segunda-feira, 22 de junho de 2015

MATTHEW ROSSER: ENDOMETRIOSE ESPONTÂNEA EM MACACOS? MAIS SOBRE A ORIGEM DA TEORIA DA DOENÇA!!

Após o primeiro artigo da trilogia do cientista inglês Matthew Rosser, que aborda a endometriose em homens, vamos ao segundo da série que vai desvendar mais um pouco desta doença que muitos dizem ser enigmática. Aos poucos, e com a ajuda de nossos parceiros internacionais, vamos mostrando como surge a endometriose. No texto, a taxativa de "a doença da mulher moderna" cai por água abaixo. Já falamos inúmeras vezes por isso no blog (Endometriose, a doença da mulher moderna? - texto 1 e texto 2). Uma de nossas intenções é ajudar você, querido leitor, a entender melhor como ocorre a endometriose. Boa leitura! Beijo carinhoso! Caroline Salazar


Por Matthew Rosser
Tradução: Alexandre Vaz
Edição: Caroline Salazar


Em cada ano, o mês da conscientização da endometriose parece estar maior. Eu recomendaria que fizessem uma pesquisa por #endometriosis se tiverem conta no Twitter para se manterem atualizados sobre as notícias e eventos que ocorrem no mundo inteiro. 

Neste artigo vou apresentar algumas ideias que rolam por aí acerca da origem da endometriose. Não na forma como essa doença tem origem no corpo (poderia escrever um livro inteiro sobre isso), mas onde e como a endometriose surgiu na história da humanidade.

Algumas pessoas tendem a pensar na endometriose como uma doença “moderna”, contudo existem vários recursos excelentes onde é examinada a história da endometriose por autores como Dr. Nezhat ou o Dr. Redwine, que sugerem que a endometriose existe há milhares de anos, porém, ela era camuflada por outros nomes. Hoje vamos olhar ainda mais atrás, para o começo de tudo.

Firmando esse pensamento, vamos começar do início, que é sempre um bom ponto de partida. Para encontrar a origem da endometriose, pesquisei quais os animais que poderiam desenvolver endometriose espontaneamente (existem inúmeros animais os quais podem ser induzida a “endometriose experimental”, mas eu estou apenas interessado naqueles onde a doença pode ocorrer naturalmente). Tendo realizado uma pesquisa exaustiva pela literatura,  descobri que a endo foi documentada nos seguintes animais:

Humano                                  Macaca Mulata
Gorilla                                       Macaco Cinomolgo
Babuíno-anúbis                     Macaco da Tailândia 
Babuíno amarelo                  Macaco Pigtail 
Babuíno sagrado                   Macaco do Pântano
Babuíno da Guiné                  Macaco Verde Africano
Babuíno cara de cachorro  Macaco do Velho Mundo
Mandril                                      Sagui-de-tufo-branco

Uma coisa que você poderá notar de imediato, é que todas as espécies referidas são primatas. A endometriose nunca foi documentada como tendo ocorrido em nenhuma outra espécie não-primata (existe uma doença no gado chamada de endometriose, mas eu não a levarei em conta, pois ela se refere à degeneração do endométrio, não sendo a mesma coisa que a endometriose real).

Isso indica que existe algo que esses animais possuem em comum, não partilhado por outros animais, que permite que eles desenvolvam endometriose. Dado que a maioria dos casos em primatas foram descobertos acidentalmente, ou na realização de autópsias nesses animais, é altamente provável que existem outras espécies de primatas nas quais a endo ainda esteja por ser descoberta (chimpazés, nosso parente mais próximo, estão estranhamente ausentes da lista, por exemplo).

O que podemos fazer com toda essa informação? Para responder, vamos olhar como as referidas espécies estão relacionadas entre elas. Sabemos, de 150 anos de biologia evolucionária, que todas as criaturas vivas na Terra estão relacionadas com as outras em uma complexa e fantástica árvore da vida, da qual somos apenas um pequeno galhinho.



Fazendo um zoom na parte que contém os primatas, podemos ver a nossa relação com os animais mais próximos de nós.


Acredite ou não, essa é uma versão simplificada da árvore da família dos primatas. Existem inúmeras espécies que foram deixadas de lado por já estarem extintas e omitindo várias espécies agrupei outras para manter tão simples quanto possível, mantendo ao mesmo tempo a informação importante. Agora se ligarmos todas as espécies nas quais descobrimos endometriose, podemos observar algo bem interessante.


As linhas vermelhas ligam todas as espécies em que foi documentada endometriose até hoje, e isso nos mostra a história natural da endometriose. A seta no fundo mostra o ponto em que, pelas evidências que temos, é credível que tenha sido a origem da endometriose.

Qualquer que seja o animal que tenha vivido nesse ponto, ele passou a sua predisposição para endometriose aos seus parentes. O que essa predisposição foi ainda não está claro. Ela deve ser genética, mas saber ao certo que gene ou genes são responsáveis não sabemos.

A principal razão para isso é que ainda não existe um consenso sobre quais os genes que estão associados à endo em humanos, quanto mais em outras espécies. O que quer que seja, mudou algo, talvez na forma como o sistema reprodutivo se desenvolveu, talvez na forma como os órgãos reprodutivos funcionam, no momento não sabemos dizer.

Se assumirmos que a endometriose surgiu nesse ponto, poderemos agora teorizar sobre quando foi que a endometriose surgiu, ao descobrir onde essas espécies que tiveram a doença viveram. Olhando onde todas as linhas vermelhas convergem, podemos ver que é no ponto em que o grupo de primatas contendo os marmosets (chamados de primatas do novo mundo) separaram do grupo de primatas contendo os humanos, chimpanzés, macacos, etc (chamados de primatas do velho mundo).

Pensa-se que o parente comum a esses grupos viveu no norte de África, perto do Egito, pois é onde a maior quantidade de fósseis foi descoberta. A análise da idade desses fósseis indica que terão entre 33 e 35 milhões de anos.

Contudo, usando análise genética para datar a separação entre as espécies baseado na proximidade de parentesco, coloca a data em cerca de 43 milhões de anos. Dessa evidência podemos teorizar por tentativa que a endometriose poderá ter dezenas de milhões de anos; mais antiga do que os registros da humanidade, mais antiga do que a própria humanidade.

Nós tendemos a pensar na endometriose em termos de história humana, e porque não deveríamos fazê-lo? A endometriose nos afeta aqui e agora, mas se considerarmos o nosso passado, ele poderá conter pistas para as respostas que estamos procurando.

Por exemplo, se soubermos quais os animais que podem desenvolver endo, e quais não podem, então, talvez, possamos entender o motivo. O que tem esses animais que os torna diferentes? Ao responder a essa questão, poderíamos enfim entender o que predispõe um indivíduo à endometriose e talvez como travá-la.

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