Por doutor David Redwine
Tradução: doutor Alysson Zanatta
Edição: Caroline Salazar
Manipulação
uterina:
É praticamente
impossível realizar cirurgia laparoscópica de endometriose sem manipulação
uterina. É necessário um correto posicionamento da paciente para o uso dos
manipuladores, como um manipulador de Hulka. O quadril da paciente deve estar
levemente afastado para fora da mesa, de forma que o manipulador possa ser
movimentado firmemente em direção às nádegas, causando uma anteversão extrema
do útero. O manipulador pode então ser pressionado em direção ao teto, forçando
todo o útero anteriormente à parede abdominal e expondo o fundo de saco para
investigação cirúrgica. Isso é particularmente vital durante cirurgias com
obliteração do fundo de saco, já que a anteversão extrema do útero resulta em
uma contra-tração à doença que por sua vez traciona o útero posteriormente,
ajudando bastante na dissecção.
Posicionamento
da paciente:
A mesa de cirurgia
deve ser passível de ser colocada em posição de Trendelemburg acentuado (nota do tradutor: cabeça baixa e pés elevados),
o que permite que o intestino se mova à porção superior da pelve. As pacientes
com endometriose costumam ser jovens e saudáveis e podem tolerar muitas horas
em tal posição sem problemas respiratórios, apesar do anestesista poder
notar uma pequena elevação nas pressões de ventilação necessárias. Pode haver
enfisema subcutâneo e este se estender até a face (Figuras 4 e 5),
especialmente em pacientes magras, mas, além de uma pequena elevação na pressão
respiratória final do gás carbônico (CO2), isso parece ser
inofensivo.
Figura
4. Enfisema subcutâneo massivo estendendo-se à face de uma paciente magra.
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Figura
5. Completa resolução do enfisema alguns dias após a cirurgia.
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Os braços devem ser presos ao longo do
corpo e os ombros protegidos. Deve-se prestar atenção à manutenção da
temperatura corporal durante a cirurgia. A utilização de líquidos aquecidos, o
enfaixamento das pernas e cabeça com cobertores adicionais, e o uso de sistemas
de aquecimento para o tórax e rosto ou logo abaixo da paciente também são
úteis. Perneiras especiais devem proporcionar um bom acolchoamento para a área
poplítea e porção inferior das pernas, e essas devem ser posicionadas de forma
que a paciente não deslizará sobre a mesa na direção do anestesiologista, já
que isso dificultará a manipulação uterina.
Posicionamento
dos trocateres:
A maioria dos
cirurgiões utiliza um laparoscópio através de uma trocater umbilical de 10mm. O
umbigo é a parte mais fina da parede abdominal, e uma incisão vertical no
centro ou porção inferior do umbigo permitirá, ao mesmo tempo, a via de entrada
mais eficiente e o melhor resultado cosmético após a cirurgia. O trocater e sua
bainha podem ser colocados diretamente no umbigo com ou sem insuflação inicial
do abdômen com uma agulha de Veress. A inserção direta do trocater pode ser
mais segura do que a insuflação com agulha de Veress seguida da punção com o
trocater. A insuflação prévia com agulha significa que serão necessárias duas
introduções às cegas ao invés de apenas uma quando o trocater umbilical é
inserido diretamente, aumentando assim, aritmeticamente, as possibilidades de
lesão das estruturas subjacentes. As pontas dos trocateres permanentes são mais
rombas, especialmente se comparadas aos trocateres descartáveis, e portanto o
seu uso é mais seguro já que há uma menor chance de uma lesão cortante. De
fato, estudos mostram que o risco de ocorrer uma lesão inadvertida com a
inserção direta é de 1/1838 (0,05%) [15], comparado com um risco de 19/470 (4%)
[16] quando há insuflação prévia do abdômen com agulha de Veress antes da
inserção do trocater umbilical.
Para
inserção direta do trocater, a parede abdominal ao redor do umbigo deve ser
elevada com as mãos ou com pinças (Figura 6). A ponta do trocater deve ser
direcionada à porção funda da pelve. Em pacientes obesas, pode ser necessária a
elevação e eversão do fundo do umbigo com pinças de Allis ou hemostáticas, já
que essa área pode estar escondida atrás das dobras de tecido gorduroso do
abdômen circunjacente. Pode ser feita uma incisão no centro do umbigo e algumas
vezes pode ser mais fácil prolongar a incisão até a cavidade peritoneal para a introdução direta do
trocater. Em pacientes obesas onde o fundo do umbigo é visível, a ponta do
trocater é introduzida perpendicularmente até que seja sentida a fáscia
umbilical, e este então é direcionado à pelve. As pacientes com endometriose
podem ter passado por múltiplas laparoscopias ou laparotomias, e em algumas
vezes recomenda-se locais alternativos de inserção do trocater para se evitar a
teórica complicação de lesão a alças intestinais eventualmente aderidas ao
umbigo. Porém, o risco de lesão intestinal com a inserção umbilical direta é de
1/2000 casos na experiência do autor. É mais comum que se encontre aderências
tênues de omento ao redor do umbigo, e essas podem ser liberadas diretamente
com a bainha do trocater ou de alguma direção alternativa através de outro
trocater.
