segunda-feira, 31 de março de 2014

"A VIDA DE UM ENDO MARIDO": SUS OU SUSto - UMA REFLEXÃO SOBRE O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE BRASILEIRO!

 imagem cedida por Free Digital Photos
Em "A Vida de um Endo Marido", o sociólogo Paulo Soares relata sua mudança com a esposa, da Bahia para São Paulo, para que Ane tivesse atendimento eficiente pelo SUS. Porém, o que ele não imaginava eram os sustos que o SUS daria ao casal. Realmente, para quem paga suas contas em dia, passar por situação como esta é revoltante. Eu acompanhei tudo de perto fiquei revoltado. Onde já serviu um hospital não ter coisas básicas de cirurgia como luva, seringa, gaze? Se tratando de Brasil tudo é possível, mas minha pergunta vai além: É bem provável que esses materiais já estavam em falta, por que, então, internaram Ane e deixaram ela fazer aquele preparo horrível intestinal, se provavelmente já sabiam que não haveria cirurgia? Por que só no momento da cirurgia perceberam que não tinham os materiais? Se Ane não tivesse bem psicologicamente, alguém imagina a consequência de tudo isso na vida dela? Gente, não se esquece de que este ano é ano eleitoral, pensem bem em quem vocês irão votar. É melhor anular que votar errado. Conforme noticiou a Folha de São Paulo, em março, a espera por tratamento na rede pública (onde há tratamento) está de dois anos. Por que que vocês acham que precisamos nos unir para lutar por mudanças? Não adianta se fechar em grupos, precisamos salvar vidas das endomulheres, e "juntas podemos fazer a diferença!" Este será nosso slogan a partir de agora! Eu mesma luto por vocês, e não por mim, porque além de ter meu convênio e meu tratamento, eu não tenho direito a nada daquilo que reivindico. Mas a minha luta é em prol das mais de 6 milhões de brasileiras. Outro dia minha mãe questionou "Nossa, Caroline, você aí se matando por elas e elas nem aí? "Sim, mãe, infelizmente, a maioria dos brasileiros só sabe pregar a bunda no sofá e reclamar. Poucos são aqueles que querem mudar a realidade deles mesmos e de seus filhos. Mas, graças a Deus, estou com pessoas incríveis ao meu lado e estamos cada vez mais fortes. Não vou desistir", respondi à minha mãe. Afinal, além de ser uma legítima Salazar, sou brasileira, e a palavra desistir não existe em minha vida.

Porém, mesmo com os percalços que passaram, eles nunca perderam a FÉ de que no fim tudo daria certo. Ter paciência e saber esperar o tempo de Deus é algo que muitos de nós, seres humanos, não temos. Talvez, esses são os dois dos nossos principais exercícios que precisamos exercitar em nossa existência. E, claro, antes de paciência e esperar o tempo de Deus é preciso ter FÉ. Uma palavra pequenina, mas de grande poder e sabedoria. Graças a Deus, a cirurgia de Ane foi um sucesso, e agora, eles partem para o segundo passo: a gravidez. Estamos aqui torcendo e orando para tudo dar certo. Em breve iremos contar todo o relato de Ane na seção "História das Leitoras". E, como nada é por acaso, com a mudança do casal para São Paulo, agora que eu não deixo Ane e Paulo voltarem. Paulo assina a coluna Endo Social e está conosco nesta luta, está fazendo muito mais. Um beijo carinhoso! Caroline Salazar

                                                                          SUS OU SUSto?!

Por Paulo Soares

Depois de um longo tempo sem dar as caras aqui estou de volta trazendo novidades. Não me lembro se já tinha comentado com vocês que eu e Ane saímos da Bahia para São Paulo, porque conseguimos atendimento completo para tratamento de endometriose, oferecido pela Unifesp, no Hospital São Paulo, custeado pelo SUS. Soubemos desse tratamento em São Paulo por meio de Caroline Salazar e do blog A Endometriose e Eu, já que na Bahia não tinha tratamento e/ou especialista adequado pela rede SUS. Mas nem tudo foram flores nessa caminhada até a cirurgia, pois o SUS dá muito SUSto na gente. Quando ocorreu a primeira consulta no ambulatório especializado em algia pélvica e em endometriose, em 26 de junho de 2013, os médicos marcaram a cirurgia de imediato para 23 de outubro do mesmo ano, pois já tínhamos todos os exames e laudos diagnosticando a doença. Pensei: nossa como é rápido! Mas o motivo da rapidez era que Ane tinha endometriose profunda, útero e ovários estavam colados em seu intestino, corria certo risco de obstruir o intestino.

Porém, no mês seguinte da primeira consulta, os anestesistas entraram em greve por melhores condições de trabalho, contratação de pessoal e aumento salarial, devido a isso todas as cirurgias atrasaram, esse foi o primeiro SUSto. Quando chegou dezembro, os médicos do ambulatório remarcaram a cirurgia para segunda quinzena de fevereiro de 2014, prometeram que não passaria deste mês. Porém, no início de janeiro de 2014, Ane recebeu um telefonema do ambulatório antecipando a cirurgia e confirmando a data para internar no dia 27 de janeiro e a cirurgia no dia 29 de janeiro. Naquele dia estava trabalhando, quando Ane me ligou chorando de felicidade para dar a notícia, demos glória a Deus por tudo e no dia seguinte fui comprar as coisas que ela precisaria para ficar internada no hospital.

