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Por Caroline Salazar
Edição: doutor Alysson Zanatta
Edição: doutor Alysson Zanatta
Como a dor da endometriose afeta o psicológico de uma mulher?
Já falamos no blog sobre o perfil psicológico de uma portadora de endometriose escrito pela psicóloga Ana Rosa Detílio Mônaco, mas numa enquete na fanpage doblog muitas leitoras pediram para falar sobre como a endometriose afeta nosso emocional. Como portadora da doença e como aquela que sofreu 21 anos com as dores severas - 18 deles sem saber o que eu tinha - vou falar como é viver 24 horas do dia com dores. Eu vivi assim por muitos e muitos anos e é assim que vivem muitas das 10 milhões de portadoras brasileiras. E que dores são essas? Elas começam com uma cólica no período menstrual – podem ser como pontadas de facas, agulhadas, cortante, dilacerante - e vai aumentando, aumentando até chegar a tomar conta da nossa vida, mesmo nos dias fora da menstruação. Com o tempo vão surgindo outras dores, nas pernas, na lombar, até um momento em que tudo no nosso corpo dói. Dói para urinar, para evacuar, para transar, ou seja, nossa vida se transforma num pesadelo de dores. E aí quem tem dor sempre está com um semblante estranho, mais triste, e é aí que as pessoas que convivem conosco começam a perguntar: “Nossa o que você tem que está com esta cara?”.
Quando a mulher ainda não tem o diagnóstico, a gente fala o que: que estamos com dor, e como não sabemos de onde vem a dor tem momentos que pensamos que estamos loucas. Se tiver o diagnóstico somos sempre aquela que está com dores, que é fraca ao ponto de não aguentar uma cólica, que é preguiçosa e por aí vai... A outra pessoa não pensa que dentro daquela mulher que sofre tem um sentimento, que corre sangue, que é um ser humano. Como fica o nosso psicológico, o nosso estado emocional? Péssimo! E péssimo em vários sentidos, pois como a outra pessoa não sabe o que é viver com dores incapacitantes e acha que a endometriose é uma doença que se dá apenas quando a mulher está menstruada, recebemos desprezo e xingamentos. Acham que a doença é frescura, temos de temos de escutar baboseiras do tipo: engravida que passa, quando casar melhora, mulher tem de sofrer mesmo...
Sentir dores diariamente pode nos deixar em depressão. Aliada à incompreensão das pessoas também podem nos levar à depressão, e eu passei por isso. A endometriose é uma doença que afeta a mulher num todo. Muitas vezes não conseguimos levantar da cama. Ter dores por todo o corpo afeta nossa qualidade de vida, nos deixa muito nervosa, impaciente. Muitas endomulheres não conseguem viver sua vida profissional, muito menos a pessoal e isso é muito grave. Quem quer viver numa cama? Quem não quer trabalhar? Quem não quer estudar? Quem não quer namorar? Quem não quer sair com os amigos? Tudo isso, coisas comuns do nosso dia a dia, são roubadas pela endometriose.
Tudo isso mexe muito com nossa cabeça, muitas não têm mais ânimo para a vida e até pensam em morrer. Muitas chegam a cometer algo contra sua própria vida. É uma fase difícil e precisamos ser muito fortes para superar, mas acredite: você irá superar assim como superei. Em primeiro lugar acredite no que você sente e busque ajuda especializada. Não ouça terceiros, deixe-os falar, mas se escutar não alimente isso dentro de você. Sim, você tem um problema muito sério, em muitos casos não será na primeira cirurgia que você ficará sem dor, talvez, nem na segunda. Então, mesmo após a cirurgia você poderá continuar com dores. Retirar os ovários e o útero não significa que você ficará livre da doença. Se ficar algum foco no seu corpo, mesmo sem os ovários a doença poderá continuar e aumentar dentro do seu corpo.
Manter mente sã quando estamos diante da dor e da ignorância humana é muito difícil. Eu sei disso, mas se eu consegui você vai conseguir também. O meio estressante o qual uma endomulher vive também influência e muito em suas dores. Nosso estado emocional afeta muito a qualidade não só da nossa vida, mas das dores também. Sempre que possível procure fazer algo que te dê prazer. Procure espairecer, mesmo que seja sozinha. Eu saía muito para caminhar sozinha, principalmente, quando vivia momentos de tensão, seja de dor ou de incompreensão das pessoas. Eu realmente aprendi a viver comigo mesma. Comigo e com Deus, pois saiba que Ele nunca nos desampara e que Ele vê tudo.