Figura
6. A parede abdominal é elevada antes da inserção direta de trocater umbilical
de 10 mm.
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Para
realização de cirurgias laparoscópicas, é útil que se realize outras punções
para uso de pinças e sistemas de irrigação / lavagem. Isso diminuirá a mudança
de instrumentos e tornará a cirurgia mais eficaz. Recomenda-se o mínimo de duas
punções adicionais. Uma técnica de punção tripla com um trocater umbilical e
dois trocateres acessórios lateralmente aos vasos epigástricos é adequada para
a realização de todas as cirurgias pélvicas e a grande maioria das cirurgias
intestinais para endometriose. A inserção desses trocateres acessórios pode ser
feita com segurança utilizando o laparoscópio da inserção umbilical para
visualizar os vasos epigástricos inferiores na parede abdominal (Figuras 7 a
9). A ponta do laparoscópio pode ser avançada lateralmente a esses vasos e uma
incisão cutânea pode ser realizada sobre esta. A transiluminação da parede
abdominal (Figura 10) não mostrará os vasos epigástricos na maioria das
pacientes, mas podem ao invés revelarem vasos epigástricos superficiais
presentes na gordura subcutânea. É importante que se evite ambos os grupos de vasos
sanguíneos.
Figura
7. Os vasos epigástricos inferiores esquerdos são visíveis como um arco
arroxeado abaixo do peritônio parietal.
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Figura
8. Os vasos epigástricos inferiores esquerdos originam-se a partir dos vasos
ilíacos externos próximos ao anel inguinal interno.
Alguns
cirurgiões podem colocar apenas um trocater acessório de 5 mm na linha média.
Nesse caso, a bexiga será o órgão de maior risco para lesão. A realização de
uma incisão para este trocater fica a critério do cirurgião baseado em
treinamento, experiência e necessidades de cada caso em particular. Dependendo
da direção na qual o trocater é introduzido, a bexiga pode ser lesada com
incisões cutâneas realizadas 1 cm ou 10 cm acima da sínfise púbica. A
superfície da bexiga nem sempre pode ser delimitada quando ela está vazia
devido à gordura retroperitoneal e ao tecido areolar. Enquanto o balão da sonda
vesical pode ser visto como uma massa redonda, este costuma ser posicionado
junto ao meato uretral interno e longe da cúpula da bexiga. Devido a isso, a
inserção do trocater sob visão direta não irá garantir que se evite lesão da
bexiga. Se a bexiga for lesada pelo trocater suprapúbico, essa lesão pode não se
tornar aparente durante a cirurgia. Pode não haver sangramento visível à
laparoscopia ou na bolsa coletora da sonda vesical, e a urina que se extravasa
pelo trocater pode simplesmente ser misturada ao soro de irrigação usado
durante a cirurgia. A bolsa coletora da sonda não irá se encher com CO2
porque a bainha do trocater age como um tampão evitando que o CO2
entre na bexiga. Portanto, é perfeitamente possível que uma perfuração da
bexiga passe despercebida durante a cirurgia.
Sobre o doutor Alysson Zanatta:
Graduado e com residência médica pela Universidade Estadual de Londrina, doutor Alysson Zanatta tem especializações em uroginecologia e cirurgia vaginal pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), cirurgia laparoscópica pelo Hospital Pérola Byington de São Paulo e doutorado pela Universidade de São Paulo, USP. Suas principais áreas de atuação são a pesquisa e o tratamento da endometriose, com ênfase na cirurgia de remoção máxima da doença. Seus interesses são voltados para iniciativas que promovem a conscientização da população sobre a doença, como forma de tratar a doença adequadamente. É diretor da Clínica Pelvi Uroginecologia e Cirurgia Ginecológica em Brasília, no Distrito Federal, onde atende mulheres com endometriose, e Professor-adjunto de Ginecologia da Universidade de Brasília (UnB). (Acesse o currículo lattes do doutor Alysson Zanatta).
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Parabens pela materia..excelente....parabens a todos envolvidos nessa materia
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