Fatinha com o filho e seu endomarido |
Em ritmo de comemoração dos 4 anos do A Endometriose e Eu, nossa primeira "História das Leitoras" do mês de aniversário, é de arrepiar. O relato surpreendente da portuguesa Fatinha Costa, da cidade do Porto, vai mostrar que quando temos fé e esperança tudo é possível, até mesmo para quem chega à beira da morte. Este testemunho comprova tudo que falamos aqui nesses anos todos: é preciso mais conhecimento acerca da doenaça, seriedade (por parte da sociedade e dos governantes),e, inclusive, até mesmo quando a doença é abordada. É preciso retirar tais rótulos (já falamos sobre "Doença da Mulher Moderna"), e, claro políticas públicas efetivas para que todas endomulheres tenham tratamento digno e de qualidade (que não precisem esperar meses por exames, anos por cirurgias).
E, por falar em cirurgia, no testemunho de Fatinha também é comprovado que a videolaparoscopia (leia a recuperação pós-videolaparoscopia) não é uma cirurgia simples como muitos imaginam, principalmente, quando há muitos focos e aderências. Precisamos de equipe especializada, e mesmo assim, pode acontecer incidentes, assim como aconteceu com nossa endoirmã portuguesa, que levou-a ao coma. Quantas mulheres já não morreram numa laparoscopia! Em cada história contada aqui, vemos como nós somos realmente guerreiras, e que a maioria de nós, endomulheres, passamos por situações que colocam à prova a nossa fé. E para quem a mantém viva, independente da situação, com certeza nunca é esquecida por Deus. E a prova está aqui. Agradeço a Fatinha por nos presentear com mais uma história de fé, perseverança e esperança, pois com certeza, seu relato vai reavivar a fé e alimentar a esperança de muitas endomulheres. Leia também outro relato de endometriose pulmonar, o da americana Candice, e também o da capixaba Patrícia Gastaldi e sua endometriose diafragmática.
Acesse aqui para assistir ao Programa EndoMulheres, meu programa na WEBTV Profissão Saúde. E, em breve, teremos outro canal de informação, que vai espalhar mais consciência sobre doença para muitas outras pessoas. E, neste caso, tanto no programa de tevê, quanto nesse novo projeto, posso dizer que é a união de sonho (ou muito além disso do que sempre sonhei) e realização profissional. Jamais imaginei que esse filhote aqui, hoje já com 4 anos, poderia realizar mais que eu sonhei para minha carreira jornalística. É uma felicidade sem fim! Obrigada a todos que transformaram o A Endometriose e Eu, o blog mais lido, e aos meus colaboradores, que me ajudam a manter o blog mais completo do mundo sobre endometriose. Se você quiser sua história nesta coluna envie para carolinesalazar7@gmail.com com o título "História das Leitoras". Beijo carinhoso!! Caroline Salazar
“Meu nome é Fatinha Costa, sou portuguesa, natural do Porto, norte do país, tenho 47 anos e sou esteticista. Tinha 12 anos quando menstruei pela primeira vez, e desde ai, minha vida foi uma luta constante (dores e cólicas sempre fizeram parte dos meus períodos). Aos 19 anos casei e aos 20 queria engravidar. Queria ser mãe jovem, mas a gravidez não acontecia e algo dentro de mim me dizia que tinha que ser mãe o mais rápido possível. Como sempre tive muitas dores - desde os 12 anos -, achava que não era normal, pois não via as minhas amigas a passar o que eu passava, a sofrer as dores como eu sofria. Aos 20 comecei tratamentos para engravidar e tudo foi complicado, não sabia por que não engravidava. Tive uma gravidez falsa, muitos problemas e andei quatro anos a fazer tratamentos, tudo particular. Os médicos diziam que era estresse e muita ansiedade para engravidar. Sempre tive períodos menstruais com muitas dores…
O desespero era
tanto que chegava a desejar a morte muitas vezes! Ninguém me compreendia! A
palavra “é normal” estava na boca de muita gente. Ao fim de quatro anos
engravidei. Tive uma gravidez muito complicada. Nove meses de vômitos e
desmaios, mas meu filho nasceu! O meu filho tinha meses de vida quando imigrei
para Londres. A cada ano que passava tudo se complicava ainda mais. As dores
aumentavam e a qualidade de vida era cada vez menos. Fartei-me de correr atrás
dos médicos, e eles me diziam que tudo era tudo fruto da minha imaginação, pois
não acreditavam que eu tinha dores em tantos locais: ovários,útero, trompas,
bexiga, intestino, reto, ligamentos sacrais, etc… O meu médico de família
queria receitar-me antidepressivos. Dizia que essas dores eram por eu estar
longe da família e amigos, e que eu me encontrava numa depressão, e que por
isso,todo meu corpo manifestava-se essas dores. Foi uma batalha dura!
Em 1993 minha mãe
faleceu com câncer na barriga. Para meu desespero eu só pensava “eu vou em
seguida e o meu filho é tão pequenino…” A minha mãe sempre teve muitas dores e
nunca descobriu por que dessas dores. Acho que ela também tinha endometriose.
