segunda-feira, 11 de julho de 2016

DAVID REDWINE: AVALIAÇÃO DA PACIENTE COM ENDOMETRIOSE - PARTE 1!


imagem cedida por Free Digital Photos
Na primeira parte do texto "Avaliação da paciente com endometriose", o médico e cientista americano doutor David Redwine explica os sintomas da endometriose e como ele pode ser confundido com outras causas de dores pélvicas. Você sabia que não tem idade para ter endometriose? Segundo doutor Redwine a menina mais nova diagnosticada com a doença tinha de 10 anos de idade. Ele também descreve como sentimos as dores: "cortante",  pontadas faca", "de agulha", "queimação". Foi descrevendo assim as dores que eu sentia, que o blog começou a ficar conhecido. Muiras endomulheres se identificaram. O texto explica também o que é e os sintomas da endometriose pélvica, da intestinal, da umbilical, da diafragmática, e dos endometriomas. Ele explica cada uma e relaciona seus sintomas. Mais um texto exclusivo A Endometriose e Eu. Beijo carinhoso! Caroline Salazar

Por doutor David Redwine
Tradução: doutor Alysson Zanatta
Edição: Caroline Salazar

Avaliação da Paciente com Endometriose - parte 1.
O sucesso no tratamento da endometriose depende da diferenciação de seus sintomas de outras causas de dor. Nem toda dor pélvica é causada pela endometriose. Se causas de dor distintas da endometriose forem atribuídas à essa, o resultado do tratamento será confuso. Enquanto a interpretação dos sintomas é parte da arte da medicina, a endometriose é uma doença que costuma produzir sintomas previsíveis.
Sintomas da endometriose:
Um modo comum de aparecimento dos sintomas de endometriose é a ocorrência de dor severa e progressiva associada à menstruação e que se inicia na menarca (nota do tradutor: primeira menstruação). Amigos e familiares podem oferecer o falso encorajamento de que tal dor é “normal” ou “parte de ser mulher”. Entretanto, deve-se ter em mente que a mais jovem paciente já diagnosticada com endometriose tinha 10,5 anos de idade e foi diagnosticada cirurgicamente cinco meses após sua menarca [1]. Pílulas analgésicas e bolsas de água quente são comumente usadas nesta idade. Com o aumento dos sintomas vem a ausência da escola e idas ocasionais ao pronto socorro, onde os exames geralmente são inconclusivos. E quando se fala à paciente que ela pode estar exagerando em suas queixa, a jovem mulher começa a ter dúvida sobre si própria, pensando que talvez “esteja tudo em sua cabeça”, e tenta manter sua dor para si o máximo possível. A dor, entretanto, pode passar a ocorrer cada vez mais cedo antes do ciclo menstrual, e se tornar impossível de ser ignorada. Muitas pacientes ficam incomodadas entre a ovulação e a menstruação por uma dor cada vez mais severa que pode ser descrita como “cortante”, “queimação”, “um tiro” ou “uma facada”. Durante a menstruação, cólicas uterinas fortes podem se sobrepor à dor da endometriose que aumenta durante a fase lútea (nota do tradutor: segunda fase do ciclo menstrual) do ciclo menstrual. Algumas pacientes irão cerrar os punhos como se estivessem segurando uma faca e dar punhaladas fantasmas em seu abdômen, ou virarem seus punhos como se fossem atacar os médicos. Elas podem desistir de atividades físicas porque a dor pode se agravar com atividades extenuantes. Algumas vezes, a dor pode piorar com o simples balançar do automóvel [2]. A endometriose profunda com obliteração do fundo de saco pode às vezes produzir sintomas de uma gripe, com discreta elevação da temperatura corporal. A doença invasiva dos ligamentos útero-sacros pode causar dor irradiada para a região lombar baixa e na região posterior da coxa, em algumas situações. Se o médico escutar atentamente à paciente, ele perceberá padrões comuns de como a dor é descrita e poderá predizer onde a endometriose está localizada, ou talvez supor que a endometriose não seja a causa da dor.
Endometriose pélvica:

A endometriose é uma doença que ocorre de forma previsível e recorrente, e sintomas específicos podem quase sempre ser deduzidos a partir do tipo de acometimento pélvico. O fundo de saco, os ligamentos útero-sacros e os ligamentos largos são os locais mais comumente acometidos pela endometriose. A doença nessas regiões pode afetar o funcionamento de estruturas adjacentes, como o reto e a cúpula vaginal. Assim, com o acometimento peritoneal do fundo de saco ou ligamentos útero-sacros “em padrão de jardim”, pode haver cólicas intestinais dolorosas, especialmente durante as menstruações. De maneira diferente, pacientes que têm obliteração do fundo de saco e envolvimento intestinal podem se queixar de dor no reto à evacuação, ou dor retal à eliminação de flatos ou ao se sentarem. A dispareunia (nota do tradutor: dor à relação sexual) de profundidade é extremamente comum em pacientes com doença superficial ou profunda do fundo de saco e dos ligamentos útero-sacros, e as pacientes podem se queixar que “sentem algo tocar” durante a relação sexual. Com a obliteração do fundo de saco, a penetração profunda durante a relação sexual pode causar dor irradiada para o reto. Devido à dor crescente durante a relação, esta passa a ser evitada de forma cada vez mais frequente, e o parceiro percebe que aquilo que deveria ser um momento de prazer torna-se um ato de dor e resistência para a mulher.

Os endometriomas ovarianos podem causar dor na área ovariana acometida especialmente quando as aderências periovarianas são esticadas, apesar de poder haver dor proveniente de áreas adjacentes e confundirem a questão. Eventualmente, um cisto ovariano que esteja aderido à parede pélvica lateral pode pressionar o ureter subjacente, o qual pode ser encarcerado por fibrose retroperitoneal relacionada à inflamação do cisto adjacente, ou de doença invasiva nos ligamentos útero-sacros que pode causar fibrose ao redor do ureter. Raramente, o ureter será invadido por endometriose proveniente dos ligamentos útero-sacros, resultando em hematúria (nota do tradutor: sangue na urina) ou obstrução urinária. A pressão ou a invasão do ureter pode causar obstrução cíclica durante a menstruação com resultante hidroureteronefrose (nota do tradutor: dilatação do ureter e do rim)  e dor renal. Com uma obstrução lenta do ureter, o rim do lado afetado pode sofrer uma morte silenciosa.
Endometriose intestinal:
Nódulos isolados no cólon sigmoide podem ser assintomáticos ou causarem uma dor vaga no quadrante inferior esquerdo que antecede um movimento intestinal. A endometriose do ceco e do apêndice costuma ser assintomática. São raros os sintomas intestinais obstrutivos quando apenas o sigmoide e o reto estão envolvidos, devido ao seu diâmetro relativamente grande. Quando há sintomas intestinais obstrutivos, estes são quase sempre por lesões obstrutivas do íleo terminal, que obstruem mais rapidamente devido ao menor diâmetro do íleo.
Endometriose diafragmática:
A endometriose do diafragmática é mais comum na forma de uma lesão que envolve toda a espessura do hemi-diafragma direito [3]. As pacientes se queixam de dor torácica ou no ombro direito. Algumas vezes a dor se irradia para o pescoço ou porção superior do braço, e pode ser interpretada como dor muscular, pois ela ocorre como se fosse um peso. A dor pode ser agravada pela respiração profunda e algumas pacientes podem dormir sentadas durante os episódios de dor diafragmática.
Endometriose umbilical:
Esta se apresenta como um nódulo na porção inferior do umbigo que pode crescer lentamente e ficar mais doloroso durante a menstruação. Fora da menstruação, pode ser menor e menos doloroso.

Não é comum que os sintomas de endometriose se iniciem após os 30 anos de idade. Nestas pacientes, deve ser lembrada alguma outra causa ginecológica de dor, como a adenomiose uterina.
Sobre o doutor Alysson Zanatta:

Graduado e com residência médica pela Universidade Estadual de Londrina, doutor Alysson Zanatta tem especializações em uroginecologia e cirurgia vaginal pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), cirurgia laparoscópica pelo Hospital Pérola Byington de São Paulo e doutorado pela Universidade de São Paulo, USP. Suas principais áreas de atuação são a pesquisa e o tratamento da endometriose, com ênfase na cirurgia de remoção máxima da doença. Seus inter­esses são voltados para iniciativas que promovem a conscientização da população sobre a doença, como forma de tratar a doença adequadamente. É diretor da Clínica Pelvi Uroginecologia e Cirurgia Ginecológica em Brasília, no Distrito Federal, onde atende mulheres com endometriose, e Professor-adjunto de Ginecologia da Universidade de Brasília (UnB). (Acesse o currículo lattes do doutor Alysson Zanatta). 

Um comentário:

  1. Estou no tratamento tomando gestinol 28 mas continuou com muita dor,estou tomando faz 6 meses já estou aguardando a consulta com o cirurgião mas contínua sangrando e muita dor ao evacuar...

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