficiente para suprimir o ciclo
menstrual.
- A
endometriose não é o endométrio:
Muitos artigos, "recursos" on-line e artigos
de imprensa referem-se à endometriose como "endométrio" (o
revestimento do útero ou tecido fora do útero). Isso não é correto. Investigadores-especialistas
concordam que a “endometriose ocorre quando o endométrio - tecido semelhante
ao endométrio (camada que reveste ao útero) é encontrado fora do útero”.
- A
endometriose não é sinônimo de infertilidade:
Muitas mulheres jovens têm a ideia de que ter
endometriose inevitavelmente significa que elas serão inférteis. Isso não é
verdade. A maioria das mulheres com endometriose consegue ter filhos.
Infelizmente, não existem estatísticas confiáveis que
indiquem qual a porcentagem de mulheres com endometriose que não têm problemas
para ter filhos, ou que têm dificuldades, mas acabam tendo sucesso ou nunca
conseguem. Portanto, é impossível dar às mulheres uma informação confiável sobre
suas chances em ter problemas de fertilidade. No entanto, no geral, acredita-se
que a probabilidade de haver problemas de fertilidade aumenta com a gravidade
da doença e, tal como em mulheres sem endometriose, com a idade.
Acredita-se geralmente que 60 a 70% das
mulheres com endometriose são férteis. Além disso, cerca de metade das mulheres
que têm dificuldades em engravidar eventualmente concebem com ou sem
tratamento.
- Infertilidade
não é causada apenas pela endometriose nas trompas:
A afirmação de que a cicatrização das trompas de falópio
devido à endometriose é uma causa comum de infertilidade está aparecendo cada
vez mais nas publicações leigas. Os autores de tais publicações são geralmente
pessoas que têm pouca compreensão da condição e provavelmente estão confundindo
as causas da infertilidade associada à endometriose com as causas de
infertilidade associada à doença inflamatória pélvica.
A doença inflamatória pélvica é uma infecção que danifica ou
bloqueia as trompas de falópio. Ela provoca infertilidade, impedindo o movimento
do óvulo e esperma através da trompa. Em contraste, a endometriose nas trompas
é menos comum e nem sempre causa infertilidade.
Os mecanismos pelos quais a endometriose causa infertilidade
ainda são amplamente desconhecidos, apesar de anos de pesquisa. Podem passar
anos ou mesmo décadas antes que os enigmas da infertilidade e da subfertilidade
da endometriose sejam resolvidos e ou descobertos.
- Histerectomia não
cura endometriose:
A endometriose é definida como "tecido semelhante ao
endométrio fora do útero".
Remover o útero e ou os ovários sem remover os implantes de
endometriose fora do útero não vai eliminar os sintomas da endometriose.
- A endometriose é fisiológica e não emocional:
"Distúrbios
emocionais" não são a origem da endometriose.
A endometriose é uma doença
que está enraizada e muito real, altamente complexa com causa hereditária,
epigenética e com bases moleculares – uma verdadeira doença multifatorial e
fisiológica.
Mulheres com endometriose
lutam com a angústia emocional causada pelos sintomas implacáveis de dor e
infertilidade, mas essas emoções são um resultado do impacto da doença - eles não causam a doença.
- Aborto não causa endometriose:
Não existem evidências
científicas que liguem o aborto ao consequente desenvolvimento da endometriose.
Aqueles que afirmam o contrário podem estar a confudir "endometriose"
com "endometrite" (nota da editora: inflamação do endométrio
provocada por uma infecção).
- Ducha vaginal não
causa endometriose:
Não existem evidências científicas que liguem a ducha vaginal
– (lavagem vaginal) a um consequente desenvolvimento de endometriose. Aqueles que
afirmam o contrário podem estar a confudir "endometriose" com
"endometrite".
Fonte: http://endometriosis.org/
Nota da
tradutora:
Olá, meu nome é
Miriam Ávila, tenho 34 anos e sou natural e residente nos Açores, Portugal.