Hoje que conheço a doença cada vez mais tenho ainda mais certeza que minha mãe
tinha endometriose. Depois de tanto sofrer, e não ser compreendida, decidi
voltar a Portugal e procurar hospitais particulares e fazer exames e mais
exames. Até biópsias me fizeram, mas nada se descobriu. Até que voltei para
Londres muito desanimada e preocupada. Aquela tortura ia aumentando até que já
vomitava e desmaiava o tempo todo. Um dia consegui uma consulta com o doutor M.
Morris um médico que trabalhava em Saint John's and Saint Elizabeth Hospital,
um hospital muito conceituado. Tinha ouvido falar que era um grande médico e
não parei mais até me consultar com ele. Esse médico mandou-me fazer mais
exames e nada de anormal até que me propôs fazer uma videoendoscopia por
laparoscopia.
Nessa cirurgia
foi-me diagnosticada endometriose severa. Assim que acordei da anestesia
disseram-me logo que teria que ser operada novamente. Falaram-me um pouco da
doença e eu só queria dormir novamente e acreditar que ao acordar tudo não passaria
de um sonho, mas infelizmente não era sonho, era uma dura realidade que eu
tinha que enfrentar, e num país tão longe e sem o suporte de amigos e da
família, não seria nada fácil. Nesta época já tinha 35 anos. E lá fui para a
nova operação para remover os tumores de endometriose. Eu tinha endo até às
costas, tinha endo nos pulmões. Durante a operação aconteceu um grande acidente
e eu quase morri. Como eu tinha endo por todo lado, cortaram-me uma artéria
epigástrica que ia direta ao coração. Tudo se complicou, tive embolia,
pneumonia e minha hemoglobina desceu imenso. Precisei de transfusões de sangue.
Quando tudo parecia
estar a melhorar, dois dias depois os meus pulmões entram em colapso,
encontraram-me às 4 da manhã já morta, mas quis Deus que a reanimação me trouxesse
de volta a este mundo. Fiquei uns dias com uma enorme bola de sangue na
barriga, com uma máquina ligada às pernas para não deixar os coágulos de sangue
descer, um tubo na barriga para drenar o sangue, outro nos pulmões para drenar
o líquido nos pulmões, um cateter para soro numa mão, outro na outra para a
morfina, máscara de oxigênio no rosto… enfim... Vários amigos foram se despedir
de mim e o meu marido só chorava. Mas Deus não me desamparou. Nesta fase, eu
estive num túnel todo iluminado com muitas luzes brilhantes onde tudo era calmo
e sereno. De um lado desse túnel estava a minha falecida mãe à minha espera de
braços a abertos Mas aí Deus deu-me a mão e puxou-me para trás e disse que a
minha missão na Terra ainda não tinha terminado e que eu tinha de voltar. Foi
ai que abri os olhos e percebi que não tinha sonhado, mas que tinha estado mesmo
com minha mãe e com Deus. Fiquei assustada, sofri muitas dores, passei por
muito, tive de fazer terapia de oxigênio, fisioterapia para ensinar meus
pulmões a respirar de novo. Era custoso, pois ficava cansada depressa, mas não
poderia desistir, pois desistir é para os fracos e eu não queria ser fraca, já
que tinha meu rico filho em casa à minha espera. Não poderia deixá-lo tanto
tempo à espera, uma criança cansa de esperar tanto. Deus ajudou-me muito e
recuperei com o passar do tempo.
Hoje eu sei que Deus existe, pois estive com ele
acreditem ou não. O médico que me operou foi o doutor Jeremy Wright no Woking
Nuffield Hospital em Surrey que fica duas horas de Londres, cidade onde eu vivia.
Este médico era o número um em endometriose no Reino Unido. Ele tinha uma
clínica só de endometriose e era professor de endo. Agora está aposentado. Depois
da operação voltei para Portugal. E cá estou há oito anos. Desde a minha
cirurgia que uso o implante Implanon para não menstruar e assim controlar esta
maldita doença. Hoje ela está controlada e o meu filho é um homem de 24 anos.
Ele é o menino-homem que eu chamo de milagre da minha vida. Estou contando minha
história no A Endometriose e Eu para
dar esperança e força a todas que vivem com esta doença. Por isso digo: não
tenham medo de viver e não desistam de seus sonhos, e muito menos, da vida e de
lutar. Eu não desisti e por isso hoje estou aqui. Tenho que dizer que há 28
anos que tenho um super endomarido que sempre me apoiou, me ajudou e me
compreendeu. Com certeza, sem ele esta caminhada não teria este sucesso. Um
beijo carinhoso!!”
impressionante!!!
ResponderExcluirAh, como me emociono toda vez que leio esta coluna do blog. E como me fortalece as histórias!
ResponderExcluirDeus abençoe imensamente a vida de todas as endomulheres e endomaridos.
Abraços, Luciana Mello.
Nossa q historia, me emocionei! Que Deus Continue te abençoando!!
ResponderExcluirSempre qdo me bate o desanimo leio aqui as historias e me da forças para não desistir do meu maior Sonho q é ser Mãe!