Outro fator muito importante é o médico especialista entender e tratar sua paciente como um todo, não apenas a doença ou o órgão afetado. Quantas e quantas vezes eu chorei no consultório do meu. Ninguém me entendia, eu parecia uma E.T. no mundo, mas ali eu tinha alguém que compreendia o que eu passava. Ter um profissional que te escute, que entenda seu sofrimento ajuda a melhorar nossa autoestima, o nosso psicológico e a entender melhor sobre a doença. Se você precisar de ajuda psicológica não hesite em procurar ajuda, mas ache um profissional que entenda sobre a doença.
Não é fácil viver com dores incapacitantes, postergar planos, ter um corpo inchado por conta das altas doses de medicamentos para conter as dores. Não é fácil viver e conviver com a endometriose. Por isso você, endomulher, tem de acreditar naquilo que você sente. Cada endometriose é de um jeito, cada organismo reage de um jeito, mas você tem de ser forte para reagir sobre a sua vida e não esmorecer até o fim da batalha. Quem vive com as dores da endometriose enfrenta uma guerra diariamente. Somos guerreiras por natureza. Acredite em você! Eu acredito em você. Beijo carinhoso!!
Grata por suas palavras! <3
ResponderExcluir"Nossa, de atestado por causa de uma cólica!?, Vc é mole, imagina se fosse pra parir... Nunca aguentaria!"... Já ouvi essas e muitas outras! É bom saber que não estou sozinha!
ResponderExcluirNossa Amanda..Ouvi isso recente mas foi porque eu estava deitada com cólica. Aí tenho que ouvir: toda mulher tem cólica, larga de moleza!
ExcluirNão é fácil. Demorei uns 15 anos pra ter o diagnóstico, nas duas primeiras cirurgias só foram retirados focos superficiais que me levaram ao hospital a ponto de precisar de morfina e partir para a terceira cirurgia, maior, mais invasiva, mas que retirou o q era necessário. Hoje após 3 meses da cirurgia me vejo com sintomas de transtorno do pânico, sentimentos e emoções que nunca vivenciei. Já estava em terapia, busquei homeopatia pois não queria me entupir de medicamento novamente, mas não consegui. Me consultei e estou tomando alopáticos, até um tarja preta, que ainda não fizeram efeito, tem poucos dias, mas tenho fé que vai dar tudo certo. Assim espero pra mim e para todas as endoamigas.
ResponderExcluirNão é fácil. Demorei uns 15 anos pra ter o diagnóstico, nas duas primeiras cirurgias só foram retirados focos superficiais que me levaram ao hospital a ponto de precisar de morfina e partir para a terceira cirurgia, maior, mais invasiva, mas que retirou o q era necessário. Hoje após 3 meses da cirurgia me vejo com sintomas de transtorno do pânico, sentimentos e emoções que nunca vivenciei. Já estava em terapia, busquei homeopatia pois não queria me entupir de medicamento novamente, mas não consegui. Me consultei e estou tomando alopáticos, até um tarja preta, que ainda não fizeram efeito, tem poucos dias, mas tenho fé que vai dar tudo certo. Assim espero pra mim e para todas as endoamigas.
ResponderExcluirO nosso psicológico realmente tem que está equilibrado e forte, pois além de toda dor, incompreensões ainda vem os efeitos dos remédios para tentarmos ter uma qualidade de vida melhor, já decidi vou usar os remédios e viver e aproveitar o máximo possível da vida, sei que corro riscos de ter uma trombose, câncer, mas o que adianta viver 100 anos com dor, prefiro ter menos e poder VIVER! Acredito nos planos de Deus! E tento não pirar o cabeção, viver um dia de cada vez!
ResponderExcluirLindo texto Caroline! Como é bom saber que não estamos sozinhas.
ResponderExcluirBeijos Luciene.