Foi-me
diagnosticada endometriose em janeiro de 2015 por meio de uma citologia. Como
foi feita colheita para biópsia, ficou-se aguardar a resposta para depois
escolher um tratamento adequado. Seis meses depois voltei a fazer nova
citologia, pois não apareceram resultados da primeira biópsia, e a médica que
me avaliou na altura apenas receitou-me uma pílula diferente da que estava a
tomar. Quatro meses depois dei entrada em internamento devido a hemorragias e por
já estar anêmica. Fiz a ressonância e tomografia axial computadorizada que
confirmaram a endometriose no canal vaginal com cisto. A resposta que me foi
dada foi que não havia solução, que não se podia operar aquela zona. Então
decidi procurar por ajuda na internet, quando me deparei com o blog “A Endometriose e Eu”, de Caroline
Salazar. Foi meu porto seguro.
Li muitos dos
posts coloquei dúvidas nos comentários que me foram respondidas pelo amigo
Alexandre Ferreira (um endomarido, também colaborador-voluntário do blog) que em
seguida me passou o contato da Associação MulherEndo em Portugal, que por sua
vez encaminharam-me para consulta com o doutor Helder Ferreira na Maternidade
Júlio Dinis da cidade do Porto.
Tive a primeira
consulta já em maio de 2016 e fui logo diagnosticada com endometriose
retovaginal, depois fizemos exames (ressonancia, tac, ecoanal e análises) e
fiquei logo em lista de espera para cirurgia.
Minha primeira laparoscopia
foi feita em 9 de dezembro de 2016 e estou feliz de dizer que neste momento não
tenho qualquer foco de endometriose. Claro que continuo fazendo pílula
contínua, que é muito importante, pois a menstruação piora nossa situação e como
eu não pretendo ser mãe pelo menos por enquanto.
Para além de
endometriose, tenho colite ulcerosa o que ainda agrava mais a situação, por
isso tem sido uma luta constante! Mas cá estou! Vencendo!
E esta é minha
história! Sobre minha personalidade: sou muito sociável, brincalhona, mente
aberta, gosto de ajudar, e tenho ganhado muita confiança e espírito positivo,
força de vontade de fazer mais por mim e pelas mulheres que passam pela mesma
situação e que infelizmente não tem quem lhes ajude e fale por elas!
Por isso, amigas
endoguerreiras! Vamos à luta! A vida é
muito para ser insignificante e despercebida!
Adoro os textos. São sempre esclarecedores e dão suporte para poder discutir com médicos. Obrigada!
ResponderExcluirMuito esclarecedor.
ResponderExcluirEssa doença não é fácil não, mas vamos a luta.
Gurias sexta-feira,dia 6,vou para minha oitava cirurgia,tenho um único ovário e este aderiu agora ao inrestino,sigmoide ,acima da vagina,e no peritonio,então lá vou eu pra mais uma.Dessa vez será com uma equipe,segundo meu médico. Peço a Deus que de tudo certo.Obrigada por esclarecimentos.Bjs
Depois de conhecer o blog "A endometriose e Eu , tornei me mais forte na luta.
ResponderExcluirA menopausa.nao cura a endometriose?
ResponderExcluirExistem mulheres que mesmo que.nao menstruem mais ainda sofrem com endometriose intestinal?
a um ano a traz comecei sentir dores fortes depois da retirada de um polìpo dentro do endometrio procurei o medico e ele desconfio que podia ser endometriose as dores continuou, o medico decidiu fazer a video laparoscopia e nâo achou nem um foco de endometriose , ela colocou o diu de mirena e falou que provavel que eu fosse portadora da adenomiose , coloquei dia 24/01/2017. estou com náuseas, mas o resto ta bem
ResponderExcluirMeu parceiro e eu estamos tentando por um bebê há mais de sete anos, nós estávamos indo para uma clínica de fertilidade por anos antes de alguém ter me contado para entrar em contato com esse conjurador de feitiços que é tão poderoso chamado Templo de Agbazara para ele me ajudar a obter o prenant, E eu Fico feliz por termos contatado DR.AGBAZARA, porque a magia da gravidez dele nos colocou à vontade, e honestamente acredito nele, e seus poderes realmente nos ajudaram também, agradeço por tudo o que ele fez. entre em contato com ele por e-mail em: ( agbazara@gmail.com ) ou ( WHATSAPP; +2348104102662 ) se você está tentando obter um bebê, ele tem poderes para fazê-lo.
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