Imagem cedida por Free Digital Photos |
O segundo artigo da coluna "Endo "Social", do sociólogo e endo marido Paulo Soares, está mais que fantástico. Após falar da exclusão de uma portadora de endometriose na sociedade, ele nos conduz brilhantemente a uma reflexão sobre os gêneros. Infelizmente, na sociedade machista a qual vivemos somos constantemente julgadas a começar quando designam nós mulheres como o sexo frágil. Comportamento machista à parte, este texto de Paulo reflete aquilo que somos perante ao nosso Pai Jesus Cristo: seres humanos. Somos iguais e merecemos o mesmo respeito. Não somos coitadas, pelo contrário, a mulher já nasce forte, já nasce guerreira pela própria natureza, e precisamos continuar firme e forte no propósito de ter a endometriose reconhecida como uma doença social e de saúde pública. E nisso, a Milhões de Mulheres Marchando contra a Endometriose (Million Women March for Endometriosis Brazil) será imprescindível para obtermos este êxito. E a marcha surgiu no momento certo. Uma coisa é certa.. Faltam 57 dias para acabar o nosso silêncio! Inscreva-se e venha marchar conosco!
Continue votando no A Endometriose e Eu no prêmio TopBlog Brasil 2013. Seja do bem e entre na nossa campanha e "Vote pelo reconhecimento da endometriose como doença social e de saúde pública, Vote no A Endometriose e Eu no prêmio TopBlog Brasil 2013. Clique aqui e dê seu voto: http://bit.ly/18wANh9. Passo a passo e mais informações: http://bit.ly/1511wSV Vote, compartilhe esta campanha entre seus amigos e ajude-nos a salvar vidas femininas! Conto com a ajuda de todos. Afinal, luto por uma causa e uma andorinha não faz verão sozinha! A união faz a força e juntos somos mais fortes. Beijo carinhoso!! Caroline Salazar
Sexualidade e gênero: homem x mulher
Por Paulo Soares
Espero que todos tenham passado bem as festas de fim de ano. Voltamos com tudo e nosso texto continuamos
a discussão do primeiro artigo e ainda vou além ao propor a todos um debate sobre questões
sociais que envolvem o universo da saúde humana, mais especificamente, da
mulher.
Ao
longo da história de homens e mulheres neste mundo, fica evidente que as
relações de gênero são assimétricas, ou seja, desiguais, e as mulheres foram
invisibilizadas e amordaças por uma sociedade androcêntrica (homem/macho como
centro de todas as coisas) e sexista (sexo forte versus sexo frágil). Essa história
das mulheres, principalmente, hoje tem despertado o interesse de vários
pesquisadores em muitas universidades no mundo todo, interesses que deram vazão à
produção mais afinca de estudos sobre a mulher a partir dos anos 60, ainda no
século passado.
Para
nos ajudar na reflexão deste artigo, gostaria de compartilhar alguns conceitos
e ideias de Teresa Cristina Pereira de Carvalho Fagundes, autora do artigo:
Sexualidade e Gênero – Uma Abordagem Conceitual.
Gostaria
de começar conceituando gênero, cuja palavra foi inserida em meados do século
XX, a qual se designa a discutir as diferenças entre masculino e feminino, sem
entrar no mérito, ou levantar a discussão sobre sexualidade. Pois, um dos
paradigmas do debate sobre gênero, é que não se nasce mulher ou homem, mas que
esses são construídos socialmente, ou seja, vai além das diferenças biológicas
ou psicológicas.
Por
exemplo, a menina ganha de presente boneca para cuidar como se fosse um bebê de
verdade, cozinha completa de brinquedo, o que implicitamente mostra onde deve
ser o lugar da mulher: dentro de casa! Já o menino ganha bola de futebol,
carrinho, armas de brinquedo, bonecos super-herois, o que sugere que ao menino
compete desbravar o mundo.
Para
Fagundes, gênero se refere “à construção cultural das identidades feminina e
masculina, do ser mulher e do ser homem (grifo da autora)”. Essa
afirmação esclarece que ser feminino e ser masculino são resultando de um longo
trabalho histórico e cultural, cujos principais agentes participantes desse
trabalho são as instituições, família, igreja, escola e Estado, que querem
dominar e controlar os corpos e as mentes da sociedade.
O
que “ser” percebe então, o que está por trás da questão de gênero, é que há uma
relação de poder e dominação. Fagundes apresenta ideias de Foucault e Bourdieu,
grandes pensadores contemporâneos, que discutem sobre o poder e a dominação, os
quais afirmam que o corpo do ser humano é controlado e dominado de diversas
formas, como citado acima, com a utilização de um poder legitimado, que é
efetivado através do controle do corpo.
Na
discussão de gênero, podemos perceber esses elementos acima no estabelecimento
e manutenção da dominação do homem sobre a mulher, ou seja, um controle
patriarcal, isto é, do masculino exercer poder sobre o feminino.
Mas,
como isso acontece, Fagundes aponta para quando se associa a mulher, o gênero
feminino, àquilo que é interior, ao espaço fechado e privado. A sociedade
sempre espera a mulher sendo mãe, que cuida da casa e dos filhos e que depende
do pai, quando solteira e do marido depois de casada, e do dos filhos quando
viúva, e é lembrada como uma figura pura, dócil e companheira extremamente
frágil e delicada. Já o homem, gênero masculino, está associado ao espaço
aberto, exterior, ao público, a sociedade espera um homem viril, racional,
forte; e é lembrado pelo seu trabalho, profissão, méritos e conquistas; é o
provedor da família.
