Por Matthew Rosser
Tradução: Alexandre Vaz
Edição: Caroline Salazar
Em cada ano, o mês da conscientização da endometriose parece estar
maior. Eu recomendaria que fizessem uma pesquisa por #endometriosis se tiverem
conta no Twitter para se manterem atualizados sobre as notícias e eventos que
ocorrem no mundo inteiro.
Neste artigo vou apresentar algumas ideias que rolam por aí acerca da
origem da endometriose. Não na forma como essa doença tem origem no corpo
(poderia escrever um livro inteiro sobre isso), mas onde e como a endometriose
surgiu na história da humanidade.
Algumas pessoas tendem a pensar na endometriose como uma doença
“moderna”, contudo existem vários recursos excelentes onde é examinada
a história da endometriose por autores como Dr. Nezhat ou o Dr. Redwine, que
sugerem que a endometriose existe há milhares de anos, porém, ela era camuflada
por outros nomes. Hoje vamos olhar ainda mais atrás, para o começo de tudo.
Firmando esse pensamento, vamos começar do início, que é sempre um bom
ponto de partida. Para encontrar a origem da endometriose, pesquisei quais os
animais que poderiam desenvolver endometriose espontaneamente (existem inúmeros
animais os quais podem ser induzida a “endometriose experimental”, mas eu estou
apenas interessado naqueles onde a doença pode ocorrer naturalmente). Tendo
realizado uma pesquisa exaustiva pela literatura, descobri que a endo foi
documentada nos seguintes animais:
Humano Macaca Mulata
Gorilla Macaco Cinomolgo
Babuíno-anúbis Macaco da Tailândia
Babuíno amarelo Macaco Pigtail
Babuíno sagrado Macaco do Pântano
Babuíno da Guiné Macaco Verde Africano
Babuíno cara de cachorro Macaco do Velho Mundo
Mandril Sagui-de-tufo-branco
Uma coisa que você poderá notar de imediato, é que todas as espécies referidas são primatas. A endometriose nunca foi documentada como tendo ocorrido em nenhuma outra espécie não-primata (existe uma doença no gado chamada de endometriose, mas eu não a levarei em conta, pois ela se refere à degeneração do endométrio, não sendo a mesma coisa que a endometriose real).
Isso indica que existe algo que esses animais possuem em comum, não
partilhado por outros animais, que permite que eles desenvolvam endometriose.
Dado que a maioria dos casos em primatas foram descobertos acidentalmente, ou
na realização de autópsias nesses animais, é altamente provável que existem
outras espécies de primatas nas quais a endo ainda esteja por ser descoberta
(chimpazés, nosso parente mais próximo, estão estranhamente ausentes da lista,
por exemplo).
O que podemos fazer com toda essa informação? Para responder, vamos
olhar como as referidas espécies estão relacionadas entre elas. Sabemos, de 150
anos de biologia evolucionária, que todas as criaturas vivas na Terra estão
relacionadas com as outras em uma complexa e fantástica árvore da vida, da qual
somos apenas um pequeno galhinho.
Fazendo um zoom na parte que contém os primatas, podemos ver a nossa
relação com os animais mais próximos de nós.
Acredite ou não, essa é uma versão simplificada da árvore da família dos
primatas. Existem inúmeras espécies que foram deixadas de lado por já estarem
extintas e omitindo várias espécies agrupei outras para manter tão simples
quanto possível, mantendo ao mesmo tempo a informação importante. Agora se
ligarmos todas as espécies nas quais descobrimos endometriose, podemos observar
algo bem interessante.
As linhas vermelhas ligam todas as espécies em que foi documentada
endometriose até hoje, e isso nos mostra a história natural da endometriose. A
seta no fundo mostra o ponto em que, pelas evidências que temos, é credível que
tenha sido a origem da endometriose.
Qualquer que seja o animal que tenha vivido nesse ponto, ele passou a
sua predisposição para endometriose aos seus parentes. O que essa predisposição
foi ainda não está claro. Ela deve ser genética, mas saber ao certo que gene ou
genes são responsáveis não sabemos.
A principal razão para isso é que ainda não existe um consenso sobre
quais os genes que estão associados à endo em humanos, quanto mais em outras
espécies. O que quer que seja, mudou algo, talvez na forma como o sistema
reprodutivo se desenvolveu, talvez na forma como os órgãos reprodutivos
funcionam, no momento não sabemos dizer.
Se assumirmos que a endometriose surgiu nesse ponto, poderemos agora
teorizar sobre quando foi que a endometriose surgiu, ao descobrir onde essas
espécies que tiveram a doença viveram. Olhando onde todas as linhas vermelhas
convergem, podemos ver que é no ponto em que o grupo de primatas contendo os
marmosets (chamados de primatas do novo mundo) separaram do grupo de primatas
contendo os humanos, chimpanzés, macacos, etc (chamados de primatas do velho
mundo).
Pensa-se que o parente comum a esses grupos viveu no norte de África,
perto do Egito, pois é onde a maior quantidade de fósseis foi descoberta. A
análise da idade desses fósseis indica que terão entre 33 e 35 milhões de anos.
Contudo, usando análise genética para datar a separação entre as
espécies baseado na proximidade de parentesco, coloca a data em cerca de 43
milhões de anos. Dessa evidência podemos teorizar por tentativa que a
endometriose poderá ter dezenas de milhões de anos; mais antiga do que os
registros da humanidade, mais antiga do que a própria humanidade.
Nós tendemos a pensar na endometriose em termos de história humana, e
porque não deveríamos fazê-lo? A endometriose nos afeta aqui e agora, mas se
considerarmos o nosso passado, ele poderá conter pistas para as respostas que
estamos procurando.
Por exemplo, se soubermos quais os animais que podem desenvolver endo, e
quais não podem, então, talvez, possamos entender o motivo. O que tem esses
animais que os torna diferentes? Ao responder a essa questão, poderíamos enfim entender
o que predispõe um indivíduo à endometriose e talvez como travá-la.
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