Chegou o grande dia, 27 de janeiro, o dia do 2º SUSto, saímos de casa 5h da manhã, chegamos ao hospital por volta das 6h30, porém às 7h40, o médico da unidade de ginecologia, informou que não tinha leito e que teríamos de aguardar até a alta de alguma paciente. Resumo do SUSto: Ane, passou o dia inteiro sofrendo com dores, já que não podia ficar muito tempo em pé ou sentada, pois não foi oferecido nenhuma maca ou local próprio para ela se deitar enquanto aguardava a vaga no leito. Ela só foi internada às 23h30 devido a problemas de vaga e burocracia do hospital. Detalhe: só conseguimos vaga para intenação na unidade de urologia, e só no dia seguinte, ela foi transferida para unidade de ginecologia.

Chegou o grande dia: 29 de janeiro, o dia da cirurgia, dia do 3º SUSto. No dia anterior Ane tinha se submetido ao preparo intestinal. Às 06h40, minha esposa desceu para o centro cirúrgico e, ao chegar lá, toda equipe médica estava presente: ginecologista, urologista e proctologista, mas o hospital não tinha material cirúrgico básico como toucas, luvas e seringas para realizar a cirurgia. Logo depois foi emitido um documento oficial avisando que todas as cirurgias seriam adiadas por falta de material. Desolada minha esposa retornou para a enfermaria, deram alta para ela ao meio-dia e fomos para casa frustrados, mas não desesperançados.

Como vocês podem ver, diante de tudo isso eu e Ane aprendemos muito, nos unimos cada vez mais e fortalecemos nosso amor, percebemos que nessa caminhada da vida há flores, porém em meio às flores também há espinhos e na estrada existem pedras e se não tivermos cuidado, se não soubermos nos desviar desses obstáculos corremos o risco de nos furarmos nos espinhos ou tropeçarmos nas pedras. É bem verdade que durante essa nossa trajetória, às vezes batia o desanimo, mas jamais desistimos de lutar, por muitas vezes tive que encorajar e animar minha amada esposa nos momentos de intensa dor, mas em todos os momentos sentíamos a mão do Senhor nos fortalecendo.

No começo do texto disse que tivemos que sair da Bahia para São Paulo. Na realidade precisamos nos mudar de vez para São Paulo, ou seja, tivemos que abrir mão de nossos planos e projetos pelo caminho, sonhos a realizar, pessoas amigas e familiares tivemos que deixar por lá e começar uma nova vida nessa metrópole, que é a maior cidade do país, já que o tratamento de minha esposa é longo e logo após a cirurgia ela teria que ser acompanhada por um bom tempo pela equipe da Unifesp até que a doença seja controlada.

Para concluir, a cirurgia de Ane graças a Deus aconteceu no dia 26 de fevereiro e foi um sucesso, e, dessa vez sem SUStos, sem espinhos e/ou pedras. Um dia e meio depois de operada ela teve alta e foi para casa sendo muito mimada por mim e pela tia dela, tendo o repouso necessário do pós-operatório e tudo tem transcorrido bem. Agora nossa próxima caminhada é dar inicio ao nosso projeto de ter nosso primeiro (a) filho (a). Porém, durante a cirurgia a médica observou que as trompas de Ane estão bem deformadas o que possivelmente dificultará uma gravidez espontânea. Os próximos passos consistem em fazer os exames necessários: a Histerossalpingografia em Ane e os espermogramas em mim, e a partir dos resultados, tentaremos engravidar naturalmente, ou então, partir para a FIV. Em tudo somos gratos a Deus por seu amor e cuidado para com nossas vidas. É isso aí pessoal jamais percam a fé e a esperança, pois o Senhor sempre cuida de nós e não nos abandona nunca. Um abraço!

3 comentários:

  1. Sei bem oque e isso estou ha mais de trinta dias em uma fila de espera para fazer a cirurgia, apesar das dores acho que o jeito e esperar que me liguem, aguardo anciosamente pela tal ligação, a cada numero desconhecido que me liga eu ja fico na expectativa mas ainda nada, continuo aqui com as dores eu e a endometriose

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  2. Nossa comecei a minha caminhada agora, a espera é angustiante, Passei pela primeira vez em 05/02/2014 o médico pediu uma ressonância que fiz em 31/03/2014 e até agora o laudo não ficou pronto, 20 dias uteis e me disseram q o exames estão atrasados, pois não tem médico para laudar... muita revolta depender do SUS, quando li este depoimento fiquei triste em saber q o caminho será longo até a cirurgia, mas o jeito é esperar...

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    1. Olá Ricardo, primeiro quero me desculpar pela demora em responder seu comentário. O caminho é longo mesmo. O nosso não foi muito longo, porque a endo da minha esposa é grau 4, ou seja, estava muito agressiva, minha esposa viveu seus últimos 3 anos mais de cama do que trabalhando. Por isso os médicos anteciparam a cirurgia dela, mas em média a espera por cirurgia está em torno de 2 anos. Realmente o SUS está um caos, da saúde básica ao hospital especializado, pois nunca pensei que num hospital universitário, no qual se formam médicos para Brasil inteiro, fosse faltar luvas, seringas e etc, materiais básicos para uma cirurgia, estivesse em falta no estoque. Isso é incompetência administrativa.
      Qualquer coisa estou a disposição
      Grande abraço

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