Sabemos
que muitas dessas características estão mudando na atualidade, e graças a Deus,
que algumas pessoas não pensam mais assim, pois acreditam que na realidade se
pode construir uma relação de equidade (= significa equilíbrio) entre homens e
mulheres, e não uma relação de poder e domínio, relação essa que também não é
dicotômica entre forte e fraco ou público e privado ou superior ou inferior e
etc. Mulheres e homens não são categorias fechadas, mas são seres que constroem
suas relações entre si, interdependentes no tempo e no espaço.
Por
fim a mulher e o seu corpo precisam ser respeitados e levados a sério.
Políticas públicas de saúde da mulher já existem, mas que precisam ser
melhoradas e ampliadas, principalmente, no tocante ao tratamento da doença
endometriose que tem atingido tantas mulheres e seus familiares de forma direta
e indireta deste Brasil. Dor de cólica forte e insuportável, não é frescura ou
coisa de mulher, isso é pensamento ou ideologia androcêntrica, mas é um sinal
de que há algo de errado no corpo da mulher é que precisa ser levado a sério.
Porém,
quantas mulheres sofrem com essa diferenciação nociva, e por causa da
ignorância até mesmo de médicos, sobre a endometriose, e por isso muitas
mulheres são marginalizadas pela sociedade e tratada com dó, “tadinha”, é
mulher e ainda por cima doente, isso quando não, na maioria das vezes, seu
estado de dor é cruelmente desconsiderado pelos próprios familiares, amigos e
profissionais de saúde. Lembro-me agora da história da mulher do fluxo de sangue na Bíblia (Lucas 8,43-48), já citada por Caroline Salazar, cuja tradição
judaica, afirma que a mulher em seu período menstrual é obrigada ficar isolada
de todos e de tudo, pois para essa cultura ela está impura, e sendo assim, quem
a tocasse ficaria impuro também. Imaginem, então, que situação triste dessa
mulher que sofria com uma hemorragia há doze anos! Ela gastou todo seu dinheiro
com médicos na tentativa frustrada de ficar curada. Sem dinheiro, e duas vezes
marginalizada por sua condição de mulher e por estar doente. E, segundo a Lei
judaica, certos doentes eram obrigados a viverem isolados da sociedade, numa
cultura essencialmente Patriarcal. Essa mulher correu o risco de ser penalizada
por transgredir a Lei ao circular num ambiente com pessoas sadias, e fez sua
última tentativa desesperada de ser curada ao tocar nas vestes de Jesus. O
final dessa história é feliz, pois essa mulher é curada de seu mal e pelo menos
é restituída à sociedade tendo sua integridade e dignidade enquanto pessoa
devolvida pelo Mestre.
Diante
desse relato, como não lembrar traumas e preconceitos vivenciados pelas
endoguerreias que também gastaram e ainda gastam muito dinheiro numa romaria
quase sem fim, com médicos a fim de serem curadas, que perdem seus casamentos
porque simplesmente seus maridos não levaram a sério o voto que fizeram (na
saúde e na doença...), ou seus namorados não estão a fim de entrar de cabeça
numa relação com uma mulher doente, e os amigos nem mais lhes perguntam como
estão porque “ já sabem” a resposta, seus familiares por vezes desconfiam de
que essa dor não é pra tanto... É simplesmente revoltante! E temos que gritar
aos quatro ventos por mais respeito, dignidade e lutar por tratamento correto e
especializado para nossas mulheres.
Mas
há sempre uma luz no fim do túnel, nem tudo está perdido, mesmo em meio a este
caos a ordem pode ser reestabelecida e as mulheres já provaram que são boas em
superar limites, e vencer apesar das circunstancias. Por isso, a vocês queridas
endoguerreiras, eu tiro meu chapéu, e digo não desistam nunca de lutar, dias
melhores virão com fé em Deus podem acreditar! Que o Senhor Deus seja a nossa força para caminharmos juntos pela cura dessa doença que tem atingindo tantas mulheres e seus familiares. Abraço e até o próximo!
Vou já começando por lhe dar os parabéns Paulo, não apenas pela colaboração, mas também pela perspetiva refrescante e acessível.
ResponderExcluirEssas análises dos vários papeis desempenhados em família nos ajudam a entender a importância de cada um, o quanto contribuímos dentro de casa, o quanto amamos alguém, antes que seja tarde demais.
É velha a frase: "só damos vamor ao que temos depois que perdemos".
Mas não tem que ser assim, e esse tipo de trabalho que você está nos apresentando nos ajuda a ver o que temos e quão importante é para nós, em família e em sociedade.
Não demore muito para apresentar a próxima postagem, já despertou minha curiosidade :)
Abraço
Olá Alexandre, obrigado, espero contribuir com os artigos fazendo com que os leitores e leitoras do blog possam refletir sobre os problemas da sociedade.
ExcluirPrecisamos viver com alteridade e equidade, ou seja, se preocupando sempre com outro e com equilíbrio, diminuindo assim a ideia de ser superior ao outro para dominar, mas sim para servir.
Mais uma vez agradeço pela oportunidade de ajudar nesta missão do blog aendomentrioseeeu.
Forte abraço