Lindo texto, fiquei muito emocionada. Descreve a realidade de muitas mulheres com a endometriose assim como eu. Tenho 19 anos e desde que fiquei mocinha aos 9 anos sofro com cólicas que a cada ano aumentava, tornavam se piores, impediam que eu tivesse uma infância tranquila. Quantos médicos já passaram em minha vida,e uns diziam isso e aquilo, e principalmente que era normal. Não é normal uma mulher sentir cólicas ao ponto de desmaiar, de não conseguir nem buscar um copo de água devido as dores intensas, de se concentrar ao estudar. Cresci com essas dores e aos 17 anos disse a mim mesmo que iria tentar o último médico, seria o sexto durante a trajetória. Me diagnosticou com endometriose, porém me deu medicamentos errados. Em oito meses de focos de endometriose passei para o 3 grau da doença. Fui para o sétimo médico, porque não aguentava mais as dores, nem se quer urinar conseguia. E graças a DEUS era um médico abençoado, porque pediu uma séria de exames e hoje estou tratando de forma correta e aos poucos tendo uma vida sem tantas dores assim. Sofro muito com o preconceito das pessoas por dizer que é frescura. Nós que temos sabemos o sofremos, é uma dor que não há como descrever. Dói a alma, e com essa vem o desespero e pensamos cada besteira para nos livrar disto. É difícil, mas somos fortes e fazemos o possível para enfrentar isso todos os dias. Obrigada por esse relato me ajudou muito.
ResponderExcluirNossa Caroline. Meu nome é Eduarda e é a primeira vez que acesso o blog para comentar..Mas estou me sentindo exatamente assim. Exaurida emocionalmente. Na minha família tenho apoio de algumas pessoas. Porém é difícil ouvir coisas como ouvi da minha irmã que tenho feito drama com endometriose. Ela disse isso quando eu comentava com minha mãe que estou tendo muitos gastos com o tratamento e ela disse que não "é bem assim. Se fosse caro igual eu falo, ninguém trataria". Sabe, estou às vésperas do casamento e descobri a endo. Dores absurdas, gastos com tratamento (tô usando Allurena após a laparoscopia), e me sinto um peixe fora d'água em qualquer lugar. As vezes "cobro" do meu noivo que ele deveria entender mais esse mundo estranho que vivo desde que descobri a endo. Ontem fui deitar cedo porque não estava aguentando ficar em casa "convivendo socialmente". É estranho..me sinto tão pra baixo.. E o inchaço que não passa, sinto os efeitos do Allurene gritando em mim: um humor instável, triteza, desânimo..
ResponderExcluirNossa Carol ao ler esse seu depoimento chorei aqui
ResponderExcluirFui diagnosticado aos 21
Hoje com 24 já passei por 3 cirurgias e as dores
Não cessam, a cada novo exame é
Uma surpresa ruim isso dói na mente, na alma
Muitas noites choro na cama por pensar em como será o dia seguinte, no que farei e como será acordar desse
Jeito =\
Carol,texto muito bom!
ResponderExcluirEstou no meio de um dilúvio, me trato de endometriose há mais de 10 anos, com duas cirurgias, a última me trouxe uma surpresa, endometriose de grau 4, com focos no intestino, e depois disso tenho tido dores estranhas mesmo não estando no ciclo, ai vou ao pronto socorro achando ser algo mais grave, mas dizem que tudo é intestinal,diarreia, dor em volta do umbigo, mal estar, e uma grande tristeza e medo. E muitos médicos não estão preparados para esse tipo de coisa. Ainda bem que existe vocês.
Adorei! Vc descreveu tudo aquilo que uma mulher passa e que a maioria acha que é psicológico. Só Deus sabe como eu consigo ficar de pé, a minha dor é tão forte que já pensei realmente em morrer, esta acabando com a minha vida. Fui diagnosticada só de boca, fiz uma tomografia pelo sus e não apareceu nada, então acham que minha dor é psicológica. Sou ligada e depois de 4 anos a médica achou melhor voltar a tomar anticoncepcional, mas como é pelo sus tomo uma bomba de hormônios de 3 em 3 meses, mesmo assim a dor persiste, não adiantou, melhorou um pouco, mas ainda dói muito.
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